Artigo 2

Teoria da Autodeterminação: um estudo da Motivação dos estudantes do curso de Ciências Contábeis em relação ao hábito de Leitura

 

Theory of Self-Determination: a study of Accounting Students’ Motivation in relation to the reading habit

 

 

Cristiano Carvalho Lopes1, Débora Gomes de Gomes2,

Rodrigo Nobre Fernandez3 e Alexandre Costa Quintana4

 

1 Universidade Federal de Pelotas, Brasil, Mestrando em Contabildiade, e-mail: cristnativo@hotmail.com

2 Universidade Federal do Rio Grande, Brasil, Doutorado em Ciências Contábeis, e-mail: debora_furg@yahoo.com.br

3 Universidade Federal de Pelotas, Brasil, Doutorado em Economia, e-mail: rodrigonobrefernandez@gmail.com

4 Universidade Federal do Rio Grande, Brasil, Doutorado em Contabilidade, e-mail: professorquintana@hotmail.com

 

Recebido em: 05/04/2022 - Revisado em: 30/10/2022 - Aprovado em: 31/01/2023 - Disponível em: 01/04/2023

Resumo

Esta pesquisa teve como objetivo investigar a motivação de estudantes de Ciências Contábeis em relação ao hábito de leitura de textos curriculares e extracurriculares, sob a luz da Teoria da Autodeterminação, a qual indica seis tipos de motivação. Esta pesquisa é descritiva, quantitativa e quanto aos procedimentos survey, realizada por meio da aplicação de um questionário eletrônico, com Escala de Motivação em Leitura (EML). A amostra da pesquisa foi composta por 163 discentes matriculados nos Cursos de Ciências Contábeis de instituições de ensino brasileiras. Os resultados da pesquisa indicam que os estudantes analisados possuem motivação extrínseca por regulação integrada para realizarem leituras. Foi possível constatar, também, que as mulheres, os mais jovens e os que têm mais tempo na graduação em relação aos iniciantes apresentaram motivação identificada. Esses resultados mostram a necessidade de fomentar o hábito de leitura dos estudantes, pois esse déficit vai refletir futuramente na vida profissional dos discentes.

Palavras-chave: Motivação; Ciências Contábeis; Teoria da Autodeterminação; Leitura; Discentes.

 

 

Abstract

This research aimed to investigate the motivation of Accounting Science students in relation to the habit of reading curricular and extracurricular texts, in the light of the Self-Determination Theory, which indicates six types of motivation. This research is descriptive, quantitative and in terms of survey procedures, carried out through the application of an electronic questionnaire, with the Reading Motivation Scale (EML). The research sample consisted of 163 students enrolled in Accounting Sciences courses at Brazilian educational institutions. The research results indicate that the analyzed students have extrinsic motivation by integrated regulation to carry out readings. It was also possible to verify that women, the youngest and those who have spent more time in graduation in relation to the beginners showed identified motivation. These results show the need to encourage students’ reading habit, as this deficit will reflect in the future in the students’ professional lives.

Keywords: Motivation; Accounting Sciences; Theory of Self-Determination; Reading; students.

 

1 Introdução

 

A Teoria da Autodeterminação tem sido amplamente discutida no contexto da motivação com ênfase na aprendizagem acadêmica. Essa teoria é classificada em três grupos: desmotivação, motivação extrínseca e motivação intrínseca, que se apresentam de forma qualitativa de acordo com a internalização das regulações externas frente o comportamento. Por essa razão, a motivação tem se constituído como foco de estudos, pois é preciso encontrar as formas possíveis de estimular os acadêmicos a envolverem-se ativamente com as atividades de ensino (LEAL; MIRANDA; CARMO, 2013; SOBRAL, 2003). Assim como a leitura, que se apresenta como uma forma essencial para se obter conhecimento a curto e longo prazo, pois com ela é possível construir competências e habilidades que são importantes para o desenvolvimento do aprendizado, possibilitará o discente obter sucesso ao longo da vida, tanto no âmbito pessoal quanto profissional (NASU, 2018).

Estudos pregressos sobre a temática foram desenvolvidos com foco nos Cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis, tais como: Leal, Miranda e Carmo (2013), que analisaram a motivação de estudantes sob a ótica de seis tipos de motivação: desmotivação, motivação extrínseca (regulação interna, introjetada, identificada, integrada) e motivação intrínseca, as quais variam qualitativamente de acordo com as regulações externas de comportamento, os indivíduos que se encontram nesse estado são orientados por uma ameaça ou recompensa externa; Carmo (2014) identificou semelhanças e diferenças nos tipos de motivação acadêmica entre estudantes, na modalidade presencial e na educação a distância; Lopes et al. (2015) verificaram se existem diferenças significativas nos níveis de motivação entre alunos de instituições de ensino superior públicas e privadas no Estado da Bahia; Schnell (2017) demonstrou como os diferentes estágios de motivação/desmotivação influenciam no desempenho de discentes, e Colares et al. (2019), que analisaram os fatores motivacionais que levam os docentes a atuarem na pós-graduação stricto sensu. Esses estudos tiveram como base a teoria da autodeterminação.

Pesquisas sobre a motivação, em relação ao hábito de leitura, tem-se mostrado presente no campo do ensino-aprendizagem, pois a leitura é um meio importante de se obter conhecimento. Nesse contexto, é pertinente citar os estudos de Bzuneck et al. (2015), que analisaram a estrutura fatorial de um instrumento elaborado para avaliar a motivação para leitura de estudantes adolescentes; Gomes e Boruchovitch (2015) que descreveram os passos relativos a construção de uma Escala de Motivação em Leitura (EML) para adolescentes e jovens; Fernandes e Miranda (2018), que verificaram que a leitura é uma atividade complexa, pois é uma tarefa que vai além da decodificação e Nasu (2018) que analisou alguns aspectos relacionados aos efeitos da leitura extracurricular sobre o desempenho acadêmico e o tempo de estudo de alunos de Ciências Contábeis.

De acordo com Colares et al. (2019) os conhecimentos obtidos, por meio de estudos anteriores, evidenciam a necessidade de pesquisas relacionadas com a motivação no ensino superior. Frente a isso é oportuno conhecer e compreender os fatores motivacionais dos discentes, uma vez que a falta de motivação, por parte desses, pode interferir no processo de ensino-aprendizagem. Desse modo, é necessário compreender e avaliar os níveis motivacionais de estudantes em relação ao hábito de leitura possibilitando, assim, o planejamento para incentivar e explorar a motivação em ambientes acadêmicos (FERNANDES; MIRANDA, 2018, LEAL; MIRANDA; CARMO, 2013).

Neste contexto, o objetivo geral deste estudo é avaliar a motivação de estudantes de Ciências Contábeis em relação ao hábito de leitura, de textos curriculares e extracurriculares, sob à luz da Teoria da Autodeterminação. A realização desse estudo justifica-se pela relevância de se desenvolver estudos que investiguem os aspectos motivacionais relacionados aos cursos de graduação, mais precisamente do Curso de Ciências Contábeis, pois o intuito é propor condições para que os discentes aproveitem a passagem pela Universidade e, também, desenvolvam o seu potencial no curso (CARMO, 2014). Da mesma forma, entende-se oportuno elaborar estudos que reforcem a importância da leitura para desenvolver habilidades e competências com o intuito de melhorar o desempenho acadêmico (NASU, 2018).

Este estudo é relevante, pois a pesquisa está relacionada a contribuição científica, em termos empíricos, visto que busca identificar, à luz da Teoria da Autodeterminação, os fatores que fomentam ou que buscam compreender a motivação de estudantes de Ciências Contábeis em relação ao hábito de leitura (FERNANDES; MIRANDA, 2018, LEAL; MIRANDA; CARMO, 2013). Também, pesquisas voltadas para as teorias motivacionais possibilitam fomentar embasamento teórico para melhor compreensão do processo de ensino-aprendizagem, que pode vir a se tornar uma interessante ferramenta para auxiliar os docentes a desenvolverem atividades relacionadas ao hábito de leitura, que possam refletir no desempenho acadêmico dos discentes (COLARES et al., 2019; FERNANDES; MIRANDA, 2018).

Este estudo está estruturado em cinco seções, sendo a primeira constituída por esta introdução, a segunda contém o embasamento teórico envolvendo a Teoria da Autodeterminação (seus fundamentos e estudos anteriores), a terceira elenca os procedimentos metodológicos da pesquisa, a quarta apresenta e discute os resultados obtidos e a quinta apresenta as considerações finais e respectivas constatações. Ao final encontra-se a lista de referências utilizadas ao longo desse artigo.

 

2 Motivação, Teoria da Autodeterminação e Leitura

 

A motivação é um método psicológico que tem seu princípio no interior do ser humano capaz de impulsioná-lo a uma determinada ação. Pode-se dizer que a motivação é a essência das questões biológicas, cognitivas e sociais, pois é um sentimento propulsor que faz despertar e dirigir o ser humano a conquistar as suas metas e objetivos (DECI; RYAN, 2000). Por isso, o seu estudo é necessário para investigar os elementos que conduzem o comportamento humano nas ações do dia a dia, neste caso, mais precisamente, no ambiente acadêmico. Diante disso, cabe destacar que a motivação não é algo que possa ser pontualmente observado o que é feito, nesse caso, são inferências comportamentais, que pode ser a consequência de vários motivos agindo ao mesmo tempo (COLARES et al., 2019).

Em vista disso, a motivação no contexto universitário tem ganhado espaço em vários estudos nas últimas décadas. Sendo assim, o propósito desses estudos, em sua maioria, é descobrir maneiras de inspirar os discentes a se envolverem de forma efetiva nas atividades de aprendizagem. Além disso, busca melhorar o ambiente de ensino, o desempenho estudantil e a qualidade do processo de ensino-aprendizagem (WERLANG; BIANCHI; VENDRUSCOLO, 2015; CARMO; ALBANEZ, 2016.). Por essa razão, a motivação no ambiente educacional tem sido considerada um elemento preponderante para analisar o nível de aprendizagem e desempenhos dos estudantes (GUIMARÃES; BORUCHOVITCH, 2004).

De acordo com Guimarães e Boruchovitch (2004) um discente motivado acaba se mostrando, de forma natural, comprometido com o sistema de aprendizagem, participando assim de forma ativa e efetiva das tarefas desafiadoras, desenvolvendo estratégias de aprendizado e construindo suas habilidades de leitura e de compreensão dos conteúdos. Assim, como acaba apresentando entusiasmo ao desenvolver as suas tarefas e empáfia ao obter os resultados do seu desempenho, o discente poderá se superar frente as suas previsões. Por outro lado, de acordo com Pajares e Schunk (2001), discentes desmotivados envolvem-se pouco com as atividades educacionais, em consequência tornam-se indivíduos acríticos para interagir no convívio social.

A Teoria da Autodeterminação, em inglês Self Determination Theory (SDT), vem sendo investigada desde meados de 1970, nos Estados Unidos, pelos professores de psicologia Edward L. Deci e Richard M. Ryan. O propósito deles é o estudo da influência das abordagens comportamentais na Psicologia Empírica. Desse modo, no ano de 1981, Deci e Rayn, desenvolveram a Teoria da Autodeterminação, abordando a personalidade e a motivação humana, focalizando as necessidades psicológicas inatas e as condições contextuais favoráveis a motivação, ao funcionamento social e ao bem-estar psicológicos decorrentes do compromisso com os obstáculos e desígnios da vida humana (SILVA; WENDT; ARGIMON, 2010).

Segundo Leal, Miranda e Carmo (2013) a teoria da autodeterminação tem sido foco de discussões no campo da motivação para a aprendizagem. Essa indica seis tipos de motivação, as quais variam, qualitativamente, conforme a internalização das regulações externas para o comportamento.

Essa teoria busca destacar a motivação autônoma, que compreende tanto motivações intrínsecas, quanto extrínsecas, a qual sofre influência direta de fatores externos como recompensas ou punições e aspectos como necessidade de aprovação ou vergonha, autoestima e ego. Esses fatores são apresentados através de Continuum de Autodeterminação (Figura 1) em que indicam seis tipos de motivação, os quais variam qualitativamente segundo a internalização das regulações externas para o comportamento. Esse instrumento serve para avaliar a qualidade motivacional, com base nas necessidades psicológicas básicas de competência, autonomia e pertencimento (GAGNÉ; DECI, 2005; DECI; RYAN, 2008; LEGAULT, 2017).

 

Figura 1 - Continuum de Autodeterminação.

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Fonte: Adaptado de Gagné e Deci (2005, p. 336).

 

Na extrema esquerda da Figura 1 aparece a desmotivação que, como o próprio nome diz, é ausência de motivação, ou seja, caracteriza-se pela ausência de intenção e de comportamento proativo e, ainda, evidencia um comportamento que remete a falta de intencionalidade e controle nas ações executadas por determinado indivíduo. Essa, apresenta-se do lado esquerdo do continuum por representar o nível mais baixo de autonomia. Em síntese pode-se dizer que a desmotivação é a carência de pró-atividade (BIZZARIA et al., 2016). Para exemplificar, seria o mesmo que um aluno dizer: “ler é muito chato” (GOMES; BORUCHOVITCH, 2015, p. 9).

Na sequência em direção à direita aparece a motivação extrínseca. Esse nível caracteriza-se por desempenhar uma atividade, a fim de obter determinado resultado, ou seja, o indivíduo realiza uma determinada tarefa com o intuito de receber alguma compensação externa ou algum benefício social. Nesse caso, a satisfação não vem da atividade em si, mas do estímulo externo dado por uma pessoa ou instituição. Em suma, essa é uma categoria que se caracteriza por ser uma forma de motivação menos autônoma (GAGNÉ; DECI, 2005). A motivação extrínseca é dividida em quatro subcategorias: i) regulação externa, ii) regulação introjetada, iii) regulação identificada e iv) regulação integrada.

A regulação externa se caracteriza por ser a forma menos autônoma de motivação, pois nesse caso o indivíduo sente-se pressionado por alguém ou algo para executar determinada atividade. Esse, é um comportamento que a pessoa realiza para obter determinado benefício ou recompensa, pois sua atenção em momento algum está focada no processo, mas sim na conveniência (GOMES; BORUCHOVITCH, 2015, p. 9).

Na sequência aparece a regulação introjetada que é um tipo de regulação interna bastante controlável, pois as consequências são administradas pelo próprio indivíduo. O indivíduo realiza tais ações como forma de evitar culpa, ou ansiedade, e busca conquistar certo reconhecimento social ou melhorar a sua autoestima por alcançar algo que nutra o seu ego (DECI; RYAN, 2000).

O terceiro tipo de motivação é a regulação identificada, uma forma de motivação extrínseca um pouco mais autodeterminada. No entanto, a realização do comportamento ainda é centrada nas consequências e nos benefícios decorrentes. Contudo, existe uma interiorização para executar tais ações, mesmo assim existe alguma pressão de origem externa (COLARES et al., 2019).

O último fator de motivação extrínseca é a regulação integrada. Nesta modalidade existe uma certa coerência entre o comportamento, os objetivos e valores da pessoa. Neste caso o indivíduo sente uma atração pessoal por determinado comportamento, mesmo assim, esse comportamento não é autônomo, mas o interesse social, sim. Percebe-se que essa é a forma de motivação extrínseca mais autônoma, embora o foco ainda esteja nas vantagens pessoais decorrentes da realização de tal atividade (GUIMARÃES; BZUNECK, 2004).

Por fim, o fator de motivação mais autodeterminada que é a motivação intrínseca. Esse tipo caracteriza-se por uma pessoa realizar tal atividade, justamente por sentir satisfação em realizá-la, pois, a atividade é vista como um fim em si mesma (GOMES; BORUCHOVITCH, 2015, p. 9).

No que diz respeito à leitura, ela constitui-se um importante mecanismo para o indivíduo desenvolver o seu senso crítico. Inclusive ela auxilia o ser humano a promover e ampliar o seu conhecimento sobre diversos assuntos. Propiciando, assim, ao indivíduo ampliar sua visão e a sua compreensão de mundo. Até porque a leitura é um elemento necessário para a fixação e ampliação dos conteúdos ministrados no meio acadêmico, como também possibilita a construção do conhecimento científico, bem como propicia um entendimento do mundo do trabalho (OLIVEIRA; SILVEIRA, 2014, p. 81).

De acordo com Bzuneck et al. (2015), no contexto educacional a leitura de texto está entre as tarefas mais cobradas aos alunos. Então, nesse ambiente de fomento do conhecimento científico sempre foi ressaltada a importância da prática de leitura, como forma, por exemplo, de expansão do vocabulário, capacidade de persuasão, melhoria na escrita e redação de textos, pois textos com qualidade auxiliam no desenvolvimento do senso crítico e aguçam a criatividade dos acadêmicos (LAW, 2011). Percebe-se que todos esses benefícios contribuem para a formação do indivíduo enquanto ser humano. Diante disso, nota-se a justificativa para a utilização da referida teoria e a utilização do instrumento brasileiro de motivação para leitura (BZUNECK et al., 2015).

 

2.1 Estudos Anteriores

 

Na pesquisa foi realizada uma busca sistemática para localizar estudos pregressos sobre a temática no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) e no Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade (EnEPQ), após a aplicação dos filtros restaram sete publicações, elencadas no Quadro 1.

 

Quadro 1: Estudos anteriores.

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Fonte: Elaborado a partir da literatura citada.

 

No Quadro 1 foram relacionados os trabalhos mapeados pela busca sistemática que apresentam a teoria da autodeterminação e, também, os que discutem e apresentam a motivação discente. Desse modo, estão contemplados os estudos sobre as habilidades de leituras dos discentes especificamente da área contábil, com foco nos processos de motivação com o intuito de melhorar a qualidade do aprendizado discente.

A pesquisa de Leal, Miranda e Carmo (2013) analisou a motivação dos estudantes de Ciências Contábeis e obteve como resultado que o estudo foi parcialmente convergente com aqueles encontrados em estudos anteriores. Além disso, constatou a existência de uma motivação bem diversificada para a aprendizagem entre os universitários analisados, pois alguns encontram-se preocupados em aprofundar seu nível de conhecimento, ou em atingir uma fundamentação adequada para o desempenho de sua futura atuação. Por outro lado, existem aqueles preocupados apenas com a obtenção do diploma, ou interessados em comparecer às aulas para garantir frequência.

Carmo (2014) identificou semelhanças e diferenças nos tipos de motivação acadêmica entre estudantes do curso de Bacharelado em Ciências Contábeis na modalidade presencial e na educação a distância, ambos pertencentes a uma instituição de ensino superior privada. A principal contribuição desse estudo foi constatar que os estudantes da modalidade a distância não apresentaram níveis significativos de autodeterminação, prevalecendo a tipologia motivacional de caráter extrínseco com regulação introjetada a qual é voltada para a obtenção de reconhecimento social.

Lopes et al. (2015) verificam se existem diferenças significativas nos níveis de motivação entre alunos de Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e privadas nos cursos de Ciências Contábeis na Bahia. Os autores aplicaram questionários estruturados com base na Escala de Motivação Acadêmica de Vallerand et al. (1992). Frente a esse estudo os autores constataram que não há diferenças estatisticamente significativas entre a motivação dos alunos de IES públicas e privadas. Dessa forma, esse estudo buscou contribuir com a melhoria do processo de ensino-aprendizagem dos cursos de Ciências Contábeis.

Schnell (2017) demonstrou como os diferentes estágios de motivação/desmotivação influenciam no desempenho dos discentes do curso de Ciências Contábeis de uma instituição de ensino privada e uma pública, conforme a Teoria da Autodeterminação. Em seu estudo foram selecionados alunos iniciantes e concluintes do referido curso. O autor concluiu que existem diferenças entre os fatores que geram a motivação acadêmica entre os alunos de IES públicas e privadas. Segundo ele, os estudantes iniciantes de IES privadas são mais motivados extrinsecamente por identificação, enquanto os alunos concluintes são mais motivados por controle externo. Contudo, os estudantes da IES públicas são mais motivados extrinsecamente, a fim de ter uma boa remuneração para os iniciantes, e para os alunos concluintes a motivação predominante foi a fim de obter um emprego de prestígio no futuro.

Fernandes e Miranda (2018) verificaram que a leitura é uma atividade complexa, pois é uma tarefa que é preciso ir além da decodificação. Por isso ela é necessária para a formação contábil, pois um bom profissional precisa saber extrair informações de diversas fontes que servem de subsídios para desenvolver suas competências e seu trabalho. O estudo dos autores teve como objetivo analisar e investigar as habilidades de leitura de textos, tendo como amostra alunos da disciplina de Análise das Demonstrações Contábeis de uma instituição pública brasileira. Desenvolvida a pesquisa, os autores concluem que esses alunos têm dificuldade em extrair e decodificar informações complexas, assim como constataram que existe uma correlação positiva e significativa entre a habilidade de leitura e o desempenho desses alunos.

Nasu (2018) analisou alguns aspectos relacionados aos efeitos da leitura extracurricular sobre o desempenho acadêmico e o tempo de estudo de alunos de Ciências Contábeis, formulou duas hipóteses: a primeira diz respeito aos estudantes que leem mais possuem melhor performance acadêmica, e a segunda considera que os estudantes que leem mais estão mais associados a elevadas horas de estudo. O autor concluiu que a leitura extracurricular tem impacto positivo no desempenho discente. Assim, os resultados destas técnicas utilizadas no estudo apoiaram a conjectura de que há associação positiva entre a leitura extracurricular e as horas de estudo.

Colares et al. (2019) analisaram os fatores motivacionais que levam os docentes da área de Ciências Contábeis a atuarem na pós-graduação stricto sensu, tendo como base a teoria da autodeterminação. Segundo eles, a motivação docente está diretamente ligada ao processo de ensino-aprendizagem e à motivação discente. Sendo assim, é importante indicar o que motiva a atuação desses docentes. Dessa forma, os autores aplicaram o instrumento e Work Tasks Motivation Scale for Teachers, que foi respondido por 108 professores de 33 programas de pós-graduação stricto sensu da área de Ciências Contábeis. Os pesquisadores concluíram que a maioria dos docentes é motivada extrinsecamente por meio da regulação identificada, no entanto está relacionada menos ao acesso a recursos financeiros e mais ao prestígio que a atuação na pós-graduação stricto sensu propicia.

 

3. Procedimentos Metodológicos

 

Este estudo, quanto aos objetivos é descritivo e quanto aos procedimentos é uma survey, conforme os pressupostos de Gil (2017). Quanto à abordagem do problema, trata-se de uma pesquisa quantitativa, segundo entendimento extraído de Martins e Theóphilo (2016), pois foram estabelecidas relações de diferenças entre as variáveis gênero, idade e período.

Para formar a amostra do estudo, buscou-se abranger estudantes de Ciências Contábeis brasileiros. Nesse sentido, realizou-se uma consulta no endereço eletrônico do Ministério da Educação (E-MEC, 2020), em julho de 2020, que mapeou 2.154 cursos. Frente ao grande número de cursos e com intuito de refinar e agilizar as pesquisas foram elencadas de forma aleatória a 50 instituições, tanto públicas como privadas. Depois de selecionadas as instituições, realizou-se a buscas nas páginas eletrônicas de cada uma das instituições a fim de identificar os coordenadores do curso e seus respectivos endereços eletrônicos para o envio dos questionários e que na sequência esse fosse disponibilizado juntos aos estudantes.

O questionário foi enviado via e-mail, utilizando-se formulário disponibilizado pelo Google Docs. Após o contato com os coordenadores, foram obtidas 163 respostas. Esses estudantes estavam matriculados em todos os períodos, ou seja, do primeiro ao décimo, dos cursos de Ciências Contábeis. Cabe destacar que no próprio instrumento era informado aos estudantes sobre os objetivos do estudo, bem como à liberdade de não responderem ao questionário, caso quisessem (MARTINS; THEÓPHILO, 2016).

Para coleta dos dados foi utilizado como instrumento a Escala de Motivação para Leitura, desenvolvida por Bzuneck et al. (2015), com adaptação de duas questões do estudo de Gomes e Boruchovitch (2015), que tratam especificamente da categoria motivacional integrada, pois o questionário base não contempla questões específicas desse nível motivacional. Esse questionário foi adaptado eletronicamente e sua composição é formada por questões fechadas. Ademais, o instrumento foi submetido a pré-teste com três professores, que sugeriram reformulações e formatação na organização das questões. Nessa pesquisa, utilizou-se a escala Likert de 5 pontos (1 discordo totalmente, 2 discordo parcialmente, 3 indiferentes, 4 concordo parcialmente e 5 concordo totalmente). Essa fornece suporte à teoria da autodeterminação, pois os estudos de Bzuneck et al. (2015), Durso et al. (2016), Werlang, Bianchi e Vendruscolo (2015), também utilizaram a mesma escala.

O questionário da pesquisa foi dividido em três blocos, sendo o primeiro constituído de uma breve apresentação dos pesquisadores, do objetivo da pesquisa e de uma assertiva solicitando o respondente a mencionar se desejava ou não participar da pesquisa. O segundo bloco foi constituído com a explicação dos 5 pontos da Likert e a Escala de Motivação para Leitura, com as assertivas que objetivaram captar a desmotivação, a motivação extrínseca e suas subcategorias e a motivação intrínseca dos estudantes do Curso de Ciências Contábeis para a realização de leituras. E no terceiro bloco foi organizado com o intuito de obter dados sobre gênero, idade e semestre que o discente está cursando.

Desse modo, cinco assertivas da escala referem-se à desmotivação, dezenove a motivação extrínseca, composta por nove questões ligadas à regulação externa, quatro a introjetada e a mesma quantidade para a identificada, respectivamente, duas referentes a integrada e quatorze assertivas associadas a motivação intrínseca. Essa parte do questionário apresentou um total de 38 afirmativas para as quais os discentes assinalaram para nível de concordância ou discordância, variando de 1 discordo totalmente a 5 concordo totalmente tendo como base a teoria da autodeterminação. Assim, na terceira etapa foram solicitados os dados sociodemográficos como: sexo, idade e período semestral, o qual estava sendo cursado no momento da pesquisa. Quanto a aplicação do questionário, ocorreu entre os dias 21 de julho e 10 de agosto de 2020.

Inicialmente, os dados foram organizados e tabulados em planilha eletrônica, e foi aplicada uma técnica para padronizar os dados que fazem o uso a fórmula z-score e para normatizar os dados a fórmula “Min.-Max.” (FIELD, 2009; BRUCE; BRUCE, 2019). Esse método coloca todas variáveis dentro do intervalo de 0 e 1, evitando que algum resultado negativo ficasse no intervalo entre -1 e 1, simplificando e ajustando o elenco de informações obtidas com a aplicação do questionário eletrônico. Na sequência os dados foram tratados com uso software SPSS 25 (Statistical Package for Social Sciences) para realizar uma análise estatística descritiva foi aplicado o Teste T para analisar a relação entre as variáveis e o nível de significância (FÁVERO; BELFIORE, 2017). Deste modo, torna-se possível evidenciar se existem diferenças significativas entre as médias dos subgrupos observados.

 

4. Resultados da Pesquisa

 

Inicialmente apresenta-se o perfil dos respondentes da pesquisa por meio de variáveis sociodemográficas. A amostra foi composta por 163 estudantes que estavam matriculados em todos os períodos, do primeiro ao décimo, dos Cursos de Ciências Contábeis no Brasil. Dentre os respondentes 101 eram do sexo feminino, 61 masculino e 1 outro; 107 estavam com até 25 anos, 50 entre 26 e 40 anos e 6 acima de 40 anos; 66 estudantes cursavam o primeiro ano do curso, 32 o segundo ano, 43 o terceiro ano, 20 o quarto ano e 2 o quinto ano. Assim, é possível verificar que a maioria dos respondentes da pesquisa é formada por mulheres, possuem até 25 anos e estão no primeiro ano do curso.

Após elaborou-se o Teste T, mediante estatística descritiva. De acordo com Fávero e Belfiore (2017), o Teste T para duas amostras independentes é aplicado para comparar as médias de dois grupos distintos, que não possuem dependência. Dessa forma, torna-se possível evidenciar se existem diferenças significativas entre as médias dos subgrupos observados. Em um primeiro momento, na Tabela 1 foram calculadas as médias e desvios-padrão por gênero (masculino e feminino), idade (até 25 e 26 ou mais) e período (1º até 4º semestre e 5º em diante) dos participantes em detrimento do índice de cada nível de motivação.

Tabela 1 - Estatística Descritiva

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Fonte: Dados da pesquisa.

Legenda: DP = Desvio Padrão

 

Pela Tabela 1 é possível identificar que os estudantes de Ciências Contábeis foram analisados, no que diz respeito a gênero, idade e período. Dessa forma, apresentam as seguintes características: em relação ao gênero percebe-se que os discentes têm um perfil voltado para regulação identificada (M = 80,01 – Feminino e M = 81,04 – Masculino), na sequência a segunda maior média foi para regulação integrada (M = 76,60 – Feminino e M = 77,66 – Masculino ) e a terceira maior ficou com a regulação intrínseca (M = 76,60 – Feminino e M = 77,66 – Masculino), sendo assim, percebe-se que tanto as mulheres, quanto os homens no presente estudo mantém os mesmos níveis de regulação.

No que diz respeito as médias, quando a variável analisada é a idade, as maiores ficaram para a faixa etária de até 25 anos, de regulação identificada (M= 83,93), seguido da regulação integrada (M= 82,81) e a terceira, a faixa etária entre 26 até 50 anos (M=78,67), apresentam regulação identificada para leituras. Neste caso constata-se que os mais jovens têm a consciência do valor da tarefa de realizar leituras.

Por fim, a média dos participantes analisados, no que diz respeito ao período cursado. A maior média ficou para os alunos dos últimos períodos, ou seja, do 5º ao 10º semestre (M=81,12) que sinaliza a uma regulação identificada, seguido de (M=79,51) para alunos do 1º ao 4º semestre que apresentaram o mesmo nível de regulação que os alunos do 5º ao 10º semestre, e o terceiro maior índice ficou para os estudantes do 1º ao 4º semestre (M= 78,26) que indica uma regulação integrada. Frente a esses dados percebe-se que o estudante com mais tempo na graduação tem consciência que é fundamental realizar leituras.

Por conseguinte, após a análise de médias e desvio padrão parte-se para análise de igualdade (ou não) das variâncias assumidas. Para tal, utiliza-se do Teste de Levene (Tabela 2) para verificação da homogeneidade das variâncias, que se torna um pertinente pressuposto na análise do Teste T para amostras independentes (FÁVERO; BELFIORE, 2017).

 

Tabela 2 - Teste de Levene para Igualdade de Variâncias

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Fonte: Dados da pesquisa.

 

Parte-se do pressuposto de variâncias iguais assumidas, com exceção dos valores da Regulação Introjetada que assumiram em dois momentos a Hipótese Alternativa (H1), conforme apresentado na Tabela 2. Uma vez observado o pressuposto de igualdade de variâncias, parte-se para o Teste T de duas amostras independentes, no caso em questão, do nível motivacional dos respondentes com base no gênero, idade e período.

 

Tabela 3 -Teste T para duas amostras independentes

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Legenda: *p ≤ 0,10; ** p < 0,05; ***p< 0,01.

Fonte: Dados da pesquisa.

 

Ante o exposto pela Tabela 3 percebe-se que, estatisticamente, ao nível de significância 5%, existem diferenças significativas na variável gênero, em relação ao nível de motivação regulação introjetada (p = 0,002) e na variável idade, para os níveis motivacionais regulação integrada (p= 0,094) e motivação intrínseca (p=0,069). Sendo assim, nessas três observações é possível rejeitar a hipótese nula (H0), indicando, dessa forma, que existem diferenças significativas nas médias destes grupos em questão. Logo, infere-se que ao nível de significância de 10%, em relação ao gênero no nível de motivação introjetada, a maior média se deu para o grupo 1 feminino e para o grupo dos mais novos, ou seja, até 25 anos para os níveis de motivação integrada e intrínseca.

Na sequência, apresenta-se o gráfico das médias dos níveis motivacionais criado com base nas informações obtidas através do instrumento de pesquisa. Para encontrar esses índices foi utilizado o procedimento padronizar e normatizar dados conforme recomendado por Field (2009).

 

Gráfico 1- Níveis Motivacionais.

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Fonte: Dados da pesquisa.

 

Com base nos índices criados por meio das respostas dos alunos de Ciências Contábeis, nota-se que os discentes possuem motivação extrínseca por regulação identificada. Nesse caso existe algo interior que os motivam a ler textos, mesmo que seja algo externo, mas vale mencionar que eles têm consciência da importância de tal hábito. Na outra ponta aparece a desmotivação, ou seja, apresenta-se com menor índice, pode-se afirmar que há ausência de motivação, isto significa que há falta de interesse em relação ao hábito de leituras, tanto curriculares, quanto extracurriculares.

 

 

4.1 Discussão dos Resultados com a Literatura

 

Ao analisar o nível de motivação da amostra por gênero, percebe-se que os estudantes analisados têm um perfil mais voltado para regulação identificada. Assim, como nos demais níveis de motivação extrínseca, percebe-se que, tanto as mulheres, quanto os homens, no presente estudo, mantêm os mesmos níveis de motivação por não serem significativas as diferenças entre as médias. Os achados do estudo de Lopes et al. (2015) divergem com o estudo em questão, pois em seus resultados foi possível constatar que o gênero feminino apresenta as maiores médias em relação ao gênero masculino nos seis níveis de motivação. Já no estudo de Sobral (2003) a maior média deu-se para identificação e para o sexo feminino, mas cabe destacar que essa diferença não foi significativa. Por fim, no estudo de Fernandes e Miranda (2018) os homens apresentam as maiores médias para realizarem leituras.

Os resultados demonstram que os alunos mais jovens apresentam motivação identificada, isto é, eles têm a consciência do valor da tarefa de realizar leituras por se enquadrarem nesse nível de motivação. No estudo de Lopes et al. (2015), tratando da comparação entre as idades, houve diferenças nas médias e, nessa pesquisa, os alunos mais novos apresentaram um nível de motivação por controle externo, mesmo não sendo um grau elevado de motivação ainda foi maior que em relação aos mais velhos. Contudo, no estudo de Bzuneck et al. (2015), foi possível constatar que os alunos mais velhos possuem um nível de motivação intrínseca, talvez por terem maior percepção de seus propósitos e interesses pessoais, mas cabe destacar que essa percepção se mantém distinta do prazer do exercício da atividade de leitura, por outro lado eles têm consciência de tal importância.

Frente aos resultados encontrados nota-se que os estudantes que possuem mais tempo de estudo na graduação têm a consciência de que é fundamental realizar leituras, assim como realizam essa tarefa por escolha pessoal. Por isso, encontram-se no nível de motivação Identificada. Esses resultados divergem do estudo de Leal, Miranda e Carmo (2013), pois no estudo deles os alunos ao iniciarem o curso de contabilidade, possuem níveis de motivação autônoma (intrínseca, integrada e identificada) mais elevados e no decorrer do curso esse contexto se inverte, isto é, apresentam os tipos de motivação menos autônoma (introjetada, externa e desmotivada) nos últimos períodos. Na pesquisa de Lopes et al. (2015) os alunos mais adiantados apresentam um nível de motivação por introjeção divergindo do atual estudo.

Já no estudo de Schnell (2017) os estudantes iniciantes das Instituições de Ensino Superior privadas são motivados extrinsecamente por identificação, convergindo com o presente estudo, já os concluintes são motivados por controle externo. Nas Instituições Superiores públicas investigadas os iniciantes não são movidos intrinsecamente, já os concluintes apresentam nível de motivação extrínseca. Nesse estudo é possível inferir que caso os alunos estejam mais motivados conseguem compreender a necessidade de realizarem as tarefas de leituras.

Esses resultados mostram a relevância de pesquisas sobre a percepção dos alunos em relação ao hábito de leitura, tanto curricular como extracurricular. Como foi mencionado na seção de estudos anteriores, o estudo de Colares et al. (2019), pois entender os fatores motivacionais de discentes da área de Ciências Contábeis pode vir a auxiliar e orientar docentes dessa aérea a otimizarem os seus processos educacionais. E, dessa forma, conduzirem promoção e o sucesso dos estudantes, assim como, uma melhor qualidade de formação desses. Afinal, se esses estiverem motivados poderão fomentar as habilidades de interpretação de compreensão plena de textos, junto aos alunos que pode vir a contribuir com a formação profissional desses. (NASU, 2018; FERNANDES; MIRANDA, 2018).

Com base nos dados apresentados foi possível verificar que os estudantes analisados possuem motivação extrínseca por regulação integrada para realizarem leituras curriculares e extracurriculares, pois foi o nível que apareceu com o maior índice (13.118,75) e as maiores médias (M = 80,01 – Feminino e M = 81,04 – Masculino). Esses achados da pesquisa vão ao encontro dos resultados encontrados por Leal, Miranda e Carmo (2013) e Schnell (2017). No entanto, diverge do estudo de Carmo e Albanez (2016), em que os estudantes analisados apresentaram o grau de motivação mais próximo da inata, isto é, a motivação integrada. Cabe observar que esses estudos mencionados não se referem especificamente à leitura, mas ao estudo dos níveis motivacionais que utilizam como base a Teoria da Autodeterminação.

Em sequência são apresentados estudos que revelam a inclinação dos estudantes ao exercício da leitura. De acordo com Gomes e Boruchovitch (2015) os estudantes que apresentaram pontuação elevada em seu estudo podem ser considerados como tendo um perfil motivacional mais autônomo, isto é, que apresentou os três níveis mais elevados de motivação a Regulação Identificada, Regulação Integrada e Motivação Intrínseca.

No contexto da leitura, Fernandes e Miranda (2018) mostraram que os alunos do Curso de Ciências Contábeis, apresentam uma baixa habilidade para leituras em geral como também para a interpretação de tabelas e gráficos, mas por outro lado, os discentes que possuem um melhor desempenho são os que têm uma melhor perspicácia para leitura, interpretação, compreensão de textos e análise de dados. Neste contexto, o estudo de Nasu (2018) evidenciou que os alunos que leem mais possuem melhores performances e dedicam maior quantidade de horas para o estudo.

 

5 Considerações Finais

 

Estudos que buscam analisar os fatores motivacionais são relevantes, pois um aluno motivado torna-se comprometido como o processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, acaba envolvendo-se em atividades de aprendizagem desafiadoras, bem como leituras, tanto curriculares quanto extracurriculares, as quais são necessárias para o desenvolvimento de suas habilidades de leitura e de compreensão de conteúdos, pois além de aguçar essas habilidades os futuros contadores precisam estar capacitados para leitura de gráficos e tabelas inerentes das atividades profissionais.

Até porque, um aluno com baixo nível de motivação acaba impactando negativamente no seu desempenho acadêmico. Então, para buscar explicações sobre o comportamento humano em relação ao hábito de leitura, foi utilizada a Teoria da Autodeterminação como suporte para conhecer e compreender esse aspecto. Essa que é classificada em três grupos: desmotivação, motivação extrínseca e motivação intrínseca.

O estudo teve como objetivo geral avaliar a motivação dos estudantes de Ciências Contábeis em relação ao hábito de leitura de textos curriculares e extracurriculares sob à luz da Teoria da Autodeterminação. Com base nos resultados apurados, quando a variável foi o gênero os estudantes apresentaram um perfil voltado para regulação identificada e para os demais níveis, tanto para as mulheres quanto os homens foram os mesmos níveis de regulação. Na sequência observa-se que entre os universitários mais jovens apresentam motivação identificada, isso quer dizer que a pessoa se identifica com a importância de realizar leituras e aceita esse hábito como se fosse algo inerente ao seu ponto de vista. Tomar conhecimento de que os estudantes de Ciências Contábeis que tem mais tempo de estudo na graduação têm a consciência da importância de realizar leituras, se enquadrando no nível de motivação identificada, é pertinente, pois percebe-se que a universidade busca desenvolver esse papel em conjunto com os docentes.

Sendo assim, o principal resultado desse estudo surge, tendo como base a Teoria da Autodeterminação, no fato de que os estudantes analisados possuem motivação extrínseca por regulação integrada para realizarem leituras curriculares e extracurriculares, pode-se se considerar que os discentes de Ciências Contábeis têm conhecimento e valorização subjacente que um futuro profissional de contabilidade precisa potencializar as suas habilidades com a leitura, para decodificar informações relevantes e presentes em relatórios contábeis, dentre as inúmeras possibilidades que o domínio da leitura proporciona.

Esta pesquisa apresentou como limitação o fato de não ter distinguido os alunos de instituições públicas de privadas. Dessa forma, perde-se uma variável passível de ser analisada. Destaca-se, também, que pode ter ocorrido que indivíduos com menor grau de satisfação em relação ao hábito de leitura poderiam não ter se interessado por esse tipo de pesquisa, visto que o questionário foi aplicado eletronicamente.

Sendo assim, sugere-se para pesquisas futuras, como forma de complementar esse modelo de estudo, uma análise qualitativa com os alunos dos Cursos de Ciências Contábeis brasileiros, para dessa forma aprofundar as reflexões a acerca do hábito de leitura dos estudantes. Podem-se, ainda, serem realizados estudos com o objetivo de comparar o grau de motivação em relação ao hábito de leitura de estudantes de outras áreas.

 

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