Artigo_4_-_7564

O Efeito dos vieses motivacionais nas heurísticas e tomadas de decisões financeiras impactadas pelo otimismo irreal

The effect of motivational biases on heuristics and financial decision making impacted by unrealistic optimism

Edson Miguel Graeff Borges1, Sandra Laci Peiter2,

Leandro Augusto Toigo3 e Denis Dall’ Asta4

1 Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Brasil, Mestrado em Ciências Contábeis,

e-mail: edsongraeff@yahoo.com.br, ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6736-9027

2 Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Brasil, Mestrado em Contabilidade,

e-mail: sandra.peiter@unioeste.br, ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4287-3988

3 Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Brasil, Doutorado em Ciências Contábeis e Administração,

e-mail: leandro.toigo@unioeste.br ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6198-8751

4 Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Brasil, Doutorado em Engenharia da Produção,

e-mail: denis.asta@unioeste.br, ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2624-3364

Recebido em: 14/09/2023 - Aprovado em: 06/10/2023 - Disponível em: 31/03/2024

Resumo

O estudo objetivou verificar o efeito dos vieses motivacionais dos grupos acadêmicos estudados, no enviesamento das heurísticas de ancoragem, disponibilidade e de representatividade, nos processos de tomada de decisões financeiras. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, descritiva, do tipo survey, por meio da aplicação de questionário semiestruturado aos acadêmicos dos cursos de graduação em Administração e Ciências Contábeis de uma universidade pública, onde obteve-se 127 respostas. As análises estatísticas foram executadas por meio do programa smart PLS 3.0 e utilizou-se da modelagem de equações estruturadas com o método dos mínimos quadrados parciais. Os resultados indicam que, para a primeira hipótese, que trata da associação dos vieses motivacionais com a tomada de decisão financeira dos indivíduos, não houve impacto dos vieses motivacionais nas decisões financeiras adotadas pelos respondentes nessa pesquisa, e de outra forma, a segunda hipótese, que aponta na direção que os vieses heurísticos estão relacionados positivamente com a tomada de decisão financeiras dos indivíduos, foi suportada pelas respostas dadas na realização da pesquisa. Este estudo demonstrou que os vieses motivacionais não influenciam os tomadores de decisão quando estão apoiados nas heurísticas de ancoragem, disponibilidade e representatividade. Contudo quando avaliadas as heurísticas de forma direta, existe uma correlação acentuada das heurísticas comportamentais no processo de tomada de decisões financeiras.

Palavras-chave: Heurísticas. Vieses motivacionais. Decisões financeiras.

Abstract

The study aimed to verify the effect of the motivational biases of the academic groups studied, on the bias of the anchoring, availability and representativeness heuristics, in the financial decision-making processes. This is a quantitative, descriptive, survey-type research, through the application of a semi-structured questionnaire to undergraduate students in Administration and Accounting Sciences at a public university, where 127 responses were obtained. Statistical analyzes were performed using the smart PLS 3.0 program and structured equation modeling using the partial least squares method. The results indicate that, for the first hypothesis, which deals with the association of motivational biases with individuals’ financial decision-making, there was no impact of motivational biases on the financial decisions adopted by the respondents in this research, and otherwise, the second hypothesis, which points in the direction that heuristic biases are positively related to individuals’ financial decision-making, was supported by the answers given during the research. This study demonstrated that motivational biases do not influence decision makers when they are supported by anchoring, availability and representativeness heuristics. However, when heuristics are evaluated directly, there is a strong correlation between behavioral heuristics in the financial decision-making process.

Keywords: Heuristics. Motivational biases. Financial decisions.

1 INTRODUÇÃO

Vieses previsíveis e sistemáticos que influenciam os modelos de tomada de decisão racional, levam à constatação de que pessoas que utilizam regras de simplificação práticas, tomam decisões de forma mais rápida, por meio de heurísticas, para poderem lidar com uma grande quantidade de informações, o que possibilita a tomada de decisões para o enfrentamento de ambientes complexos, e isto é feito de forma inconsciente, o que leva a uma aplicação, às vezes inadequada, destas regras de simplificação (Feitosa; Silva; Silva, 2014).

A literatura tem revelado que quando profissionais de finanças e atores de negócios usam heurísticas, eles reduzem o esforço mental no processo de tomada de decisão, e causam uma série de enviesamentos no agir comportamental (Ahmad; Shah, 2020). Estudos de Oliveira (2019), cujo objetivo foi analisar se a verificação e geração de dados podem ser influenciadas por vieses emocionais, que podem gerar informações enviesadas ao ferir a neutralidade, o autor descobriu que as pessoas que foram expostas à emoções positivas se sentiram mais felizes em comparação aos indivíduos, que expostos à emoções negativas, experimentaram tristeza, e que as emoções dos indivíduos sugestionaram significativamente a análise dos dados, quando expostos a emoções positivas.

No estudo de Sangster, Stoner e Food (2020), se verificou que durante incertezas emocionais, houve várias estratégias positivas no ensino da contabilidade, porém os alunos e docentes sofreram grandes impactos em sua saúde e bem-estar, devido ao fato de não ter havido uma comunicação objetiva e clara por parte das autoridades, que poderiam ter reduzido as incertezas e os impactos negativos nos estudantes e docentes de cursos superiores de contabilidade (Cameron; Perry; Piercy, 2021). Esse estudo traz uma lacuna que aponta no sentido de se verificar as questões de se as decisões financeiras são impactadas por esses impactos na saúde de alunos das áreas de ciências sociais aplicadas.

Ainda com esse intuito de procurar lacunas em trabalhos anteriores vemos que as práticas de redução de medos podem incluir uma abordagem na forma de estratégias, de suporte específicas para cada grupo, com relação à necessidade de possivelmente aumentar suas forças psicológicas, como resiliência e assertividade comportamental, em momentos de crise (Koçak; Koçak; Younis, 2021). Estudos diferentes podem dar origem a métodos capazes de predizer o que torna a saúde mental mais suscetível a mudanças comportamentais, e possivelmente evitar essas condutas nocivas, potencializadas por notícias em tempos de pandemia (Zhong; Huang; Liu, 2021). Dessa forma se apresenta uma lacuna que remete aos fatores motivacionais como possíveis propulsores de enviesamentos na hora de se tomar decisões financeiras, o que será estudado como complemento no presente estudo, através da pergunta de pesquisa e das hipóteses formuladas mais adiante.

Enquanto que no mesmo ritmo de busca de possíveis lacunas plausíveis, para esse artigo ora realizado, os estudos de Martelo, Favero e Souza Junior (2020) analisaram a relação entre personalidade, valores humanos e características socioeconômicas nas decisões financeiras de jovens militares do Exército Brasileiro, cujos resultados sugerem que fatores emocionais ou de contexto afetam as escolhas intertemporais financeiras desses jovens que podem influenciar, por heurísticas afetivas, o processamento de informações e a tomada de decisão individual. Aqui se demonstra uma lacuna que aponta na direção de se fazer estudos na área educacional e de ensino superior de Ciências Contábeis, Administração e Economia.

Ao considerar que todas essas pesquisas indicam ser necessário mais estudos para esses impactos no agir comportamental humano, derivados de vieses emocionais, chega-se ao problema dessa pesquisa: Quais os efeitos dos vieses motivacionais e das heurísticas nas decisões financeiras? O estudo tem por objetivo verificar o efeito dos vieses motivacionais dos grupos acadêmicos estudados, no enviesamento das heurísticas de ancoragem, disponibilidade e de representatividade (Kahneman; Tversky, 1979), nos processos de tomada de decisões financeiras impactadas pelo otimismo irreal.

A pesquisa justifica-se ao verificar o efeito dos vieses motivacionais nas heurísticas e na tomada de decisão financeira, sob o impacto de emoções positivas ou negativas, sendo essa a contribuição que o estudo traz para uma possível evolução nessa área de estudos, pois as pesquisas nas áreas que se relacionam com as decisões financeiras, em momentos de incertezas, estão sendo realizadas para melhor entendimento do processo de decidir em ambientes adversos e difíceis. Entender as condições que afetam o julgamento humano se faz necessário para que se possa entender os danos ao mercado e evitá-los (Torga et al., 2017).

Como contribuição, os resultados da pesquisa serão expressivos para gerar debates teóricos ao envolver a importância da decisão financeira, sob o impacto das emoções relacionadas com as heurísticas emocionais como medida para atenuar as heurísticas de comportamentos, bem como para estimular pesquisas futuras sobre o que é, e o que não é possível, sobre o que podemos e sobre o que não podemos fazer, e sobre o que é necessário caso uma situação semelhante surja no futuro (Sangster; Stoner; Food, 2020), assim como contribuir para melhor preparar essa e as futuras gerações de profissionais contábeis, no processo de decidir financeiramente, em períodos de grandes incertezas.

Esta pesquisa está estruturada nas seguintes seções: além desta primeira seção que se apresentou o problema da pesquisa e seu objetivo, uma breve revisitada da literatura sobre o tema está descrita na segunda seção deste estudo. Na terceira seção, está a metodologia para o estudo, na quarta seção apresentam-se os resultados e discussões do estudo, enquanto na quinta seção tem-se as conclusões, bem como as contribuições da pesquisa e indicações para futuros trabalhos.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Finanças comportamentais

Uma das teorias que fundamentam as finanças, estabelece que os mercados são eficientes e essa eficiência significa que o preço dos títulos é mantido com o valor justo, mesmo que alguns investidores cometam erros devido a enviesamentos (Fama, 1970). A teoria financeira padrão negligencia o fato de haver enviesamentos que podem afetar a qualidade das decisões financeiras, pressupondo que as pessoas em finanças sejam racionais e que tomem decisões racionais o tempo todo (Pompian, 2006). Em mercados eficientes, os investidores são considerados atores racionais, imparciais e consistentes, que tomam as melhores decisões de investimento, sem serem afetados por suas emoções (Ahmad; Shah, 2020).

Em finanças comportamentais os indivíduos não são avessos ao risco, mas sim à perda, estando mais propensos em enfrentar riscos maiores quando estão perdendo, apesar de serem mais resistentes em enfrentar os mesmos riscos quando estão em momentos de ganho (Araújo; Silva, 2007), e a percepção de risco refere-se a como os investidores veem o risco dos ativos financeiros, com base em suas preocupações e experiência, pois as pessoas valorizam ganhos e perdas de maneiras diferentes, e esses valores são calculados a partir de pontos de referência (Ahmad; Shah, 2020).

2.2 HEURÍSTICAS e os vieses cognitivos e motivacionais

As pessoas se motivam das mais diversas maneiras para a tomada de decisão, e podem tais decisões conter enviesamentos cognitivos, como as heurísticas, que podem ser entendidas como atalhos da mente que tornam mais fácil o processo de tomada de decisão, por meio de uma ação mais rápida pelo tomador da decisão. Esses encurtamentos, na visão de Kahneman e Riepe (1998), tendem a que o indivíduo venha a cometer erros no processo de tomada de decisão. Kahneman e Tversky (1979), classificam essas tendências como heurísticas no processo decisório, e indicam que essas simplificações da mente provocam distorções na tomada de decisão, ao gerar um enviesamento cognitivo, prejudicial às organizações (Gallina et al., 2018).

A heurística da ancoragem refere-se ao fato de que os indivíduos, tem propensão a adequar estimativas na direção mais adequada ou a partir de um ponto de saída (âncora) até um valor tolerável (Luppe, 2006). Os ajustamentos que partem das “âncoras iniciais” são em geral insuficientes e levam a enviesamentos das estimativas de valor (Kahneman; Tversky, 1974).

Em confronto com os enviesamentos heurísticos da representatividade, os recursos da mente podem confundir e levar o gestor a tomar decisões errôneas, ao se basear apenas em experiências anteriores, com alicerce em informações de fenômenos semelhantes. Estes conceitos heurísticos se concentram no quanto um fenômeno percebido ou evento se parece com o outro, ou seja, determina a semelhança ou as características que correspondem a conceitos oriundos de fenômenos, eventos ou objetos anteriores (Bazerman, 2004).

O fator heurístico da disponibilidade se faz presente em situações em que um indivíduo estabelece a provável quantidade de um evento ocorrer pela fácil apresentação que ele vem a sua mente, o que leva a enviesamentos na previsão feita pelas pessoas (Kahneman; Tversky, 1974; Faveri; Knupp, 2018; Meira, 2018). Ou seja, eles tratam acontecimentos que são lembrados com maior agilidade por serem mais recentes como mais numerosos do que eventos que não foram lembrados com tanta rapidez (Bazerman, 2004). Com isso, a heurística da disponibilidade substitui uma questão pela outra e os eventos relevantes serão facilmente recordados na memória, e tal substituição é que pode ocasionar erros sistemáticos (Meira, 2018).

Enquanto Ahmad e Shah (2020) ao investigar como o “excesso de confiança” influencia as decisões e o desempenho de investidores individuais que negociam na Bolsa de Valores do Paquistão (PSX), com o papel mediador da percepção de risco e o papel moderador da educação financeira, concluíram que o excesso de confiança pode prejudicar a qualidade das decisões de investimento e o desempenho, enquanto a educação financeira e a percepção de risco podem melhorar sua qualidade. Muitos fatores influenciam o processo decisório de investimento, sendo necessário determinar como esses fatores afetam essas decisões.

2.3 Emoções e a tomada de decisão financeira

Pesquisas com foco na influência de condições afetivas em processos cognitivos, como o raciocínio e a tomada de decisão, têm aumentado nas últimas décadas (Blanchette; Richards, 2010), o que vem a confirmar como estados emocionais podem influir nas respostas dos participantes nas diferentes tarefas de raciocínio dedutivo, evidenciar o efeito da negatividade das emoções no raciocínio dos indivíduos, ou, ao contrário, comprovar que emoções podem melhorar o processamento emocional (Gouveia, 2018). Nesse sentido, estudos de Hussain (2021) ao explorar o impacto dos sentimentos dos investidores na ação decisória de investimento individual na Bolsa de Valores do Paquistão (PSX), indica que as emoções têm um impacto positivo nas decisões de investimento prometidas por uma variação heurística.

As emoções surgem resultantes de pensar nas consequências de determinada decisão, podendo enviesar a tomada de decisão se não considerada a presença de informação “cognitiva” realçada. Mas emoções conhecidas como incidentais, que também são baseadas no momento da escolha, são originadas por causas não relacionadas com a tarefa momentânea, aparecem em determinado contexto sendo transferidas para uma situação seguinte, ao afetar decisões que não tem relação com essa emoção (Han; Lerner; Keltner, 2007).

Desse modo, uma emoção incidente que provém de preocupação financeira (ou outra fonte de inquietação), tem o potencial de afetar o desempenho em afazeres não relacionados. Lerner e Keltner (2000), concluíram que emoções incidentes, como a ira e o medo, têm efeitos contrários em relação ao risco. Indivíduos irados tem tendência ao risco, enquanto com medo tendenciam a evitar o risco.

2.4 Hipóteses de pesquisa

De acordo com os estudos de Santos e Barros (2011), foram encontrados achados para embasar as hipóteses de pesquisa, pois os estudos apontam no sentido da influência dos vieses motivacionais, nas finanças pessoais, e que também os vieses heurísticos indicam nessa direção de influência nas finanças dos indivíduos. E ainda nesse objeto o trabalho de Ahmad e Shah, (2020), se direciona na direção de que as decisões financeiras dos indivíduos são afetadas, pelas heurísticas e vieses emocionais. E para corroborar as hipóteses foi analisada a pesquisa de Hussain (2021), onde temos esse mesmo fator de influência no processo de tomada de decisões de indivíduos quando são influenciados por heurísticas e emoções, durante as tomadas de decisões, na área de finanças pessoais. Assim, torna-se relevante conhecer empiricamente como emoções afetam as escolhas financeiras nos investidores. Nesta pesquisa, busca-se verificar se os vieses motivacionais dos grupos acadêmicos estudados têm influência no enviesamento das heurísticas de ancoragem, disponibilidade e de representatividade (Kahneman; Tversky, 1979), nos processos de tomada de decisões financeiras mediadas pelo otimismo irreal. As hipóteses formuladas e o modelo teórico para a pesquisa são:

Figura 1. Modelo Teórico

Fonte: Os autores.

Hipóteses:

H1. Vieses motivacionais estão positivamente associados com a tomada de decisão financeira dos indivíduos.

H2. Os vieses heurísticos estão relacionados positivamente com a tomada de decisão financeiras dos indivíduos.

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Metodologicamente o presente estudo, quanto aos objetivos, foi de uma pesquisa descritiva, quanto aos procedimentos foi efetuada uma pesquisa do tipo survey e quanto a abordagem foi quantitativa, com a análise dos dados por meio do modelo de equações estruturadas, com o uso do método dos mínimos quadrados parciais, com a utilização da escala do tipo Likert de 5 pontos.

A pesquisa descritiva objetiva a descrição das características de determinada população, ocorrência ou estabelecimento de relações entre as variáveis, exigindo uma série de informações sobre o que o investigador deseja pesquisar, descrevendo os fatos e fenômenos de determinada realidade (Vergara, 1998; Gil, 1999).

A população da pesquisa compreende todos os acadêmicos dos da escola de negócios da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), mas por uma questão de acessibilidade e conveniência foca-se nos cursos de Administração e Contabilidade. Do total de 150 prováveis respondentes dos cursos de ciências contábeis e administração da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, obteve-se 127 respostas, representando uma taxa de retorno de 84,67%. Por meio da aplicação de questionário semiestruturado, a análise dos dados foi feita pelo programa smart PLS 3, com a modelagem de equações estruturadas e o método dos mínimos quadrados parciais, para identificar os impactos dos vieses emocionais baseados no otimismo irreal, nas heurísticas e enviesamentos comportamentais, nos discentes de graduação dos cursos de Ciências Contábeis e de Administração.

Para compreensão da tabela 1, o estudo faz o detalhamento dos dados do constructo, onde tem-se os vieses emocionais com ênfase no otimismo irreal que foi analisado conforme o Teste de Orientação de Vida (TOV), utilizado no trabalho de Scheier; Carver; Bridges, (1994); Bandeira et al., (2002); Feitosa; Silva; Silva, (2014), esse tipo de escala faz a avaliação do otimismo das esperanças em fatores futuros, ao visar a medição da orientação da vida, de maneira mais positiva e otimista. No trabalho de Bandeira et al., (2002), obteve-se qualidades psicométricas satisfatórias com um escore de 17,66. Por isso foi utilizado nesse estudo para medir o otimismo irreal.

Tabela 1 - Constructo do estudo

Nota: Os sinais de menos (-) nesse constructo indicam que as análises dessas questões são no sentido inverso das demais questões da presente pesquisa.

Fonte: Adaptado de Kahneman e Tversky (1974) e Feitosa, Silva e Silva, (2014).

A coleta de dados teve início logo após a realização dos pré-testes e adequação do questionário, no dia 27 de novembro de 2021.

Os dados foram preparados pelo Google Forms e posteriormente exportados para o software Smart PLS 3.0, utilizado para as análises estatísticas. Para a análise dos dados, utilizou-se a Análise de Modelagem de Equações Estruturais (SEM), com o Método dos Mínimos Quadrados Parciais (PLS), utilizando o software Smart PLS 3.0. Equação estrutural modelagem é um procedimento usado para estimar um conjunto de relacionamentos dependentes entre um grupo de construtos representados por múltiplas variáveis, que são medidas e incorporadas a um modelo integrado (Malhotra; Lopes; Veiga, 2014). Com isso apresenta-se os resultados do estudo na seção a seguir.

4 RESULTADOS DO ESTUDO

A pesquisa teve como resultados 127 respostas válidas sendo que do gênero masculino foram 40.9% de respondentes, do gênero feminino foram 59.1% de respondentes, quanto aos cursos dos respondentes 39.4% foram da área de Administração e 60.6% foram da área de Ciências Contábeis. Para a análise dos dados, utilizou-se a Análise de Modelagem de Equações Estruturais (SEM), com a Método dos Mínimos Quadrados Parciais (PLS), ao se utilizar do software SmartPLS 3.0. A validação do modelo de mensuração foi realizada ao observar: a) convergência da validade; e b) A validade discriminante. Para verificar a validade convergente, os valores de Alfa de Cronbach, Confiabilidade Composta e AVE (Average Variance Extracted) foram calculados. O modelo final ajustado é apresentado na Figura 2.

Figura 2. Modelo estrutural da pesquisa.

Fonte: Dados da pesquisa.

O coeficiente alfa de Cronbach é calculado para avaliar a consistência interna de variáveis e seu valor deve ser maior que 0,70 (Fornell; Larcker, 1981). Na pesquisa, o Alfa foi estimado em 0,877 a 0,933. Já quanto à consistência interna do constructo tem-se que foi de 0,880 a 0,935, Consistência Interna - avaliada ao utilizar Dhilon-Goldstein Rho (ou também conhecida como confiabilidade compositiva (CR), que mede a confiabilidade dos indicadores onde os valores estão entre 0 e 1. CR > 0,7 A consistência interna é adequada (Gefen; Straub; Boudreau, 2000). Quanto à Confiabilidade Composta, os valores estimados foram de 0,916 para 0,946, bem acima do valor mínimo aceitável de 0,70. Quanto ao AVE (Variação Média Extraído), os valores estimados foram de 0,621 a 0,816 todos acima do limite de 0,50 (Cohen, 1988). Esses valores são mostrados na Tabela 2.

Tabela 2 - Índices de confiabilidade

Fonte: Dados da pesquisa.

Para verificar a validade discriminante, utilizou-se o critério de Fornell e Larcker (1981), onde a validade discriminante é a extensão em que uma das variáveis do modelo particular representa um único construto, e a variável do construto é diferente das outras construções que compõem o modelo. Os resultados, apresentados na Tabela 3, confirmam o discriminante de validade do modelo, onde se observa que as raízes quadradas de AVE (na diagonal principal) são maiores do que as correlações para cada construto.

Tabela 3 - Variável latente - Correlação e raiz quadrada da AVE

Fonte: Dados da pesquisa.

Quanto mais alto o valor de R2 melhor o modelo ajusta seus dados. O valor de R2 está sempre entre ٠ e ١٠٠٪. O R2 sempre aumenta quando você adiciona um preditor ao modelo, mesmo quando não existe uma verdadeira melhoria ao modelo (Gefen; Straub; Boudreau, 2000). O valor de R2 ajustado incorpora o número de preditores no modelo para ajudá-lo a escolher o modelo correto. Como verifica-se na Tabela 4 e que o modelo está ajustado conforme os dados da pesquisa demonstram.

Tabela 4 - Valores de R², R² ajustado

Fonte: Dados da pesquisa.

4.1 Teste de hipóteses

A primeira hipótese, H1, teve como objetivo identificar se os vieses motivacionais estão positivamente associados com a tomada de decisão financeira dos indivíduos. De acordo com os resultados, (Paht > 0,70) e (p-valor < 0,05) demonstram a significância do modelo e sua confiabilidade. Quanto à significância (Path > -0,017). Quanto à razão (p-valor = 0,836), com isso observa-se que a hipótese não é suportada pelo modelo, contrariando estudos de Gouveia (2018). A segunda hipótese, H2, teve como objetivo verificar se os vieses heurísticos estão relacionados positivamente com a tomada de decisão financeiras dos indivíduos. De acordo com os resultados, (Paht > 0,70) e (p-valor < 0,05) demonstram a significância do modelo e sua confiabilidade. Quanto à significância (Path > 0,904). Quanto à razão (p-valor = 0,000), com isso chega-se à conclusão de que a hipótese é suportada pelo modelo das equações estruturadas, este estudo vai no mesmo sentido de estudos anteriores, como os achados de Hussain (2021).

Tabela 5 - Teste de hipóteses

Fonte: Dados da pesquisa.

5. CONCLUSÃO

Após a análise dos resultados, conclui-se que o presente estudo apresenta valores extraídos, que indicam, para a primeira hipótese que trata se os vieses motivacionais estão positivamente associados com a tomada de decisão financeira dos indivíduos, onde não há indícios de haver impacto dos vieses motivacionais nas decisões financeiras adotadas pelos respondentes nessa pesquisa, contrariando estudos de Gouveia (2018), que verificou que as emoções podem influenciar a tomada de decisões dos indivíduos. Já a segunda hipótese possui valores que apontam no sentido de ser suportada pelos mesmos parâmetros encontrados. Este estudo vai no mesmo sentido de estudos anteriores, como os achados de Hussain (2021) que indicaram que heurísticas da ancoragem, representatividade e disponibilidade se relacionam e impactam as decisões financeiras.

Os resultados da pesquisa contribuem tanto para gerar debates teóricos ao envolver a importância da decisão financeira sob o impacto das emoções relacionadas com as heurísticas emocionais como medida para atenuar as heurísticas de comportamentos, como para melhor preparar essa e as futuras gerações de profissionais contábeis, no processo de decidir financeiramente em períodos de grandes incertezas. Para futuros trabalhos sugere-se que sejam aplicadas entrevistas com utilização de questionário semiestruturado, com triangulação, em uma pesquisa qualitativa, podendo ainda ser aplicado em outros públicos, para testar os efeitos do otimismo irreal sobre profissionais contábeis ou sobre gestores de empresas.

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