Artigo 2 - 5384

 

Produção científica em empreendedorismo nas universidades brasileiras: os pesquisadores expoentes na área

 

Scientific production in entrepreneurship in brazilian universities: the expoent researchers in the area

 

Daniella Haendchen Santos1 e Fernando César Lenzi2

 

1 Universidade do Vale do Itajaí, Brasil, Especdialista em Comunicação emprearial, e-mail: dan@univali.br

2 Universidade do Vale do Itajaí, Brasil, Doutorado em Administração, e-mail: lenzi@univali.br

 

Recebido em: 18/05/2018 - Revisado em: 20/06/2018 - Aprovado em: 04/07/2018 - Disponível em: 01/10/2018

Resumo

Este estudo recenseou os pesquisadores expoentes na produção científica em Empreendedorismo e que são atuantes nas universidades brasileiras. Para tanto, realizou-se pesquisa bibliográfica e documental com coleta de dados marcada por três etapas: definição de palavras-chave para buscas na Plataforma Lattes, filtragem e normalização de dados para análise. Do universo de 339 pesquisadores, a amostra reduziu-se a 69 nomes porque constatou-se a ausência de artigos completos publicados em periódicos, qualificados pela Capes na área de Administração Pública e de Empresas, entre 2013-2016, tendo o Empreendedorismo como assunto central. Pela pontuação no Qualis Capes, chegou-se aos 25 pesquisadores e concluiu-se que: a maioria se concentra no Sul e no Sudeste do país, é atuante nas universidades públicas e possui relevante produção científica de artigos completos publicados em periódicos que variam entre os estratos de maior impacto (A1 e A2), medianos (B1 e B2) e de menor impacto (B3, B4 e B5).

Palavras-Chave: Produção Científica; Empreendedorismo; Universidades; Pesquisadores Brasileiros.

 

Abstract

This study counted the exponential researchers in the scientific production in Entrepreneurship and who are active in the Brazilian universities. For this, a bibliographic and documentary research was carried out with data collection marked by three stages: definition of keywords for searches in the Lattes Platform, filtering and normalization of data for analysis. Of the 339 researchers, the sample was reduced to 69 names because it was verified the absence of full articles published in periodicals, qualified by Capes in the area of Public Administration and Business, between 2013-2016, with Entrepreneurship as a central issue. By the Qualis Capes score, the 25 researchers were reached and it was concluded that: the majority is concentrated in the South and Southeast of the country, is active in public universities and has relevant scientific production of complete articles published in periodicals ranging from (A1 and A2), medium (B1 and B2) and lower impact strata (B3, B4 and B5).

Keywords: Scientific Production; Entrepreneurship; Universities; Brazilian Researchers.

 

1 Introdução

 

O Empreendedorismo é um campo de estudo emergente em nosso país e está tradicionalmente vinculado à área de Administração de Empresas. No entanto, ao perceber a crescente produção bibliográfica com conteúdo que apresenta bases teóricas frágeis e relatos inspiradores de experiências bem-sucedidas, revelando o conhecimento empírico, despertou-se o interesse e objetivo de pesquisa em verificar qual é a contribuição de pesquisadores das universidades brasileiras na produção científica sobre o Empreendedorismo.

De acordo com os autores Ferreira, Pinto e Miranda (2015), são três décadas de pesquisa em Empreendedorismo e, ao longo desses anos todos, tentou-se compreender seu estado da arte a partir das contribuições teórico-empíricas dos pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, tais como: gestão de recursos humanos; finanças; marketing; produção, distribuição e comercialização; sociologia e psicologia, que sinalizam a dimensão complexa que é o Empreendedorismo como um campo de estudo irrigado por tantas fontes do saber.

O fato é que, não havendo uma teoria própria do Empreendedorismo, para os autores supracitados, as pesquisas baseiam-se muito mais em fenômenos do que em teorias, e estas hão de emergir futuramente a partir do que se tem pesquisado na atualidade, no âmbito de cada disciplina em sua pretensão de contribuir com a área, tendo “foco diferenciador no empreendedor, na oportunidade não explorada, na importância dos recursos do empreendedor [...], e no papel das redes relacionais do empreendedor” (FERREIRA; PINTO; MIRANDA, 2015, p. 427).

Diante da possibilidade de absorver teorias de terceiros, no referencial teórico deste estudo especificamente, apoiou-se nos autores Vale (2014), Machado e Nassif (2014), e Costa, Barros e Carvalho (2011), uma vez que, em seus trabalhos, eles buscam desenvolver um embasamento teórico-conceitual ao refletir a respeito do percurso histórico e discursivo sobre o Empreendedorismo, expondo-o sob o ponto de vista economicista, comportamental e contemporâneo.

De modo sucinto, o Empreendedorismo tem concepção econômica, por meio da qual a obtenção do lucro é a força motriz de uma jornada empreendedora que, fundada numa ideologia capitalista, somente os empresários natos são capazes para tal feito. Quando o sujeito é inserido no centro do sistema econômico no lugar do capital, e suas características individuais, cognitivas e psicológicas são levadas em consideração no ato de empreender, urge a concepção comportamental.

Já na contemporaneidade, valoriza-se o networking como uma estratégia para os sujeitos empreendedores criarem as suas oportunidades de negócio a partir dos relacionamentos de sua rede de contatos, tanto pessoais quanto profissionais. Nesta jornada empreendedora, também são valorizados o conhecimento e a experiência adquiridos ao longo da vida para o enfrentamento das incertezas que são salutares no mundo dos negócios.

Pelo exposto, este estudo descritivo teve como objetivo recensear a produção acadêmica de pesquisadores expoentes no estudo do Empreendedorismo, atuantes nas universidades brasileiras, apontando os periódicos nacionais e internacionais nos quais eles divulgam sua produção científica, especificamente nessa área. Trata-se, portanto, de um estudo conveniente à comunidade acadêmica por direcionar as referências bibliográficas das futuras pesquisas sobre o Empreendedorismo.

Além disso, os procedimentos metodológicos são expansíveis e úteis para outros estudos acadêmicos que tenham a pretensão de tornar o conhecimento científico homogêneo quando este encontra-se disperso em publicações diversas, em decorrência do desenvolvimento contínuo e progressivo das tecnologias da informação e da comunicação, gerando-se dúvida sobre quem são os pesquisadores proeminentes e quais são os periódicos relevantes da área de interesse.

Pretendeu-se, portanto, sanar tal dúvida com este estudo que apresenta os nomes de referência que contribuem forte e significativamente com a produção científica sobre o Empreendedorismo no país. Aqui estão relacionados os 25 pesquisadores expoentes nessa área, atuantes nas universidades brasileiras, cujos artigos completos publicados em periódicos, de expressiva conceituação, apresentam o que há de mais atual em conhecimento teórico-empírico sobre o Empreendedorismo.

 

2 Referencial Teórico

 

Para iniciar a discussão teórica, reporta-se aos aspectos históricos que originam o Empreendedorismo. A bem da verdade são muitos os estudiosos - de Richard Cantillon e Jean Baptiste Say a David Clarence McClelland, de diversas áreas do conhecimento, que tentaram teorizar e conceituar o ato de empreender e o papel do empreendedor. No entanto, seus esforços acompanharam as profundas e dinâmicas transformações sociais e econômicas pelas quais o mundo passou ao longo dos anos, desde o século XVII até a atualidade. Por este motivo, pode-se dizer que não há uma base teórica única e solidificada para os estudos sobre Empreendedorismo.

De acordo com Vale (2014), as concepções teóricas mais bem estruturadas sobre o Empreendedorismo podem ser visualizadas sob cinco prismas: econômico, inovador, psicológico, sociológico e sociológico-econômico, cujos preceitos dos autores de referência encontram-se tanto dispersos quanto integrados devido ao dinamismo desse campo de estudo, e dependendo do momento histórico também. As autoras Machado e Nassif (2014), numa réplica aos escritos de Vale (2014), acrescentam o sexto prisma: o contemporâneo. Em dados momentos desta discussão teórica, inseriu-se também a contribuição de Costa, Barros e Carvalho (2011) a respeito dos discursos ideológicos sobre o Empreendedorismo.

 

2.1 Empreendedorismo no panorama economicista

 

Os economistas liberais Richard Cantillon e Jean Baptiste Say são considerados, de acordo com Machado e Nassif (2014), as primeiras referências do Empreendedorismo, datadas dos séculos XVII e XVIII. O primeiro autor trata o empreendedor como um sujeito econômico que aproveita oportunidades, investe recursos próprios e assume riscos em uma transição comercial de compra e venda, de oferta e demanda. Tanto o comerciante quanto o artesão e o colono, como sujeitos empreendedores exemplos de Cantillon, se valem da expressão máxima: “comprar pelo preço certo para (re)vender pelo preço incerto”.

Opostamente, de acordo com Costa, Barros e Carvalho (2011), o segundo autor trata o empreendedor como um sujeito econômico predominantemente nato. Movido pela racionalidade e pelo dinamismo, ele age pela certeza em sua incessante busca pelo equilíbrio financeiro de seu negócio e pela maximização do lucro obtido com suas vendas, as quais devem sempre atender as necessidades crescentes da demanda. Em outras palavras, o empreendedorismo é a mola propulsora para o desenvolvimento econômico por meio da criação de novos negócios, os quais devem ser administrados por empresários que tenham talento para tanto.

Na integração teórica descrita por Vale (2014), os principais autores da linha de pensamento economicista na idade moderna são Frank Hyneman Knight, Israel Meir Kirzner e William Jack Baumol, sendo o primeiro autor discípulo de Cantillon e os demais de Say. Seus preceitos datam dos séculos XIX e XX e objetivam compreender o papel do empreendedor e o impacto de sua atuação na economia, combinando, desta forma, o sujeito empreendedor ao capital. Para Vale (2014, p.878), a contribuição científica desses autores permite:

[...] associar a figura do empreendedor com a de um executivo, que toma decisão em condições de incerteza (Knight, 2009); que se mantém sempre em estado de alerta para identificar novas oportunidades (Kirzner, 1979); e que é capaz de introduzir uma inovação no mercado (Baumol, 2010) (grifo nosso).

Seguindo na trilha da inovação, o economista Joseph Alois Schumpeter, discípulo de Say na integração teórica de Vale (2014), coloca o sujeito no centro do sistema econômico, e não o capital – como os demais. Pela ideologia capitalista clássica, exposta por Costa, Barros e Carvalho (2011), na visão schumpeteriana, o empreendedor é o sujeito inovador que impulsiona o mercado para o desenvolvimento e atua como agente do desequilíbrio devido à sua capacidade de romper a resistência, que precede qualquer mudança, para implantar coisas novas e renovar as obsoletas.

Pela ideologia capitalista liberal, o dever de promover os processos de “destruição criadora”, que impulsionam o desenvolvimento econômico, é transferido do sujeito individual para o sujeito coletivo (COSTA; BARROS; CARVALHO, 2011). Ou seja, dos empreendedores para os empreendimentos. De qualquer modo, a atitude inovadora revela-se tanto dentro quanto fora das empresas na medida em que se criam novas formas de organização, novos meios de produção e novos produtos para inserção no mercado, ainda que estes sejam reformulados e/ou aperfeiçoados. É o que se entende por Intraempreendedorismo e Empreendedorismo Corporativo.

2.2 Empreendedorismo no panorama comportamental

 

Continuando nos séculos XIX e XX, e adentrando ao panorama comportamental do Empreendedorismo, os principais autores da linha de pensamento sociológico, citados por Vale (2014), são: Max Weber, Werner Sombart, Georg Simmel e Berthold Frank Hoselitz. O primeiro deles se destacou dos demais por seu pioneirismo em observar o comportamento do sujeito empreendedor diante das mudanças socioeconômicas que sucedem o processo de industrialização e a consequente evolução do capitalismo. Para Weber, esse sujeito é proveniente das classes mais periféricas da sociedade e seu exemplo é o camponês protestante que, numa alteração radical de vida, se insere no ciclo de produção fabril, comprando roupas diretamente dos tecelões para revenda.

Sombart também compartilha a ideia da marginalização social como princípio ativo para o empreendedorismo porque, para ele, o sujeito empreendedor é aquele que se lança no empreendedorismo com objetivo de inserir-se na sociedade em busca de reconhecimento. Em outras palavras, tanto Weber quanto Sombart almejam em seus preceitos entender a dinâmica inicial do capitalismo, ou seja, como os negócios são iniciados a partir do zero - ainda que o sujeito empreendedor, por vezes, tenha que tomar empréstimos bancários para fazer seu negócio nascer e/ou alavancar.

Os autores Costa, Barros e Carvalho (2011) categorizam os pensamentos de Sombart como economicistas, ao contrário de Vale (2014) e de Machado e Nassif (2014) que o consideram um comportamentalista. Presume-se que aqui haja uma dispersão teórica. O fato é que, para Costa, Barros e Carvalho (2011), o empreendedor de Sombart é um sujeito econômico com espírito altamente capitalista que associa o lucro ao trabalho, cuja ganância determina a organização de seu negócio de tal modo que as relações de produção e de consumo são estabelecidas pelo empresário capitalista, visto como um homem de sucesso e exemplo para a sociedade.

Simmel também percebe o sujeito empreendedor como um ator social excluído. Mas, em seus estudos, de acordo com Vale (2014), são analisadas as interações entre os indivíduos na teia de suas variadas relações. Sua preocupação maior é com o outro estrangeiro, aqui entendido como aquele sujeito que migra de uma cidade para outra, carregando consigo toda a bagagem de suas origens, mas despido de quaisquer laços com o seu destino. Por esta razão, ele enfrenta dificuldades para empreender porque está mal inserido nesta sociedade que até então é desconhecida por ele.

Considerando a integração teórica de Vale (2014), observa-se que, com Hoselitz, o Empreendedorismo Social é vislumbrado como a oportunidade para que os indivíduos empreendam, sejam eles marginalizados ou não. O autor, um dos discípulos de Simmel, defende a institucionalização do empreendedorismo para impulsionar a criação e/ou alavancagem de novos negócios, tornando-os competitivos e permanentes no mercado e, por consequência, favorecendo o processo de desenvolvimento econômico da sociedade onde estão inseridos. Pode-se exemplificar tal preceito com as ações do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) institucionalizadas no Brasil.

Já no século XX, os sociólogos Mark Granovetter e Ronald Stuart Burt também se inserem neste grupo dos comportamentalistas, porém com o diferencial de associar a sociologia à economia em seus estudos sobre o Empreendedorismo. Observando novamente a integração teórica de Vale (2014), ambos os autores aparecem como discípulos de Simmel, uma vez que, em seus preceitos, eles também discorrem sobre as redes de relacionamento do empreendedor.

Granovetter categoriza os laços que unem os indivíduos em fortes e fracos, tendo em vista que as relações sociais podem ser pessoais e/ou estruturais. Aqueles que se encontram muito próximos uns dos outros, numa relação capaz de gerar confiança mútua, respeito e solidariedade, estabelecem laços fortes e constituem basicamente as relações pessoais. Do lado oposto estão aqueles mais distantes uns dos outros que sustentam uma frágil relação de laços fracos, ainda que consigam compartilhar determinadas informações. São as relações mais estruturais.

Muitos dos recursos necessários à construção dos empreendimentos encontram-se enraizados no interior de distintas estruturas de relacionamento. A partir de seus laços com diferentes grupos sociais, empreendedores são capazes de obter informações sobre oportunidades de negócios, identificar possibilidades de parcerias, acessar recursos valiosos, chegar a novos clientes e mercados, usufruir de solidariedade, apoio etc. (VALE, 2014, p.883).

Burt, por sua vez, identifica em seus estudos as vantagens dos laços enfraquecidos entre os indivíduos ao conceituar os vazios estruturais das relações sociais como espaços a serem ocupados por aqueles que enxergam uma oportunidade na desunião de terceiros. Em outras palavras, significa dizer que o indivíduo que rompe o vazio e ocupa o seu lugar no espaço social se encontra em uma posição privilegiada porque transita entre diferentes grupos que, embora estejam dispersos entre si, são conectados por ele por meio da sua capacidade de realizar negociações exclusivas e estratégicas. É o que Vale (2014) chama de sujeito empreendedor por excelência.

Além da abordagem sociológica, explanada até aqui, neste panorama comportamental do Empreendedorismo também se contempla a linha de pensamento psicológica, cujo principal autor é David Clarence McClelland. Sua contribuição científica é a análise das características psicológicas e comportamentais, além das influências culturais, que predispõem um indivíduo ao ato de empreender, considerando a motivação humana como fator preponderante. Assim, quanto maior for o desejo desse indivíduo em conquistar e realizar coisas, maior será a propensão dele em explorar as oportunidades e os desafios que a vida lhe apresenta. Por consequência, o progresso econômico é fruto de uma jornada empreendedora baseada pela: “associação entre autorrealização e sentimentos positivos; educação que estimula a independência pessoal; noção de recompensa pelo sucesso; vontade de perseguir desafios” (VALE, 2014, p. 880).

Convém destacar que os teóricos comportamentalistas não se opõem aos economicistas. A contribuição científica deles amplia os estudos sobre Empreendedorismo, focando no sujeito empreendedor em si e não simplesmente em seu empreendimento. O fato é que, na perspectiva econômica, para ser empreendedor é preciso nascer com o talento de administrar para se obter o sucesso. De outro lado, na perspectiva comportamental, é possível tornar-se empreendedor por meio da Educação Empreendedora que considera os traços psicológicos, comportamentais e culturais na formação daquele que pretende empreender tanto por necessidade quanto por oportunidade.

 

2.3 Empreendedorismo no panorama contemporâneo

 

Conforme dito na abertura desta discussão teórica, Machado e Nassif (2014) acrescentam o prisma contemporâneo nas concepções teóricas descritas por Vale (2014). Para as autoras, no percurso epistêmico, o Empreendedorismo é percebido como um fenômeno complexo e heterogêneo que requer pesquisas adicionais, sejam elas multidisciplinares e/ou interdisciplinares, para se ir além dos aspectos históricos. De qualquer modo, na contemporaneidade, o sujeito empreendedor é aquele que cria as próprias oportunidades de negócio por meio das redes sociais e do networking. Para enfrentar as incertezas, ele se arma com o conhecimento e com a experiência adquiridos para agir com eficiência e eficácia sobre o seu modelo de negócio. Quanto à inovação, ela nasce de sua percepção criativa.

 

3 Procedimentos Metodológicos

 

Este estudo de caráter descritivo compreendeu duas pesquisas realizadas de modo simultâneo: a bibliográfica para compor a discussão teórica e a documental para coleta de dados, utilizando-se de procedimentos metodológicos específicos, sobre os quais descreve-se a seguir.

 

3.1 Coleta de dados

 

A coleta de dados ocorreu na Plataforma Lattes e na Plataforma Sucupira. Ambas constituem fontes secundárias de informação, de acesso livre na internet para consulta pública, sobre quem faz e o que se faz nas universidades e nas instituições análogas. De acordo com as lições de Marconi e Lakatos (2015), tais fontes podem ser consideradas documentos oficiais porque são referentes à vida pública dos pesquisadores brasileiros, sendo impossível o controle externo sobre o que está registrado nestas Plataformas e necessária a seleção dos dados pertinentes a este estudo.

Da Plataforma Lattes, interessou o currículo acadêmico dos pesquisadores, mais especificamente o item que trata da publicação de artigos completos em periódicos. De acordo com Ferreira, Pinto e Miranda (2015), estes são considerados conhecimento certificado porque são validados pelos pares e às cegas antes da publicação em si. Convém destacar que se correu o risco de conter informações inexatas no Currículo Lattes devido ao preenchimento equivocado (ou até mesmo incompleto). De qualquer modo, ainda assim, é uma fonte de informação de valor e fidedigna por ser o principal sistema de informações acadêmicas do país porque engloba importantes bases de dados: currículos, grupos de pesquisa e instituições. Da Plataforma Sucupira, interessou a qualificação dos periódicos nacionais e internacionais no quadriênio 2013-2016.

Para realizar buscas na Plataforma Lattes sobre quem são os pesquisadores expoentes no estudo sobre o Empreendedorismo, e atuantes nas Universidades Brasileiras, foram definidas dez palavras-chave, tendo como critério de escolha a representação significativa do referencial teórico apresentado anteriormente, ampliando radialmente a busca por produções relacionadas ao tema central desta pesquisa. São elas: Empreendedorismo; Empreendedor; Empreender; Empreendedorismo Corporativo; Empreendedorismo Social; Intraempreendedorismo; Educação Empreendedora; Comportamento Empreendedor; Cultura Empreendedora; e Plano de Negócios. Dos resultados encontrados, dispostos no quadro 01, selecionou-se os 50 primeiros nomes do ranking de cada uma das palavras de busca.

 

Quadro 01: Resultados de busca das palavras-chave.

 

 

 

 

 

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Fonte: Autores (2017).

 

3.2 Filtragem dos dados obtidos

 

Por conta da repetição de nomes entre as dez palavras-chave definidas anteriormente, aplicou-se o critério da conjunção para verificar por quais delas permeiam os estudos dos pesquisadores. Do universo de 339 nomes, excluiu-se 69 porque, de acordo com os indicadores da produção bibliográfica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), não havia o registro de artigos completos publicados em periódicos. Chegou-se ao total de 270 pesquisadores para novo processo de filtragem.

Considerando a última avaliação quadrienal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), período 2013-2016, e a classificação do Qualis na área de Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo, observou-se no Currículo Lattes de cada pesquisador apenas os artigos completos publicados em periódicos. Estando a produção bibliográfica dos pesquisadores em desacordo com tais critérios de exclusão, mais 114 nomes foram eliminados deste estudo, restando 156 para posterior análise.

Feita a leitura dos títulos, resumos e palavras-chave dos artigos completos publicados em periódicos, percebeu-se o aparecimento de situações em que o conteúdo não se reportava ao assunto “Empreendedorismo” e seus correlatos traduzidos para inglês e espanhol: “Entrepreneurship” e “Empredimiento”, respectivamente. Por esta razão, foi necessário um novo processo de filtragem, tendo em vista o que se propôs a investigar neste estudo: a contribuição científica sobre o Empreendedorismo. Assim, eliminou-se 87 nomes, chegando-se ao número final de 69 pesquisadores como amostra.

Pelos ensinamentos de Marconi e Lakatos (2015), pode-se categorizar essa amostra como não probabilista por tipicidade. Na tentativa de obter um número representativo de pesquisadores, elaborou-se uma série de quatro cortes baseada em critérios típicos, não se utilizando da aleatoriedade, como no caso da amostra probabilista. Sendo assim, aquele que publicou artigo completo em periódico, qualificado pela Capes na área de Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo, durante o quadriênio 2013-2016, tendo o Empreendedorismo como assunto central, faz parte do conjunto estudado porque se enquadra por tipicidade.

Marconi e Lakatos (2015, p.39) advertem que, quando se utiliza a amostragem não probabilista, não há como fornecer tratamento estatístico para erros e desvios, os quais não são sequer computados. Por esta razão, “deve restringir-se às situações em que: (a) os possíveis erros não apresentam gravidade maior; e (b) é praticamente impossível a amostragem probabilista”. Em outras palavras, reconhece-se como fator limitante, não comprometedor, a seleção dos 50 primeiros nomes do ranking de cada uma das palavras de busca, cujos resultados ultrapassam a casa das centenas, sendo impossível aplicar a amostragem probabilista a todos os nomes relacionados.

 

3.3 Normalização dos dados coletados

 

Os dados coletados nas Plataformas Lattes e Sucupira foram organizados em planilhas no Excel® para facilitar a posterior análise dos dados, a saber: nome do pesquisador; instituição de atuação; área do doutorado, instituição de formação e ano; palavras-chave associadas; quantidade de artigos completos publicados em periódicos, registrados no quadriênio 2013-2016, na área de Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo, e com foco no Empreendedorismo; indicadores de produção de artigos científicos, baseados na classificação e na pontuação dos periódicos (A1 - a mais elevada, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C - com peso zero) e seus respectivos ISSN.

 

4 Resultados e Análise

 

Para análise dos dados coletados, partiu-se da pontuação relativa a cada estrato do Qualis Capes, sendo: A1 = 100 pontos, A2 = 80, B1 = 60, B2 = 50, B3 = 30, B4 = 20, B5 = 10 e C = 0. Com os resultados preliminares, foi possível ranquear os 69 pesquisadores que compõem a amostra deste estudo: o mais bem colocado atingiu o ápice de 900 pontos e o menos, 10. Assim, eliminou-se 44 nomes por conta da pontuação inferior a 90 e, com isso, obteve-se tanto dados quantitativos quanto qualitativos, exigindo-se a habilidade em identificar as inter-relações sobre o que se observou no decorrer deste estudo.

Chegou-se, então, aos 25 pesquisadores expoentes na produção científica em Empreendedorismo, e que são atuantes em universidades de oito estados brasileiros, a saber: sete em São Paulo (28%), quatro em Santa Catarina (16%), três em Minas Gerais (12%), três no Paraná (12%), dois no Rio Grande do Sul (8%), dois em Goiás (8%), dois em Pernambuco (8%), um no Rio de Janeiro (4%) e um no Mato Grosso (4%).

Dentre as universidades, destacam-se: 12 públicas (48%), cinco privadas (20%) e três comunitárias (12%), conforme demonstrado no quadro 02. Pode-se afirmar, portanto, que a produção científica em Empreendedorismo se concentra nas universidades públicas, as mais bem-conceituadas do Brasil, e nas regiões Sul e Sudeste, as mais desenvolvidas.

 

Quadro 02: Os 25 pesquisadores expoentes no estudo do Empreendedorismo, suas instituições de atuação e de formação.

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Fonte: Autores (2017).

Ainda no quadro 02, visualiza-se a formação dos pesquisadores e nota-se que a última titulação - a de Doutorado - ocorreu no intervalo de 31 anos, de 1986 a 2017, coincidindo com o tempo de existência dos primeiros estudos sobre Empreendedorismo no Brasil que remontam ao início dos anos 1980, por iniciativa da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Dezenove pesquisadores (76%) titularam-se a partir dos anos 2000, cinco (20%) nos anos 1990 e um (4%) nos anos 1980, destacando-se as universidades públicas (56%), notoriamente a Universidade de São Paulo (USP), as privadas (28%) e as estrangeiras (16%) como instituições de formação. Percebe-se que os pesquisadores se titularam Doutor em universidades renomadas, em anos recentes, adquirindo, com isso, o nível mais aprofundado e atual de conhecimento científico dentro da extensão dos seus campos de estudo, o que quer dizer que são nomes de referência na atualidade.

No período de quatro anos, de 2013 a 2016, esses pesquisadores publicaram entre dois e 15 artigos completos em periódicos qualificados pela Capes, especificamente na área de Administração Pública e de Empresas, Ciências Contábeis e Turismo e, também, considerando apenas aqueles que têm o Empreendedorismo como assunto central.

Do total de 160 artigos, observa-se no quadro 03 que: 26 (16,25%) estão enquadrados nos estratos A1 e A2, o que significa que são artigos de maior impacto no âmbito das pesquisas científicas realizadas no mundo; 95 (59,37%) enquadram-se nos estratos B1 e B2, de impacto mediano; e 38 (23,75%) nos estratos B3, B4 e B5, que são os de menor impacto. Um artigo no estrato C, que equivale a 0,63%, não pontua para os pesquisadores. Comprova-se que a pontuação dos pesquisadores é diretamente proporcional à quantidade de artigos publicados em periódicos qualificados pela Capes.

 

Quadro 03: A produção de artigos científicos sobre Empreendedorismo dos 25 pesquisadores no quadriênio 2013-2016 e sua respectiva pontuação no Qualis.

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Fonte: Autores (2017).

Inter-relacionando os quadros 02 e 03, acima expostos, percebe-se a correspondência entre o tempo de experiência adquirida ao longo da jornada acadêmica e o critério de seleção sobre os periódicos nos quais se publicam os artigos científicos. Exemplificando: há um intervalo de 15 anos de doutoramento entre o primeiro pesquisador, que publicou 15 artigos sobre Empreendedorismo no quadriênio 2013-2016 e obteve 900 pontos, e o vigésimo quinto pesquisador, que publicou dois artigos e obteve 90 pontos. Observa-se que a experiência acadêmica se reflete na preocupação com o Qualis Capes e os pesquisadores tornam-se mais seletivos, com o decorrer dos anos, sobre onde publicar os resultados de suas pesquisas.

No quadro 04, relaciona-se os periódicos mais relevantes, considerando a produção científica de artigos sobre Empreendedorismo, no quadriênio 2013-2016, dos pesquisadores elencados neste estudo. Destes periódicos, destacam-se notoriamente pela preferência dos pesquisadores em neles publicar seus trabalhos: Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (REGEPE), que é considerado o único periódico brasileiro especializado em Empreendedorismo; Revista de Administração Contemporânea (RAC); e Desenvolvimento em Questão, para citar somente os três primeiros colocados na relação.

Tratam-se de periódicos brasileiros enquadrados nos estratos B1, A2 e B2 do Qualis Capes, respectivamente, e que possuem, portanto, impacto variável entre alto e mediano no âmbito global da divulgação científica. De acordo com os autores Ferreira, Pinto e Miranda (2015), são os periódicos mais conceituados que publicam pesquisas de grande relevância e, por esta razão, são os mais procurados pelos pesquisadores, tanto para submissão de artigos quanto para utilização do referencial nas citações de seus trabalhos, o que é comum na escrita acadêmica. Além disso, vale destacar, que são os periódicos mais conceituados que mais pontuam a produção bibliográfica dos pesquisadores.

 

Quadro 04: Os periódicos mais relevantes para divulgação científica em Empreendedorismo, de acordo com a produção dos 25 pesquisadores.

 

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Fonte: Autores (2017).

Observa-se no quadro 05 que o nome dos 25 pesquisadores está associado simultaneamente entre uma e seis palavras-chave, ainda que nenhuma das dez selecionadas tenham ficado sem representatividade. Pela conjunção das palavras-chave, estas podem ser assim descritas: Empreendedorismo Corporativo e Comportamento Empreendedor permeiam os estudos de nove (09) pesquisadores, isto é a maior parte; Empreendedorismo e Empreendedorismo Social, de oito (08); Empreendedor, de sete (07); Intraempreendedorismo e Cultura Empreendedora, de cinco (05); Educação Empreendedora, de três (03); e Empreender e Plano de Negócios, de um (01) pesquisador, isto é a menor parte. Por esta descrição, pode-se afirmar que tais conjuntos representam o foco da produção dos pesquisadores elencados neste estudo.

 

Quadro 05: As palavras-chave associadas aos nomes dos 25 pesquisadores.

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Fonte: Autores (2017).

Verificou-se também que não há relação entre a quantidade de artigos completos publicados em periódicos e a aparição do nome do pesquisador em maior número de palavras-chave de busca na Plataforma Lattes. O pesquisador que apareceu em oito das dez palavras-chave de busca tem um único artigo completo publicado em periódico, no ano de 1998, com Qualis B4.

Já aquele que possui 80 artigos aparece em apenas três palavras-chave, e ainda: as publicações foram em jornais de grande circulação nacional. Ambos foram excluídos da pesquisa porque não se enquadraram aos critérios de seleção dos pesquisadores expoentes na área de Empreendedorismo.

 

5 Considerações Finais

 

Neste estudo, cumpriu-se o objetivo de recensear os pesquisadores doutores expoentes na pesquisa científica sobre Empreendedorismo e que são atuantes nas universidades brasileiras. No entanto, não há como encerrá-lo por aqui. É notória a necessidade de ampliá-lo para contemplar outras inter-relações a respeito do que se observou nos dados aqui expostos. Acredita-se na importância da produção científica sobre Empreendedorismo, uma vez que é na universidade que se preencherá a lacuna existente entre a teoria e a prática.

A rede desses pesquisadores não foi considerada neste estudo, nem mesmo debruçou-se sobre os artigos em si, escritos por eles, para um estudo sobre coautorias e citações. Como a pesquisa científica é, prioritariamente, um trabalho coletivo, faz-se necessário um estudo com o objetivo de identificar todas as ligações intelectuais que fomentam teorias, temas e autores. É por meio dessas redes de pesquisa entre as universidades que a base teórico-empírica sobre Empreendedorismo poderá evoluir rapidamente.

Sugere-se também um estudo similar sobre os pesquisadores internacionais. Embora o Currículo Lattes seja de preenchimento obrigatório apenas no Brasil, ainda assim é possível visualizar os estrangeiros no sistema de busca da Plataforma Lattes e identificar quem são aqueles que pesquisam Empreendedorismo no mundo e que se destacam por seus estudos. Desta forma, será possível contemplar todo estado da arte e direcionar a comunidade acadêmica em sua pesquisa bibliográfica sobre o Empreendedorismo em âmbito global.

Conforme dito anteriormente, no item 3.1 deste artigo, correu-se o risco de haver dados equivocados na Plataforma Lattes. Por este motivo, é possível que haja discrepância nas informações aqui apresentadas, mas que não comprometem os resultados da pesquisa porque, diante da dúvida, eliminou-se os dados quando se identificou o preenchimento equivocado e/ou inadequado do Currículo Lattes. Tal situação se reflete sobre a ausência de pesquisadores reconhecidos e renomados, no ranking aqui apresentado, que não apareceram nas buscas iniciais da coleta de dados.

Por esta razão, conclui-se com este estudo a importância do preenchimento correto e atual do Currículo Lattes no âmbito acadêmico. Mais do que um procedimento burocrático, é por meio dele que a Capes avalia professores, alunos e Cursos; direciona verba pública para bolsas de estudo, eventos técnico-científicos e projetos em geral; promove o networking acadêmico; e forma grupos de pesquisa. Acrescenta-se ainda neste rol, a Plataforma Lattes como uma fonte de informação para pesquisas acadêmicas.

 

Referências

 

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MACHADO, H. P. V.; NASSIF, V. M. Réplica – Empreendedores: Reflexões sobre Concepções Históricas e Contemporâneas. Revista de Administração Contemporânea - RAC, Rio de Janeiro, v.18, n.6, p. 892-899, nov./dez. 2014.

MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2015.

VALE, G. M. V. Empreendedor: Origens, Concepções Teóricas, Dispersão e Integração. Revista de Administração Contemporânea - RAC, Rio de Janeiro, v.18, n.6, p. 874-891, nov./dez. 2014.



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