Artigo 5

 

Aplicação da técnica de vinheta em estudos sobre processos decisórios

 

 

Application of the vignette technique in studies on decision-making processes

 

 

Ana Luiza Monteiro Bastos Ornellas1, David Chester Carvalho Barros2,

Cleber Carvalho de Castro3 e Uajará Pessoa Araújo4

 

1 Universidade Federal de Lavras, Brasil, Doutoranda em Administração, e-mail: ana_luizamonteiro@hotmail.com

2 Centro Federal de Educação Tecnológica Minas Gerais, Brasil, Mestrando em Administração, e-mail: davidchest@gmail.com

3 Universidade Federal de Lavras, Brasil, Doutorado em Administração, e-mail: clebercastro@ufla.br

4 Centro Federal de Educação Tecnológica Minas Gerais, Brasil, Doutorado em Administração, e-mail: uajara@cefetmg.br

 

Recebido em: 01/11/2022 - Revisado em: 14/11/2022 - Aprovado em: 20/12/2022 - Disponível em: 02/01/2023

Resumo

Uma das técnicas para levantar dados sobre o fenômeno dos julgamentos humanos é a vinheta que seria a criação de cenários hipotéticos. O presente trabalho tem o objetivo de realizar uma revisão integrativa a fim de identificar como a técnica de vinheta vem sendo aplicada nos estudos sobre processos decisórios organizacionais. Nesse sentido, realizou-se um levantamento bibliográfico dos últimos 5 anos via Scopus. Ao todo 17 estudos foram identificados por aplicarem a técnica no contexto da tomada de decisão. Os resultados apontam que técnica vem sendo aplicada nos estudos sobre processos decisórios organizacionais, principalmente, nas decisões relacionadas à cadeia de suprimentos e com forte presença de testes estatísticos e controles adicionais para verificar a validade interna e externa, bem como, a presença de vieses. A principal contribuição é indicar caminhos para o desenvolvimento de novos estudos que apliquem técnicas menos convencionais.

Palavras-chaves: Decisão; Vinheta; Revisão Integrativa.

 

 

Abstract

One of the techniques to collect data on the phenomenon of human judgments is the vignette that would be the creation of hypothetical scenarios. The present work aims to carry out an integrative review in order to identify how the vignette technique has been applied in studies on organizational decision-making processes. In this sense, a bibliographic survey of the last 5 years was carried out via Scopus. In all, 17 studies were identified that applied the technique in the context of decision making. The results indicate that the technique has been applied in studies on organizational decision-making processes, mainly in decisions related to the supply chain and with a strong presence of statistical tests and additional controls to verify the internal and external validity, as well as the presence of biases. The main contribution is to indicate paths for the development of new studies that apply less conventional techniques.

Keywords: Decision; Vignette; Integrative Review.

 

1. INTRODUÇÃO

Os estudos empíricos objetivando entender a natureza do comportamento humano e seus julgamentos estão crescendo ao longo do tempo. Os trabalhos nesta temática consideram uma série de fatores, dentre eles, as heurísticas nas escolhas, vieses cognitivos, fatores biológicos, traços de personalidade, como abordado, por exemplo, nos seguintes trabalhos de destaque: Tversky e Kahneman (1974; 1985); Kahneman e Tversky (1979; 1984); Kahneman (1992; 2003; 2011); Kahneman, Sibony e Sunstein (2022); Sbicca (2014); Ariely e Jones (2008); Thaler e Sunstein (2008); Franceschini e Ferreira (2012), Mullainathan e Thaler (2000).

Um dos métodos para entender o fenômeno dos julgamentos humanos é através de experimentos comportamentais, que podem ser realizados por meio de observações (colocando os participantes numa situação social), bem como, por meio da montagem de cenários (COZBY, 2003). Esse cenário criado também pode ser chamado de vinheta que se trata de uma descrição breve e cuidadosamente por escrito, imagem ou vídeo de uma situação projetada para simular características-chaves de um cenário do mundo real (ALEXANDER; BECKER, 1978).

Ao longo do último meio século, as vinhetas foram usadas para abordar inúmeras questões em uma ampla gama de campos científicos e disciplinas profissionais, incluindo negócios, psicologia, marketing e economia (EVANS et al., 2015). Entretanto, Aguinis e Bradley (2014) relataram que apenas cerca de 1% dos artigos utilizavam a metodologia de vinhetas durante um período de 20 anos, ao analisar as publicações de 30 revistas influentes nos Estados Unidos. Esses autores especulam que uma razão disso é a falta de conhecimento sobre como projetar e executar tais estudos.

Para Kushnick (2013), as vinhetas se tornaram uma ferramenta para estudar a tomada de decisões, mas fizeram apenas modestas incursões nos estudos evolutivamente informados do comportamento humano. Evans et al. (2015) também reforçaram o uso de vinhetas para entender a tomada de decisão dos indivíduos, para buscar cada vez mais a similaridade com o mundo real. Os autores complementaram afirmando que as vinhetas podem superar várias fraquezas de validade interna das pesquisas tradicionais.

Pesquisas de levantamento, de questionários pré-estabelecidos, de listas de verificação e de perguntas abertas podem introduzir vieses investigativos e um grau indesejável de especificidade, ambiguidade ou má interpretação nas respostas dos participantes. As vinhetas podem superar essas limitações fornecendo um quadro de referência consistente e não pessoal que permite aos participantes pensar além das particularidades sua própria situação pessoal (SCHOENBERG; RAVDAL, 2000). Uma vinheta concreta, bem detalhada e hipotética fornece um bom veículo investigativo superando a opção de se fazer perguntas abstratas sobre atitudes e percepções (ALEXANDER; BECKER, 1978).

Portanto, as vinhetas respondem as limitações de outras técnicas, apontando uma nova perspectiva para se levantar dados sobre a tomada de decisão. Visando contribuir para a discussão este trabalho tem o objetivo de realizar uma revisão integrativa a fim de identificar como a técnica de vinheta vem sendo aplicada nos estudos sobre processos decisórios organizacionais.

 

 

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Experimentos comportamentais com vinhetas

Para se realizar um experimento comportamental, é preciso realizar uma série de procedimentos, entre eles: seleção dos participantes; manipulação da variável independente; medida da variável dependente; controles adicionais; a eliminação de erros do estudo; entrevista de esclarecimento; uso de computadores para realização de uma pesquisa; a análise e interpretação de resultados; e comunicação da pesquisa (COZBY, 2003).

Ao se adotar técnica de vinheta é importante verificar os custos associados. Em relação aos custos de manipulação da variável independente, Cozby (2003) elencou o valor dos equipamentos, pagamento dos observadores e participantes, testes individuais com maiores dispêndios que testes em grupo. Já em relação aos custos de medidas, o autor afirmou que as medidas de autorrelato com lápis e papel são geralmente baratas, mas aquelas que requerem observadores treinados ou vários equipamentos podem se tomar bastante custosas. Por exemplo, ao estudar comportamento não verbal, um pesquisador pode ter que usar uma câmera de vídeo para registrar os comportamentos de cada um dos participantes numa situação.

Outro ponto de atenção é reduzir o viés de confirmação, uma vez que os experimentadores naturalmente conhecem o objetivo do estudo e, consequentemente, podem desenvolver expectativas sobre como os sujeitos deveriam responder (COZBY, 2003). Esse viés também pode ser denominado viés do experimentador ou efeito de expectativa (ROSENTHAL, 1967). Uma possibilidade para reduzir tal problema é utilizar um grupo placebo ou controle.

Além dos experimentos que utilizam a observação, há os que utilizam a montagem de cenários, ou seja, vinhetas que descrevem situações hipotéticas (COZBY, 2003). Por meio do uso das vinhetas, os pesquisadores podem representar determinados cenários com precisão, concretamente, com um nível de detalhe, realismo e credibilidade (ALEXANDER; BECKER, 1978).

Três componentes são essenciais para a construção de uma vinheta: (1) as vinhetas devem simular certos aspectos dos cenários do mundo real, muitas vezes, apresentando alguma semelhança com situações encontradas pelo participante; (2) as vinhetas e suas diferenças entre si buscam provocar algum tipo de efeito que se supõe existir independentemente no mundo real; (3) os estudos de vinheta devem produzir resultados que generalizem para situações do mundo real encontradas pelos participantes e outros como eles, refletindo a definição de validade externa (FINGER; RAND, 2003).

A validade de um estudo de pesquisa se refere a quão bem os resultados encontrados para os participantes do estudo representam resultados verdadeiros para indivíduos semelhantes fora do estudo. A validade de um estudo de pesquisa inclui dois domínios: a validade interna e a externa. A validade interna é a medida em que o pesquisador é capaz de fazer a afirmação de que nenhuma outra variável, não contemplando a que estuda, causou o resultado. Em contrapartida, a validade externa é a medida em que os resultados de um estudo podem ser generalizados para o mundo em geral (PATINO; FERREIRA, 2018).

Em relação à validade na construção e à função de pesquisas por meio de simulações com vinhetas, é preciso reconhecer que as vinhetas não se destinam a recriar situações do mundo real. Em vez disso, essas simulações são projetadas para aproximar, separar, manipular e medir aspectos-chave dos processos de tomada de decisão que os agentes usam em situações do mundo real (ALEXANDER; BECKER, 1978). Quando essas pesquisas são bem projetadas para testar questões específicas sobre julgamentos e tomada de decisão, elas podem ser altamente generalizáveis para o comportamento da vida real (EVANS et al.,2015).

 

 

2.2 Vinhetas em estudos sobre processos decisórios

As metodologias baseadas em vinhetas são frequentemente usadas para examinar julgamentos e processos de tomada de decisão (EVANS et al., 2015). Para serem eficazes as vinhetas devem proporcionar uma capacidade de provocar discussão, envolver diversas óticas, incentivar a resolução de problemas, promover a tomada de decisões, aumentar a consciência de si e dos outros e iniciar a reflexão (TETTEGAH; BAILEY; TAYLOR, 2007).

Portanto, a finalidade das vinhetas é buscar identificar o julgamento do respondente sobre o que seria indicado fazer em uma dada situação social de interesse. As vinhetas também podem ser usadas para estimular os participantes a fazerem enunciados sobre um conjunto de circunstâncias que envolvem uma situação estudada (FINCH; MASON, 1991). As vinhetas podem ser usadas como método exploratório, uma vez que são reflexos de situações e os participantes, ao se depararem com tais cenários, são estimulados a evocarem seus valores, crenças, atitudes e narrativas (KIRSCHBAUM; HOELZ, 2014).

Ao longo da história, o processo de tomada de decisão foi analisado por diferentes óticas. Desde entendido como algo mágico ou mitológico, como uma racionalidade ilimitada e, posteriormente, racionalidade limitada. Na racionalidade ilimitada, entende-se que os agentes tomam decisões perfeitas, racionais e possuem todas as informações necessárias (SANTANA; GOMES, 2008). Nesta racionalidade, os possíveis caminhos e consequências são conhecidos, bem como, a decisão é voltada para maximização de resultados (RAMOS; TAKAHASHI; ROGLI, 2015).

Diferentemente, na racionalidade limitada, os tomadores de decisão produzem decisões satisfatórias ao invés de ótimas, devido às restrições cognitivas, do tempo, do acesso e da disponibilidade da informação e do seu custo (SIMON, 1979). Para esse autor, o processo de decisão pode ser decomposto nas seguintes fases: percepção do problema, levantamento das alternativas, escolha da decisão mais satisfatória e avaliação.

As escolhas nem sempre vão de encontro com o ideal, muitas vezes, ocorrem os vieses (erros) de pensamentos. Nessa perspectiva, Bazerman (2004) formulou os modelos heurísticos que estudam as regras simples da tomada de decisão, sendo que essas regras podem conter vieses. Experimentos de tomada de decisão econômica já apontaram a presença do viés do status quo, reação exagerada e insuficiente, extrapolação de expectativa, entre outros (BLAJER-GOŁÊBIEWSKA, 2021).

As escolhas podem ser programadas (voltadas para o nível operacional mais rotineiras) e não-programadas (alto nível estratégico, mais inesperadas e poucas padronizadas). Serra, Tomei e Serra (2014) demonstraram a estrutura intelectual das pesquisas em tomada de decisão estratégica do alto escalão. Seus resultados indicam a existência de três clusters teóricos: (1) Características dos gestores de topo; (2) Ambiente, Modelos e Processos de Tomada de Decisão; (3) Conflito e Consenso (DE CAMPOS SERRA et al., 2014).

 

 

3. METODOLOGIA

A fim de identificar como a técnica de vinheta vêm sendo aplicada nos estudos sobre processos decisórios organizacionais, o presente artigo realizou uma revisão integrativa. Tal abordagem metodológica busca revisar, criticar e sintetizar a literatura para gerar novos conhecimentos. A revisão integrativa é um modo de compreender um fenômeno a partir de revisões de estudos, seja para definição de conceitos ou revisão de teorias e metodologias (TORRACO, 2005).

Esse tipo de revisão integrativa pode ser divido em seis etapas: (1) identificação do tema e seleção da questão de pesquisa; (2) estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão; (3) identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados; (4) categorização dos estudos selecionados; (5) análise e interpretação dos resultados; (6) apresentação da revisão/síntese do conhecimento (BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011). O quadro 1 apresenta os procedimentos adotados na primeira etapa:

Quadro 1. Procedimentos metodológicos da primeira etapa do estudo

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Fonte: Elaborado pelo autor.

Na etapa 2, os critérios de inclusão e exclusão foram estabelecidos. Os critérios de inclusão foram: artigos publicados português e inglês; artigos completos; indexados na base de dados da Scopus dos últimos 5 anos. Os critérios de exclusão foram: artigos duplicados; artigos com resumo não condizente com o objeto de estudo deste trabalho; artigos indisponíveis em meio eletrônico.

Na etapa 3, realizou-se a leitura do título, resumo, palavras-chaves foi realizada, bem como, a organização dos estudos pré-selecionados. Ao final, os artigos selecionados foram identificados, resultando em uma amostra final de 17 estudos. Na etapa 4, a leitura completa foi realizada a fim de categorizar os estudos, conforme a matriz de síntese que será apresentada na sessão análise de dados.

Na etapa 5, a análise e interpretação de resultados foram realizadas, por meio da análise de conteúdo de Bardin (1977) que é um conjunto de técnicas de análise das comunicações com o intuito de descrever o conteúdo das mensagens para fomentar inferências. Nesse momento, surgiram as seguintes categorias temáticas: (1) Caracterização dos trabalhos que aplicam a técnica de vinheta; (2) Testes estatísticos em experimentos de vinheta. Por fim, na etapa 6, sistematizou-se proposições de controles adicionais na aplicação de experimentos para nortear estudos futuros.

 

 

4. RESULTADOS

4.1 Possibilidades de aplicação dos experimentos de vinheta

De modo geral, pode-se notar que a preocupação com o realismo é um ponto central nos trabalhos. Na amostra, diferentes estratégias foram utilizadas para aproximar o cenário hipotético com a situação social de interesse, entre elas: revisão por especialistas; revisão da literatura e entrevista. A respeito dos principais participantes dos experimentos, constatou-se os seguintes atores: proprietários de empresa, membros do conselho de administração, quadros superiores e trabalhadores regulares, sendo que a maioria dos respondentes eram estudantes.

Além da captação via correio eletrônico, as seguintes estratégias de contato com os participantes foram usadas: envio correio tradicional; utilização de listagem de pessoas que participaram de fóruns e conferências da área; plataforma Amazon Mechanical Turk (MTurk); plataforma de pesquisa online da Qualtrics; ferramenta acadêmica de crowdsourcing e contratação de uma empresa de pesquisa. No quadro 2, a seguir, apresenta-se uma caracterização dos trabalhos analisados.

Quadro 2. Caracterização dos trabalhos que aplicam a técnica de vinheta

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continua.......

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Fonte: Dados da pesquisa.

De modo geral, percebe-se que a maioria dos trabalhos utilizaram apenas 1 (uma) variável independente e 3 (três) variáveis dependentes. É notável ainda que as decisões relacionadas à cadeia de suprimentos tiveram maior destaque (ver KRAUS et al., 2018; CHAE et al., 2019; FRANKE; HEESE; 2021; FORSTL; FRANKE; CATALDO, 2021; BELHADI et al., 2021; PARK; NUNES; ISHIZAKA, 2021; THOMAS; DARBY; HOEK, 2021). A temática sustentabilidade também é bastante recorrente nos trabalhos (ver AMOS et al., 2018; PARK; NUNES; ISHIZAKA, 2021; TAYLOR; HAJMOHAMMAD; VACHON, 2021; THOMAS; DARBY; HOEK, 2021).

Vale destacar também que a vinheta é interessante por incentivar os participantes a exporem seus julgamentos, sem serem interrogados diretamente. Possibilitando que temas mais “polêmicos”, como o trabalho de Valentine e Fleischman (2018), que trata do assédio moral no local de trabalho, também seja realizado. Outra possibilidade da técnica de vinheta é a aplicação em um grupo, a fim de verificar a decisão em equipe ao invés da individual, como apresentado por Franke e Heese (2021).

 

 

4.2 Testes estatísticos em experimentos de vinheta

Apesar Kirschbaum e Hoelz (2014) discorrer sobre a possibilidade de utilização da vinheta em trabalhos qualitativos, os trabalhos analisados apenas utilizaram testes quantitativos, com exceção do trabalho de Meder, Schwartz e Young (2019) que é teórico e utilizou a vinheta para criar cenários exemplificativos. No quadro 3, a seguir, os testes estatísticos são apresentados:

Quadro 3. Testes estatísticos em experimentos de vinheta

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Fonte: dados da pesquisa.

De modo geral, percebe-se que os testes estatísticos de maior predominância foram: (1) análise de regressão que correlaciona variáveis preditoras com a variável critério; (2) teste t que verifica se dois grupos diferem significativamente entre si e (3) teste ANOVA para verificar se duas ou mais médias diferem significativamente.

 

 

4.3 Proposições de controles adicionais na aplicação de experimentos

O experimento básico envolve o grupo experimental e o de controle. Ao definir um grupo de controle é possível eliminar explicações alternativas (COZBY, 2003). Na amostra estudada o único trabalho que aplicou tal procedimento foi o de Neumann e Wulf (2022). Os demais artigos adotaram procedimentos adicionais para verificar a validade interna e externa, bem como, a presença de vieses.

De modo geral, conforme expresso no quadro 4, percebe-se que, na aplicação da técnica de vinheta, a verificação da manipulação e o pré-teste são os principais controles adicionais. Outro procedimento é a associação com outras técnicas, com ocorre na aplicação de escala adicional (ver AMOS et al., 2018; VALENTINE; FLEISCHMAN, 2018; CHAE et al., 2019; TAYLOR; HAJMOHAMMAD; VACHON, 2021) e na triangulação qualitativa (ver CHAE et al., 2019; KAMPHUIS; GLEBBEEK, 2020; THOMAS; DARBY; HOEK, 2021; MARTIN; WALDMAN, 2022).

 

Quadro 4. Procedimentos adicionais

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Fonte: dados da pesquisa.

Outro ponto, é a verificação dos vieses. Os autores dos trabalhos analisados fizeram a verificação dos seguintes: (1) viés do conjunto de resposta; (2) viés de método comum; (3) viés de não resposta; (4) viés decorrente de diferenças entre os grupos; (5) viés de desejabilidade social e (6) viés de seleção. Além disso, é válido durante a aplicação da técnica fazer perguntas para testar a atenção dos participantes, bem como, para verificar o realismo das vinhetas.

 

 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, a técnica de vinheta é adequada para analisar decisões em equipe, bem como, as que retratam temas mais “polêmicos”. Os resultados apontaram também que as decisões relacionadas à cadeia de suprimentos e a temática sustentabilidade tiveram maior destaque, sendo que, principalmente, a relação entre três variáveis dependentes e uma variável independente foi analisada.

Na amostra, os testes estatísticos de maior predominância foram: a análise de regressão, teste t e teste ANOVA. Já em relação aos controles adicionais, a verificação da manipulação e o pré-teste tiveram maior importância. Outros procedimentos relevantes são: (1) associação com outras técnicas; (2) verificação dos vieses; (3) inserção de perguntas para testar a atenção e o realismo.

Portanto, pode-se concluir que a técnica de vinheta vem sendo aplicada nos estudos sobre processos decisórios organizacionais, principalmente, nas decisões relacionadas à cadeia de suprimentos e com forte presença de testes estatísticos e controles adicionais para verificar a validade interna e externa, bem como, a presença de vieses.

Apesar da vinheta trazer contribuições para campo da tomada de decisão, possui limitação relacionada à artificialidade, uma vez que descrição textual e comportamento hipotético podem não ser suficientemente representativo do fenômeno do mundo real. Nesse sentido, vale realizar pesquisas futuras que utilizem o experimento de vinheta adotando os controles adicionais expostos nesse trabalho, bem como, triangular os achados com os dados qualitativos. Outra proposição para trabalhos futuros é o estudo da viabilidade de se fazer grupos focais para criação de vinhetas mais realistas.

 

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