Cenário do Ensino do Enfermeiro Psiquiátrico: Estudo de Caso

Marcos Hirata Soares

Resumo


A precariedade na formação profissional do enfermeiro é um problema que vem acompanhando a história da psiquiatria e enfermagem psiquiátrica desde a instalação do primeiro hospital psiquiátrico brasileiro. Nesta época, a falta de preparo deste profissional, estava relacionada com a ausência de escolas preparatórias e também com a classe social (menos privilegiada) predominante que procurava na enfermagem, sua ascensão profissional e econômica. O fato da área de Enfermagem Psiquiátrica não ter sido contemplada como habilitação ou especialização, como a Saúde Pública e a Obstetrícia, dificultou o aprimoramento do enfermeiro nesta área, retardando o desenvolvimento profissional e arraigando as práticas manicomiais. Desde a década de 60, já havia a preocupação por parte de alguns docentes, neste campo, quanto aos métodos de ensino a serem utilizados em Enfermagem Psiquiátrica. O objetivo do estudo foi levantar dados da literatura a fim de rever o cenário da enfermagem psiquiátrica e, por meio da pesquisa com enfermeiros, alunos do curso de especialização em Enfermagem Psiquiátrica brasileira, relacionar a influência do contexto histórico na formação do enfermeiro psiquiátrico, visando articular o processo ensino-aprendizagem de forma a superar a prática tradicionalista na enfermagem psiquiátrica. esta inquietação tem sido uma constante em nosso cotidianoprofissional, na observância da influência destas questões na formação do enfermeiro especialista em Enfermagem Psiquiátrica. Como metodologia utilizou-se o estudo descritivo-exploratório, com 17 enfermeiros, alunos do curso de especialização em Enfermagem Psiquiátrica, em maio de 2006, respeitando os preceitos éticos da pesquisa com seres humanos. Como técnica de coleta de dados, foi aplicado um questionário com questões mistas. A partir da análise dos resultados depreendeu-se que os docentes utilizaram métodos de predominância interacionista, como referencial humanístico de ensino, tendo boa aceitação por parte dos alunos. Entretanto, esses sujeitos manifestavam ainda um grande e preocupante resquício da educação tradicional – a valorização da transmissão de conteúdos e o relacionamento professor-aluno não como um momento de facilitar a construção do conhecimento, mas para facilitar a transmissão de informações. Eles aparentavam estar numa fase de transição paradigmática, uma vez que já expressam a importância da relação interpessoal no aprendizado. Entretanto, ainda têm a concepção de transmissão de informações como meta. Hoje, esta situação de crise paradigmática no ensino é uma das principais repercussões do modelo biomédico. Pode-se dizer então que, na hipótese do presente estudo, acredita-se ser fundamental que os docentes continuem a fazer uso de metodologias de ensino de cunho interacionista, como a Crítico-social e a Humanística e que os enfermeiros devam manter sua busca por aprimoramento não somente de informações, mas, preocupando-se sobremaneira nas habilidades como aprender a ser, a viver, a fazer e a apreender, pois a ciência atravessa um momento de crise paradigmática, sendo relevante que a enfermagem psiquiátrica caminhe para um ensino e uma prática não-manicomiais, contudo sob a ótica de si mesma,  desmontando os próprios manicômios a fim de desconstruir esses saberes e práticas asilares.


Palavras-chave


Enfermagem psiquiátrica; Ensino; Aprendizagem; Especialidade

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Rev Salus, ISSN 1980-2404, Guarapuava - PR, Brazil