Artigo 6 - 5163

Formação didático-pedagógica dos bacharéis docentes:

uma análise nos cursos de secretariado das instituições públicas

de ensino superior do Brasil

 

Didactic-pedagogical formation of teaching bachelors: an analysis in the courses of secretariat

of the public institutions of higher education of Brazil

 

Fernanda Cristina Sanches1, Ivanete Daga Cielo2 e Solange Franci Raimundo Yaegashi3

 

1 Universidade Estadual de Maringá, Brasil, Doutoranda em Educação, e-mail: fernandacsanches@gmail.com

2 Universidade Estadual Unioeste, Brasil, Doutorado Desenvolvimento Regional e Agronegócio, e-mail: ivadcielo@hotmail.com

3 Universidade Estadual de Maringá, Brasil, Doutora em Educação, e-mail: solangefry@gmail.com

 

Recebido em: 03/11/2017 - Revisado em: 06/07/2018 - Aprovado em: 05/09/2018 - Disponível em: 01/10/2018

Resumo

A formação de docentes bacharéis na atuação no ensino superior é permeada por desafios pedagógicos nas mais diversas áreas do conhecimento, dentre elas, na área de secretariado executivo. Ocorre que o docente se caracteriza como perito em seu campo de conhecimento específico, porém, por vezes não domina a área pedagógica e educacional, devido a sua formação de bacharel. Frente às lacunas existentes na formação desses professores, este estudo possui o objetivo de compreender os desafios enfrentados pelos profissionais bacharéis em secretariado executivo que atuam como docentes no ensino superior nas IES públicas do Brasil. A justificativa de realização dessa pesquisa ampara-se inicialmente devido a existência de poucos estudos que investigam a preparação didático-pedagógica dos docentes bacharéis que atuam nos cursos de secretariado executivo. Dessa forma, a coleta de dados se deu por meio de questionários aplicados aos docentes dos cursos de Secretariado das IES públicas do Brasil e também, por meio de análises nas grades curriculares das disciplinas. Como principais resultados obtidos, pode-se destacar que os respondentes apontam para a necessidade de desenvolvimento de competências e preparo para a atividade dos bacharéis docentes, por meio de capacitações didático-pedagógicas, que auxiliem no processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: Formação docente. Bacharel docente. Secretariado Executivo.

 

Abstract:

The formation of bachelors in higher education is permeated by pedagogical challenges in the most diverse areas of knowledge, among them, in the area of executive secretariat. It occurs that the teacher is characterized as an expert in his specific field of knowledge, but sometimes does not dominate the educational area due to his bachelor’s degree. Faced with the gaps in the training of these teachers, this study aims to understand the challenges faced by bachelors in executive secretariat who act as teachers in higher education in public institutions in Brazil. The justification of this research is initially supported by the existence of few studies that investigate the didactic-pedagogical preparation of bachelors who work in executive secretarial courses. In this way, the data collection was done through questionnaires applied to the teachers of the courses of Public institutions Secretariat in Brazil and also, through analyzes in the curricula of the disciplines. As the main results obtained, it is possible to emphasize that the respondents point out the need for the development of skills and preparation for the activity of the teaching bachelors, through didactic-pedagogical capacities, that aid in the teaching-learning process.

Keywords: Teacher formation. Bachelor of teaching. Executive Secretariat.

 

1 Introdução

 

A formação de docentes para o ensino superior é tema investigado por diversos autores, que abordam a necessidade e relevância de uma maior atenção à didática utilizada em sala de aula, principalmente no que se refere aos docentes portadores de diplomas de bacharelado. Nesse contexto, as Instituições de Ensino Superior (IES) do Brasil, com o passar dos anos, vêm se empenhando na busca de melhorar a qualificação acadêmica de seus docentes, no que tange às titulações de mestrado e doutorado. Tal fator pode estar atrelado à determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nº 9394/96, que define que no ensino superior, ao menos um terço do corpo docente deve possuir titulação acadêmica de mestrado e/ou doutorado.

Contudo, com relação à temática, diversos autores (BORDENAVE; PEREIRA, 1977; RONCA; ESCOBAR, 1984; ABREU; MASETTO, 1997; ARANTES; GEBRAN, 2013) alertam para uma lacuna existente na formação dos professores de ensino superior, qual seja, a de que o docente se caracteriza como perito em seu campo de conhecimento específico, porém, por vezes não domina a área pedagógica e educacional.

Ressalta-se que os cursos de bacharelado dispõem de um corpo docente, que em sua maioria, são compostos por profissionais bacharéis em suas áreas de conhecimento. No entanto, tendo em vista sua formação, esses profissionais não receberam capacitação pedagógica para exercer a docência. Ocorre que, segundo Gonçalves e Gasparin (2013), no desenvolvimento das aulas, em muitos casos, tais profissionais baseiam sua prática educacional nos modelos de seus mestres quando do período da graduação.

O processo formativo dos profissionais que atuam na docência no ensino superior deve ser compreendido não apenas em seu campo específico de formação, mas também na área didático-pedagógica, porque esse docente assume responsabilidade significativa na formação e na educação profissional dos discentes (PIMENTA; ANASTASIOU, 2005). Assim, espera-se por parte do professor, um aprimoramento nas técnicas e práticas pedagógicas para transmissão de seu conhecimento, de modo que proporcione uma formação crítico-profissional aos alunos.

A ação docente nas IES, por vezes, não perpassa por um processo de formação pedagógica. Assim, no que se refere ao desempenho do docente no nível superior, Abreu e Masetto (1997, p.1) afirmam que “é comum existir uma lacuna: o professor se caracteriza como um especialista no seu campo de conhecimentos; este é, inclusive, o critério para sua seleção e contratação; porém, não necessariamente este professor domina a área pedagógica”.

Ainda, Rozendo et al (1999, p. 16) citam que:

A educação superior, que temos hoje é aquela que, de maneira geral, prioriza as práticas pedagógicas que pouco contribuem para o desenvolvimento de uma sociedade de sujeitos sociais construtores de sua própria história. Pelo contrário, a concepção predominante é a de uma educação para o ajustamento, a adaptação às normas e padrões de comportamento considerados “adequados”, em que aos educandos é imposta uma condição de passividade e subordinação à autoridade do educador.

Arantes e Gebran (2013) corroboram com tal entendimento, ao afirmarem que existe uma lacuna no que tange à formação pedagógica exigida ao docente de ensino superior. Para as autoras, essa limitação pode interferir no processo de ensino-aprendizagem dos discentes. Complementando a ideia, Rozendo et al (1999) afirmam que existe um pressuposto que permeia entre as instituições de que para ser um professor bastaria apenas conhecer bem o assunto ou dispor dos conhecimentos acerca de sua área de atuação. Nesse cenário, a formação didática não é encarada como muito necessária, visto que os alunos, por estudarem no nível superior de ensino, já deveriam ter maturidade para compreender os conteúdos por si só.

Contudo, na visão dos alunos a prática desse pressuposto não é totalmente válida. Ao avaliarem os docentes, esses discentes apontam falhas, principalmente no que se refere à didática de ensino, aulas demasiadamente expositivas e ainda, a pouca participação em sala (ROZENDO et al., 1999). Ou seja, no ensino superior é frequente os alunos ressaltarem as competências técnicas dos professores, porém, contudo, criticarem sua didática de ensino (ARANTES; GEBRAN, 2013).

Cada professor, segundo Arantes e Gebran (2013), possui conhecimentos oriundos de sua formação, construção e desenvolvimento profissional e, esses saberes, influenciam diretamente em sua prática pedagógica. Nesse sentido, é importante compreender a trajetória de formação dos profissionais bacharéis, que atuam na docência no ensino superior.

(...) as práticas pedagógicas, realizadas em seu interior, são reflexo da sociedade e nela se refletem, espelhando a complexidade da dinâmica social e da interação humana. Conhecer tais práticas e desvelá-las é fundamental para a tomada de consciência, e decisivo para que sejam efetuadas ações no sentido de sua superação (ROZENDO et al, 1999, p. 16).

Em resumo, a docência no ensino superior exige competências, que não se limitam apenas ao exercício da profissão e aos diplomas de bacharel, mestrado ou doutorado, mas também, ao desenvolvimento de habilidades próprias dos professores (MASETTO, 1998).

Vale ressaltar assim, que a formação técnica na área de atuação do docente é fundamental para efetivar a transmissão do conhecimento aos alunos. Contudo, a preparação proporcionada pelos cursos de bacharelado, dificilmente contemplam em seus projetos político-pedagógicos (PPPs), uma formação didática voltada para o ensino. Tal fator faz com que os profissionais careçam de habilidades didáticas, necessárias para mediar a relação ensino-aprendizagem e de maior interação entre teoria e prática (GONÇALVES; GASPARIN, 2013). Esse cenário, também é encontrado nos cursos de bacharelado em secretariado executivo do Brasil.

No que se refere ao curso de secretariado executivo, por se tratar de uma graduação que forma bacharéis, o ensino volta-se para a atuação prática do profissional nas organizações. Segundo Barros, Silva e Lopes (2014), a matriz curricular desses cursos, tampouco suas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), preparam os profissionais para atuação na docência do ensino superior.

A partir dessa realidade, é importante investigar quais processos didático-pedagógicos são necessários para que os docentes universitários possam desenvolver sua função com maior segurança na ação de ensino e aprendizagem, permitindo maior envolvimento do aluno no processo de apropriação do conhecimento.

Nesse contexto, a problemática que motiva a realização dessa pesquisa ampara-se no fato de compreender de que maneira ocorre a formação para a docência dos bacharéis que atuam nos cursos de bacharelado em secretariado executivo da região Sul do Brasil. Assim, a questão norteadora do estudo busca investigar: quais os fundamentos didático-pedagógicos embasam a formação docente dos bacharéis em secretariado executivo, para atuação no ensino superior? E ainda, quais são os principais desafios enfrentados por esse profissional para a atuação docente?

Motivados por essa discussão, esse estudo tem como objetivo central compreender os desafios enfrentados pelos profissionais bacharéis em secretariado executivo que atuam como docentes no ensino superior nas IES públicas do Brasil. Para atingir tal objetivo, estabeleceu-se os seguintes objetivos específicos: a) identificar a qualificação didático-pedagógica dos docentes vinculados aos cursos de bacharelado em secretariado executivo, das instituições de ensino superior públicas do Brasil; b) analisar as grades curriculares dos cursos de bacharelado em secretariado executivo de instituições públicas do Brasil; c) compreender os desafios enfrentados pelos docentes, na atuação no ensino superior.

A profissão de secretariado executivo passou por significativas evoluções ao longo dos anos. Tais mudanças culminaram no aumento da demanda por cursos superiores na área e, consequentemente, na necessidade de formação de professores capacitados com preparação pedagógica. Dessa forma, considerando a existência de poucos estudos que investigam a preparação didático-pedagógica dos docentes bacharéis que atuam nos cursos de secretariado executivo; e considerando ainda a necessidade de investigar o que as IES oferecem aos bacharéis como preparação para a docência neste nível de ensino, justifica-se a realização de uma pesquisa que busque identificar a formação desses professores, quais fundamentos didático-pedagógicos auxiliam na sua atuação no ensino superior e ainda, os principais desafios enfrentados na docência.

Nessa perspectiva, acredita-se que estudos dessa natureza possam contribuir no sentido de compreender o cenário da formação do profissional bacharel e sua atuação na docência, aspecto este fundamental para delineamentos da ação docente. Por fim, é fundamental uma compreensão acerca das práticas pedagógicas realizadas nos cursos de bacharelado, visto que essas refletem fortemente na formação dos profissionais. Conhecer e desvelar tais práticas é fundamental e decisivo para resolução das lacunas existentes no ensino.

Compreende-se assim, que essa pesquisa possa contribuir para um permear reflexões acerca dos desafios enfrentados pelos docentes da área, no que se refere à formação pedagógica para a docência. Ademais, a investigação vem diretamente ao encontro com a temática do V Encontro Nacional Acadêmico de Secretariado Executivo, que remete à pesquisa e formação acadêmica em Secretariado: continuidades, descontinuidades, perspectivas e desafios, uma vez que busca contribuições para a formação de Secretários Executivos, somando-se com o debate acerca das dificuldades e atribuições enfrentadas pelos profissionais docentes investigados.

Para explanar os resultados obtidos, esse estudo está estruturado em quatro seções, além dessa introdução. Inicialmente tecem-se considerações teóricas acerca da docência no ensino superior e da docência nos cursos de Secretariado Executivo. Em seguida, apresentam-se os procedimentos metodológicos adotados, seguidos da seção de resultados da pesquisa. Por fim, são traçadas as considerações finais obtidas com a realização do estudo.

 

2 Fundamentação teórica

2.1 Formação para docência no ensino superior

 

O ensino superior vem se intensificando de forma significativa no Brasil. Em trinta anos houve um aumento de 180% no surgimento de instituições de ensino, sendo que no ano de 1984 haviam 847 IES estabelecidas, já em 2014, o número subiu para 2.368 (INEP, 2000; 2014). Tal intensificação é decorrente, grande parte, do processo de reestruturação e expansão das IES, principalmente a partir da implementação de um conjunto de medidas provisórias, leis e decretos estabelecidos pelo governo federal (LIMA, 2012).

Juntamente com a intensificação das IES, também os cursos de nível superior passaram por notória evolução. Dentre as principais, destaca-se a expansão dos cursos de graduação e, com estes, a necessidade de contratação de corpo docente para atuação no ensino.

No que se refere à docência no ensino superior, não existe legislação específica que habilite a prática de ensino aos professores, contudo, de acordo com o Artigo 66, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação: “A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado” (BRASIL, 1996). Contudo, a LDB não traz informações acerca do pré-requisito para ingresso, formação ou promoção na carreira do docente nessa modalidade de ensino.

Esse fator faz com que os professores do ensino superior, de acordo com Vasconcelos (1996) e Arantes e Gebran (2013) direcionem o foco de sua formação ao desenvolvimento de pesquisas, tornando-se mestres e doutores pesquisadores, que não necessariamente possuam foco na docência. A docência por parte desses profissionais, segundo Vasconcelos (1996, p. 3) é “muitas vezes exercida por excelentes pesquisadores, mas com sérias deficiências enquanto professores”, o que gera lacunas no ensino superior, a serem compreendidas.

No que tange ao grau de formação, dados do Inep (2014) demonstram o que afirmam Arantes e Gebran (2013), sobre os docentes atuantes na educação superior, os quais buscam cada vez mais, aperfeiçoamento por meio da realização de mestrado e doutorado, conforme pode ser visualizado na Figura 1:

 

Figura 1 - Participação percentual de funções docentes na educação superior, segundo o grau de formação e categoria administrativa (2003 – 2014).

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Fonte: INEP (2014).

Analisando a Figura 1, ao longo de dez anos, percebe-se uma curva ascendente de crescimento para formação de docentes mestres e doutores, tanto na rede pública, quanto na rede particular de ensino. Sendo que na rede pública, o percentual de mestres em 2003, que era de 27,3 passou para 28,8% em 2014 e de doutores, de 39,5 em 2003 para 55,8% em 2014. Na rede particular, de 39,3% de mestres em 2003, passou-se para 47% em 2014 e com relação aos doutores, o percentual de 11,8 em 2003, passou para 19,8 em 2014. Por sua vez, apresentou-se uma curva decrescente de especialistas, o que confirma a tendência de crescimento de professores pesquisadores.

Contudo, há que se questionar se de fato esses docentes buscam as capacitações de mestrado e doutorado visando à pesquisa e o ingresso nas IES, ou se a procuram objetivando uma melhoria em sua prática pedagógica para o exercício da docência, quando nos casos da graduação em bacharelado.

Em muitas situações, Gonçalves e Gasparin (2013), afirmam que os profissionais docentes bacharéis, baseiam suas práticas educacionais nos modelos obtidos no decorrer de sua formação. Entretanto, os cursos de bacharelado dificilmente trazem em seus PPPs uma formação didática voltada ao ensino, fazendo com que habilidades didáticas se tornem um gargalo no momento de mensurar a interação teoria e prática e a relação de ensino-aprendizagem (GONÇALVES; GASPARIN, 2013).

Nesse sentido, não basta apenas que o docente apresente domínio do conteúdo, além disso, ele deve contribuir para com uma situação de aprendizagem dos discentes. Sobre o tema, Pimentel (1993, p. 85), afirma que os professores possuem domínio do que ensinam, contudo, nem todos “têm o conhecimento da produção do conhecimento e poucos têm o conhecimento claro e consciente do que é ensinar”.

Destarte, é mister afirmar que o exercício docente exige sim, competências específicas do profissional, no entanto, Masetto (1998) afirma que as habilidades do docente não devem se restringir ao diploma de bacharelado, mestrado ou doutorado, mas sim, devem ser dotadas de características próprias de cada um, voltadas ao ensino.

Tal cenário apresentado, conduz ao entendimento de que a expansão dos cursos de nível superior e da prática docente, de modo geral, possa ter ocorrido nas mais diversas áreas do conhecimento. Motivado por essas discussões, faz-se importante investigar o cenário dos cursos de bacharelado em secretariado executivo, área essa, que ao longo dos anos apresenta notória evolução, principalmente no que se refere à participação na pesquisa.

 

2.1 Atuação docente do bacharel em secretariado executivo

 

A profissão de secretariado executivo apresentou considerável ascensão a partir de 1980, com a regulamentação da atuação profissional, por meio da lei nº 7.377/85, complementada pela lei nº 9.621/96, que descrevem as atribuições da profissão. Além disso, outras conquistas podem ser citadas, como o enquadramento sindical, obtido em 1987; a criação da Federação Nacional das Secretárias e Secretários (FENASSEC), em 1988; e a publicação do código de ética profissional, em 1989.

No ano de 2005, foram instituídas as DCN para os cursos de graduação em secretariado executivo e, a partir de então, as IES tiveram acesso a uma indicação clara acerca dos componentes curriculares exigidos para a formação profissional dos bacharéis. Destaca-se que as DCN para esse curso, buscam moldar a formação de um profissional capaz de cumprir, além das rotinas secretariais, atividades como a organização de eventos, etiqueta profissional, arquivística e compreensão das mudanças organizacionais (BISCOLI; CIELO, 2004; BRASIL, 2005).

Assim, os cursos de bacharelado em secretariado executivo, passaram a desenvolver um trabalho de forma integrada, que objetiva atingir visibilidade e respeitabilidade frente às organizações, atendendo as demandas do mercado. Ou seja, as DCN para os cursos de bacharelado em secretariado executivo, determinam a formação de profissionais aptos à atuação prática nas organizações, conforme a Resolução nº 3, de 23 de junho de 2005:

Art. 3º O curso de graduação em Secretariado Executivo deve ensejar, como perfil desejado do formando, capacitação e aptidão para compreender as questões que envolvam sólidos domínios científicos, acadêmicos, tecnológicos e estratégicos, específicos de seu campo de atuação, assegurando eficaz desempenho de múltiplas funções de acordo com as especificidades de cada organização (...)

Parágrafo único. O bacharel em Secretariado Executivo deve apresentar sólida formação geral e humanística (...) bem como capaz para atuar nos níveis de comportamento microorganizacional, mesoorganizacional e macroorganizacional (BRASIL, 2005, grifo nosso).

Isso posto, pode-se afirmar que as DCN não estabelecem diretrizes para a atuação do profissional bacharel em secretariado executivo, na docência no ensino superior. Ou seja, os profissionais bacharéis são preparados durante a graduação para atuação direta nas organizações.

Como ocorre em outras áreas do conhecimento, os docentes de secretariado executivo fundamentam seus conhecimentos para o ensino na experiência da prática profissional e nos cursos de pós-graduação que realizam (BARROS; SILVA; LOPES, 2014). Para tanto, é primordial que se busque aperfeiçoamento acerca dos conhecimentos pedagógicos, para se estabelecer uma relação entre ensino-aprendizado entre docentes e alunos.

Compreende-se assim, que a formação pedagógica de docentes que atuam no ensino superior nos cursos de bacharelado em secretariado executivo, não ocorre apenas por meio do planejamento proposto pelas DCN, tendo em vista essa formação técnica. Nesse cenário, o profissional que atua em disciplinas específicas da área, apenas com a formação de graduação, pode enfrentar desafios no que tange ao preparo didático-pedagógico para o ensino, conforme também afirmaram Barros, Silva e Lopes (2014).

Nesse contexto, paralelamente aos aspectos profissionais, merece destaque uma maior compreensão acerca da atuação dos bacharéis em secretariado executivo, na docência no ensino superior. De que maneira esses profissionais capacitam-se para a atuação docente? Como ocorre em outras áreas do conhecimento, acredita-se que esses docentes, busquem aperfeiçoar seus conhecimentos para a prática didático-pedagógica, por meio da realização de cursos de pós-graduação lato e stricto sensu e que, de acordo com Barros, Silva e Lopes (2014) fundamentam seus conhecimentos para o ensino na experiência da prática profissional. Para tanto, é primordial que se busque aperfeiçoamento acerca dos conhecimentos pedagógicos, para se estabelecer uma relação entre ensino-aprendizado entre docentes e alunos.

 

3 Metodologia

 

Esta pesquisa propôs-se a investigar os cursos presenciais de bacharelado em Secretariado Executivo, ofertados pelas IES públicas do Brasil. Destaca-se que o curso investigado, ao nível de bacharelado, está distribuído em todas as regiões do país (e-MEC, 2017). Dessa forma, a partir do conhecimento acerca do campo de estudo, essa investigação foi desenvolvida inicialmente por meio de pesquisa bibliográfica, na qual se buscou estabelecer um constructo teórico para auxiliar no entendimento acerca da formação de bacharelado em Secretariado Executivo. Na sequência, buscou-se analisar as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de bacharelado em Secretariado Executivo e considerar se estas, preparam o profissional para atuação na docência.

Além disso, para a identificação dos cursos de bacharelado presenciais em Secretariado Executivo no Brasil, utilizou-se os dados da plataforma eMEC (base de dados oficial e única de informações relativas às Instituições de Educação Superior e cursos de graduação do Sistema Federal de Ensino), na qual se aplicou os seguintes critérios: Consulta avançada > Busca por cursos de graduação > Curso: “Secretariado” > Gratuidade do curso: sim > Modalidade presencial > Grau bacharelado > Situação em atividade, os demais campos foram deixados em branco. A partir dos critérios de busca aplicados foram identificados 18 cursos com a situação “em atividade”, sendo que para este estudo, foram considerados 16 cursos (Quadro 1), tendo em vista que 2 deles correspondiam ao mesmo, ofertado em campus distintos. Por meio dos dados coletados, foi possível identificar também a localização dos cursos por unidades de federação do país.

Na sequência, realizou-se uma pesquisa documental, que objetivou analisar os PPPs dos cursos de bacharelado em secretariado executivo do Brasil, visando identificar a existência de disciplinas específicas da área (compreendeu-se como disciplina específica da área, àquelas que apenas são ofertadas em cursos de graduação em Secretariado Executivo). No que tange a abordagem utilizada, para alcançar os objetivos propostos este estudo fez uso, tanto para a análise quanto para a coleta de dados, principalmente, da abordagem qualitativa. De acordo com Richardson (2008) a pesquisa qualitativa é uma forma adequada para entender a natureza de um fenômeno social. Além disso, tal abordagem é utilizada em situações complexas ou particulares, tais como análise de atitudes ou motivações, utilizando-se particularmente das técnicas de observação e entrevista.

Quanto aos fins, trata-se de um estudo descritivo, uma vez que, de acordo com Gil (1999), essas pesquisas possuem o objetivo principal de descrever as características de determinados fenômenos, ou relações entre variáveis, por meio da aplicação de técnicas padronizadas de coleta de dados. Assim, os sujeitos da pesquisa (docentes dos cursos de bacharelado em secretariado executivo do das IES públicas do Brasil) foram investigados por meio de um questionário de pesquisa, com questões previamente estabelecidas.

O instrumento de pesquisa foi composto por 17 questões, abertas e fechadas, que buscaram investigar o perfil dos docentes, formação e dados acerca da atuação profissional dos mesmos. Foi enviado por meio eletrônico (ferramenta Google Docs) aos endereços de e-mails de 74 professores bacharéis em Secretariado Executivo, das 16 IES públicas do país, dos quais, obteve-se 35 respostas, ou seja, 47% dos sujeitos. Destaca-se que as informações referentes ao quantitativo de docentes, bem como o contato de cada um, foram obtidas diretamente com os cursos nas instituições investigadas.

No que tange à análise dos dados coletados, está ocorreu por meio da análise descritiva e de conteúdo propostas por Gil (1999) e Richardson (2008). Assim, acredita-se que o complemento das duas análises foi fundamental para avaliar o fenômeno em questão. Nesse sentido, a análise dos dados foi realizada pelo cruzamento da revisão de literatura, com as informações obtidas por meio dos questionários aplicados.

 

4 Resultados

Atualmente os cursos de bacharelado em Secretariado Executivo no Brasil, registrados como em atividade, compreendem um total de 94 cursos. Desse total, 16 são ofertados por instituições de públicas de ensino superior (e-MEC 2017). As instituições estão identificadas no Quadro 1:

 

Quadro 1 – Instituições públicas de ensino superior que ofertam o curso de secretariado.

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Fonte: dados da pesquisa (2017).

Quanto a localização geográfica, esses cursos estão distribuídos em todas as regiões do país, conforme representado na Figura 2.

 

Figura 2 – Distribuição dos cursos de Secretariado Executivo de IES públicas, por UF e região do Brasil.

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Fonte: dados da pesquisa (2017).

 

Conforme pode-se visualizar na Figura 2, a distribuição dos cursos por região do país ocorre na seguinte proporção: região norte com 19%, Nordeste com 31%, Centro-Oeste com 6%, Sudeste com 6% e por fim, região sul com 38% (e-MEC, 2017). Essa oferta do curso de Secretariado Executivo em IES públicas, nas distintas regiões geográficas é resultado das demandas do mercado de trabalho, aliada a políticas públicas de expansão do ensino superior público, a exemplo do Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). Criado no início dos anos de 2000, essa política objetivava ampliar o acesso e a permanência na educação superior nas distintas áreas do conhecimento (REUNI, 2017).

Posterior a identificação dos cursos, e com o intuito de atingir o objetivo delineado para o presente estudo, analisou-se as grades curriculares dos 16 cursos de bacharelado em Secretariado Executivo ofertados por IES públicas, a fim de identificar disciplinas que, a priori, deveriam ser ministradas por profissionais com formação específica em Secretariado Executivo, a exemplo das disciplinas de Técnicas Secretariais, Gestão Secretarial e Fundamentos do Secretariado Executivo.

A primeira constatação foi de que a totalidade dos cursos apresentam em suas matrizes curriculares disciplinas cuja nomenclatura remete a necessidade de docentes com formação em Secretariado. Até porque, para ajustar-se ao que estabelece as Diretrizes Curriculares para os cursos de graduação em Secretariado Executivo, os Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) em sua organização curricular, devem ofertar conteúdo específicos, contemplando estudos referentes as técnicas e a gestão secretarial (BRASIL, 2005).

A análise das grades curriculares possibilitou a identificação das disciplinas mais frequentes nos cursos de Secretariado Executivo. Os resultados podem ser visualizados no Gráfico 1:

 

Gráfico 1 - Disciplinas específicas que constam com maior frequência nos PPPs.

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Fonte: dados da pesquisa (2017).

 

Os dados apresentados no Gráfico 1 apontam que as disciplinas de Estágio Supervisionado, Técnicas e Gestão Secretarial são as que aparecem com maior frequência nos cursos investigados. Além dessas, os cursos também contemplam em seus PPPs, uma série de outras disciplinas, com nomenclaturas díspares, porém que remetem a obrigatoriedade de serem ministradas por profissionais da área de secretariado, a exemplo de: Teoria Geral do Conhecimento em Secretariado; Fundamentos do Secretariado Executivo; Pesquisa Aplicada em Secretariado; entre outras.

Entretanto, se tais conhecimentos carecem de ser ministrados por profissionais da área, e como por excelência, o curso de Secretariado Executivo forma bacharéis e tecnólogos, a preocupação com a formação pedagógica do corpo docente parece estar distante da agenda de discussão desses colegiados. Conforme Gonçalves e Gasparin (2013), os cursos em nível bacharelado, dificilmente abordam a formação didática para o ensino. Porém, cabe destacar que em um dos cursos analisados contatou-se a oferta de uma disciplina voltada a formação docente, denominada de “Didática em Secretariado”. A ofertada dessa disciplina é de cunho optativo aos alunos e denota uma preocupação do curso em capacitar também profissionais para ocupar as vagas existentes na docência no ensino superior.

Dada a natureza dos cursos de Secretariado e da composição das grades curriculares, identificou-se, uma lacuna com relação a formação pedagógica dos bacharéis em Secretariado para a atuação docente. O que pode, entretanto, ser suprida a partir de capacitação pedagógica. Cabe destacar que, uma das formas para capacitar os professores para atuarem na docência no ensino superior é através dos cursos de pós-graduação lato e stricto sensu, conforme também afirmam Gonçalves e Gasparin (2013) e Barros, Silva e Lopes (2014).

É interessante notar que, embora a pós-graduação stricto sensu (mestrados e doutorados acadêmicos) seja considerada o lócus responsável por essa formação de docentes para atuar profissional no ensino superior, não há nesses cursos a obrigatoriedade de oferta de disciplinas voltadas a essa formação, a exemplo de disciplina de Docência no Ensino Superior. O que ocorre, na maior parte dos programas é o estágio docente, entretanto, de caráter obrigatório apenas àqueles alunos que forem contemplados com bolsa de auxílio da Capes. Em relação ao estágio docente, este se desenvolvido sem conhecimentos de didáticas e metodologias de ensino aplicadas ao ensino superior, muitas vezes se torna inócuo e pouco auxilia no exercício da docência. Assim sendo, “programas de pós-graduação, tendem a priorizar a condução de pesquisas, perpetuando a crença de que para ser docente basta o domínio do conteúdo e no caso do ensino superior, ser um bom pesquisador” (RIVAS; CONTE; AGUILAR, 2007, p.2)

Todavia, se há obrigatoriedade de formação em Secretariado Executivo para ser docente das disciplinas de específica do curso, se nos cursos de bacharelado não há oferta de disciplinas de cunho didático-pedagógico e, se na pós-graduação stricto sensu essa obrigatoriedade fica restrita à bolsista, pode-se inferir que, há indícios de que a busca pela formação pedagógica dos docentes para atuarem nessas graduações passa a ser uma incumbência deles próprios.

Nesse aspecto Pimenta e Anastasiou (2005) afirmam que o processo formativo desses profissionais deve ser compreendido pela área didático-pedagógica de formação, além da graduação, tendo em vista que estes assumem significativa responsabilidade na formação e educação dos estudantes.

A segunda etapa desse estudo foi desenvolvida por meio da aplicação de questionários as 16 IES em questão. Ressalta-se que apenas não responderam à pesquisa docentes das IES: IFMT e UNIFAP. Inicialmente buscou-se identificar se os profissionais investigados procuram se aprofundar em conhecimentos voltados à área pedagógica. Nesse contexto, infere-se que 91,4 % dos respondentes afirma já ter cursado alguma capacitação, visando aperfeiçoar seus conhecimentos na área didática. As principais apontadas apresentam-se no Gráfico 2:

 

Gráfico 2 – Disciplinas e/ou cursos voltados a área pedagógica, realizados pelos docentes.

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Fonte: dados da pesquisa (2017).

Nesse sentido, é fundamental que esses docentes busquem aperfeiçoamento constante acerca dos conhecimentos pedagógicos, buscando estabelecer uma relação de ensino-aprendizado entre docentes e alunos.

Para além desses estudos, cumpre-se relatar a formação desses profissionais. Dos 35 docentes investigados, todos possuem graduação em secretariado executivo e desses, 6 possuem também um curso superior de licenciatura (educação física, letras, esquema I, licenciatura em administração). Por sua vez, 8 possuem especialização voltada ao ensino/educação, nas áreas: avaliação do ensino e aprendizagem; gestão de educação; docência no ensino superior; educação de jovens e adultos; educação e supervisão educacional; metodologia do ensino superior.

No que se refere à pós-graduação em nível de mestrado, dos 31 professores que possuem o título, apenas 1 cursou um programa voltado à área de educação, sendo que o restante das formações variou entre as áreas letras, linguística ou estudos da linguagem (5), administração (10 mestres e 2 mestrandos), e 11 em diferentes áreas. Já a nível de doutorado, identificou-se que, dos 13 professores que assinalaram essa questão, 2 possuem doutoramento voltado à área de educação, e o restante, desenvolveram seus estudos em programas de administração (8) e desenvolvimento regional (3). Além desses, outros 5 professores estão com doutorado em andamento, sendo um na área de educação e o restante nas áreas de: administração; estudos linguísticos; desenvolvimento regional e agronegócios; e justiça administrativa.

Já no que tange aos desafios enfrentados pelos docentes para atuação no ensino superior, há que se ressaltar que grande parte desses profissionais ingressou na docência visto que sempre tiveram o desejo de serem professores. Conforme demonstra-se no Gráfico 3:

Gráfico 3 – Razões de ingresso na carreira universitária.

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Fonte: dados da pesquisa (2017).

 

Além das razões pontuadas no gráfico, os respondentes afirmaram que ingressaram na atuação docente visando obter frequentemente novos aprendizados; buscando o desenvolvimento de competências; pelo desejo de estudar mais e até mesmo, por vocação. Para além disso, compreendeu-se necessário entender de que forma esses profissionais visualizam os conhecimentos pedagógicos. Os resultados obtidos podem ser acompanhados no Gráfico 4:

 

Gráfico 4 – Visão dos docentes acerca dos conhecimentos pedagógicos.

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Fonte: dados da pesquisa (2017).

 

É importante ressaltar que grande parte dos investigados apontou que sente falta de apoio didático-pedagógico para o desenvolvimento de suas atividades docentes. Tal resultado vem ao encontro do que afirmam Gonçalves e Gasparin (2013), de que os bacharéis docentes sentem falta de apoio e/ou preparo para atuação pedagógica na área. Contudo, há que se destacar que 8 professores afirmam que tais conhecimentos não sejam fundamentais para sua área de atuação.

Além das visões expostas no Gráfico 4, os docentes teceram outras considerações com relação aos conhecimentos pedagógicos, dentre as quais acreditam ser basilares, independente da área de formação e ainda, afirmam que são aprendidos com a prática e que possibilitam maior compreensão no processo de ensino aprendizagem. Um dos respondentes cita ainda a necessidade de haver uma disciplina optativa de metodologia didática voltada ao ensino em secretariado, nos cursos de ensino superior.

Cabe destacar a resposta de um dos docentes, que afirmou:

Ainda existem limitações para que os profissionais de secretariado, bem como qualquer formado em bacharelado que queira seguir caminho na docência, seja inserido de forma completa na docência. Por não possuir conteúdos muitas vezes voltados para a licenciatura esse professor tem dificuldades para transmitir os conteúdos em sala de aula. Mas o que é verificado que os professores da área estão procurando aperfeiçoamento nas áreas de educação para suprir essa necessidade que nosso curso apresenta (DOCENTE 17).

Nesse sentido, afirma-se que existem limitações no desempenho didático-pedagógico da docência no secretariado, contudo os professores que percebem tal necessidade, buscam se aperfeiçoar seja por meio de capacitações, ou em programas de pós-graduação lato e stricto sensu.

Ademais, os docentes foram investigados também, no que se refere a sua opinião sobre quais os principais fatores limitantes para o desempenho da docência no ensino superior, conforme demonstrado no Gráfico 6.

 

Gráfico 6 - Fatores limitantes para o desempenho da docência no ensino superior.

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Fonte: dados da pesquisa (2017).

 

Conforme afirmam Barros, Silva e Lopes (2014), os docentes podem enfrentar desafios no que se refere ao preparo didático-pedagógico para o ensino. Tal afirmação foi constatada nesse estudo, uma vez que o principal desafio apontado pelos docentes para o desempenho no ensino superior (Gráfico 6), encontra-se na falta de preparo pedagógico. Além dessas dificuldades, as mais frequentes apontadas foram a falta de programas de incentivo e valorização da atividade docente, seguidos da sobrecarga de trabalho

Além das respostas elencadas no Gráfico 6, alguns apontaram como fatores limitantes: falta de interesse na prática docente; pouco interesse de aprendizagem pelos alunos; sucateamento das IES e; precariedades dos recursos para formação inovadora e crítica.

No que se refere à satisfação em relação à docência, 91,4% dos docentes, afirmam-se motivados para a atuação. De acordo com estes, tal fator está atrelado, principalmente aos fatores: novos desafios; gostar do que faz; valorização profissional; orgulho e motivação acerca do desempenho dos profissionais formados; aprendizado advindos do ensino; sonho e realização pessoal, profissional, acadêmica e científica; fazer a diferença na vida das pessoas e da sociedade; ausência de rotina para exercer atividades de ensino; limitações de inserção no mercado de trabalho.

Na opinião de um docente:

Ser docente é desafiador e compensador. Fazer parte da qualificação acadêmica de alguém nos remete a uma responsabilidade ímpar, pois passamos a fazer parte da vida desse alguém e, o retorno desse trabalho é muito gratificante. Realmente gosto do que faço, assim, procuro estar sempre atualizada e preparada para os desafios que cercam esta profissão (DOCENTE 10).

Outro docente afirma que “A sala de aula é um laboratório vivo, um lócus de observação privilegiado do processo de aprendizagem, cuja via é de mão dupla” (DOCENTE 26). Contudo, há que se destacar que 5,7% dos respondentes afirmam-se pouco motivados, e 2,9% afirma-se desmotivado. Acredita-se que a justificativa para a desmotivação ampara-se nos fatos, no relato desses docentes: fatores de natureza política; problemas de infraestrutura; falta de empenho dos alunos e; problemas de gestão administrativa da IES.

Um dos docentes ainda citou a existência de lacunas no aprendizado de conteúdos básicos dos alunos ingressantes, conforme segue:

As lacunas na aprendizagem de conteúdos básicos, como leitura e escrita, que se apresentam nos estudantes saídos do ensino médio, dificultam o processo de ensino. Isso implica nas estratégias pedagógicas a serem adotadas pelos docentes, tendo em vista que a própria compreensão da prática e dos objetivos do ensino resta prejudicada junto aos alunos. Aliado a isso, há a desmotivação por parte do alunado em ampliar conhecimentos, seja por meio do aprofundamento nos tópicos trabalhados em aula ou pela busca de saberes extracurriculares, para além da sala de aula (DOCENTE 16).

Assim, cumpre destacar que além dos fatores já relatados, a docência é permeada por desafios no que tange à educação prévia dos acadêmicos. Questão essa, que pode ser melhor explorada em estudos futuros.

Em última análise, os docentes foram investigados acerca de quais sugestões teriam para que a atuação do professor universitário possa ser mais satisfatória, do ponto de vista pedagógico.

As principais respostas obtidas remetem à: mudança na forma de avaliação dos docentes e discentes; diminuição de burocracias administrativas; profissionalização e capacitação pedagógica constante dos docentes; utilização de tecnologias como recursos didáticos; tempo para capacitação na carga horária de trabalho; bolsas de estágio para acadêmicos auxiliarem docentes em atividades pedagógicas; oferta de disciplina na graduação voltada à docência; diminuição na sobrecarga de trabalho; apoio e acompanhamento pedagógico da IES; melhoria em infraestrutura; incentivos à projetos de pesquisa e extensão; melhorias na gestão universitária; trabalhar mais a prática com os alunos.

Outro ponto colocado pelos respondentes remete ao fato da característica dos alunos, que advindos do ensino médio, apresentam dificuldades de ensino e leitura, portanto, seria necessário o desenvolvimento de revisões de conteúdos básicos do ensino médio.

Ademais, conforme afirma um dos docentes:

O processo pedagógico é dinâmico e o perfil dos acadêmicos também, assim, é imprescindível que o docente se atualize com frequência de atuais processos didáticos, principalmente aqueles cuja formação tenha sido na área do bacharelado, pois para esses o desafio é ainda maior. Dessa forma sugiro que a IES promova, no mínimo, uma vez por ano, capacitações de curta duração como forma de inserir esses docentes no universo didático pedagógico (DOCENTE 10, grifo nosso).

Cabe ressaltar ainda, que dois professores citaram a necessidade de utilização de um laboratório de práticas secretariais como apoio às atividades práticas, que possibilitem um ambiente mais dinâmico. Nesse cenário, conforme já afirmava Masetto (1998), as habilidades dos docentes voltadas ao ensino devem, além do desenvolvimento de capacitações e formações para a docência, ser características de cada professor.

Por fim, destaca-se que é fundamental que o profissional bacharel aprofunde seus conhecimentos relacionados ao preparo didático-pedagógico, como forma de garantir uma maior qualidade no processo ensino-aprendizagem dos discentes.

 

5 Considerações finais

 

O processo formativo dos profissionais que atuam na docência no ensino superior deve ser compreendido não apenas em seu campo específico de formação, mas também na área didático-pedagógica, visto que esses docentes assumes responsabilidades significativas na formação e na educação profissional dos discentes.

A ação docente nas IES contudo, por vezes, não perpassa por um processo de formação pedagógica. Assim, no que se refere ao desempenho do docente no nível superior, Abreu e Masetto (1997, p.1) afirmam que “é comum existir uma lacuna: o professor se caracteriza como um especialista no seu campo de conhecimentos; este é, inclusive, o critério para sua seleção e contratação; porém, não necessariamente este professor domina a área pedagógica”.

No que se refere ao curso de Secretariado Executivo, por se tratar de uma graduação que forma bacharéis, as lacunas em relação a formação pedagógica ficam evidentes. A priori, não é objetivo desses cursos, de acordo com as DCN da área, formar profissionais para atuarem na docência. Assim, as grades curriculares de Secretariado Executivo privilegiam um conjunto de saberes necessários ao desempenho da profissão de secretariado em ambientes empresariais. Para àqueles que optarem pela docência no ensino superior, muitas vezes, a capacitação na área pedagógica assume menor importância do que o conhecimento técnico. Ademais, para aqueles que buscam pela capacitação pedagógica em programas stricto sensu, nem sempre tingem ao objetivo, uma vez que parte desses programas enfatizam mais a produção científica do que a prática pedagógica.

Entretanto, a formação do professor universitário de Secretariado Executivo, área ainda em busca de consolidação em termos de pós-graduação stricto sensu, não pode prescindir de uma formação em pesquisa, porém esta deve estar em consonância com conhecimentos didáticos-pedagógicos continuados e ajustados ao aperfeiçoamento de sua ação como profissionais.

Nesse contexto, paralelamente aos aspectos profissionais, como agenda de pesquisas futuras, merece destaque uma maior compreensão acerca da atuação dos bacharéis em secretariado executivo na docência no ensino superior também em instituições de ensino privado do Brasil, de forma a estabelecer um panorama do cenário geral da docência em secretariado. Ainda, cabe ressaltar a necessidade de investigações futuras acerca da percepção dos acadêmicos no que tange ao ensino-aprendizagem em sala de aula.

 

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