A presença do FSC no Brasil vem deste 1994 (ALMEIDA, 2012). Desde então, um crescente número de pessoas e de empresas interessadas nesta certificação vem surgindo (MATIELLO, 2012). Atualmente é possível encontrar diversos produtos certificados com o selo do FSC, tais como: móveis, carvão, produtos para jardim, brinquedos, papel, papelão, livros e entre muitos outros. Todos estes produtos para receberem a certtificação precisam seguir 10 princípios estabelecidos pela própria instituição, sendo eles: 1) Cumprimento das Leis; 2) Direito dos Trabalhadores e Condições de Emprego; 3) Direitos dos Povos Indígenas; 4) Relações com a Comunidade; 5) Benefícios da Floresta; 6) Valores e Impactos Ambientais; 7) Planejamento do Manejo; 8) Monitoramento e Avaliação; 9) Altos Valores de Conservação (AVC); 10) Implementação de Atividades de Maenjo (FSC, 2021). Todos estes princípios citados possuem critérios definidos e, inclusive, indicadores a serem alcançados. Tais informações podem ser acessadas no site oficial do FSC (OLIVEIRA 2010; GUENEAU, 2013; FSC, 2020).

Uma forma de oferecer respostas a essas lacunas e procurar solucionar outras problemáticas costumeiras é desenvolvendo pesquisas em nível de doutorado e mestrado. Um dos objetivos dos estudos deste porte é justamente contribuir para o avanço do conhecimento científico, por meio do uso correto de um método científico (PRODANOV; FREITAS, 2013).

Para contribuir ao debate sobre a certificação foi realizado um estudo que tem como objetivo identificar benefícios e desafios do FSC por meio da análise da pesquisa científica em termos de pós-graduação sobre o tema no Brasil. Para isto, foi utilizado o método de estudo bibliométrico e sistemático nas teses e dissertações indexadas em três bibliotecas digitais brasileiras escolhidas de forma aleatória, a saber: Biblioteca Digital da Universidade de São Paulo (USP), selecionada por ser uma das mais renomadas universidade do Brasil; a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), escolhida por proporcionar acesso a mais 700 mil documentos entre teses e dissertações de forma completa de mais de 126 Instituições de Ensino Superior (IES); e o Catálogo de Teses e Dissertações da Capes, também escolhido por proporcionar um repositório de mais de 1 milhão de trabalhos defendidos em programas de pós-graduação reconhecidos pela Capes.

O referido estudo justifica-se pelo escasso conhecimento sobre o perfil e as problemáticas relacionadas ao FSC das teses e dissertações brasileiras. Assim, uma revisão de literatura estruturada pode ser útil para identificar as atuais lacunas ainda presentes na literatura e aquelas, no qual já apresentam resultados inéditos. Nesse sentido, este estudo busca contribuir para o avanço das pesquisas sobre o FSC tendo em vista sua importância em todo o território nacional e internacional. Vale ressaltar que não foi encontrado na literatura um estudo recente que apresentasse esta mesma proposta.

Como forma de organizar o presente estudo e proporcionar uma melhor compreensão aos leitores, o artigo está dividido em três seções além da presente introdução: (1) metodologia de acessos aos dados; (2) análise e interpretação dos resultados, e, por fim, (3) considerações finais e referências bibliográficas encerram o presente estudo.

2 Metodologia de Acesso aos Dados

Como não se pode fazer ciência sem um método adequado, a pesquisa em questão pode ser considerada, predominantemente, como exploratória e descritiva, pois busca levantar as características da produção científica sobre um determinado assunto e ao mesmo tempo explorar os seus achados (PRODANOV; FREITAS, 2013).

Para o alcance do objetivo proposto apresentado na introdução, a pesquisa foi desenvolvida em duas etapas, a saber: (I) A busca sistemática por Teses e Dissertações: para isso se optou em utilizar a técnica de bibliometria no site da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, na BTDT e no Catálogo de Teses e Dissertações da Capes. A escolha das bases se deu de forma aleatória. A realização de estudos bibliométricos se justifica na medida em que pode contribuir para destacar as temáticas predominantes, benefícios sobre determinada temática, demonstrar eventuais lacunas e delinear futuras pesquisas na área (GALLON et al., 2008). Isso é possível, pois de acordo com Kobashi e Santos (2008) a bibliometria evidencia o comportamento das pesquisas em determinada área e mede os padrões de comunicação escrita.

Na identificação dos estudos, se utilizou como palavra-chave a sigla FSC, no qual consiste na abreviação do nome Forest Stewardship Council. Por meio da consulta no dia 10 de agosto de 2021 aos bancos de dados mencionados foram encontrados os seguintes resultados: 50 teses de doutorado e 85 dissertações de mestrado no banco de Teses e Dissertações da USP; 55 teses de doutorado e 110 dissertações de mestrado na BDTD; e 63 teses de doutorado e 126 dissertações de mestrado no catálogo da Capes, totalizando 494 estudos, (168) teses e (326) dissertações.

Como este artigo não tem por caráter apresentar apenas dados bibliométricos sobre as teses de doutorado e as dissertações de mestrado referente ao FSC, mas sim desenvolver uma análise sistemática sobre eles, para esta fase (II), primeiro, se optou em acrescentar dois critérios de inclusão das teses e dissertações encontradas, tendo em vista o número grande estudos. Diante de tal situação se procedeu com a leitura dos títulos, resumos e palavras-chave dos 418 trabalhos de pós-graduação. Permaneceram para a análise e discussão de resultados desse artigo em questão apenas os trabalhos que continham a sigla FSC no título, resumo e/ou nas palavras-chave e que a mesma representasse Forest Stewardship Council. Além disso, o segundo critério de inclusão utilizado foi a disponibilidade de consulta ao trabalho completo online e que o mesmo estivesse escrito no idioma português. Embora a abordagem escolhida possa ter excluído alguns estudos relevantes para o presente artigo, acredita-se que mesmo assim se capturou uma parte relevante da literatura sobre a temática (SAMPAIO; MANCINI, 2007).

Diante dos critérios empregados, permaneceram no estudo 17 teses e 33 dissertações, um total de 50 estudos. Com os resultados em mãos, foram definidos os dados a serem adquiridos mediante a leitura completa dos estudos, são eles: (a) ano de defesa; (b) Universidade e Programa de Pós-graduação; (c) tema de pesquisa; (d) aspectos metodológicos; (e) principais resultados e considerações finais.

Para o registro e gerenciamento dos dados obtidos foi utilizado o Microsoft Excel 2010 para facilitar a tabulação, apresentação e interpretação dos resultados. A seguir apresentam-se os resultados alcançados, bem como a análise dos 50 trabalhos selecionados através do método empregado.

3 Resultados Alcançados

Esta seção abordará os resultados alcançados diante do método empregado. Posterior a identificação dos estudos e a leitura de todos eles, a amostra desta pesquisa foi constituída por 50 trabalhos que versavam acerca do FSC. Deste total, 17 eram teses de doutorado (34%) e 33 eram dissertações de mestrado (66%) distribuídos nos três catálogos utilizados para a pesquisa, como pode ser visto na Tabela 1.

Tabela 1 - Portfólio Bibliográfico

Fonte: Dados da Pesquisa, 2020.

O catálogo que apresentou o maior resultado foi a BDTD, seguido da USP e Capes. Isso se deve ao fato do catálogo BDTD divulgar teses e dissertações de diversas IES no Brasil. Para este estudo em questão, foram 11 teses e 22 dissertações.

Os outros 444 estudos (151 teses e 293 dissertações) foram excluídos por três motivos, são eles: Apesar de se tratatarem do FSC, 13 dissertações e 2 tese não estavam disponível para consulta online; 16 teses e 44 dissertações se repetiam em duas ou três bases de dados; e 133 teses e 236 dissertações se referiam a diversas outras questões, tais como: Fala Sem Comprometimento; Fluxo Sanguíneo Cerebral; Fluído Supercrítico; Full Sun Coffee; Função de Sensibilidade ao Contraste; Federal Supreme Court; Favorable Social Conditions; Instituto Federal de São Carlos; Fornecimento de Alimento (Food Supply Chain), Capital Social Familiar (Family Social Capital) e entre outras. De acordo com Basso et al. (2018), Ellis et al. (2019) e Blumroeder et al. (2019), literatura científica sobre o FSC ainda é limitada e precisa progredir.

A segunda fase do estudo foi identificar as IES e o nome do Programa de Pós-graduação, no qual os estudos estavam vinculados. Além da USP, foi constatado também a presença de outras 22 IES distribuídas entre as bases de dados Capes e BDTD. Junto ao site da Capes, foi possível consultar a área de avaliação de cada Programa identificado. Tais resultados podem ser conferidos no Quadro 1.

Quadro 1 - Distribuição dos estudos por Programa de Pós-graduação e área de avaliação conforme a Capes

Fonte: Capes, 2021.

Entre as universidades que apresentaram o maior número de publicações sobre o FSC destaca-se a USP com um total de quatro teses e sete dissertações, representando 22% dos resultados aqui identificados. No entanto, é preciso destacar também mais três IES, são elas: a UFV (3 teses e 5 dissertações); a UFPR (3 teses e 2 dissertações); UFSCAR (3 dissertações). Apesar dos dados encontrados estarem concentrados em 3 Universidades é preciso mencionar a grande diversidade de IES e Programas de Pós-graduação, atestando que o FSC é um fenômeno de interesse transversal a diversas áreas do conhecimento. Para Matiello (2012), a maioria das pesquisas relacionados ao FSC são oriundas da área de conhecimento de ciências naturais. Contudo, Oliveira (2010) ressalta a natureza multidisciplinar do tema, o que permite aliar diversas outras temáticas, tais como: Ciências Meteorológica; Economia; Direito; Jornalismo e assim por diante. O FSC possui princípios e critérios distribuídos em 3 diferentes dimensões (ambiental, econômica e social) como destacam Gueneau (2013) e FSC (2020) o que faz com que profissionais de diversas áreas do conhecimento tenham o interesse na temática.

Ao longo de quase 30 anos da criação do FSC em esfera internacional e um pouco mais de 20 anos da presença da certificação no Brasil, se percebe que a produção científica ainda é pequena. De acordo com o Gráfico 1, é possível verificar a quantidade de estudos ao longo de 19 anos e inclusive perceber que a primeira dissertação foi defendida apenas em 2000 e a primeira tese em 2004. Ou seja, o FSC é uma temática recente nos Programas de Pós-graduação do Brasil.

Gráfico 1 - Distribuição dos estudos acerca do FSC por ano

Fonte: Dados da Pesquisa, 2020.

Como se observa no Gráfico 1, o ápice da produção científica sobre o FSC em teses e dissertações brasileiras foi entre os anos de 2010 e 2017. Contudo, destaca-se o ano de 2012 com 6 dissertações e o ano de 2015 com 5 teses. De forma ainda incipiente, a amostra revela que as pesquisas sobre o FSC estão num movimento ascendente. Não foram encontrado publicações nos anos de 2001, 2005, 2011 e em 2020. Estes dados demonstram que ainda há escassez de estudos sobre o FSC, demonstrando uma oportunidade para pesquisadores interessados na área. Tal constatação também é apontada por Bush (2008), Basso et al. (2011), Andretti (2012), Bonfim (2016) e Consoni (2017).

Além da identificação dos anos das teses e dissertações encontradas, também foi possível identificar quais foram as palavras-chave mais empregadas para caracterizar as teses e dissertações. Para isso, diante da leitura de toda as palavras-chave presente nos 56 estudos, se conseguiu elaborar a Figura 1.

Figura 1 - Nuvem de palavras formada a partir das palavras-chave

Fonte: Dados da Pesquisa, 2020.

Diante da Figura 1 é possível perceber as palavras-chave mais presentes nas teses e dissertações. Com um total de 16 incidências, merece destaque a palavra certificação florestal, seguidos de gestão florestal, manejo florestal, impacto ambiental, conservação ambiental e desenvolvimento sustentável. Foram catalogadas mais de 100 palavras-chave diferentes. Os estudos apresentaram uma média de 4 palavras-chave.

Com a leitura na íntegra de todos os trabalhos, foi possível classificá-los em diferentes temáticas como pode ser visto no Quadro 2.

Quadro 2 - Temáticas abordadas nas Teses e Dissertações

Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Os dados que constam no Quadro 2 sugerem que a maioria dos estudos encontrados traziam os benefícios e desafios da certificação FSC em determinada localidade. Também foi possível registrar pesquisas sobre governança, legislação, marketing e caracterização de organizações certificadas.

Com o número ainda baixo de estudos sobre o FSC como trazido por Bush (2008), Basso et al. (2011) e Bonfim (2016) e a dificuldade metodológica de mensuração que o FSC apresenta como comentado por Andretti (2012) e Consoni (2017), podem justificar o número alto de estudos acerca dos benefícios e desafios do FSC. Isso demonstra a oportunidade de pesquisas na área. Tal resultado também está diretamente relacionado ao tipo de metodologia que os estudos apresentam como pode ser visto no Quadro 3.

Mediante a leitura dos capítulos de metodologia dos estudos, foi possível identificar o método empregado em todos os estudos selecionados. No Quadro 3 é apresentado os dados alcançados.

Quadro 3 - Metodologias Empregadas nas Teses e Dissertações

Fonte: Dados da Pesquisa, 2020.

De acordo com o Quadro 3, a maioria das pesquisas apresentavam abordagem qualitativa, o que demonstra um viés ainda incipiente sobre o FSC. De acordo com Prodanov e Freitas (2013) a abordagem qualitativa é recomendada quando não se tem informações sobre determinada temática e se deseja conhecer um fenômeno de forma aprofundada. Além da abordagem, também foi percebido que a maior parte dos estudos tinha como método de coleta de dados a combinação de dois ou três formas, tais como: revisão bibliográfica, pesquisa documental e entrevistas. Para os mesmos autores, tais métodos são utilizados geralmente, em estudos qualitativos (PRODANOV; FREITAS, 2013).

A pesquisa documental encontrada na grande maioria dos estudos estava baseada, principalmente, em relatórios de certificação e recertificação do FSC. Dados como estes estão disponibilizados online no site oficial do FSC facilitando a consulta por diversos pesquisadores. Matiello (2012) inclusive relata que são dados com ampla disponibilidade para consulta, o que favorece o desenvolvimento de pesquisas nesta área. Para Bonfim (2016), estes relatórios são de extrema importância, pois é onde se consegue visualizar as evidências empíricas encontradas duarente as auditorias. O autor complementa que estes documentos são uma forma de comunicação externa sobre o processo de avaliação do manejo florestal de uma determinada empresa. De acordo com Morrone (2016) este documento apresenta informações tais como: a descrição do escopo do certificado e principais características da propriedade; o resumo do plano de manejo florestal adotado; explicações sobre como ocorreu o processo de auditoria e a consulta pública às partes interessadas; bem como os resultados da auditoria (observações e não conformidades) e a decisão de certificação.

Com relação as entrevistas, outro método presente de forma expressiva nos estudos selecionados, na sua maioria, era aplicado a pessoas ligadas ao FSC, como por exemplo: auditores; comunidades impactadas pelo FSC; colaboradores responsáveis pela certificação dentro de alguma organização; representante de associações e entre outros. Esse tipo de coleta de dados representa uma forma de capturar opiniões sobre um determinado assunto através diferentes atores (PRODANOV; FREITAS, 2013).

Apesar dos estudos qualitativos proporcionarem ao pesquisador incluir sua perspectiva sobre os fatos, ela pode acarretar em uma interpretação subjetiva sobre os dados. E um estudo apenas quantitativo o pesquisador pode além de ignorar contextos sociais, pode desconsiderar a sua posição perante um fato em questão. Por este motivo, Matiello (2012) salienta que estudos relacionados ao FSC devem ser baseados em metodologias qualitativas e quantitativas, pois de acordo com Viacava (2007), temáticas relacionadas a sustentabilidade são complexas de avaliar.

Contudo, sabe-se que em muitos estudos de mestrado, por exemplo, o pesquisador não possui tempo hábil para esse desenvolvimento, acarretando na escolha de apenas uma abordagem metodológica, como neste caso em específico, estudos qualitativos. A ONG WWF (2015) cita que pesquisas relacionadas à exploração madeireira leva anos para ser desenvolvida. Ometto (2010) complementa que além da falta de tempo, algumas outras limitações podem aparecer, tais como: inexperiência do pesquisador; unidade de análise ser difícil de analisar; complexidade da temática; número baixo de resultados entre outros. Ehrenberg-Azcárate e Peña-Claros (2020) e Girolami e Arts (2018) comentam sobre a dificuldade de produção de estudos rigosros e verificáveis em longo prazo sobre o FSC em função dos doversos obstáculos ainda a serem superados.

A última fase da análise foi constituída da identificação dos principais resultados e considerações finais alcançados pelos autores com base nas temáticas apresentadas no Quadro 2. Os dados foram organização e sintetizados de acordo com a Figura 2 para melhor visualização.

Figura 2 - Sintetização dos resultados e considerações finais

Fonte: Elaborado pelos autores, 2020

O mercado brasileiro de empresas certificadas com o selo do FSC de acordo com Basso (2015) é formado por indústrias de papel e celulose, painéis de madeira, madeira processada e siderurgias a carvão vegetal e biomassa. Os motivos que levam essas organizações a adotarem mecanismos privados de controle externo como uma certificação internacional são variados, tais como: Acesso a novos mercados e consequentemente aumento de receita; diferencial competitivo; exigência do mercado internacional; pressão da sociedade; exigência legal; diminuição de risco financeiro e incentivos governamentais (CASTRAL, 2003, VIACAVA, 2007; OMETTO, 2010; TAKIY, 2010; VOIVODIC, 2010; BORSATO, 2013; ROCHA, 2012; EL FARO, 2013; BASSO, 2015; BONFIM, 2016; DALMARCO, 2017).

A certificação de acordo com Bush (2008), não vem por uma questão ideológica empresarial, mas surge pelo desejo de agregar valor à responsabilidade socioambiental aos produtos da organização. De acordo com Tomé (2004), Oliveira (2010), Matos (2012), Matiello (2012) e El Faro (2013), se percebe cada vez mais, uma conscientização do consumidor que impulsiona um mercado mais ético através da sua exigência em saber o impacto econômico, ambiental e social que geram dos produtos adquiridos.

Quando uma certificação internacional como o FSC é implantada dentro de uma organização, benefícios diretos e indiretos podem ser gerados. Contudo, existem alguns fatores críticos de sucesso como destacam Ometto (2010) e Consoni (2017). Para os autores, ter o comprometimento da alta direção, a disponibilidade de recursos financeiros e ter uma equipe especializada no assunto são essenciais para que as empresas alcancem a certificação e consigam mantê-la gerando benefícios.

Para o melhor entendimento dos benefícios encontrados ao longo da leitura do material selecionado, se optou em separá-los em ambientais, econômicos e sociais, como pode ser visualizado no Quadro 4. De acordo com Oliveira (2010) e Gueneau (2013), o próprio FSC (2021) realiza um balanço entre as três dimensões da sustentabilidade, considerado pelos autores como o diferencial da certificação em relação aos outros sistemas de certificação.

Quadro 4 - Benefícios da Certificação FSC

Fonte: Dados da Pesquisa, 2020

Além dos benefícios elencados no Quadro 5, ainda existem outros. Bush (2008), Voivodic (2010) e Prado (2019) citam alguns, são eles: cumprimento de requisitos legais; transparência e melhoria contínua nos processos organizacionais; aumento de credibilidade e reputação da empresa perante os produtos certificados; e por fim, uma maior visibilidade perante o seu mercado de atuação.

Para Prado (2019), esta maior visibilidade pode surgir por diversos fatores, mas também pelo Programa Benchmarking Brasil, no qual reconhece as empresas com boas práticas de sustentabilidade. Martinelli (2006) e Dalmarco (2017), reforçam que a certificação pode ser uma ferramenta bastante relevante no alcance da sustentabilidade organizacional, como o caso de pequenos produtores localizados na Amazônia (MARTINELLI, 2006).

Ademais, Voivodic (2010) comenta que o FSC possui credibilidade perante o mercado de atuação, pois está legitimado através de seu desenho institucional de acesso e participação de diferentes grupos (empresas privadas, organizações ambientalistas, movimentos sociais) de interesse na tomada de decisão do funcionamento do sistema. Isso faz com que ele seja reconhecido como uma certificação desejável e apropriada para o mercado, e até mesmo receba apoio de diversos setores, tendo em vista a sua democratização (OLIVEIRA, 2010).

Contudo, adaptar a empresa a uma realidade de certificação internacional não é uma tarefa fácil, exige investimentos e comprometimento de todos os colaboradores envolvidos, e mesmo assim, alguns desafios e, principalmente, algumas não conformidades são registradas (CARNEIRO, 2004; SOUZA, 2015; PRADO, 2019). Matiello (2012) assume que o processo de certificação dentro de uma organização é desafiador por envolver diversos princípios, critérios e indicadores, e que com isso é esperado o encontro de adversidades, e até mesmo, o não cumprimento absoluto de todos os itens necessários. Tais desafios e não conformidades estão demonstrados no Quadro 5.

Quadro 5 - Desafios da Certificação FSC

Continua............

Fonte: Dados da Pesquisa, 2020

Tomé (2004) relata que as limitações ao alcance das demandas sociais e ambientais estão relacionadas a recente incorporação dessas variáveis junto ao manejo sustentável de florestas. Para Bush (2008), Batista (2014) e Imperador (2009), esta gama de dificuldades encontradas é o reflexo da complexidade e da inflexibilidade que a certificação FSC apresenta na prática, sendo inclusive mais rigoroso que a legislação brasileira vigente.

Consoni (2017) salienta que os desafios apresentados surgem em função do FSC não apresentar uma metodologia explícita para a implantação de suas normas e inclusive, dotar de indicadores gerais, o que muitas vezes não caracteriza certa realidade ou não consegue endereçar o problema de maneira consistente como aponta Martinelli (2006) e Matiello (2012). Morrone (2016) comenta que a falta de padrões na definição de características das equipes de auditores e o tempo de auditoria com relação ao tamanho das empresas também dificulta o processo. A autora complementa que isso é extremamente importante, pois a maneira como se dá a auditoria influencia diretamente na qualidade dos resultados obtidos e divulgados. Tais dificuldades também surgem de acordo com Vieira Júnior (2016) devido aos interesses de diversos públicos na floresta, tais como: comunidade local, empresas privadas, órgãos públicos e certificadoras. Por fim, Gomes (2000) ressalta que o Brasil tem a necessidade imediata de desenvolver tecnologias e também formar pessoal qualificado para atender à crescente demanda do setor florestal e para solucionar essas diversas lacunas encontradas.

Bush (2008), Paiva (2012) e Stoltenberg (2013) ainda ressalta que apesar das diversas limitações encontradas, o FSC tem promovido melhorias contínuas para o manejo florestal sustentável, principalmente, mediante as não conformidades encontradas e suas correções. Para empresas que já possuem princípios de sustentabilidade incorporada ao negócio, o processo de implantação é facilitado e os benefícios são sentidos de forma mais concreta (DALMARCO, 2017).

Para as dificuldades encontradas e listadas no Quadro 5, buscou-se elucidar, uma série de fatores de alavancagem ou de acordo com o FSC (2021), ações corretivas a serem realizadas a fim de superar tais dificuldades. Na sequência, segue uma listagem das ações encontradas no portfólio bibliográfico apresentado nesta pesquisa, são elas: incentivos governamentais; políticas públicas; demanda interna por produtos certificados; monitoramento baseado em evidências; projetos internos organizacionais; oferecer treinamento, workshops, reuniões e palestras de forma periódica aos colaboradores; maior interação entre o sistema e as empresas e universidades para o desenvolvimento de pesquisas; apoio técnico de fundações e ONGs; ofertas de linha de crédito específica para o setor; definição de normas e regulamentos claros pelo FSC; participação ativa do ICMBio; exploração de atividades relacionados ao turismo e hospedagem, por meio de projetos com educação ambiental, turismo ecológico, esportes de aventura na natureza; estabelecimento de parcerias e entre outras (MARTINELLI, 2006; BUSH, 2008; IMPERADOR, 2009; MATIELLO, 2012; BORSATO, 2013; PASSOS, 2013; STOLTENBERG, 2013; VIEIRA JÚNIOR 2016). Oliveira (2010) inclusive destaca que fica inviável para o Brasil se destacar nesse mercado sem a implantação de incentivos como estes, pois países considerados desenvolvidos já aplicam tais medidas para que as empresas consigam, de fato, alcançar a sustentabilidade organizacional.

4. Conclusões e Recomendações

Este estudo teve como objetivo identificar benefícios e desafios do Forest Stewardship Council (FSC) por meio da análise da pesquisa científica em termos de pós-graduação sobre o tema no Brasil. Para isso, o método de bibliometria com análise sistematiza foi adotado, acreditando ser o mais adequado para este caso. Como resultados, foi possível encontrar 494 estudos, porém apenas 56 demonstraram alinhamento com a proposta delimitada.

Posterior a leitura dos estudos selecionados foi possível identificar o início das publicações nos anos 2000 até o ano de 2019. Diante de uma diversidade de temáticas, destaca-se estudos sobre benefícios e desafios da implantação da certificação por meio da análise dos relatórios de não conformidades disponíveis pelo FSC no seu próprio site.

É possível afirmar que o FSC é o sistema de maior credibilidade mundial quando o assunto é manejo florestal. Um dos motivos de seu reconhecimento é justamente pela forma de governança que atua, no qual seus stakeholders participam de decisões pontuais sobre a certificação, bem como a liberdade de consulta que se tem aos relatórios de auditorias das empresas certificadas. Esse processo faz com que o sistema se torne transparente a todos os públicos interessados.

Pode-se perceber também, que algumas evidências empíricas levantadas pelos estudos eram similares e, inclusive, em diversos estudos apareciam equivalentes tanto em benefícios como em desafios. Dentre as contribuições sociais e práticas deste estudo é possível destacar subsídios para os gestores de organizações que atuam no setor florestal, para revisar seu modelo de gestão, ampliando o escopo de atuação para contemplar as necessidades da comunidade do entorno, bem como as relações constituídas com os demais stakeholders, especialmente os consumidores, fornecedores e acionistas. Desta forma, se percebe que o FSC possui riscos e incertezas, demandas e expectativas, necessidades e oportunidades, o que demonstra reflexo das novas possibilidades e reanálises em todos os âmbitos, estimulando assim, outros estudos nesta área, tendo em vista os diversos desafios encontrados.

Como principal limitação deste artigo, a escolha de apenas três bases de dados e brasileiras, o que ocasionou na repetição de diversos estudos. Diante disto, como sugestão de pesquisas futuras, os pesquisadores salientam a importância de aumentar os resultados aqui apresentados por meio de artigos científicos buscados em outras bases de dados, tais como: Scielo, Scopus, Web of Science, Science Direct e Wiley Online Library. Além disso, outra recomendação seria discutir os achados desta pesquisa com o estado da arte do FSC.

Contudo, isso não desmerece a relevância da presente pesquisa ao apresentar os resultados encontrados, podendo, dessa forma, direcionar outros estudos inéditos, aumentando assim, os debates sobre a referida temática. Muito pelo contrário, se percebe que o tema proposto é muito rico, não podendo ser esgotado apenas nesta pesquisa.

Referências

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