Artigo 2

1 Universidade Federal de Viçosa, Brasil, Doutorado em Administração, e-mail: anaazevedo@ufv.br

2 Universidade de São Paulo, Brasil, Doutoranda em Administração, e-mail: mcconejero@hotmail.com

3 Universidade de São Paulo, Brasil, Doutorando em Administração, e-mail: rmorais@usp.br

 

Recebido em: 19/01/2020 - Revisado em: 25/06/2020 - Aprovado em: 16/03/2021 - Disponível em: 01/07/2021

Resumo

O objetivo deste estudo é discutir a aplicabilidade do discurso do sujeito coletivo (DSC) como uma opção metodológica para análise de dados provenientes de focus group nas pesquisas em administração. Para consolidar a reflexão proposta, empreendeu-se um levantamento bibliográfico para verificar o panorama das pesquisas envolvendo DSC e sua aplicabilidade no contexto dos estudos em administração. Dado que as pesquisas envolvendo focus group buscam capturar a partir da interação grupal, percepções acerca de um tópico específico e a metodologia do DSC dedica-se a levantar pensamentos, representações, crenças e valores de uma coletividade, é possível verificar a aderência entre os métodos, pautada sobretudo, em uma perspectiva interpretativista, voltada para a captura de representações sociais. A contribuição deste estudo está na ampliação da visão metodológica interdisciplinar e no desenvolvimento das pesquisas envolvendo focus group. Acredita-se que novos caminhos investigativos podem emergir com aplicação da metodologia DSC para análise de dados provenientes de focus group, possibilitando o avanço de pesquisas qualitativas em administração.

Palavras-Chave: Discurso do sujeito coletivo. Focus group. Pesquisa qualitativa. Pesquisa em Administração.

 

Abstract

This study aims to discuss the applicability of the collective subject discourse (CSD) as a methodological option for analyzing data from a focus group in management research. A bibliographical review was carried out to verify the status of DSC research and its applicability in business management studies to consolidate the proposed reflection. Given that the focus group researchers seek to capture from the group interaction perceptions about a specific topic and the DSC methodology is dedicated to raising thoughts, representations, beliefs, and values of a community. It is possible to verify the adherence between the methods based mainly on an interpretative perspective to capture social representations. The contribution of this study is in the extension of the interdisciplinary methodological vision in the development of the research involving focus groups. It is believed that new investigative paths may emerge with the application of the DSC methodology to analyze data from the focus group, allowing the advancement of qualitative research in business management.

Keywords: Collective subject discourse. Focus group. Qualitative research. Business management research.

 

1. INTRODUÇÃO

A complexidade dos tópicos pesquisados em Administração exige o emprego de uma série de métodos de coleta de dados e técnicas analíticas (GUPTA; AWASTHY, 2015). As decisões nesse escopo dependem do projeto de pesquisa, das questões que impulsionam o estudo, dos estudos anteriores e das contribuições que os pesquisadores esperam oferecer (EDMONDSON; MCMANUS, 2007). Via de regra, o pesquisador precisa estar ciente do que está acontecendo e trabalhar para escolher o método que trará o fenômeno à luz da melhor maneira disponível (BLUHM et al., 2011).

Nesse aspecto, observa-se uma miríade de diferentes possibilidades de técnicas de coleta e análise de dados (KÖHLER, 2016), dentre as quais destacam-se no panorama atual: - a análise de conteúdo, a análise de discurso, as analogias e metáforas, a etnografia, a fenomenologia, os grupos de foco, a história oral, a historiografia, as técnicas de complemento, as técnicas de construção, o teste de evocação de palavras, a pesquisa-ação e a triangulação. Além destas, algumas menos incidentes, são a construção de desenhos, a desconstrução, a grounded theory, os mapas cognitivos, a metodologia reflexiva, a fotoetnografia, os mapas de associação de idéias, o método Delphi e a netnografia (ALLAN; SKINNER, 2020; GUPTA; AWASTHY, 2015).

Apesar dos avanços recentes na pesquisa qualitativa em Administração, os pesquisadores continuam enfrentando uma série de barreiras em comparação com pesquisas quantitativas ao tentar publicar seus trabalhos (BLUHM et al., 2011). Ainda segundo os autores não existe um modelo sobre como conduzir e escrever estudos qualitativos, mas os padrões dos revisores são percebidos como muito mais elevados para aceitar trabalhos qualitativos em comparação aos trabalhos quantitativos.

Não obstante, os métodos de coleta e análise de dados qualitativos não são padronizados, e, o cenário e as questões da pesquisa influenciam os procedimentos de descoberta de dados e os instrumentos utilizados (KÖHLER, 2016). Tais características legitimam a preocupação cada vez mais acentuada nos estudos qualitativos em estabelecer parâmetros que assegurem o rigor científico, sem desqualificar a natureza das pesquisas (FALQUETO, HOFFMANN & FARIA, 2018).

Uma característica central das pesquisas qualitativas é a necessidade de “dar voz ao participante” (BLUHM et al., 2011), retratando suas percepções e experiências sociais o que requer uma apreciação substancial das perspectivas, cultura e “visões de mundo” dos atores envolvidos (ALLAN & SKINNER, 2020). Adicionalmente, é comum à pesquisa qualitativa incluir a redução dos dados para produzir significado a partir dos mesmos (BLUHM et al., 2011). Logo, o processo de análise qualitativa de dados é análogo a uma análise fatorial exploratória em que grandes quantidades de dados são avaliados, simplificados e reconstituídos em grandes temas e categorias que resultam em uma maior compreensão dos dados iniciais, transformando, assim, grandes quantidades de dados em alguns “fatores” que explicam o fenômeno melhor do que os dados originais poderiam (LEE, 1999). Neste panorama, neste artigo discute-se a viabilidade de se aplicar duas técnicas distintas contemplando os aspectos próprios dos estudos qualitativos e cobrindo todos os aspectos de validade e confiabilidade, são elas: (i) focus group e (ii) metodologia do discurso do sujeito coletivo.

Focus group é um procedimento de pesquisa qualitativa cuja aplicação é útil principalmente nas ciências sociais, podendo ser utilizada em áreas como gestão, marketing, processo de decisão estratégica, sistemas de informação, entre outras (OLIVEIRA; FREITAS, 2012). Sua utilização é particularmente apropriada quando o objetivo da pesquisa é explicar como as pessoas consideram uma experiência, uma ideia ou um evento, fornecendo informações sobre o que pensam e sentem, além de informações sobre a forma como agem (KRUEGER; CASEY, 2009).

Um focus group permite ao pesquisador ouvir simultaneamente vários sujeitos, observando as interações decorrentes do processo grupal. No âmbito das pesquisas em Administração, o focus group enquanto técnica qualitativa de coleta de dados vem sendo comumente utilizado para obter informações sobre atitudes e comportamentos de consumidores (Schearer, 1981): no conhecimento de percepções, opiniões e preocupações relativas a produtos e serviços, na geração de insights para o desenvolvimento de novos produtos ou na elaboração de estratégias eficazes de divulgação.

No entanto, ressalta-se que não foram encontrados padrões (ou regras rígidas) na literatura acadêmica sobre as técnicas utilizadas no tratamento e análise dos dados obtidos por meio de um focus group. Diversas metodologias podem ser aplicadas a esse propósito, dentre elas, grounded theory, análise do discurso e análise de conteúdo (STEWART; SHAMDASANI; ROOK, 2007). para Oliveira e Freitas (2012, p. 342), esta análise pode ser feita de duas formas básicas: “(i) qualitativa/resumo etnográfico; e, (ii) codificação sistemática via análise de conteúdo”. Para os mesmos autores as citações diretas do discurso grupal são mais relevantes na abordagem etnográfica, enquanto que a descrição numérica dos dados é mais valorizada na análise de conteúdo.

O impasse entre perspectivas metodológicas quantitativas e qualitativas para análise dos dados em focus group incita uma reflexão acerca das metodologias alternativas, e até certo ponto integrativas, que possam favorecer um processo de análise de dados mais robusto. Dentro deste contexto, emerge a proposta de Lefèvre e Lefèvre (2003) na figura da metodologia do discurso do sujeito coletivo.

No final da década de 1990, os pesquisadores, Fernando Lefèvre e Ana Maria Cavalcanti Lefèvre desenvolveram um no método para analisar pesquisas de opinião, de representação social, ou mais genericamente, de atribuição social de sentido denominado “Discurso do Sujeito Coletivo”. O discurso do sujeito coletivo trata-se de uma técnica de organização de dados discursivos em pesquisas qualitativas, favorecendo a apreensão de representações sobre um determinado tema em um dado universo; seus resultados podem ser generalizados e aparecem, numa escala coletiva, como uma opinião naturalmente se apresenta, isto é, como depoimento sob a forma de discurso (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2012).

Diante deste contexto e da possibilidade de conjugar estas abordagens distintas para um fim comum questiona-se: qual a aplicabilidade da metodologia do DSC para análise de dados em focus group, e qual sua utilização nas pesquisas em administração? O objetivo deste estudo é discutir a aplicabilidade do discurso do sujeito coletivo (DSC) como uma opção metodológica para análise de dados provenientes de focus group nas pesquisas em administração.

Alguns estudos anteriores, tais como Barboza e Fracolli (2005), Paschoal, Mantovani e Méier (2007), e Gomes, Telles e Roballo (2009), já consideraram essa possibilidade de aplicação conjugada (DSC e Focus group) em outras áreas do conhecimento, mais precisamente na saúde pública, na enfermagem e na psicologia. Contudo, no âmbito das ciências sociais aplicadas essa vertente de análise de dados ainda não tem sido explorada, sobretudo nos estudos em administração, como ficou evidenciado na revisão realizada.

Considerando-se o focus group como uma técnica de entrevista em grupo que apresenta como resultado discursos distintos acerca de um tema comum, acredita-se que a metodologia de análise do discurso do sujeito coletivo, com sua capacidade de captar representações sociais possa ser indicada para realizar a análise dos dados e fornecer os outputs esperados do focus group no campo da administração.

A partir das reflexões oriundas deste estudo espera-se contribuir com uma visão multidisciplinar para o aprimoramento de pesquisas futuras que venham a utilizar o focus group como ferramental para coleta de dados e análise DSC para análise dos mesmos. A coexistência de técnicas de pesquisa é possível e bem vista, desde que haja coerência e adequação ao tema a ser estudado (GONÇALVES, 2016). Assim, novos caminhos investigativos poderão emergir com aplicação conjugada desses métodos, possibilitando avanços de pesquisas qualitativas na área de administração.

Os pesquisadores em Administração, enquanto ciência social, devem ter clareza de que determinadas linhas de pesquisa nessa área, são definidas por aquilo que os indivíduos e sua coletividade trazem imbricados em si mesmos dando origem ao chamado senso comum. Captar a essência desse senso comum é uma diretriz importante para alinhar teoria, prática e geração de valor econômico e social no âmbito organizacional, seja ele público, privado ou misto. Dito isto, tanto o Focus Group como o DSC são técnicas para captação das representações de partes que são componentes de um todo maior, carregadas de percpeções e ideologias socialmente impostas.

Este estudo está organizado da seguinte forma, na sequência desta introdução apresenta- se uma revisão teórica acerca da técnica de focus group, seguida de uma apresentação sobre a metodologia do discurso do sujeito coletivo, descrevendo suas características teóricas e operacionais. Apresenta-se também uma breve contextualização das pesquisas envolvendo a metodologia do DSC a partir de consulta a duas reconhecidas bases de dados, discutindo-se a utilização desta técnica no contexto dos estudos organizacionais. Por fim, encerra-se com os apontamentos decorrentes desta análise e a consolidação de um posicionamento acerca da possibilidade de associação entre focus group e discurso do sujeito coletivo.

Considerando-se o focus group como uma técnica de entrevista em grupo que apresenta como resultado distintos discursos acerca de um tema comum, e que o objetivo do pesquisador ao aplicar esta técnica seja apreender e consolidar as realidades provenientes destas distintas opiniões, acredita-se que a metodologia de análise do discurso do sujeito coletivo possa ser indicada para realizar a análise dos dados e fornecer os outputs esperados do focus group seja como método ou como técnica. Assim, a partir das reflexões oriundas deste ensaio teórico, espera-se contribuir a partir de uma visão multidisciplinar, com o aprimoramento de pesquisas futuras que venham a utilizar o focus group como ferramental para coleta de dados.

 

2. FOCUS GROUP

Focus group ou grupos focais podem ser sucintamente definidos como “uma técnica de pesquisa voltada para coleta de dados por meio da interação de grupos sobre um tema determinado pelo pesquisador” (MORGAN, 1996, p. 130). Acocella (2012) complementa essa definição ao pontuar que se trata de uma técnica “não padronizada” de coleta de informações, baseada numa discussão aparentemente informal entre um grupo de pessoas.

O objeto de análise de um focus group é a interação dentro do grupo (FLICK; BARBOUR, 2009). Seguindo a lógica proposta para dinâmica desta técnica, o moderador (que pode ou não ser o pesquisador) estimula a discussão entre os participantes por meio de questões e comentários alinhados ao tema que se deseja estudar (MARTINS; THEÓPHILO, 2009). Os dados provenientes destas discussões são transcritos e acrescidos por anotações e reflexões do moderador e de outro(s) observado(res), caso exista(m). É importante que tanto o moderador quanto o(s) observador(es), observem e registrem comportamentos não verbais que venham a emergir da interação (ACOCELLA, 2012).

As pesquisas envolvendo focus group têm sua gênese na sociologia, e o primeiro estudo publicado abordando esta técnica foi realizado por Robert King Merton em 1941 (GALEGO; GOMES, 2005). Desde seu surgimento o focus group foi alvo de importantes discussões metodológicas, e a partir da década de 1980 passou a ser reconhecido como uma estratégia de pesquisa em ciências sociais (MASADEH, 2012).

Neste âmbito, de acordo com Krueger e Casey (2009) existem quatro abordagens distintas para aplicação de focus group, tais como: pesquisa de mercado, pesquisa acadêmica, pesquisa pública/sem fins lucrativos e pesquisa participativa. Observa-se no horizonte destas distintas abordagens a utilização do focus group ora como método ora como técnica de pesquisa, a depender do design da pesquisa desenvolvida.

Além destas abordagens, em seu livro Focus Group: a pratical guide for applied research Krueger e Casey (2009) sumarizam as principais características de um focus group como sendo: (i) o envolvimento de pessoas, (ii) as reuniões em série, (iii) a homogeneidade dos participantes quanto aos aspectos de interesse da pesquisa, (iv) a geração de dados, (v) a natureza qualitativa e (vi) discussão focada em um tópico que é determinado pelo propósito da pesquisa.

Por suas características esta técnica pode ser considerada tanto um método de pesquisa com conteúdo próprio, como uma técnica de coleta de dados a ser utilizada em conjunto com outros métodos (MORGAN, 1996). Na pesquisa em gestão, especialmente em marketing, considera-se a aplicação do focus group em uma abordagem preliminar como ferramenta exploratória (OLIVEIRA; FREITAS, 2012).

Stewart, Shamdasani e Rook (2007) apresentam uma sumarização das principais aplicações de um focus group, quais sejam, obtenção de informação sobre um tópico de interesse; gerar hipóteses de investigação; estimular novas ideias e conceitos criativos; diagnosticar os potenciais problemas com um novo programa, produto ou serviço; gerar impressões sobre produtos, programas, serviços, instituições ou outros objetos de interesse; compreender como os participantes falam acerca de um fenômeno de interesse, o que facilita o desenvolvimento de inquéritos ou de outros instrumentos de investigação de pendor mais quantitativo; e, interpretação de resultados quantitativos obtidos previamente.

 

2.1 CONDUÇÃO E ANÁLISE DE UM FOCUS GROUP

Os procedimentos para condução de um focus group envolvem basicamente três etapas: planejamento, (ii) condução das entrevistas e (iii) análise dos dados (OLIVEIRA; FREITAS, 2012). De acordo com os autores, aspectos relacionados à fase de planejamento envolvem definições acerca do número e tamanho dos grupos, quem serão os participantes, nível de envolvimento do moderador, conteúdo das entrevistas, seleção do local e coleta de dados. O êxito na segunda fase - condução das entrevistas - depende substancialmente da adequada formulação das questões, das habilidades do moderador e do observador, e, da apropriada composição dos grupos (POWELL; SINGLE, 1996).

No que diz respeito a etapa de análise dos dados Krueger e Casey (2009) afirmam que esta deve ser sistemática, utilizar procedimentos verificáveis e ser realizada de forma sequencial e contínua. As duas formas básicas para análise de dados do focus group são: qualitativa ou resumo etnográfico e a sistemática codificação através da análise de conteúdo (OLIVEIRA; FREITAS, 2012). De acordo com os autores essas formas de análise não são concorrentes e sim complementares, pois na abordagem etnográfica valoriza-se as citações diretas da discussão do grupo, enquanto na análise de conteúdo o foco recai sobre a descrição numérica dos dados, decorrentes da categorização.

Stewart, Shamdasani e Rook (2007) acrescentam à esta visão a possibilidade de se trabalhar a análise dos dados a partir de grounded theory, análise de discurso e análise de conteúdo, a depender da perspectiva epistemológica adotada. Os autores apresentam três perspectivas epistemológicas distintas, que são construtivismo social (baseado na sociologia e na psicologia social), fenomenologia (baseada na psicologia clínica) e interpretativismo (baseado na etnografia).

Como abordado na introdução deste estudo, não se encontra na literatura uma determinação única, ou regras rígidas, quanto às técnicas a serem utilizadas para o tratamento e análise dos dados obtidos por meio de um focus group, neste contexto busca-se refletir a partir de uma nova abordagem, denominada representação social, aproximações que conectem a metodologia de análise do discurso do sujeito coletivo como técnica para análise de dados provenientes de focus group. No tópico seguinte a metodologia do discurso do sujeito coletivo é apresentada e explorada como uma alternativa a esta questão.

 

3 METODOLOGIA DO DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO

O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) foi proposto pelos pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Fernando Lefèvre e Ana Maria Cavalcanti Lefèvre, ao final da década de 1990. Estes pesquisadores realizaram uma pesquisa com servidores públicos do município de São Paulo, no intuito de conhecer a opinião dos mesmos sobre o Programa de Gerenciamento Integrado, proposto durante a gestão Pinotti na Secretaria de Saúde do Estado (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005; MARTINS; THEÓPHILO, 2009).

A partir dos dados coletados na referida pesquisa, Lefèvre e Lefèvre observaram que as respostas eram muitos semelhantes, diferindo apenas em alguns critérios, que terminavam por não alterar o resultado final (DUARTE; MAMEDE; ANDRADE, 2009). Ao processarem os discursos apurados em um único discurso do grupo social em análise os pesquisadores deram origem ao Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).

Após receber a teorização que o transformou em referencial metodológico, o DSC foi apresentado pela primeira vez no livro O discurso do sujeito coletivo: uma nova abordagem metodológica em pesquisa qualitativa, publicado no ano 2000 (MARTINS; THEÓPHILO, 2009), passando a ser utilizado em pesquisas qualitativas que têm depoimentos como base (DUARTE; MAMEDE; ANDRADE, 2009).

Na concepção Lefèvre, Lefèvre e Teixeira (2000) o DSC é um discurso síntese, fruto dos fragmentos de discursos individuais reunidos por similaridade de sentidos. Enquanto técnica, o DSC consiste em uma série de operações sobre a matéria prima dos depoimentos individuais ou de outro tipo de material verbal, operações que culminam ao final do processo de análise em depoimentos coletivos, ou seja, construtos confeccionados com estratos literais do conteúdo mais significativo dos diferentes depoimentos que apresentam sentidos semelhantes (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2012).

Os sujeitos coletivos são entidades sociológicas uma vez que são portadores de representações sociais vistas como expressões ideológicas ou simbólicas de configurações sociais objetivas, vinculadas aos temas investigados nas pesquisas; e também entidades discursivas na medida em que se trata de sujeitos coletivos de discurso, posto que o objetivo é resgatar e descrever as representações sociais sob a forma de discursos ou depoimentos coletivos (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005).

O DSC representa uma mudança nas pesquisas qualitativas porque permite que se conheça os pensamentos, representações, crenças e valores de uma coletividade sobre um determinado tema utilizando-se de métodos científicos (FIGUEIREDO; CHIARI; GOULART, 2013).

Estes conteúdos de mesmo sentido, reunidos num único discurso, por estarem redigidos na primeira pessoa do singular, buscam produzir no leitor um efeito de “coletividade falando”; além disso, dão lugar a um acréscimo de densidade semântica nas representações sociais, fazendo com que uma ideia ou posicionamento dos depoentes apareça de modo “encorpado”, desenvolvido, enriquecido, desdobrado (LEFÈVRE; LEFÈVRE; MARQUES, 2009, p. 1194).

Como pode-se perceber a base teórica de sustentação do DSC é a Teoria das Representações Sociais, e os DSCs são considerados partes destas representações (GONDIM; FISCHER, 2009). As representações sociais são esquemas socio-cognitivos que as pessoas utilizam para emitirem, no seu cotidiano, juízos ou opiniões; são uma forma de conhecimento, socialmente elaborado e partilhado, de uma realidade comum a um conjunto social (FIGUEIREDO; CHIARI; GOULART, 2013).

O DSC é uma técnica de construção do pensamento coletivo que visa revelar como as pessoas pensam, atribuem sentidos e manifestam posicionamentos sobre determinado assunto, trata-se de um compartilhamento de ideias dentro de um grupo social (DUARTE; MAMEDE; ANDRADE, 2009). Dessa forma a opção do DSC pela primeira pessoa coletiva do singular para expressar o pensamento coletivo, sinaliza explicitamente a vinculação dessa proposta metodológica com a Teoria das Representações Sociais (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2012).

O intuito da metodologia do DSC é estabelecer uma conexão entre o senso comum e o conhecimento científico, partindo da reconstituição de um pensamento coletivo, baseado na Teoria das Representações Sociais. Assim é possível acessar o conhecimento e o saber rotineiro dos indivíduos em função de seu caráter racional e cognitivo compartilhados, considerando-se perspectivas metodológicas qualitativas e quantitativas (OLIVEIRA JR; PACAGNAN; MARCHIORI, 2013).

Para Lefèvre e Lefèvre (2012) a opinião que emerge do DSC apresenta dupla representatividade: qualitativa e quantitativa; qualitativa porque no DSC cada distinta opinião coletiva é apresentada sob a forma de um discurso, que recupera os distintos conteúdos e argumentos que conformam a dada opinião na escala social ou coletiva; mas a representatividade da opinião é também quantitativa porque tais discursos têm, ademais, uma expressão numérica e, portanto, confiabilidade estatística, considerando-se as sociedades como coletividades de indivíduos. Pode-se, portanto, analisar de uma perspectiva quantitativa, quanto e, de uma perspectiva qualitativa, como as diferentes categorias de sujeitos ou agentes sociais mobilizados na pesquisa estão ou não associados a cada uma das diferentes representações sociais que aparecem na forma de discursos do sujeito coletivo.

Operacionalmente a metodologia do DSC propõe organizar, tabular e analisar depoimentos e demais materiais verbais que constituem seu principal corpus, extraindo-se de cada um deles os denominados operadores, que são: as expressões-chave, as ideias centrais e as ancoragens (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005). A partir destes operadores, que são indispensáveis à análise e interpretação dos depoimentos compõem-se um ou vários discursos-síntese que constituem os discursos do sujeito coletivo (MARTINS; THEÓPHILO, 2009). Estes operadores facilitam, por meio de mecanismos de indução, o agrupamento dos depoimentos por semelhança semântica que apontam para as representações sociais na forma de histórias coletivas (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005).

A aplicação do DSC nas pesquisas se dá em contextos variados. Tonin et al. (2020) utilizaram DSC para identificar as similaridades e divergências entre o discurso de estudantes e profissionais contábeis na avaliação de estereótipos de autoimagem dos contadores. Em um contexto de políticas públicas e desenvolvimento regional, Strasburg, Oliveira e Rocha Jr (2020) empregaram DSC para analisar as percepções dos atores locais sobre a utilização de biogás no Oeste do Paraná.

Já Silva et al. (2018) empregaram DSC para sintetizar o discurso de alunos de administração buscando identificar quais competências são atribuídas ao professor considerado excelente na ótica dos discentes. Como se pode observar, a aplicabilidade da técnica é ampla e versátil enquanto instrumento e método para o agenciamento e a síntese coerente de conteúdos e de argumentos. Na sequência aborda-se a operacionalização do DSC.

 

3.1 OPERADORES DO DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO

Por considerarem que o pensamento individual é expresso em decorrência de um processo de internalização anteriormente ocorrido e socialmente construído, Lefèvre e Lefèvre (2005) sugerem quatro operações para produzir DSCs: (i) expressões-chave (E-Ch), (ii) ideias centrais (IC), (iii) ancoragens (AC), e (iv) discursos do sujeito coletivo (DSC), propriamente ditos.

As expressões-chave (E-Ch) são trechos literais dos depoimentos, que permitem evidenciar o essencial do conteúdo discursivo, ou seja, a essência das representações ou das teorias subjacentes (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2012). Estas expressões são transcrições literais de partes dos depoimentos, constituindo uma espécie de prova discursiva empírica do entendimento das ideias centrais e das ancoragens nos conteúdos discursivos (MARTINS; THEÓPHILO, 2009). Nesta primeira etapa é necessário respeitar a literalidade do discurso e retomar o corpus quantas vezes se fizerem necessárias, afim de apreender todos os sentidos decorrentes da polifonia e da heterogeneidade que definem a materialidade dos discursos (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005; GONDIM; FISCHER, 2009).

A partir das expressões-chaves (recortes significativos de fala) são apuradas as ideias centrais (IC) que são representadas por palavras ou expressões linguísticas que revelam de maneira sintética e objetiva o sentido presente nos depoimentos (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005). Tratam-se de elementos que permitem evidenciar o essencial do conteúdo discursivo e são, portanto, parte fundamental da análise, pois é por meio destas ideias centrais que se inicia a identificação dos sentidos expressos nos depoimentos (DUARTE; MAMEDE; ANDRADE, 2009).

É importante ressaltar que as IC descrevem o sentido usando as palavras do entrevistado, não constituindo interpretações, e que são, portanto, intrinsecamente vinculadas às falas dos pesquisados (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005). As ICs servem para agrupar o discurso, podendo haver numa mesma fala mais que uma ideia central; todas devem ser consideradas separadamente e trabalhadas no processo de categorização (DUARTE; MAMEDE; ANDRADE, 2009). Desta forma, as ideias centrais são o que o entrevistado quis dizer (ou o quê, sobre o quê) e as E-Ch como isso foi dito (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2012, p. 77).

O que Lefèvre e Lefèvre (2005) chamam de ancoragem (AC), é a manifestação linguística explícita de uma dada teoria, ou ideologia, ou crença que o autor do discurso professa e acredita, e que, na qualidade de afirmação genérica, está sendo usada pelo enunciador para “enquadrar” uma situação específica, na qualidade de uma ideia básica que sustenta o discurso. Os valores estão embutidos na fala, na crença, portanto as ancoragens representam o valor forte que está no grupo. É por meio das ideias básicas provenientes das ancoragens que se identificam as Representações Sociais sobre o objeto em apreensão, o que está contido no senso comum sobre aquilo que está sob estudo (DUARTE; MAMEDE; ANDRADE, 2009). A ancoragem deve ser sempre uma afirmação redigida positivamente (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005).

O processo final da técnica do DSC é a elaboração do discurso do sujeito coletivo em si. Trata-se da reunião e organização lógica e coerente, de expressões-chave (E-ch) que apresentam ideia central (IC) ou ancoragem (AC) semelhantes, num só discurso simples, redigido na primeira pessoa do singular (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005, 2012).

O discurso do sujeito coletivo trata-se de uma alternativa que supera os limites de análises das alternativas das questões fechadas e também das categorias construídas para entendimento das respostas às questões abertas. O DSC tenta romper com a lógica quantitativa- classificatória, buscando resgatar o discurso como signo de conhecimentos dos próprios discursos. As falas e manifestações dos respondentes não se reduzem a um número ou categoria. Pelo contrário, a partir dos pedações dos discursos individuais busca-se a construção de um dado pensar ou representação social. Busca-se construir um imaginário a partir das representações sociais oriundas do DSC, ou seja: o discurso de todos como se fosse o discurso de um (LEFÈVRE; LEFÈVRE; TEIXEIRA, 2000, p. 19).

Durante a construção dos DSCs, ocorre a composição do sistema de interpretação da realidade dos participantes, as relações por eles estabelecidas no contexto social, assim como, emergem seus comportamentos e práticas. Neste momento, deve-se considerar não a ordem sequencial dos sujeitos, mas a coerência interna das palavras que comporão os DSCs. No caso de surgirem depoimentos contraditórios a respeito de uma mesma questão, são elaborados DSC para as falas concordantes e para as falas discordantes (LEFÈVRE; LEFÈVRE; TEIXEIRA, 2000; LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005). Ainda segundo os autores, nesse processo de construção dos DSC, os cenários sociais se apresentam enriquecidos de Representações Sociais, nos quais as práticas se mostram organizadas. É por meio desse espelho coletivo que o pesquisador tem às suas mãos uma riqueza de informações que lhe auxiliará na compreensão do fenômeno estudado

 

3.2 TABULAÇÃO DOS DADOS

Segundo Lefèvre e Lefèvre (2012), para a tabulação dos dados deve-se seguir, ordenadamente, os passos indicados na Figura 1.

Figura 1. Etapas para tabulação do discurso do sujeito coletivo

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Fonte: Adaptado de Lefèvre e Lefèvre (2012, p. 90)

Para facilitar o processo de construção do DSC sugere-se a utilização de mapas denominados instrumentos de análise do discurso (IAD), que auxiliam na organização dos operadores do discurso (as expressões-chave, as ideias centrais e as ancoragens) para posterior confecção do Discurso do Sujeito Coletivo, conforme exemplificado no Quadro 1 a partir do texto de Duarte, Mamede e Andrade (2009).

 

Quadro 1. Ilustrativo da aplicação do IAD em gestantes sobre motivos para não realização do pré-natal

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Fonte: Duarte, Mamede e Andrade (2009, p. 625)

 

Os pesquisadores também podem valer-se do software QualiQuantiSoft® para auxiliar no processamento de dados da pesquisa com base na metodologia do DSC. Este software agiliza o processamento de dados permitindo análises e recortes discursivos que sem o seu auxílio o pesquisador não teria possibilidade de realizar (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2012).

O QualiQuantiSoft® foi patrimoniado pela Universidade de São Paulo e está disponível para download na página do Instituto de Pesquisa do Discurso do Sujeito Coletivo (www.ipdsc.com.br) juntamente com seu manual de uso. Os pesquisadores têm a sua disposição três versões do programa: demonstrativa, para familiarização, versão para uso individual e versão institucional. Apresentadas as etapas para aplicação do DSC, no tópico seguinte realiza-se uma análise de pesquisas que de fato o empregaram.

 

 

4. PANORAMA DAS PESQUISAS ENVOLVENDO A METODOLOGIA DSC

Para verificar o panorama das pesquisas envolvendo a metodologia do discurso do sujeito coletivo, empreendeu-se uma busca por artigos científicos publicados em periódicos indexados pela SCOPUS®, por tratar-se de uma das bases de dados de maior reconhecimento na literatura organizacional.

A pesquisa foi realizada compreendendo artigos publicados até dezembro de 2020. Como critérios de busca foram combinados por meio do operador boleano “OR” os termos discurso do sujeito coletivo” e collective subject discourse”, no tópico (título, resumo e palavras-chave). A pesquisa retornou inicialmente com 264 documentos, dos quais 5 referem-se à conference papers e notes e, portanto, não foram considerados para análise, resultando em um pool de 259 artigos.

Analisando-se a evolução das publicações por ano, conforme o Gráfico 1, é possível verificar uma tendência de crescimento. As publicações envolvendo a metodologia DSC iniciaram-se em 2001, apresentando um ápice em 2014 com 32 artigos publicados. Nos anos subsequentes apresentaram uma queda, embora constate-se relativa estabilidade nos últimos cinco anos com uma média de 16 publicações por ano. Esse contingente é bem superior à média do início dos anos 2000.

Gráfico 1. Publicações por ano base Scopus

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Fonte: Elaborado pelos autores

 

A partir do Gráfico 2 pode-se observar a distribuição dos estudos entre os países, destacando-se a expressiva concentração das publicações no Brasil, e a baixa participação de outros países.

 

Gráfico 2. Publicações por país

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Fonte: Elaborado pelos autores

 

Essa informação pode estar relacionada às origens da técnica e indicam que embora a mesma se mostre aparentemente consolidada no território nacional, ainda necessita ser mais difundida para galgar reconhecimento na comunidade científica internacional.

Em relação às áreas nas quais se desenvolvem as pesquisas que aplicam a metodologia do DSC, observa-se de acordo com a classificação de áreas definida pela CAPES, que há uma concentração das publicações nas áreas de ciências da saúde e biológicas (69%), conforme ilustra o Gráfico 3. A maioria das publicações neste escopo envolvem pesquisas nas áreas de enfermagem e medicina.

 

Gráfico 3. Publicações por área do conhecimento

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Fonte: Elaborado pelos autores

Considerando que a técnica foi desenvolvida por pesquisadores vinculados à estas áreas de pesquisa, é bastante razoável que seu desenvolvimento tenha se dado em maior intensidade nesse segmento. Outra área a se apropriar da técnica, mas em proporção bem menos expressiva é a área de ciências humanas (27% das publicações analisadas). A representatividade do campo de ciências sociais aplicadas é restrita a 1% dos artigos encontrados utilizando a metodologia do discurso do sujeito coletivo. Trata-se de publicações na área de administração pública, biblioteconomia e comunicação.

Em consonância com a proposta deste estudo, buscou-se verificar a incidência de trabalhos combinando focus group e DSC. Após refinar os critérios de busca foi possível verificar que 22 dos 259 artigos analisados realizaram esta combinação. Observou-se ainda que dentre estes, 17 foram desenvolvidos na área de ciências da saúde, 6 na área de humanas e 1 na área de ciênicas ambientais, um apêndice com a relação destes artigos encontra-se no final deste artigo.

A clusterização das palavras-chave gerada com o auxílio do software VOSviewer® versão 1.6.6 é apresentada na Figura 2 e reforça a concentração dos 22 estudos analisados nas temáticas de enfermagem, cuidadeos de saúde e educação.

Figura 2. Clusterização das palavras-chave

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Fonte: Elaborado pelos autores com auxílio do VOSviewer®

No intuito de conduzir e aproximar a discussão à área de ciências sociais aplicadas, consultou-se uma nova base de dados – Spell Scientific Periodicals Electronic Library – dedicada exclusivamente a publicações nas áreas de Administração, Ciências Contábeis e Turismo. A busca foi realizada seguindo os mesmos critérios anteriormente mencionados e resultou em um total de 41 documentos, sendo que destes, 39 caracterizavam-se como artigos e revisões. Dentre os 39 artigos apenas 38 foram considerados aderentes à proposta deste estudo, ou seja, aplicavam de alguma maneira a metodologia do DSC.

Analisando-se a evolução das publicações por ano, observa-se também na base Spell uma tendência de crescimento, em certo ponto, até mais acentuada do que na base Scopus, conforme ilustra o Gráfico 4. Os números não são de fato expressivos em termos absolutos, mas ressaltam o aumento das publicações sobretudo no ano de 2017. Pode ser prematuro dizer, mas analisando este recorte a metodologia DSC parece estar timidamente ganhando maior espaço no âmbito das ciências sociais aplicadas.

 

Gráfico 4. Publicações por ano base SPELL

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Fonte: Elaborado pelos autores

Analisando-se os 38 artigos foi possível classificá-los quanto a área de conhecimento, conforme ilustra o Gráfico 5.

Gráfico 5. Publicações por área de conhecimento na base SPELL

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Fonte: Elaborado pelos autores

Dentre os 38 artigos selecionados, 23 são da área de administração (61%), 11 são da área de Turismo (29%) e 4 são da área de Contabilidade (11%). Considerando os artigos desenvolvidos na área de Administração é possível categorizá-los conforme os temas predominantes nas publicações, como mostra o Gráfico 6.

 

Gráfico 6. Temas predominantes nos artigos de administração

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Fonte: Elaborado pelos autores

 

Na área de administração os principais temas abordados são aprendizagem e cultura organizacional. Perceber a utilização da metodologia DSC em estudos delimitados por este recorte condiz com a proposta desta técnica, que se volta justamente para a captura de representações sociais derivadas de testemunhos discursivos, refletindo as percepções dos indivíduos em contextos organizacionais e sociais.

Analisando os aspectos metodológicos dos estudos levantados, é possível verificar que a metodologia do DSC é utilizada como uma técnica de análise de dados associada a diferentes métodos de coleta, conforme demonstrado na Tabela 1.

 

Tabela 1. Métodos de Coleta de Dados

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Fonte: Elaborado pelos autores

O método de entrevistas semiestruturadas, onde o entrevistador segue um roteiro pré-estabelecido, mas tem certa liberdade para desenvolver cada tópico em qualquer direção (MARCONI; LAKATOS, 1999) é o mais empregado para prover os dados a serem analisados. Verifica-se também estudos onde os autores optam pela utilização de questionários, com compilação de uma série de questões dentro do escopo da pesquisa. Os questionários podem ser abertos, permitindo que os respondentes apresentem suas respostas livremente usando linguagem própria e emitindo suas opiniões, ou mistos, mesclando perguntas abertas e fechadas (onde a emissão de opinião é restrita às opções apresentadas). Nestes casos, vale ressaltar que apenas as perguntas abertas são passíveis da análise do método DSC, pois o corpus primário para análise são os discursos propriamente ditos.

Assim sendo, as pesquisas que combinam métodos para coleta de dados, sejam estes, diferentes tipos de entrevistas, ou mesclas de entrevistas e questionários, bem como outros achados provenientes de pesquisa documental, também são fontes viáveis de dados para serem analisados via DSC, desde que contenham manifestações discursivas.

A predominância das entrevistas como método de coleta de dados é explicada conforme Lefèvre e Lefèvre (2012) pelo fato das perguntas abertas, indiferente do tema, mas resguardada a profundidade, serem um método adequado e consistente para obtenção de depoimentos. Estes depoimentos por sua vez, ao receberem a devida análise e interpretação são passíveis de representar uma coletividade, objetivo maior do método DSC.

É importante destacar que ao gerar os dados para a Tabela 1, os autores se ativeram aos métodos de coleta tidos como inputs para análise via DSC. Contudo, na maioria dos artigos visitados, observou-se que a geração de dados para pesquisa de forma geral envolveu a triangulação na coleta, via observações participante e não participante e outras fontes documentais e bibliográficas.

Contudo, cumpre observar que em ambas as bases consultadas, Scopus e Spell, não foi encontrado nenhum estudo no âmbito das ciências sociais aplicadas (business and management) que combinasse a utilização do focus group como técnica de coleta de dados e o discurso do sujeito coletivo como mecanismo de análise.

Essa já é uma prática difundida e comprovadamente aderente em pesquisas desenvolvidas na área de Ciências da Saúde, como é possível observar na lista de trabalhos relacionados no apêndice A. Porém ao observar a relação dos trabalhos que aplicaram DSC nas pesquisas em Administração e afins essa utilização conjunta não foi verificada (vide lista de artigos revisitados no apêndice B). Esta lacuna aponta para a possibilidade de novos estudos que permitam o desenvolvimento e a extensão desta abordagem conjugada (DSC + focus group) de modo a favorecer ainda mais o desenvolvimento de pesquisas que busquem sintetizar discursos e consolidar posicionamentos coletivos. Nesse sentido, alguns aspectos acerca da validade e confiabilidade das pesquisas são apresentados a seguir.

 

4.1 FOCUS GROUP E DSC NO CONTEXTO DAS PESQUISAS EM ADMINISTRAÇÃO: VALIDADE, CONFIABILIDADE E OPERACIONALIZAÇÃO

Antes de definir em termos operacionais como conjugar e operacionalizar as técnicas de focus group e DSC no âmbito das pesquisas em Administração, cumpre ressaltar aspectos importantes de validade e confiabilidade. Logo, é fundamental que um pesquisador abandone a ideia de adotar critérios implícitos, passíveis de não serem compreendidos, passando a adotar processos de investigação explícitos como indicação de boas práticas que possibilitem a compreensão e a replicação do estudo e revelem credibilidade externa e legitimação para uma pesquisa científica (CLEGG; HARDY, 1999). O conceito de objetividade em pesquisas científicas pode ser avaliado basicamente em termos de validade e confiabilidade nas vertentes qualitativa e quantitativa.

As concepções de validade em pesquisas qualitativas devem ser analisadas em três dimensões: validade aparente (se o método de pesquisa produz uma informação desejada ou esperada); validade instrumental (combinação entre dados fornecidos por um método de pesquisa e dados gerados por um método alternativo aceito como válido) e validade teórica (legitimidade dos procedimentos de pesquisa em termos de referencial teórico estabelecido). Para as concepções de confiabilidade podem ser observados os aspectos de confiabilidade quixotesca (único método de observação que mantém uma medida contínua); confiabilidade diacrônica (estabilidade de uma observação ao longo do tempo) e confiabilidade sincrônica (similaridade de diferentes observações no mesmo período) (KIRK; MILLER, 1986).

No contexto das pesquisas quantitativas, as concepções de validade referem-se ao grau no qual um teste pode medir de fato o que se pretende medir, podendo ser analisadas nos aspectos de validade externa (escolha dos métodos que garantam grau de generalização e de representatividade dos resultados) e de validade interna (precisão de uso dos métodos escolhidos de modo a inferir relações causais entre variáveis). Já as concepções de confiabilidade estão relacionadas à precisão e à relevância do procedimento de mensuração, podendo ser analisados os aspectos de estabilidade (segurança de que os resultados serão consistentes no caso do mesmo pesquisador usar o mesmo instrumento de mensuração); equivalência (quando diferentes pesquisadores de um mesmo fenômeno o mensuram de forma equivalente) e consistência interna (homogeneidade entre os itens de um mesmo instrumento) (COOPER; SCHINDLER, 2003).

Em função da sua natureza quantiqualitativa pode-se inferir que a aplicação bem direcionada da metodologia do DSC, suportada por dados consistentes, pode cercar o pesquisador de argumentos que justifiquem os níveis de validade e confiabilidade de sua pesquisa, principalmente na análise de depoimentos provenientes de focus group. A descrição clara dos procedimentos a serem adotados, assim como a possibilidade de utilização do software para apoiar o tratamento dos dados é um potencial da metodologia do DSC, e, resguarda o pesquisador acerca dos critérios de interpretação e análise dos dados. É o mais próximo que se chega de uma sistematização de dados subjetivos.

O planejamento e a condução são decorrentes do focus group. A etapa de planejamento envolve: (i) desenvolver o planejamento contemplando (por que, quem, como, onde, quando); (ii) Elaborar as questões do roteiro; (iii) identificar os participantes; (iv) definir o local/meio das sessões e (v) recrutar os participantes. Já a etapa de condução requer, realizar a ou as sessões seguindo o planejamento, considerando, moderação, ambiente, gravação, inserções orgânicas e anotações.

Já a etapa de análise, consiste na aplicadação da metodologia DSC para analisar o material coletado e gerar o discurso síntese que dá voz à coletividade. Logo, compreende os seguintes passos: (i) transcrever os discursos (com consentimento dos participantes), (ii) fazer a leitura inicial da transcrição e das anotações realizadas durante o focus group, (iii) selecionar os trechos mais significativos dos depoimentos colhidos, relacionados ao tema em questão, gerando as Expressões-Chaves; (iv)agrupar as expressões chaves de acordo com a similaridade para produzir a ideia central e (v) organizar o material a partir das Expressões-Chaves e das Ideias-Centrais e produzir o, ou os, Discursos-Sínteses.

 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do objetivo proposto para este estudo, qual seja - discutir a aplicabilidade do discurso do sujeito coletivo (DSC) como uma opção metodológica para análise de dados provenientes de focus group nas pesquisas em administração - observou-se após a revisão de literatura realizada que há uma aproximação e forte aderência entre os métodos, ou seja, é possível aplicar a metodologia do discurso do sujeito coletivo para realizar a análise dos discursos decorrentes de focus group.

Estudos anteriores realizados em outras áreas do conhecimento (saúde pública, enfermagem e psicologia) já haviam realizado com êxito essa conjugação de abordagens. Contudo, a mesma ainda não havia sido extrapolada ao âmbito das ciências sociais, e das pesquisas em Administração propriamente ditas, como verificou-se na revisão realizada.

Dada a discussão apresentada, uma vez que as pesquisas envolvendo focus group buscam capturar a partir da interação grupal percepções acerca de um tópico específico determinado pela pesquisa, e a metodologia do DSC por sua vez dedica-se a levantar pensamentos, representações, crenças e valores de uma coletividade, é possível verificar a aderência entre os métodos, pautada sobretudo, em uma perspectiva interpretativista, voltada para a captura de representações sociais.

Operacionalmente ao considerar-se que a análise dos dados de um focus group deve ser sistemática, utilizar procedimentos verificáveis e ser realizada de forma sequencial e contínua (KRUEGER; CASEY, 2009), verifica-se pela descrição da metodologia do DSC apresentada, que esta técnica atende a todos os requisitos. E, além disso, em sua proposta de análise quanti- qualitativa, o DSC integra características da análise de conteúdo e da análise de discurso de forma complementar, como proposto por Oliveira e Ferreira (2012). Dessa forma acredita-se que a DSC possa ser útil ao desenvolvimento de pesquisas também na área das Ciências Sociais Aplicadas.

Para efetivar a proposta apresentada, incita-se o desenvolvimento de pesquisas que busquem levantar representações sociais dos indivíduos e grupos, a exemplo de pesquisas sobre (i) comportamento do consumidor, (ii) estudos envolvendo questão de gênero e minorias em âmbito geral, ou (iii) que busquem avaliar efetividade de políticas públicas na visão dos diferentes stakeholders, ou (iv) estudos que busquem captar percepções de alunos no âmbito das práticas de ensino e pesquisa em administração, são vias profícuas para validar a proposta metodológica defendida neste artigo, combinando focus group e DSC.

Ademais, refinamentos e aprofundamentos metodológicos que incorporem outras variáveis à combinação das abordagens, e, que considerem as variações de focus group, como é o caso dos online focus group (SchröederI; Klerin, 2009) e que também se aprofunde na Teoria das Representações Sociais (Moscovici, 2003), poderão expandir ainda mais a aplicabilidade dessa proposta.

No entanto, é preciso ressaltar que limitações podem ser encontradas quando a aplicação ocorrer em grupos demasiadamente heterogêneos, com indivíduos que não compartilham, no âmbito do recorte definido para o estudo, de uma realidade social comum; ou além disso, quando o próprio objetivo da pesquisa não é consolidar discursos, mas sim, avaliá-los de forma subjetiva e substantiva. Como em toda pesquisa, é necessário parcimônia e amplo conhecimento dos objetivos e objeto de estudo para definição e seleção dos melhores métodos de operacionalização.

Em termos metodológicos uma outra limitação merece ressalva. O levantamento de artigos publicados envolvendo a metodologia DSC foi realizado apenas em duas bases de dados comumente utilizadas nas pesquisas de administração. Embora ambas sejam consideradas repositórios de qualidade, a ampliação dessa busca a outras bases de dados pode apresentar outros escopos de pesquisa envolvendo a metodologia DSC que não foram contemplados nesta reflexão.

Por fim, espera-se que guardados os apontamentos aqui manifestados, o presente estudo possa contribuir para ampliação da visão metodológica interdisciplinar no desenvolvimento das pesquisas envolvendo focus group, apontando novos caminhos investigativos para o avanço de pesquisas qualitativas na área de administração.

 

 

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