GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM GRAMADO/RS: COMO A
CULTURA DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL INFLUENCIA A CULTURA DA
POPULAÇÃO SOBRE A GESTÃO DO LIXO
MANAGEMENT OF MUNICIPAL SOLID WASTE IN GRAMADO/RS: HOW THE
CULTURE OF MUNICIPAL PUBLIC AUTHORITY INFLUENCES THE CULTURE
OF THE POPULATION ON WASTE MANAGEMENTY
JULIANE THIBES KREISIG
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
E-mail: julianetk2012@gmail.com
RESUMO
A gestão de resíduos sólidos urbanos se mostra um problema que afeta tanto o Brasil quanto todo o mundo, no
qual os resíduos, que são produzidos em enormes quantidades, acabam se tornando um problema para a
administração pública. Vários são os fatores que agravam essa situação, mas ganham destaque os socioculturais.
Uma das causas percebidas para tal tem relação com a falta de parceria entre a gestão municipal e a população,
em que a administração pública se ausenta das suas funções de orientação e educação ambiental e dessa forma a
população não recebe incentivos à mudança de hábitos entranhados em sua prática. Este estudo teve como
objetivo principal verificar a influência das ações do poder público municipal da cidade de Gramado (RS), na
cultura da população em relação à gestão do seu lixo. Constatou-se que existe uma carência de informações e
orientações aos moradores sobre como realizar corretamente os procedimentos de separação e descarte dos
resíduos e com isso, em sua maioria, os moradores não adotam hábitos ambientalmente corretos, como a
separação de seus resíduos e correta disposição para coleta. Com a pesquisa, foi possível concluir que não
existem incentivos por parte da Prefeitura Municipal para prática de uma gestão domiciliar de resíduos de forma
adequada nem incentivos à cooperação pela busca de uma melhoria contínua ao meio ambiente em que estão
inseridos.
Palavras-chave: Resíduos sólidos; Cultura; Cultura organizacional; Meio ambiente.
ABSTRACT
One of the biggest problems in the world today is related to the management of urban solid waste. There are
several factors that aggravate this situation, but the socio-cultural ones stand out. Another perceived problem is
the lack of partnership between the municipal management and the population, where the public administration
is absent from its functions of guidance and environmental education and thus the population doesn’t receive
incentives to change ingrained habits in their day-to-day. This study has as main objective to verify the influence
of the culture of the municipal public power of the city of Gramado-RS, in the culture of the population in
relation to the management of its garbage. It was found that the majority of the interviewed population doesn’t
adopt environmentally correct habits, such as the separation of their waste and correct disposal for collection.
There is also a lack of information and guidance to residents on how to correctly perform these procedures.
Although there isn’t incentive for change on the part of the City Hall, it is important to build this relationship, in
order to encourage cooperation in the search for a continuous improvement to the environment in which they are
inserted.
Keywords: Solid waste; Culture; Organizational culture; Environment.
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1 INTRODUÇÃO
Uma das maiores preocupações contemporâneas é relacionada aos resíduos sólidos
urbanos (RSU) e sua gestão (NOGUEIRA; MANSANO, 2021). RSU é um termo que indica o
que é tratado pelo senso comum como “lixo”, sendo em síntese, os materiais resultantes das
atividades doméstica, comercial, agrícola, de serviços, dentre outras. Esses materiais, quando
não geridos adequadamente, podem provocar sérios danos ao ambiente e à sociedade. Os
municípios que não possuem uma gestão eficiente de seus resíduos podem sofrer com os mais
variados problemas, desde a poluição atmosférica até a poluição hídrica causada pelo
chorume dos lixões ou pelo lançamento direto dos resíduos no meio ambiente, além da
proliferação de doenças que pode ser ocasionada pelos vetores associados aos resíduos sólidos
(NEVES, 2020).
Dados da realidade vivida pelo Brasil apontam que o país é o quarto maior produtor
de resíduos por ano do planeta, cerca de 78 milhões de toneladas por ano, ficando atrás apenas
dos seguintes países: China, Estados Unidos e Índia (WWF BRASIL, 2020). Fora isso, o país
enfrenta um grave problema em relação à disposição dos resíduos, do total gerado,
aproximadamente 42% tem um destino final inadequado (ABRELPE, 2021).
Em 2020, um ano atípico para todos, a pandemia de COVID-19 afetou indistintamente
diversos setores no mundo e com o setor de gestão de resíduos sólidos não foi diferente
(ABRELPE, 2021). As medidas de distanciamento social, o trabalho home office, as restrições
ao comércio e alimentação, trouxeram uma nova realidade para a geração de lixo (NEVES,
2020).
Nesse contexto, a questão da correta destinação dos resíduos sólidos urbanos fica mais
em evidência. Justamente para que a sociedade repense seus hábitos de consumo e destinação
de resíduos, é importante que a educação ambiental e a conscientização sejam implementadas
para alcançar as mudanças necessárias (NOGUEIRA; MANSANO, 2021). É cada vez mais
evidente a importância de sensibilizar a sociedade para que atuem de modo responsável e
consciente, para que possa ser cultivado um ambiente saudável para o presente e as futuras
gerações, onde todos saibam respeitar e exigir seus próprios direitos em relação ao meio
ambiente em que vivem (CEMBRANEL et al., 2019).
Buscando entender a cultura de determinado grupo de pessoas, surgiram os estudos
sobre a percepção ambiental, os quais visam contribuir para a abordagem cultural do meio
ambiente, integrando diversas ciências como a psicologia, a geografia, a biologia e a
antropologia, com a finalidade de compreender os distintos comportamentos do ser humano
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em relação ao meio ambiente (SILVA, 2015). O espaço geográfico pode ser entendido como
o resultado da cultura expressada por grande variedade de elementos e, por isso, a percepção
do espaço vem interessando os geógrafos, os antropólogos e outros cientistas, que têm
empregado a interdisciplinaridade nos estudos ambientais (SILVA, 2015).
O presente estudo, aborda a relação entre cultura, mudança e sociedade, com o
objetivo de identificar a percepção da população acerca da cultura adotada pelo município de
Gramado (RS) na gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU), e verificar como isso influencia
diretamente os hábitos da população em relação a forma de tratar o seu lixo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico discorre conceitualmente acerca dos resíduos sólidos urbanos, a
gestão pública de RSU, os hábitos da população em relação ao descarte do lixo e, também,
quanto a gestão pública na promoção da mudança social e cultural.
2.1 Resíduos sólidos urbanos: conceito e classificações
Os resíduos sólidos têm sua conceituação descrita pela Agenda 21 Brasileira, em seu
capítulo 21, item 21.3 como: “(...) todos os restos domésticos e resíduos não perigosos, tais
como os resíduos comerciais e institucionais, os resíduos sólidos da rua e os entulhos de
construção” (ONU, 1992).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio da NBR (norma
Brasileira) nº 10.004/04, define os resíduos sólidos como “[…] resíduos nos estados sólidos
semissólido, que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica,
hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição”(ABNT, 2004).
No Brasil, a referida associação, por meio da NBR 10004 (ABNT, 2004) vem
apresentando a classificação dos resíduos sólidos conforme os riscos potenciais ao meio
ambiente. Os resíduos são classificados em três classes: classe I – perigosos, classe II – não
inertes ou banais, e classe III – inertes. O Quadro 1, que segue, apresenta a classificação dos
resíduos e suas características.
Os resíduos sólidos podem ser definidos como sendo todo o material proveniente de
atividades humanas nas indústrias, nos comércios e nas residências que seja considerado
inútil. Neste cerne, o termo lixo, está incluído sob as diferentes classificações, inclusive o lixo
tóxico e prejudicial ao meio ambiente. Em relação aos resíduos sólidos, existem diversas
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subdivisões de acordo com sua composição química, das quais resultam (i) os resíduos
orgânicos, composto de matéria viva, como por exemplo, restos de alimentos e dejetos
humanos e os (ii) resíduos inorgânicos, composto de materiais fabricados pelo homem, tais
como plástico, vidro e metal (PEREIRA, 2019).
Até meados dos anos de 1990, a denominação dada para os resíduos sólidos era
simplesmente “lixo”, mas, modernamente, a partir dos anos 2000, passou a receber o nome de
“resíduos sólidos urbanos (RSU)” (FRITSCH, 2000).
Quadro 1 – Classificação dos resíduos sólidos e suas características
RESÍDUOS CARACTERÍSTICAS
Resíduos classe I: perigosos São classificados como resíduos classe I ou perigosos os resíduos sólidos ou
mistura de resíduos que, em função de suas características de
inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade,
podem apresentar risco à saúde pública, provocando ou contribuindo para
um aumento de mortalidade ou incidência de doenças e/ou apresentar
efeitos adversos ao meio ambiente, quando manuseados ou dispostos de
forma inadequada.
Resíduos classe II: não inertes Resíduos Classe II Não Inertes: São classificados como Classe II ou
resíduos não inertes os resíduos sólidos ou mistura de resíduos sólidos que
não se enquadram na Classe I ou na Classe II – B. Esses resíduos podem ter
propriedades como combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade
em água. São, basicamente, os resíduos com as características do lixo
doméstico.
Resíduos classe III: inertes Resíduos Classe II – B - Inertes: São classificados como Classe II – B os
resíduos sólidos ou mistura de resíduos sólidos que, quando amostrados de
forma representativa, segunda a NBR 10007 (ABNT, 2004), e submetidos
ao teste de solubilização, conforme a NBR 10006 (ABNT, 2004), não
tenham nenhum de seus constituintes solubilizado sem concentrações
superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor,
turbidez, dureza e sabor. São os resíduos que não se degradam ou não sede
compõem quando dispostos no solo, tais como resíduos de construção e
demolição, solos e rochas provenientes de escavações, vidros e certos
plásticos e borrachas que não são facilmente decompostos.
Fonte: Lima (2009).
A Constituição Federal de 1988 (CF de 1988) implementou algumas obrigações, tanto
para a União, como para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no que diz respeito
aos RSU. O Art. 23, da CF de 1988 determina que, a competência para a manutenção da
qualidade ambiental é comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Um marco no Brasil, ocorreu na data de 25 de novembro de 1880, na qual o serviço de
limpeza urbana foi oficialmente iniciado, na cidade de São Sebastião no Rio de Janeiro, então
capital do Império. Foi nesta data que o então imperador D. Pedro II, assinou o Decreto nº
3.024, aprovando o contrato de "limpeza e irrigação" da cidade, que foi executado por Aleixo
Gary e, mais tarde, por Luciano Francisco Gary, de cujo sobrenome origina-se a palavra gari,
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que hoje se denomina os trabalhadores da limpeza urbana em muitas cidades brasileiras
(MONTEIRO et al., 2001).
2.2 Gestão pública de RSU
A temática da gestão do lixo urbano é um dos mais críticos problemas ambientais
existentes atualmente, tanto no Brasil como no mundo (PEREIRA; CURI; CURI, 2018). Boa
parcela das cidades brasileiras têm sistemas precários de gestão de lixo, nos quais não se
prevê a separação e tratamento adequado dos resíduos, além do correto destino final (IBGE,
2017).
Na concepção do termo, gerenciar resíduos significa cuidar deles, desde sua geração
até a disposição final (GRIPPI, 2006). A gestão de resíduos sólidos em si, traz como
finalidade o estabelecimento de diretrizes, metas e controle das fontes geradoras, bem como, o
manejo e redução da sua quantidade, atendendo às questões de saúde pública, meio ambiente,
sociais e legais envolvidas no processo. Assim, o termo gerenciamento de resíduos sólidos
pode ser interpretado como as atividades a serem executadas para realização das metas e
diretrizes estabelecidas no planejamento de gestão de resíduos sólidos (CÓRDOBA, 2010).
De acordo com o artigo 3°, inciso VII da Lei nº 12.305/2010, entende-se por
destinação final ambientalmente adequada aquela que inclui a reutilização, a reciclagem, a
compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas
nesta Lei.
Outro ponto desfavorável são as formas de acondicionamento e coleta utilizados pela
maioria dos municípios, resultando em mistura de resíduos que não poderão mais ser
separados pelos processos de triagem. Esse hábito traz como consequência o descarte de todos
os materiais, que por muitas vezes poderiam ser reaproveitados, gerando inclusive renda para
catadores e recicladores (TAVARES, 2018).
A função essencial da gestão pública nesse processo é a criação de normativas que
possam suprir as necessidades e garantir a qualidade de vida da população. Buscando isso, é
feita a articulação dos poderes, visando assistir à população por meio de leis e políticas
públicas. Como exemplo da gestão de interesse entre o governo e a sociedade, cita-se uma
normativa constante na Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/10, de 02 de
agosto de 2010), a qual possui relação com o Art. 1º da Constituição Federal, que regula a
adesão de todos os municípios à referida lei, de forma a fornecer às cidades diretrizes,
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orientações e recursos para que seja feita a gestão de resíduos sólidos urbanos de modo mais
eficiente e organizado.
Diante disso, o poder público também possui a responsabilidade de realizar a gestão
adequada dos próprios resíduos gerados por suas atividades e as da sua população, devendo
ter um controle do fluxo de resíduos do município como um todo, tendo desta forma, um
tratamento mais criterioso. Castilhos Júnior et al. (2003) indicam que os RSU devem ter seu
gerenciamento integrado, com etapas articuladas e diferenciadas entre si, reforçando sempre a
importância de se realizar um trabalho em parceria e com responsabilidade social. Esse
pensamento corrobora o de César (2018), o qual afirma que, quando a administração pública e
os cidadãos interagem nesse processo juntos, é possível conquistar um status de cidade mais
organizada, limpa e disciplinada na questão de sua limpeza urbana.
Uma forma alternativa e até mesmo rentável para a problemática do lixo domiciliar
urbano é a reciclagem, pois nesse processo, além de ser dada uma nova destinação para os
resíduos que poderiam ser descartados de forma incorreta, ainda beneficia quem realiza esse
trabalho e lucra com isso, fazendo a manutenção de emprego e renda e contribuindo para a
causa social (CALDERONI, 1997).
Outro aspecto relevante na gestão do lixo domiciliar é a coleta seletiva, um processo
em que a comunidade e o poder público atuam em parceria em prol da cidade. Simão, Nebra e
Santana (2021) trazem essa cooperação como sendo fundamental no processo de gestão dos
resíduos, enfatizando que para que isso aconteça, a população precisa ser orientada e passar
por um processo de educação ambiental, pelo qual serão ensinados a separar o lixo e
acondicionar os materiais de forma correta, além de orientar os órgãos responsáveis pela
coleta para que a realizem de modo seletivo e a encaminhem de forma apropriada a seu
destino.
É possível observar que são muitos os desafios no cenário de gestão de resíduos
sólidos urbanos, mas, a gestão pública em parceria com a comunidade podem se articular para
que essa problemática seja amenizada. Conforme afirma Cavalcanti (1996, p.72), "[…] o
meio ambiente deve ser encarado como condição primária das atividades humanas, de seu
progresso e de sua sustentabilidade".
A gestão de resíduos sólidos não tem recebido a atenção necessária por parte do poder
público. Existe uma evidente interdependência dos conceitos de meio ambiente, saúde e
saneamento, e isso reforça a necessidade da integração de ações de diferentes setores na busca
de uma melhor qualidade de vida da população (MONTEIRO et al., 2001).
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2.3 Hábitos da população em relação ao descarte do lixo
A questão do gerenciamento de lixo tem sido vista como uma das maiores
problemáticas sociais da atualidade, por conta dos riscos que pode trazer ao desenvolvimento
da sociedade. Por mais que o advento da globalização tenha modernizado e facilitado o acesso
à informação para a população, muita gente ainda vive em meio a hábitos sociais
ultrapassados, como é o caso do descarte incorreto de lixo domiciliar urbano, trazendo
malefícios para toda uma comunidade.
Segundo dados apurados, em 2021, pela Associação Brasileira de Empresas de
Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), a geração de RSU no Brasil também
sofreu forte influência da pandemia de COVID-19 durante o ano de 2020, o total de toneladas
geradas chegou a aproximadamente 82,5 milhões, o que representa cerca de 225.965
toneladas diárias. A partir disso, pode-se inferir que cada brasileiro gerou, em média, 1,07 kg
de lixo por dia, conforme dados do Gráfico 1 (ABRELPE, 2021).
Nos anos anteriores, a pesquisa feita por regiões, obteve o marco da maior geração de
resíduos pela região Sudeste, com cerca de 113 mil toneladas diárias (50% do total) e 460
kg/habitante/ano. Na região Norte, o total gerado ficou em aproximadamente 4% do total,
com cerca de 6 milhões de toneladas/ano e 328 kg/habitante/ano (ABRELPE, 2021).
Gráfico 1 – Geração de RSU no Brasil por Regiões (kg/habitante/dia)
Fonte: ABRELPE (2021).
São muitos os problemas que o descarte incorreto de RSU pode gerar. Mucelin e
Bellini (2008, p. 113), pontuam alguns, tais como:
[...] contaminação de corpos d’água, assoreamento, enchentes, proliferação de
vetores transmissores de doenças, tais como cães, gatos, ratos, baratas, moscas,
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vermes, entre outros. Some-se a isso a poluição visual, mau cheiro e contaminação
do ambiente.
Partindo desse ponto, as formas de descarte do lixo mais comuns são: lixões, aterros
sanitários, compostagem, coleta seletiva e incineração, uma vez que a maneira, na qual é
tratado ou destinado poderá interferir no ar, no solo e na qualidade de vida das pessoas
(CARDOSO, 2018).
Sabe-se que o acúmulo e o armazenamento inadequado de lixo liberam um líquido
denominado chorume, que possui coloração escura com cheiro desagradável e pode afetar os
lençóis freáticos, contaminar o solo, os animais e as pessoas próximas, além de tornar o local
favorável para disseminação de insetos (COELHO et al., 2016). Além disso, o descarte
inadequado do lixo favorece a proliferação de vetores e/ou animais que trazem riscos para a
saúde dos indivíduos residentes no local onde acontece esse descarte, em conjunto com a
incidência e prevalência de doenças, procedendo em gastos públicos para tratar e/ou reabilitar
sendo considerado um problema de saúde pública (SIMÃO; NEBRA; SANTANA, 2021).
Neste ínterim, se torna necessário despertar na população a responsabilidade pela
resolução deste problema, já que, nos últimos 20 anos a população mundial cresceu menos
que o volume de resíduos por ela produzido (RECICLASAMPA, 2018). A partir disso,
Martins e Ribeiro (2021) destacam que a maneira de descarte do lixo, pode ter relação a uma
forma de viver consumista e com poder de compra desenfreado de produtos. O ato de
consumir ocorre de forma excessiva e rápida, pois sempre há algo mais novo, cuja posse se
torna um desejo insaciável (MARTINS; RIBEIRO, 2021).
Segundo Santos et al. (2015), à falta de alternativas da população pode ser um dos
causadores da problemática do descarte inadequado do lixo, fazendo com que acabem por
incinerar, enterrar ou descartar a céu aberto os seus resíduos, o que mostra novamente que a
educação ambiental e a correta instrução dos cidadãos podem reduzir esse problema tão grave
que afeta toda a sociedade.
2.4 Gestão pública na promoção da mudança social e cultural
A expressão gestão pública, remete a atos e ações dos governantes com o objetivo de
estabelecer o bem-estar social da população, e quando esses atos e ações atrelam-se à
promoção de mudanças culturais na sociedade, ganham uma nova perspectiva (RIBEIRO;
MENDES, 2018).
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Cruz (2006, p. 2) defende que as pessoas que pagam impostos “[…] esperam, e
merecem um serviço público de boa qualidade. E a equipe que presta o serviço precisa saber
bem o que se espera dela e o que é necessário fazer e como buscar caminhos para melhorar”.
Diante deste cenário, a administração pública precisa voltar sua atuação e esforços
para este fim, demonstrando por meio de políticas públicas, a preocupação do Estado com a
sociedade civil (PIERRE, 1995). Sendo que essa preocupação deve estar voltada a fomentar
mudanças que promovam o desenvolvimento e bem-estar da sociedade.
Num cenário ideal, os gestores públicos deveriam evitar os processos que podem
limitar ou impedir a mudança, e focar nos processos que estimulam o crescimento e
promovem um ambiente de mudança saudável de hábitos (ASSAD; SIQUEIRA, 2016). A
promoção da mudança dentro das organizações públicas e seu reflexo em mudanças na
sociedade é necessária e importante.
Macedo et al. (2007) defende que a mudança, seja ela organizacional ou cultural, diz
respeito a mudanças reais no comportamento dos indivíduos. Trata-se de um processo em que
a gestão pública e a população percebam a necessidade e a importância de um trabalho
coletivo, na busca de uma inovação social, pois a finalidade precípua da administração ou
gestão é a promoção do bem-estar social, e muitas vezes, a comunidade também precisa
colaborar para que se atinja tal fim (MEIRELLES, 2014).
Segundo Motta e Caldas (1997, p. 15-16) “[…] mudança consiste em enfrentar
alterações rápidas e complexas; confrontar-se com ambiguidades; compreender a necessidade
de novos produtos e serviços”. Outrossim, os gestores públicos, assumindo o papel de
promotores de mudanças, encontram variados desafios, e a maioria deles impostos pela da
própria comunidade local. Mas, apesar disso, o processo de mudanças deve ser considerado
um elemento positivo e benéfico ao crescimento e desenvolvimento da sociedade.
Colaborando com o assunto, Chu (2003) aduz que esse comportamento de resistência às
mudanças é considerado um elemento negativo e prejudicial para que se obtenha sucesso nas
transformações sociais.
Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Rio 92), foram feitas recomendações e alertas no sentido da necessidade de investimento na
mudança de mentalidade e valores, ocorrendo assim a sensibilização das populações para a
necessidade de se adotar novas posturas e novos pontos de vista diante da situação ambiental.
Nessa lógica, a educação ambiental mostra-se como instrumento primordial para manter o
mundo limpo e sustentável, orientando as pessoas de forma a contribuir para mudanças de
atitudes e adoção de práticas ambientalmente corretas no dia a dia (VALENTE et al., 2016).
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Com base no exposto, é necessário que a população junto com a administração
pública trabalhem para o desenvolvimento da sociedade e da comunidade, pois um dos
principais desafios enfrentados pela gestão para promover mudanças é a falta de colaboração
popular (MARTINS; GOMES, 2018). Contudo, é necessário que se reconheça que um dos
papéis principais do Poder Público é administrar e conduzir com equidade as principais
mudanças e avanços da sociedade. Jacobsen (2012, p. 37) ao abordar o ato de administrar
enfatiza que “[…] em síntese administrar implica tomar decisões e realizar ações […]”,
sempre visando beneficiar a população e o desenvolvimento cultural da mesma.
3 METODOLOGIA
A presente pesquisa é caracterizada como sendo um estudo descritivo, estabelecido
com o intuito de determinar as propriedades de uma demanda de investigação, contribuindo
com o desenvolvimento do estudo (HAIR JR. et al., 2005; GERHARDT; SILVEIRA, 2009).
Segundo Cooper e Schindler (2016, p. 129) a pesquisa é tida como descritiva quando “[…]
pretende descobrir quem, o quê, onde, quando ou quanto [...]”, sendo requerido do
pesquisador diversas referências a respeito daquilo que pretende verificar.
A abordagem utilizada é qualitativa, pois, na visão de Yin (2016), este tipo de
pesquisa considera algumas características que distinguem sua relevância. A argumentação de
Stake (2011, p. 24) traz a ideia de que “[…] a investigação qualitativa é interpretativa,
experiencial, situacional e personalística [...]”, dessa forma, por meio da realização deste tipo
de pesquisa, é possível entender o cotidiano dos entrevistados e pode-se representar as visões
e perspectivas dessas pessoas. Neste sentido, destaca Mezzaroba e Monteiro (2019) que a
pesquisa qualitativa também pode possuir um conteúdo descritivo e pode inclusive lançar mão
de dados quantitativos entranhados em suas reflexões, mas na verdade, o que vai predominar
é o rigoroso exame feito pelo pesquisador, referente às interpretações possíveis a respeito do
fenômeno estudado.
Define-se também como um estudo descritivo que tem como objetivo central a
pormenorização das características de uma determinada população ou fenômeno, ou ainda, o
estabelecimento de relações entre variáveis (DIEHL; TATIM, 2004). Neste caso, os objetivos
definidos e especificados de acordo com o campo da pesquisa apresentam um público
específico e suas variáveis que incluem a gestão de resíduos sólidos urbanos na cidade de
Gramado (RS) e o reflexo da cultura da administração municipal na cultura dos moradores da
cidade analisada.
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Quanto a classificação dos procedimentos técnicos, o estudo utilizou de pesquisa
bibliográfica, que é descrita por Cervo, Bervian e Silva (2007, p. 35) como:
A pesquisa bibliográfica tem como objetivo encontrar respostas aos problemas
formulados e o recurso é a consulta dos documentos bibliográficos. Para encontrar o
material que interessa numa pesquisa é necessário saber como estão organizadas as
bibliotecas e como podem servir os documentos impressos.
Também foi realizada pesquisa de campo, em que foram entrevistados alguns atores
relevantes dentro do cenário do estudo, sendo neste caso, os moradores da cidade analisada. A
pesquisa de campo é descrita por Prodanov e Freitas (2013, p.42) como sendo que aquela que:
[…] é utilizada com o objetivo de obter informações e/ou conhecimentos acerca de
um problema para o qual procuramos uma resposta, ou de uma hipótese, que
queiramos comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos e relações entre eles. O
estudo de campo tende a utilizar técnicas de investigação e interrogação.
Nesse sentido, a pesquisa de campo se caracteriza pelas investigações que se realizam
por meio da coleta de dados com pessoas, considerando a autogestão e a capacidade de
controle de si (YIN, 2016).
No que tange à coleta de dados, foi utilizado o método de amostragem não
probabilística em que o pesquisador seleciona as pessoas por meio de critérios subjetivos
(ARIBONI; PERITO, 2004), sendo subdividida por acessibilidade, em que, segundo Gil
(2009, p. 104), o pesquisador seleciona os elementos a que tem acesso admitindo que esses
possam de alguma forma, representar o universo. Este método de amostragem pode ser
aplicado em estudos exploratórios ou qualitativos, pois nestes, não é necessário um nível
elevado de precisão (YIN, 2016).
O instrumento escolhido para esse estudo foi a entrevista, pois de acordo com Hair Jr.
et al. (2005, p. 152), para descrever fenômenos, os pesquisadores devem ter dados, depois de
obtidos são analisados e tornam-se a base para a decisão informada. Com base no exposto e
na argumentação de Yin (2016), nota-se que as entrevistas trazem à tona a interação entre o
entrevistador e o participante, além de roteirizar com precedência e cautela essa relação.
Foi realizada a aplicação de um questionário estruturado contendo perguntas abertas e
fechadas, na modalidade de entrevista porta-a-porta. A coleta de dados foi realizada durante o
mês de janeiro de 2022, com 12 moradores do bairro Várzea Grande, na cidade de Gramado
(RS), esgotando-se a aplicação do instrumento na medida em que ocorreu a saturação dos
dados. Os resultados obtidos pela pesquisa em relação ao perfil dos respondentes, apontam
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que 7 deles eram do sexo feminino e 5 do sexo masculino. As idades variaram entre 21 a 51
anos.
Gramado é um município do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil. Localiza-se na
Serra Gaúcha, mais precisamente na Região das Hortênsias. Possui uma área territorial de
239.314 km2 e a população estimada do município é de 36.864 habitantes, sendo que destes,
84% vivem na área urbana e 16% na rural. A densidade populacional estimada é de 135,7
habitantes por km² (IBGE, 2021).
Sua economia é voltada ao turismo, e a cidade recebe anualmente milhões de turistas
nacionais e estrangeiros, sendo que no ano de 2020 esse número alcançou a marca de 6,5
milhões de pessoas visitando a cidade, sendo possível perceber que nem mesmo a pandemia
mundial afetou essa circulação de público na localidade. A cidade conta com diversas lojas de
artesanato, calçados e bolsas, casa e decoração, chocolate caseiro, couros e peles,
floriculturas, malharias, móveis, música, vestuário. Destacam-se também os restaurantes e
parques diversos.
Considerando a divisão do município, escolheu-se para realização do estudo,
moradores do bairro mais populoso da cidade, que abarca cerca de 36% da população de
Gramado (RS), o bairro Várzea Grande, onde predominantemente os residentes são
moradores da cidade, sendo possível captar suas percepções e responder os objetivos
propostos na pesquisa.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
No que diz respeito à escolaridade dos entrevistados, é perceptível no Gráfico 2 a
seguir, uma grande parcela da amostra com ensino médio completo – 5 pessoas, acompanhada
da segunda maior parcela com ensino superior completo, e por fim 2 pessoas com nível de
pós-graduação. A literatura apresenta a ideia de que, quanto maior o nível de educação da
população, maior tende a ser sua preocupação com as questões ambientais (CARDOSO,
2018).
Na maioria das residências dos entrevistados moram mais de 1 pessoa, sendo que
apenas 1 respondente declarou que vive sozinho. O número máximo de residentes em um só
lar foi de 4 pessoas. Foi possível perceber um equilíbrio entre residências próprias e alugadas
na amostra, tendo a primeira modalidade o percentual de 58,3% e a segunda de 41,7%.
Grande parte dos entrevistados estão na cidade de Gramado há mais de 5 anos, sendo que
metade deles, residem na cidade desde o seu nascimento, o que reforça o sentimento de
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pertencimento, e de querer ver sua cidade e seu entorno limpos e ambientalmente saudáveis
(KREMER, 2007).
Gráfico 2 – Escolaridade dos entrevistados
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
A seguir são apresentados os resultados das perguntas relacionadas a produção de lixo
pelos moradores entrevistados, é visível constatar que os resíduos produzidos em maior escala
são: papel, plástico e resíduos orgânicos, conforme aponta o Gráfico 3, que mede de 1 a 5 o
grau de intensidade de produção relatada pelos moradores, na qual 1 significa raramente e 5
muito frequente.
Gráfico 3 – Escala de intensidade da produção de resíduos pelos moradores
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
Quando questionados sobre o hábito de separação do lixo doméstico produzido, uma
porcentagem muito pequena da população (8,3%) respondeu positivamente. Do restante,
41,7% responderam que não separam os seus resíduos e 50% relataram que “às vezes”
realizam a separação. Os dados são apresentados no Gráfico 4. A constatação exposta vai de
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encontro com uma pesquisa realizada pelo Ibope no ano de 2018, na qual os dados apontaram
que 4 em cada 10 brasileiros, ou seja, 40%, não separam os seus resíduos domiciliares.
O Ibope (2018) também conferiu nesta mesma pesquisa que a desinformação é um dos
agravantes para o problema da gestão do lixo, visto que, 45% dos entrevistados têm
dificuldade em encontrar informações quanto a coleta seletiva onde moram. Isso se confirma
a partir das respostas dos moradores, que quando perguntados sobre em que dia é recolhido
pela Prefeitura o lixo reciclável, 83,3% responderam não saber dessa informação.
Corroborando com essas afirmações, 91,7% dos entrevistados responderam não saber de outra
coleta em sua rua, além da coleta de lixo comum.
Gráfico 4 – Moradores que realizam a separação do lixo
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
A falta de educação ambiental da população reflete em como ela lida com o lixo
gerado em sua residência (FRITSCH, 2000). Isso se confirma quando 75% dos entrevistados,
relataram descartar lâmpadas, pilhas e baterias no lixo comum, desconhecendo outras formas
de descarte mais adequado para esse tipo de material. Alguns se mostraram inclusive
surpresos quando mencionada outra maneira de descarte.
Ainda no cunho da educação ambiental, quando questionados a respeito da posição da
Prefeitura Municipal em relação às campanhas de conscientização e orientação da população,
91,7% responderam que não são realizadas ações deste tipo no município, conforme Gráfico
5.
O mesmo percentual foi obtido quando indagados se consideram as informações sobre
coleta de lixo prestadas pela prefeitura, claras e suficientes para orientação da população,
onde 11 dos 12 respondentes afirmaram que não consideram.
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Gráfico 5 – Realização de ações de educação ambiental pelo poder público municipal
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
Em relação a percepção dos entrevistados quanto a limpeza da cidade, o Gráfico 6
apresenta uma percepção satisfatória neste quesito. Em contraponto a essa análise, 66,7% dos
respondentes afirmam que existe lixo derramado e espalhado em sua rua. Apesar de este ser
um percentual alto, pode-se inferir que no bairro estudado existem problemas com a coleta de
resíduos, mas a percepção dos moradores a respeitos da cidade de Gramado é construída a
partir da visão geral desta, que como uma cidade turística é bem apresentável como um todo
aos visitantes.
Gráfico 6 – Percepção sobre a limpeza da cidade
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
Ainda que os entrevistados, em sua maioria, não possuam o hábito de separar seu lixo
e não tenham conhecimento considerável quanto as questões ambientais, 100% deles afirmam
saber o que é coleta seletiva e consideram que os resíduos recicláveis podem se tornar uma
fonte de renda. Além disso, todos responderam que acreditam que as práticas individuais
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podem colaborar para a solução do problema do lixo, e 91,7% dizem que é responsabilidade
de todos manter a cidade limpa, tanto o Poder Público quanto os moradores e os turistas.
Com base nisso, observa-se que a gestão pública deve direcionar seus esforços para
este fim, atuando como um orientador e facilitador no processo de ligação entre administração
e sociedade, incluindo a implementação de políticas públicas e ações de educação ambiental
eficientes (PIERRE, 1995). Corroborando com o exposto, Rosa et al. (2010), apontam como
necessário minimizar as consequências e eliminar algumas causas por meio da realização de
algumas ações primordiais como campanhas educativas, sendo uma temática muito rica e
significativa para ser trabalhada em sociedade. Outrossim, se todos se empenharem é possível
que ocorra uma mudança nesse cenário.
Por fim, com base nos resultados obtidos, percebe-se que ainda não é possível
identificar mudanças culturais e de valores na comunidade no que se refere à questão do
descarte do lixo, pois a população vive arraigada e presa a hábitos e costumes ultrapassados, e
também sem orientação para mudança cultural partindo da Gestão Municipal.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O problema da gestão de resíduos domiciliares urbanos é sem dúvida um dos mais
sérios e preocupantes da atualidade, e um dos seus agravantes é a falta de parceria entre a
gestão municipal e a população, junto com fatores culturais. Nesse enfoque, a presente
pesquisa buscou verificar a relação entre cultura, mudança e sociedade, com o objetivo de
identificar a percepção da população acerca da cultura adotada pelo município de Gramado
(RS) na gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU), e verificar como isso influencia
diretamente os hábitos da população em relação a forma de tratar o seu lixo.
Por meio do presente estudo foi possível identificar a ausência da atuação da
Administração Pública Municipal e uma repetição de respostas por parte dos moradores, que
encontram sua cultura arraigada em hábitos ambientalmente incorretos, muitas vezes por falta
de orientação e incentivo.
Com base nos dados da pesquisa, embora preliminares, foi possível realizar algumas
ponderações importantes sobre o tema em evidência, no qual foi identificado que a
comunidade entende a problemática do lixo, bem como, o seu papel neste cenário. Percebeu-
se também que mesmo sem muito conhecimento a respeito das questões ambientais, os
moradores concordam que as ações individuais contribuem para a solução do problema.
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Em contrapartida, é nítido a falta de interesse da gestão municipal em orientar e
conscientizar a população com hábitos em prol do meio ambiente. Os moradores não sofrem
influências positivas da administração pública local em relação à educação ambiental, não
recebendo informações efetivas a respeito da coleta de lixo em seu bairro e também estão
desinformados quanto a onde buscar tais orientações.
A partir da realização da pesquisa bibliográfica, ressaltou-se a importância da
educação ambiental e a influência que os incentivos por parte da administração pública podem
exercer na mudança cultural da população. Por este motivo, se torna interessante aos
municípios o investimento em ações de orientação e conscientização para que hábitos corretos
sejam internalizados e inseridos na rotina da sociedade. A relação entre Poder Público e
moradores é essencial, pois por mais que na teoria exista uma coleta seletiva no município, na
prática, sem a ajuda da população, essa ação não será efetiva.
Recomenda-se que para um resultado mais amplo, tais investigações poderiam ser
realizadas com um público maior e um maior espaço de tempo, para de este modo obter
informações mais detalhadas da situação. Outra sugestão é a investigação com o Poder
Público, para que possa ser realizada uma comparação das percepções e culturas e sejam
encontrados os pontos não efetivos da relação.
Por fim, esta pesquisa permitiu o conhecimento, ainda que preliminar, do modo de
vida, dos costumes, dos hábitos e das influências culturais de uma parcela da população do
município de Gramado (RS) em relação à gestão e disposição de seus resíduos sólidos
urbanos, sendo seus resultados restritos aos limites do instrumento de coleta e a amostra
pesquisada.
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Revista de Estudos em Organizações e Controladoria - REOC, ISSN 2763-9673, UNICENTRO, Irati-PR, v. 2, n. 1, p. 67-87, jan./jun., 2022.
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