Corpo e adoecimento: considerações a partir de Freud e Heidegger

Resumo

Neste texto, buscaremos apresentar algumas contribuições dos pensamentos de Martin Heidegger e Sigmund Freud para a construção de um olhar sobre o corpo e sobre o adoecimento que não reduza esses fenômenos aos seus aspectos materiais: anatômicos ou fisiológicos. Nosso argumento será desenvolvido em dois momentos. No primeiro, apresentaremos a maneira pela qual Freud, ao investigar a histeria de conversão, compreendeu que certos sintomas e patologias não tinham um referencial anatômico ou fisiológico que os explicasse, de modo que a etiologia desta psiconeurose deveria ser encontrada em traumas de natureza emocional. Nesse sentido, argumentaremos que o psicanalista foi fundamental para pensarmos o corpo além dos confins da anatomia e os aspectos emocionais envolvidos no adoecer. No segundo momento, abordaremos a compreensão heideggeriana acerca da existência humana e sua discussão sobre a corporeidade, apresentando a distinção entre corpo vivido (Leib) e corpo material (Körper). A partir dessa perspectiva, apresentaremos uma abordagem fenomenológica do adoecer, que toma o conceito de corpo vivido como base para pensar a enfermidade enquanto uma ruptura do horizonte familiar que guia o ser-no-mundo em sua cotidianidade.