Revista de Estudos em Organizações e Controladoria - REOC, ISSN 2763-9673, UNICENTRO, Irati-PR, v. 2, Dossiê APP, p. 04-27, dez., 2022. 
Dossiê Análise de Políticas Públicas 
Editores Convidados: Prof. Dr. Bruno Martins Augusto Gomes e Prof. Dr. Roberto Eduardo Bueno 
ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS AOS USUÁRIOS EM 
NUTRIÇÃO ENTERAL DOMICILIAR EM MUNICÍPIOS DE UMA REGIÃO 
METROPOLITANA DO PARANÁ 
1
ANALYSIS OF PUBLIC POLICIES DIRECTED TO USERS IN HOME ENTERAL 
NUTRITION IN MUNICIPALITIES OF A METROPOLITAN REGION THE STATE 
OF PARANÁ 
 LUNA REZENDE MACHADO DE SOUSA 
Universidade Federal do Paraná (UFPR) 
E-mail: lunarms@gmail.com 
MARIA ELIANA MADALOZZO SCHIEFERDECKER 
Universidade Federal do Paraná (UFPR) 
E-mail: meliana@ufpr.br 
RAFAEL GOMES DITTERICH 
Universidade Federal do Paraná (UFPR) 
E-mail: prof.rafaelgd@gmail.com 
RESUMO 
O aumento na prevalência de doenças crônicas e na expectativa de vida levam ao crescente número de indivíduos 
com necessidades alimentares especiais relacionadas às vias alternativas de alimentação, como a nutrição enteral, 
realizada por meio de sondas e ostomias, quando a alimentação por via oral é insuficiente ou incapaz de garantir 
as necessidades nutricionais. Em situações em que estes indivíduos apresentam estabilidade clínica, é possível a 
realização da Nutricional Enteral em Domicílio (NED), contudo, ainda não há uma política nacional que garanta 
o acesso às fórmulas alimentares enterais e à assistência nutricional para os indivíduos em NED. Diante da falta 
de uma regulamentação federal, alguns municípios têm implantado políticas locais para orientar a assistência 
nutricional aos usuários em NED.  É preciso explorar as condições legais e institucionais que viabilizam, ou não, 
o processo político-jurídico de implantação de políticas voltadas à efetivação do Direito Humano à Alimentação 
Adequada aos usuários em NED. Diante disto, este estudo teve como objetivo analisar, à luz do referencial do 
ciclo de políticas públicas, as políticas e arranjos institucionais voltados à efetivação do direito à alimentação aos 
usuários em NED. Trata-se de um estudo observacional que envolveu a coleta de dados por meio de entrevistas 
com os gestores de saúde dos municípios que compõem a Região Metropolitana de Curitiba, no Paraná. Os gestores 
foram  questionados  sobre  a  identificação  do  problema  público  e  a existência  de  um  programa  ou  protocolo 
municipal para o seu enfrentamento. Por meio do método qualitativo da análise de conteúdo proposto por Bardin, 
as respostas dos entrevistados foram usadas para identificar em qual etapa do ciclo de políticas públicas cada 
município  se encontrava. Apesar  de criticado por sua  racionalidade, o modelo  do ciclo de  políticas públicas 
possibilita a compreensão das características de cada fase que compõe o processo de implantação das políticas. Os 
resultados evidenciaram as discrepâncias no tocante à posição dos municípios dentro deste ciclo. Enquanto sete 
municípios ainda não tinham passado pelo processo de identificação do problema público, cinco municípios já se 
encontravam na fase de avaliação da política implantada. A avaliação das políticas implantadas nos municípios 
analisados  foi  baseada  na  comparação  dos  fatores  que  levaram  à  sua  construção  (objetivos)  e  as  mudanças 
percebidas após sua implantação (resultados). A análise mostrou que as políticas implantadas nos municípios 
avaliados produziram o resultado desejado, como o fortalecimento da Rede de Atenção à Saúde aos usuários em 
1
DOI: https://doi.org/10.5935/2763-9673.20220012 
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Luna Rezende Machado de Sousa, Maria Eliana Madalozzo Schieferdecker e Rafael Gomes Ditterich 
ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADOS AOS USUÁRIOS EM NUTRIÇÃO ENTERAL DOMICILIAR EM MUNICÍPIOS DE 
UMA REGIÃO METROPOLITANA DO PARANÁ 
Revista de Estudos em Organizações e Controladoria - REOC, ISSN 2763-9673, UNICENTRO, Irati-PR, v. 2, Dossiê APP, p. 04-27, dez., 2022. 
NED, com garantia de maior equidade e justiça distributiva dos insumos e fórmulas enterais, redução de custos 
com o programa e diminuição da judicialização, buscando maior satisfação do usuário. 
Palavras-chave: Nutrição Enteral Domiciliar; Políticas Públicas; Municípios. 
ABSTRACT 
The increase in the prevalence of chronic diseases and in life expectancy lead to a growing number of individuals 
with special dietary needs to be related to alternative feeding routes, such as enteral nutrition, performed through 
tubes and ostomies, when oral feeding is insufficient or unable to meet nutritional requirements. In situations where 
these individuals present clinical stability, it is possible to carry out Enteral Nutritional at Home (NED), however, 
there is still no national policy that guarantees access to enteral feeding formulas and nutritional assistance for 
individuals in NED. Given the lack of federal regulation, some municipalities have implemented local policies to 
guide nutritional assistance to NED users. It is necessary to explore the legal and institutional conditions that 
enable, or not, the political-legal process of implementing policies aimed at putting into effect the Human Right 
to Adequate Food for NED users. That said, this study aimed to analyse, in the light of the cycle of public policies, 
the policies and institutional arrangements aimed at  realizing the  right to  food for users in  NED. This  is an 
observational study that involved data collection through interviews with health managers in the municipalities 
that make up the Metropolitan Region of Curitiba, in Paraná. The managers were asked about the identification of 
the public problem and the existence of a municipal program or protocol to face it. Using the qualitative method 
of content analysis proposed by Bardin, the respondents' responses were used to identify which stage of the public 
policy cycle each municipality was in. Despite being criticized for its rationality, the public policy cycle model 
makes it possible to understand the characteristics of each phase that makes up the policy implementation process. 
The  results  showed  discrepancies  regarding  the  position  of  municipalities  within  this  cycle.  While  seven 
municipalities hadn’t yet gone through the process of identifying the public problem, five municipalities were 
already in the evaluation phase of the implemented policy. The evaluation of the policies implemented in the 
municipalities analyzed was based on the comparison of the factors that led to their construction (objectives) and 
the changes perceived after their implementation (results). The analysis showed that the policies implemented in 
the assessed municipalities produced their desired result, such as strengthening the Health Care Network for NED 
users, guaranteeing greater equity and distributive justice of inputs and enteral formulas, cost reduction with the 
program and reduction of judicialization, seeking greater user satisfaction. 
Keywords: Home Enteral Nutrition; Public policy; Municipalities. 
1 INTRODUÇÃO 
Com o aumento na prevalência de doenças crônicas não transmissíveis e na expectativa 
de  vida,  tem  crescido  o  número  de  pessoas  que  precisam  fazer  uso  de  vias  alimentares 
alternativas, como a enteral (CUTCHMA et al., 2016; BRASIL, 2013). A nutrição enteral, 
realizada por meio de sondas nasais e ostomias, é necessária quando a alimentação por via oral 
é  insuficiente  ou  incapaz  de  garantir  suas  necessidades  nutricionais  (BRASIL,  2015).  Em 
situações em que o indivíduo apresenta estabilidade clínica, pode-se realizar a Nutrição Enteral 
em Domicílio (NED), por meio da utilização de fórmulas enterais comerciais (industrializadas), 
formulações  preparadas  com  alimentos  (artesanais)  ou  formulações  mistas  (combinam 
alimentos in natura, produtos alimentícios e formulações comerciais) (BRASIL, 2015).  
Esse cenário tem demandado ao Sistema Único de Saúde (SUS) a organização da Rede 
de Atenção à Saúde (RAS) aos usuários com necessidades alimentares especiais em atenção 
domiciliar,  para  a  garantia  do  seu  Direito  Humano  à  Alimentação  Adequada  (DHAA) 
(CORRÊA, 2017). Este direito compreende quatro pilares da alimentação: disponibilidade dos 
alimentos;  acesso  físico  e  econômico  aos  alimentos;  adequação  da  alimentação  às  suas 
necessidades nutricionais; e estabilidade do acesso à alimentação adequada (LEÃO et al., 2013). 
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Ao adaptarmos estes conceitos para os usuários em NED, a efetivação do DHAA compreende 
a garantia de forma permanente da disponibilidade e do acesso destes indivíduos às fórmulas 
enterais  (industrializadas  ou  elaboradas  com  alimentos)  que  sejam  adequadas  às  suas 
necessidades nutricionais. Contudo, ainda não há uma política nacional que garanta o acesso às 
fórmulas enterais comerciais ou preparações enterais elaboradas com alimentos e à assistência 
nutricional para os indivíduos em NED, deste modo, o compromisso com a garantia do DHAA 
destes indivíduos ainda é marcado por uma ocultação social e não inserção na agenda das 
políticas públicas (CORRÊA, 2017).  
Diante da falta de regulamentação federal e de uma linha de financiamento para a RAS 
aos usuários com necessidades alimentares especiais, alguns municípios têm organizado redes 
municipais, com a implantação de protocolos de atenção nutricional aos indivíduos em NED 
(JANSEN et al., 2014; SCHIEFERDECKER et al., 2014; SOUSA; WILL, 2017). Porém, há 
grande divergência nas diretrizes e funcionamento destas redes, o que acaba por prejudicar o 
fortalecimento  da  atenção  nutricional  aos  usuários  em  NED  e  contribui  para  que  o  Poder 
Público seja acionado para o cumprimento dos direitos à saúde e alimentação destes cidadãos 
(DELDUQUE; SILVA, 2014; JANSEN et al., 2014; SCHIEFERDECKER et al., 2014; SOUSA; 
WILL,  2017).  Este  fenômeno,  denominado  “judicialização  da  saúde”,  é  entendido  como  a 
reivindicação da saúde como direito quando o Poder Judiciário se coloca na posição de tomador 
de decisões, sobrepondo-se ao arcabouço normativo do SUS (RAMOS et al., 2017). 
Portanto,  faz-se  necessário  o  estudo  aprofundado  das  políticas  públicas  e  arranjos 
institucionais que levam às diferentes formas de organização, ou mesmo da falta de organização, 
da RAS aos usuários com necessidades alimentares especiais nas instâncias gestoras do SUS. 
Neste contexto, este estudo analisou, à luz do referencial do ciclo de políticas públicas, as 
políticas públicas e os arranjos institucionais voltados à efetivação do DHAA aos usuários em 
NED. Para explorar esta temática em um contexto regional, selecionou-se enquanto cenário do 
estudo os municípios da 2ª Regional de Saúde (RS) do Paraná, composta pela capital do estado 
e 29 municípios da região metropolitana de Curitiba. 
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
Iniciou-se nos séculos XIX e XX as pesquisas no campo da ciência política, em busca 
da racionalização do entendimento do processo político e a identificação de suas fases. Entre 
1930 e 1940, o cientista social Harold Lasswell propôs uma abordagem do processo político 
que envolvia diferentes fases da formulação e desenvolvimento da política pública. Lasswell 
(1951)  apresenta  a  seguinte  divisão  do  processo  de  implantação  das  políticas  no  âmbito 
governamental: 1) Informação; 2) Promoção; 3) Prescrição; 4) Invocação; 5) Aplicação; 6) 
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Término; e 7) Avaliação. Mais importante que a sequência das fases, o modelo de Lasswell 
defende que a implantação de uma política pública é composta por estágios com características 
distintas (RAEDER, 2014). E, apesar das críticas quanto ao excesso de racionalidade deste 
modelo,  ele  segue  sendo  referência  neste  campo  da  ciência  e  vários  analistas  políticos  o 
utilizaram para desenvolver seus estudos e propor novos modelos, adaptando a ideia original 
de  Lasswell,  mas  mantendo  o  entendimento  da  existência  de  um  ciclo  de  construção  das 
políticas públicas com diferentes fases. 
Quase quarenta anos após a publicação do modelo de Lasswell, os autores Howlett e 
Ramesh apresentaram sua versão adaptada, na qual as sete fases originalmente propostas foram 
condensadas em cinco: 1) Montagem da agenda; 2) Formulação da política; 3) Tomada de 
decisão; 4) Implementação; 5) Avaliação (BAPTISTA; REZENDE, 2015a). Apesar de mais 
sucinto, o modelo adaptado por Howlett e Ramesh engloba todo o processo identificado por 
Lasswell e destaca fases que não haviam sido consideradas originalmente.  
A fase da Montagem da Agenda, detalhada por Baptista e Rezende (2015a), engloba o 
reconhecimento  de  um  problema  enquanto  público,  o  qual  será  o  ponto  de  partida  para  a 
elaboração de  uma  política  pública.  O  problema  público  é  aquele  que  expõe  carências  na 
sociedade  as  quais  os  atores  públicos  julgam  como  problema  público.  Para  além  da 
identificação do problema público, a formação da agenda depende do cenário político, neste 
sentido Kingdon diferenciou três tipos de agenda no processo político: sistêmica, institucional 
e  decisória.  A  agenda  sistêmica  ou  não-governamental  é  formada  por  problemas  públicos 
pautados pela sociedade, mas que não despertam atenção dos formuladores de política naquele 
momento. A agenda institucional ou governamental é composta por problemas públicos de 
interesse do governo, mas que ainda não se apresentam na mesa de decisão. Por último, a agenda 
decisória ou política inclui os problemas que estão sendo considerados nos processos decisórios.  
Na  etapa  da  Formulação  da  Política  são  levantadas  as  alternativas,  ou  seja,  as 
estratégias, programas e ações, para o enfrentamento do problema público inserido na agenda 
política,  conforme  propõem  os  autores  Secchi  (2013)  e  Baptista  e  Rezende  (2015a).  As 
alternativas são então comparadas quanto aos seus custos e possíveis consequências, neste 
momento, até a opção da manutenção do status quo pode ser uma das alternativas. Projeções, 
predições  e  conjecturas  são  consideradas  para  a  avaliação  das  alternativas,  no  entanto,  o 
dinamismo  do  contexto  político  e  socioeconômico  dificulta  este  processo.  Apesar  das 
dificuldades, é necessário chegar à etapa da tomada de decisão, na qual os interesses dos atores 
são equalizados.  
A fase de Tomada de Decisão é onde acontece a formação das políticas públicas, de 
acordo com o cientista político John Kingdon, este processo ocorre em meio a ambiguidades e 
depende da confluência de problemas (fluxo de problemas), soluções (fluxo das alternativas e 
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soluções) e um cenário político favorável (fluxo político), modelo este conhecido como dos 
fluxos múltiplos (ZAHARIADIS, 2007). 
Seguindo  o  proposto  por  Secchi  (2013)  e  Baptista  e  Rezende  (2015a),  durante  a 
Implementação das Políticas as intenções são convertidas em ações, e para isto é necessário 
visualizar os obstáculos que possam surgir neste processo. Nesta fase é comum que a proposta 
a ser implantada sofra negociações, que podem levar a novas decisões e até ao reinício do ciclo 
da política. No entanto, não são raras as leis e programas que acabam sendo desvirtuados 
durante o processo de implantação, e por isto não apresentam os resultados esperados para o 
enfrentamento do problema escolhido.  
A última fase do ciclo é a Avaliação da Política, segundo Secchi (2013) e Baptista e 
Rezende (2015a), verifica-se o nível de redução do problema que a gerou. A partir da avaliação 
de seus resultados, é comum que se proceda com adequações da política implantada, visando a 
melhoria de sua eficiência (relação entre os recursos empregados e os resultados alcançados) e 
eficácia (o nível de alcance das metas estabelecidas) (BAPTISTA; REZENDE, 2015b; SILVA 
et al., 2016). 
3 METODOLOGIA 
Para analisar as políticas e arranjos institucionais voltados à garantia do Direito Humano 
à Alimentação Adequada (DHAA) aos usuários em Nutrição Enteral em Domicílio (NED) nos 
municípios da 2ª RS do Paraná à luz do ciclo de políticas públicas, realizou-se uma pesquisa 
qualitativa com a coleta de dados por meio de entrevistas com os gestores responsáveis pela 
coordenação da RAS aos usuários em NED dos vinte e nove municípios que compõem a 2ª 
Regional de Saúde do Paraná. As entrevistas foram realizadas entre abril e julho de 2021, por 
plataforma virtual (Google Meet®). Todas foram agendadas previamente por telefone, duraram 
de 12 a 56 minutos, com média de 31 minutos, e gravadas com autorização dos participantes. 
Após cada entrevista, as gravações audiovisuais foram transferidas para o Google Drive® e 
efetuada  transcrição  das  respostas  em  arquivo-texto.  Para  a  transcrição  de  suas  falas,  os 
participantes foram codificados e identificadas com o termo “P” seguido de numeração de 1 a 
29. Esta pesquisa respeitou todos os aspectos éticos e seguiu a Resolução n.º 466/2012 do 
Conselho Nacional de Saúde, sendo aprovada pelos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) da 
instituição proponente, Centro Universitário José Campos Andrade - Uniandrade (Parecer n.º 
4.620.666), e das instituições coparticipantes, haja vista que dois municípios dispunham de 
Comitês  de  Ética  em  Pesquisa:  a  Secretaria  Municipal  da  Saúde  de  Curitiba  (Parecer  n.º 
4.654.436) e a Secretaria Municipal de São José dos Pinhais (Parecer n.º 4.746.106). 
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Os dados coletados foram analisados à luz do referencial teórico do ciclo de políticas 
públicas,  proposto  por  Howlett  e  Ramesh  (BAPTISTA;  REZENDE,  2015a;  BAPTISTA; 
REZENDE, 2015b) a partir do modelo originado por Lasswell (LASSWELL, 1951). O estudo 
do ciclo das polícias públicas é uma abordagem para a análise das políticas em cinco fases não 
lineares e interdependentes, que podem se sobrepor ou alterarem a ordem: construção da agenda, 
formulação  da  política,  processo  decisório,  implementação  e  avaliação  (BAPTISTA; 
REZENDE, 2015a).  
De  acordo  com  os  as  respostas  dos  entrevistados  às  seguintes  perguntas,  foram 
identificadas em qual fase do ciclo de políticas públicas cada um dos 29 municípios da 2ª RS 
se encontrava: 
➢ O município conta com algum programa ou protocolo que orienta o fluxo para a 
atenção nutricional aos usuários em nutricional enteral domiciliar? 
➢ O que motivou o município a implantar este programa ou protocolo? 
➢ Quando este programa ou protocolo foi instituído e quando foi realizada sua última 
atualização? 
➢ Este programa ou protocolo foi apresentado e aprovado pelo Conselho Municipal 
de Saúde? 
➢ Na sua opinião, houve mudanças (positivas ou negativas) na gestão do serviço após 
a implantação deste programa ou protocolo? 
➢ O  que  tem  sido  feito  para  enfrentar  as  dificuldades  e  desafios  para  garantir  o 
acompanhamento nutricional e o acesso à alimentação adequada aos usuários que se alimentam 
por sonda em domicílio? 
Neste sentido, foram considerados na Fase Montagem de Agenda os municípios que 
ainda não dispunham de protocolo para a organização da RAS aos usuários em NED, mas que 
indicavam que este problema (ausência de política para a garantia do DHAA aos usuários em 
NED) tem sido discutido pela gestão municipal. Na Fase de Formulação da Política foram 
classificados os municípios que relataram estar em processo de elaboração de um protocolo 
municipal para a RAS aos usuários em NED. Foram identificados como na Fase de Tomada 
de Decisão os municípios que alegaram ter implantado protocolos de atenção aos usuários em 
NED, apesar de os mesmos não estarem aprovados pelo Conselho Municipal de Saúde. Na Fase 
de Implantação das Políticas foram alocados os municípios que tiveram seus protocolos para 
atenção  aos  usuários  em  NED  publicados  em  diário  oficial  ou  aprovados  pelo  Conselho 
Municipal  de  Saúde.  Foram  classificados  como  na  Fase  de Avaliação  da  Política  aqueles 
municípios cujos protocolos municipais que sofreram atualizações após sua implantação. Nos 
casos  de  municípios  cujos  protocolos  foram  atualizados,  porém  nenhuma  versão  foi 
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oficialmente publicada ou aprovada pelo Conselho de Saúde, considerou-se que o município 
ainda estava na Fase de Tomada de Decisão. 
Para os municípios que contavam com um protocolo implantado para a organização da 
RAS  aos  usuários  em  NED,  foram  analisados  os  motivos  que  levaram  estes  municípios  a 
desenvolverem políticas públicas municipais neste âmbito e as mudanças percebidas após sua 
implantação.  Para  tal,  foi  aplicado  o  método  qualitativo  de  Análise  de  Conteúdo,  com  a 
categorização das falas dos entrevistados orientada pela análise temática (BARDIN, 2016). A 
partir da leitura do material transcrito, definiu-se como temas para esta análise de dados: 1) 
Motivações para a construção do protocolo municipal para organização da RAS aos usuários 
em NED; 2) Mudanças observadas após a construção do protocolo. 
A 2ª Regional de Saúde do Paraná, ou Região Metropolitana de Curitiba, é integrante 
da Macrorregional Leste do Estado do Paraná, sendo a mais populosa das regionais de saúde 
do  Estado,  correspondendo  a  cerca  de  31%  da  população  do  estadual  (PNUD,  2014). A 
população nas cidades da região metropolitana cresceu em grande parte influenciada pela sua 
distância da capital, as cidades com mais de 100.000 habitantes não se distanciam mais do que 
30 quilômetros de Curitiba. Atualmente, a população dos municípios da região varia largamente, 
há cidades com menos de 10.000 habitantes (Doutor Ulysses, Adrianópolis, Campo do Tenentes, 
Tunas do Paraná e Agudos do Sul) e outras com mais de 200.000 mil (Colombo, São José dos 
Pinhais  e  Curitiba)  (IBGE,  2022). A  distribuição  do  Índice  de  Desenvolvimento  Humano 
Municipal (IDHM) na região reflete a desigualdade socioeconômica entre seus municípios, por 
exemplo, a região abrange os municípios de maior e menor IDHM do Paraná: Curitiba (0,823) 
e Doutor Ulysses (0,546) (PNUD, 2014).  
Considerando as diferenças sociodemográficas dos municípios da região, os resultados 
desta pesquisa são apresentados com estratificação por porte populacional. Utilizou-se o critério 
aplicado pela Secretaria Estadual de Saúde para divisão por porte populacional nos boletins 
epidemiológicos dos municípios da 2ª Regional de Saúde do Paraná: pequeno porte (até 15 mil 
habitantes); médio porte (15 mil a 40 mil habitantes); grande porte (acima de 40 mil habitantes) 
(SESA-PR, 2021). Utilizando estes critérios, tem-se na região: 8 municípios de pequeno porte; 
10 de médio porte e 11 de grande porte. 
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 
Durante  as  entrevistas  com  os  gestores  municipais,  os  participantes  responderam 
perguntas sobre o que tem sido feito para fortalecer a RAS voltada aos usuários em NED, se há 
um  programa ou  protocolo  municipal  que  oriente o  funcionamento  desta rede,  sua  data  de 
implantação e última atualização e se foi aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde. A partir 
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de suas respostas, que serviram como proxy, cada município foi classificado em uma das fases 
do ciclo de políticas públicas. A Figura 1 apresenta o total de municípios analisados inseridos 
em cada fase do ciclo de políticas públicas em relação às suas políticas e arranjos institucionais 
que visam a garantia do DHAA aos usuários em NED. Os nomes dos municípios não foram 
expostos em respeito às condições de confidencialidade garantidas no Termo de Consentimento 
Livre e Esclarecido (TCLE). 
Figura 1 – Posição dos municípios da 2ª RS do Paraná no ciclo de políticas públicas 
Fonte: Dados da pesquisa (2022). 
4.1 Montagem da agenda 
Dos  29  municípios  analisados,  onze  foram  considerados  na  etapa  da  Montagem  da 
Agenda, pois estavam em processo de reconhecimento do problema público ou de sua inserção 
na agenda pública. Destes onze municípios, sete ainda não tinham concluído o reconhecimento 
do problema público, ou seja, os gestores ainda não identificavam a necessidade de implantar 
uma política municipal voltada à garantia do DHAA aos usuários em NED. Dentre estes sete, 
apenas  dois  municípios  contavam  com  nutricionista  na  RAS  e  cinco  eram  municípios  de 
pequeno porte, que dispunham de poucos ou nenhum usuário em NED, o que explica porque a 
gestão municipal não via a necessidade de uma política pública voltada a estes indivíduos.  
Quando uma situação passa a ser reconhecida como problema público, a fase seguinte 
seria sua inclusão na agenda, seja ela agenda política ou formal (SECCHI, 2013). Dos onze 
municípios identificados nesta fase, quatro (três de médio porte e um de pequeno porte) estavam 
em um momento de inserção do problema na agenda pública. Estes municípios não dispunham 
de política ou protocolo municipal voltado à garantia do DHAA aos usuários em NED. No 
entanto, durante as entrevistas foi possível identificar que reconheciam esta lacuna enquanto 
problema público  e o tinham  inserido na  agenda municipal, pelo seguinte:  dois municípios 
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alegaram  estudar a  elaboração de  um  protocolo  municipal para  a  organização  da  RAS  aos 
usuários  em  NED,  um  município  estava  em  processo  de  contratação  de  nutricionista  para 
acompanhamento  destes  usuários  e  um  município  estava  em  processo  de  negociação  da 
contratação de um(a) nutricionista para esta demanda. 
 “Eu  estava  estudando,  procurando  informação,  até  cheguei  a  pesquisar  alguns 
protocolos de outros municípios, estava até pesquisando sobre isto, para implantar um 
protocolo no município (voltado à RAS aos usuários em NED)”. P13 
 “Na atenção básica, a coordenadora vem cobrando a contratação do nutricionista, pois 
é uma necessidade, é um profissional que tem um papel importante, não só na questão 
da dieta. Então vem sendo conversado com a secretária de saúde para disponibilizar 
este profissional pro (sic) município.” P02 
O movimento da gestão municipal em prol da contratação de um(a) nutricionista para a 
RAS aos usuários em NED mostra a preocupação em garantir o cuidado nutricional destes 
indivíduos, o que indica que o problema público já foi inserido na agenda municipal e este seria 
um passo inicial para seu enfrentamento. Em um momento mais avançado, estão os municípios 
em  processo  de  estudar  e  aprofundar  os  conhecimentos  sobre  do  tema  para  embasar  a 
elaboração de uma política municipal (protocolo) para a garantia do DHAA aos usuários em 
NED, o que também indica que o problema da inexistência de uma política neste campo está 
inserido na agenda do município.  
A  agenda  política,  ou  sistêmica,  é  formada  por  um  conjunto  de  problemas  que  a 
comunidade política entende que são prioritários e necessitam de intervenção pública (SECCHI, 
2013). A agenda formal, ou institucional, é onde os problemas que o poder público decidiu 
enfrentar  estão  elencados  (SECCHI,  2013).  Há  também  a  agenda  da  mídia,  composta  por 
problemas que recebem grande destaque dos meios de comunicação, o que acaba por influenciar 
a formação das demais agendas (SECCHI, 2013). 
Segundo Secchi (2013), para que um problema seja inserido na agenda, ele deve atender 
aos requisitos: atenção, resolutividade e competência. A Atenção significa que o problema é 
enxergado por diferentes  atores  da sociedade, como  cidadãos,  mídia e  grupos de interesse 
(comerciantes,  empresários,  categorias  profissionais  etc.).  O  problema  também  precisa  ser 
passível de resolução e deve ser de competência do poder público. Durante as entrevistas, 
alguns gestores explanaram o processo de identificação deste problema público e sua inserção 
na agenda: 
“Quando eu iniciei com esse programa eu tinha muita essa visão de que 'não, fórmula, 
nutrição,  não  é  responsabilidade  do  município'.  Só  que  daí  quando  eu  entrei  no 
programa  e  comecei  a  calcular  custos,  e  aí  o  mesmo  cálculo  que  eu  fazia  para 
medicamentos, eu fiz para as fórmulas né. E aí como aqui no nosso município a renda 
per capita é muito baixa, então aí o mesmo cálculo que eu fazia para medicamentos, 
quando pensava assim 'nós não podemos ter falta de medicamentos porque isso vai 
13 
Luna Rezende Machado de Sousa, Maria Eliana Madalozzo Schieferdecker e Rafael Gomes Ditterich 
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ter um  impacto  muito  grande  no  orçamento  das  famílias' então  eu  pensava  assim, 
basicamente como se eu fosse um paciente que ganhasse um salário-mínimo... Daí eu 
levei este cálculo para as fórmulas, geralmente estas famílias nem tem renda, ou se é 
um paciente que já está usando fórmula não tem nem condição de trabalhar, ou está 
vivendo de algum benefício do governo. Então quando a gente coloca a conta na ponta 
do lápis, o custo que tem para o município fornecer estas fórmulas é mínimo se a gente 
for pensar, do que a gente jogar este custo pro paciente. Então, ah, vamos pensar numa 
fórmula que seja minimamente barata, uma fórmula padrão, que uma lata vai custar 
40 reais, só que o paciente não vai usar uma única lata, então vamos jogar 4 latas, 
mesma coisa, eu não posso jogar um custo de quase 20% da renda do paciente para 
ele adquirir um tratamento de saúde que é previsto na constituição. A fórmula não está 
prevista  na  constituição,  mas  a  assistência  está prevista.  Então  eu  tive  muito essa 
mudança assim, quando eu entrei na gestão do serviço eu pensava muito no custo, isso 
vai custar tanto e a gente vai atender tanto, só que daí depois eu pensei a ter um outro 
olhar, a gente não pode só se basear na questão do custo, a gente tem de pensar nos 
benefícios  que  isso  vai  trazer tanto  pra  população,  quanto pra gestão. Acho que a 
implantação  tanto  deste  protocolo,  seja  de  fornecimento  de  fórmula,  seja  com 
fornecimento de medicamentos, é pensando no bem coletivo sim, né, e que ele traz 
um  impacto  muito  grande  para  gente.  Então  se  eu  deixo  de  fornecer,  sei  lá  uma 
fórmula, ou um medicamento, o impacto que isso vai ter para mim daqui dois, três ou 
quatro anos é muito grande. Então eu acho que eu tive essa mudança de visão a partir 
da gestão destes programas.” P11 
Uma vez inseridos na agenda, os problemas públicos também precisam ser ordenados 
por prioridade, o que pode ser a etapa mais difícil para os governantes (SECCHI, 2013). Esta 
lista de prioridades é dinâmica, os problemas ganham e perdem prioridade no curso do tempo 
devido a episódios marcantes (epidemias, desastres naturais, guerras), sazonalidade (enchentes 
frequentes no verão e períodos de seca) ou quando uma situação retoma progressivamente à 
normalidade (após conflitos violentos e problemas de segurança nacional). A permanência de 
um problema público na agenda também não é garantida, mesmo diante de sua não resolução, 
os problemas entram e saem da agenda por diferentes motivos, como limitação de recursos 
humanos e financeiros, falta de tempo, interesse político ou falta de pressão popular. 
4.2 Formulação da política 
Esta etapa, também chamada de formulação das alternativas, consiste na construção de 
soluções para o problema identificado e inserido na agenda (SECCHI, 2013). Inicia-se com a 
definição do objetivo, o que se espera com a implantação da política pública. Na sequência, é 
preciso analisar as consequências do problema, seus custos e possibilidades de resolução, cada 
alternativa deve ser estudada com cautela. Esta fase precisa ser conduzida por especialistas no 
tema, eles que delinearão as possíveis soluções para o problema e as apresentarão para os 
tomadores de decisão, como o gestor municipal de saúde e/ou prefeito. 
Dos municípios entrevistados, apenas um mostrou estar nesta fase do ciclo, ao relatar 
que estava elaborando um protocolo municipal voltado à organização da RAS aos usuários em 
NED, com vistas à garantia do seu DHAA, conforme relato do entrevistado P07: “Estamos em 
14 
Luna Rezende Machado de Sousa, Maria Eliana Madalozzo Schieferdecker e Rafael Gomes Ditterich 
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processo de elaboração, já foi entregue um esboço deste protocolo, mas ainda está passando por 
análise na secretaria de saúde”. 
Neste município, classificado como de grande porte, o entrevistado era o nutricionista 
responsável pela atenção nutricional na Secretaria de Saúde. Vê-se, pela fala do entrevistado, 
que não basta a avaliação do problema e formulação da política pública pelo especialista, há 
também uma negociação da solução proposta pelo especialista junto aos tomadores de decisão, 
ou seja, a implantação de uma política pública envolve a vontade política. 
É esperado que em breve mais municípios entrem nesta fase do ciclo, pois foi citada nas 
entrevistas a criação de um Grupo de Trabalho formado pelos nutricionistas que atuam nos 
municípios da 2ª RS, voltado a compartilhar experiências e fortalecer a RAS aos usuários com 
necessidades  alimentares  especiais.  Um  dos  objetivos  deste  grupo  é  tentar  padronizar  o 
funcionamento desta rede nos municípios da região, o que tem levado alguns municípios a 
iniciarem  a  elaboração  de  protocolos  municipais  ou  atualizá-los  de  modo  a  padronizar  os 
critérios de fornecimento de insumos e a atenção nutricional aos usuários em NED.  
4.3 Tomada de decisão 
Uma vez que as alternativas para o enfrentamento do problema foram estudadas na etapa 
anterior, é o momento da tomada de decisão, quando os atores envolvidos equalizam seus 
interesses e decidem pela implantação (ou não) de uma política pública. O meio acadêmico traz 
diferentes modelos teóricos que explicam a tomada de decisão, desde os modelos racionalistas 
(nos quais a decisão vai de encontro aos objetivos e alternativas estudadas, respeitando os 
limites institucionais) àqueles que compreendem que as decisões são fruto de uma construção 
de consensos entre atores com diferentes interesses, onde o elemento político é mais importante 
do que o componente técnico (SECCHI, 2013). 
Kingdon  propõe  o  modelo  dos  fluxos  múltiplos  para  a  compreensão  da  tomada  de 
decisão (ZAHARIADIS, 2007). Segundo este modelo, os fluxos que fluem pelo sistema são 
independentes,  apesar  de  existirem  paralelamente,  cada  fluxo  tem  vida  própria:  fluxo  dos 
problemas; fluxo de alternativas e soluções; e fluxo político. 
O  fluxo  de  problemas  envolve  as  condições  que  os  usuários  e  os  formuladores  de 
políticas  desejam  mudar,  sendo  que  estes  últimos  descobrem  os  problemas  por  meio  de 
indicadores, eventos e feedbacks de ações governamentais. O fluxo das alternativas é composto 
pelas  propostas  de  políticas  públicas  geradas  por  governantes,  legisladores,  acadêmicos, 
sociedade civil e pesquisadores, que aguardam o surgimento de oportunidades para expor suas 
soluções  para  os  problemas.  Enfim,  o  fluxo  político  consiste  em  três  elementos:  o  clima 
nacional,  campanhas  de  grupos  de  pressão  e  rotatividade  administrativa  e  legislativa 
15 
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(ZAHARIADIS, 2007). Sendo assim, foram identificados na fase de tomada de decisão os 
municípios que implantaram protocolos de atenção aos usuários em NED, mas que ainda não 
tinham sido aprovados pelo Conselho de Saúde. 
Dentre os municípios pesquisados, sete (um de pequeno porte, três de médio porte e três 
de grande porte) encontravam-se na fase da tomada de decisão, pois alegaram dispor de um 
protocolo municipal que orienta a RAS em prol da garantia do DHAA aos usuários em NED, 
mas, que ainda não recebeu a chancela do Conselho de Saúde. O número médio de usuários em 
NED atendidos por estes municípios variou de três a setenta usuários ao mês. Os entrevistados 
indicaram que pretendem  encaminhar o  protocolo  para  análise  e aprovação pelo  Conselho 
Municipal de Saúde, no entanto, três destes municípios já dispunham do protocolo há mais de 
cinco anos, como é o caso de um município de grande porte que implantou o protocolo em 2007, 
realizou uma alteração em 2021, mas ainda não o encaminhou para análise e aprovação do 
Conselho Municipal de Saúde.  
“Nós nutricionistas elaboramos um protocolo, que é o protocolo que a gente segue, o 
protocolo que a gente orienta nas unidades de saúde, mas ele não foi validado, então 
ele não virou um programa municipal até o momento, ele não passou por aprovação 
do conselho… Não tem nem a divulgação de que existe este protocolo, então o usuário 
não tem acesso ao protocolo.” P04 
O SUS  prevê a  participação  de  todos  os  seguimentos  da sociedade no  processo de 
tomada de decisão e controle sobre a execução das ações e serviços de saúde, e esta participação 
acontece por meio dos Conselhos de Saúde. Os Conselhos de Saúde são órgãos colegiados, de 
caráter permanente e deliberativo, formados por representantes do governo, dos prestadores de 
serviço,  profissionais  da  saúde  e  usuários  (BRASIL,  1990).  A  Lei  Federal  n.o  8.142/1990 
(BRASIL, 1990), que dispõe sobre o controle social no SUS, coloca que os conselhos atuam na 
formulação e controle das políticas públicas de saúde, e a Resolução do Ministério da Saúde n.º 
333/2003 (BRASIL, 2003) inclui, dentre suas responsabilidades, a deliberação sobre programas 
de saúde. Portanto, para que uma política de saúde tenha legitimidade e visibilidade, precisa 
passar  pelo  processo  de  análise  e  aprovação  pelo  Conselho  de  Saúde.  Transpondo  este 
entendimento para o objeto desta pesquisa, os protocolos municipais voltados à garantia do 
DHAA aos usuários em NED precisam ser legitimados por meio de aprovação nos Conselhos 
de Saúde. 
4.4 Implementação 
Nesta fase, o governo realiza sua função de executor das políticas, utilizando-se de 
instrumentos da política pública para enfrentar o problema público anteriormente identificado. 
16 
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São vários os instrumentos que visam a implementação da política pública, como arcabouços 
legais regulamentários, incentivos fiscais, transferência de renda, prestação de serviços etc. 
(SECCHI, 2013). Nesta pesquisa, a implementação de uma política pública municipal, como 
um protocolo, aos usuários em NED pode ser considerada um instrumento do tipo prestação de 
serviços públicos de saúde.  
Mesmo quando o problema enfrentado está evidente, o objetivo da política está bem 
definido e suas alternativas bastante estudadas, é comum (e frustrante) que políticas públicas 
não se concretizem conforme o planejado. Isto pode acontecer por diferentes fatores, como falta 
de habilidade administrativa organizacional, presença de interesses políticos contrários ou falta 
de legitimidade (SECCHI, 2013). Considerando que a legitimidade é uma das condições para 
o sucesso de uma política, foram considerados como na Fase de Implementação os municípios 
que tiveram seus protocolos municipais para os usuários em NED aprovados pelos Conselhos 
Municipais de Saúde. 
Dos municípios entrevistados, cinco (um de pequeno porte, três de médio porte, um de 
grande porte) foram categorizados nesta fase. A média de usuários em NED atendidos por estes 
municípios variou de 7 a 30 usuários ao mês. Todos os municípios relataram que não tiveram 
dificuldades para a aprovação do protocolo no Conselho de Saúde. No entanto, muitas vezes a 
atuação do Conselho Municipal de Saúde se restringe a uma prática burocratizada, que não 
garante o efetivo controle social no âmbito das políticas de saúde (LANDERDHALI et al., 
2010). 
O estudo conduzido por Landerdhali et al. (2010) revela que nem sempre a aprovação 
pelo  conselho  de  saúde  garante  que  a  política  pública  proposta  tenha  sido  analisada 
detalhadamente pelos conselheiros, e não significa que a aprovação trouxe a visibilidade destas 
ações para a população geral. Alinhado a este achado, ao serem questionados se as informações 
sobre o protocolo estavam disponíveis para o público, todos os municípios negaram e quando 
interrogados sobre como o usuário poderia ter acesso ao protocolo, disseram que poderia ser 
solicitado  na  Unidade  de  Saúde,  Secretaria  de  Saúde  ou  Ouvidoria  Municipal,  conforme 
indicado pelo P10: “Ele pode ter acesso, mas ele não tem o conhecimento na verdade, a Unidade 
Básica que teria que informá-lo a respeito, não tem um lugar, como no site oficial da prefeitura, 
em que ele esteja exposto”. 
4.5 Avaliação 
A avaliação é a fase na qual os resultados da política pública serão analisados, para 
averiguar se houve (e quanto houve) redução do problema público (SECCHI, 2013). Nesta 
etapa é preciso definir critérios que forneçam parâmetros para o avaliador julgar o desempenho 
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de uma política (SECCHI, 2013). A partir da avaliação, os atores políticos podem decidir por 
manter a política do jeito que está, reestruturá-la para enfrentar adversidades advindas em sua 
implementação  ou  extingui-la  caso  o  problema  público  tenha  sido  sanado  ou  quando  os 
problemas em sua implementação não são superáveis (SECCHI, 2013). 
Segundo Secchi (2013), apesar de essencial, a avaliação dificilmente é realizada a rigor, 
com o monitoramento de indicadores de input e output, que representam respectivamente as 
entradas no sistema (recursos financeiros, humanos e materiais) e as saídas (produtividade de 
serviços e produtos). Há também os indicadores de resultado, que são relacionados à capacidade 
da política em resolver ou mitigar o problema identificado. A dificuldade em monitorar tais 
indicadores está na necessidade da constante produção e manutenção de dados, o que exige um 
esforço organizacional e administrativo. Outras vezes a dificuldade na avaliação da política está 
na  falta  de  clareza  do  seu  objetivo  ou  no  tempo  necessário  para  a  sua  maturação.  Há 
pesquisadores que defendem que os efeitos de uma política levam cerca de dez anos para serem 
passíveis  de  avaliação.  Por  fim,  a  apresentação  dos  resultados  também  é  um  obstáculo, 
comumente  as  apresentações  são  pouco  claras,  com  excesso  de  dados  e  linguagem  pouco 
acessível. 
Dos municípios avaliados, cinco se encontravam na Fase de Avaliação, caracterizada 
por municípios que dispunham de um protocolo municipal para usuários em NED aprovado 
pelo Conselho de Saúde e que passou por, pelo menos, uma atualização. Todos os municípios 
que faziam parte desta categoria eram de grande porte e atendiam entre 65 e 580 usuários em 
NED mensalmente. Para chegar na fase de avaliação, entende-se que as outras etapas já foram 
percorridas, ou seja, é esperado que os municípios que estejam nesta fase apresentem uma maior 
maturidade sobre o tema. Sendo assim, o fato de todos os municípios desta fase serem cidades 
de grande porte (acima de 40 mil habitantes) indica que o tamanho das cidades tem relação com 
uma maior capacidade político-administrativa da gestão da saúde, culminando em um processo 
mais adiantado de implantação de políticas públicas de saúde. 
O fato de o protocolo ter sido atualizado em algum momento foi considerado decisório 
para classificar o município na Fase de Avaliação, pois se considera que o ato de atualizar uma 
política é precedido da avaliação de seus resultados. Por exemplo, não há razões para realizar 
alterações em uma política pública se não forem identificadas necessidades de melhoria ou 
correções por meio de um processo avaliativo. No entanto, não significa que esta avaliação foi 
realizada com toda a complexidade desejada, com  indicadores e parâmetros que permitam 
avaliar com imparcialidade os resultados alcançados.  
“O protocolo foi instituído a primeira vez em 2013, teve uma atualização em 2015 e 
uma reestruturação dele novamente, e a gente tenta em no município pelo menos de 
dois em dois ou três em três anos fazer uma releitura deste protocolo, daí em 2018 a 
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gente  teve  alguns  apontamentos  de  alteração  e  agora  em 2020  com  a  entrada  da 
residência da federal, a gente pediu que elas relessem este protocolo e reestruturassem 
alguns apontamentos, tivemos a contribuição da professora da federal que fez uma 
leitura do protocolo e fez alguns apontamentos e a gente fez algumas alterações. Este 
protocolo sempre é aprovado no conselho de saúde, agora quando a gente terminar as 
alterações  ele  vai  ser  apresentado  de  novo  para  o  conselho  para  apresentar  as 
alterações e ter a aprovação do conselho.” P22 
O tempo médio percorrido entre a implantação do protocolo municipal e sua última 
atualização foi de cinco anos nos municípios identificados nesta fase. As atualizações foram 
motivadas,  majoritariamente,  pela  necessidade  de  alterar  os  critérios  de  fornecimento  de 
fórmulas  enterais  comerciais  para  usuários  em  NED  e  a  inclusão  de  formulações  enterais 
elaboradas com alimentos visando maior economicidade (razão de custo-benefício da política 
pública).  
“A gente atendeu por muito tempo no município com dieta industrializada parcial, 
isto antes da atualização do protocolo, então acho que faz três anos que incluímos a 
dieta semiartesanal no protocolo [...] e daí garantimos 100% das calorias do paciente.” 
P21 
 A Figura 2 apresenta a frequência que cada motivação foi citada pelos entrevistados 
dos  municípios  que  construíram  seus  protocolos  para  os  usuários  em  NED,  e  a  Figura  3 
apresenta quantas vezes cada mudança foi citada pelos entrevistados dos municípios. 
Figura 2 – Motivações dos municípios para a construção do protocolo 
Fonte: Dados da pesquisa (2022). 
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Figura 3 – Mudanças percebidas após a construção do protocolo 
Fonte: Dados da pesquisa (2022). 
Dos  29  municípios  avaliados  nesta  pesquisa,  17  construíram  políticas  e  arranjos 
institucionais voltados à garantia do DHAA aos usuários em NED. Para analisar de forma 
qualitativa  os  resultados  alcançados  com  a  elaboração  dos  protocolos  municipais,  foram 
comparadas quais foram suas motivações e as mudanças percebidas após sua construção. 
A motivação mais citada (n=10) pelos municípios foi o aumento da demanda de usuários 
em NED, exigindo maior organização da RAS para garantir o DHAA a estes usuários. Este 
aumento de usuários em NED é esperado em todo o mundo, devido à crescente longevidade da 
população e aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis que podem gerar sequelas 
como a inabilidade de se alimentar por via oral. 
“[...] já existia uma demanda de pacientes necessitando deste atendimento só que não 
existia  nada  formalizado  ou  regulamentado  no  SUS,  então  até  hoje  né  todos  os 
municípios funcionam com um funcionamento municipal desta atenção né, não tem 
alguma coisa federal, que veio do  federal pro  (sic) estadual e  daí se implantou no 
municipal, a demanda veio local mesmo que era do município. E com a demanda, que 
não era um único paciente exclusivo, eram vários pedidos que começaram a surgir, 
precisou se criar uma organização né, um fluxo, uma normatização de como atender 
este usuário.” P21 
Alinhado a esta motivação, dois municípios citaram a necessidade de prever um fluxo 
para a atenção nutricional dos usuários em NED. O estabelecimento de fluxos de atendimento 
permite  que  profissionais  de  diferentes  níveis  de  atenção  (atenção  básica,  especializada  e 
hospitalar) atuem de forma ordenada, e garante que o processo de trabalho tenha continuidade 
apesar da rotatividade de profissionais. 
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“Essa parte de terapia nutricional ficava um pouco a desejar no meu ponto de vista 
assim, então ficava muito solto né, eu não conseguia criar fluxo, as unidades básicas 
não se envolviam [...] o meu pensamento do protocolo era criar fluxo e poder orientar 
e acompanhar as pessoas de uma maneira mais organizada. Para que eu também não 
me perdesse e conseguisse organizar o meu trabalho, até nessa questão que uma hora 
eu estava, outra hora eu não estava, então pelo menos quem viesse após conseguisse 
também seguir aí no trabalho.” P10 
A  principal  motivação  para  construção  de  políticas  públicas  é  a  percepção  de  um 
problema público (mas há também outras motivações, como a política), neste caso, o aumento 
da demanda de usuários em NED e a necessidade de organizar a atenção nutricional foram 
identificados como problemas passíveis de resolução ou redução por meio de uma política 
municipal.  Como  não  há  uma  legislação  federal  ou  estadual  no  Paraná  que  oriente  o 
funcionamento  desta  rede,  somente  os  municípios  que  construíram  seus  protocolos, 
caracterizados nesta  pesquisa  como  um  arranjo  institucional  e  política  municipal,  têm  seu 
funcionamento estabelecido, o que permite organizar fluxos de atendimento e dispensação de 
insumos, fortalecendo a atenção à saúde destes usuários.  
Como  previsto,  após  a  construção  do  protocolo,  oito  municípios  observaram  uma 
melhoria da organização da RAS aos usuários em NED, e quatro identificaram o fortalecimento 
do acompanhamento nutricional destes usuários. E como esperado, estas mudanças tiveram 
impacto na satisfação dos usuários, como observado por um município por meio da redução do 
número de reclamações registradas na Ouvidoria por usuários em NED e seus familiares. 
“Eu  acredito  que  com a implantação nós tivemos vários pontos positivos, como a 
contratação de mais nutricionistas no serviço, o acompanhamento mais próximo ao 
paciente, mais contínuo, o acompanhamento, avaliação domiciliar do paciente para 
ver  toda a questão  tanto de medidas  antropométricas  como  avaliação  qualitativa  e 
quantitativa da dieta, e assim eu acredito que a tendência da utilização do protocolo 
ela torna o atendimento muito mais completo, mais qualificado.” P22 
A garantia do uso racional dos recursos públicos foi citada por três municípios como 
sendo uma motivação para a realização do protocolo. Considerando que os recursos da saúde 
são escassos, a necessidade de otimizar sua utilização é uma constante e faz parte do princípio 
da eficiência da administração pública: “[…] reduzir custos e aumentar a qualidade dos serviços, 
tendo o cidadão como beneficiário” (CAMARGO; GUIMARÃES, 2013, p. 134). Desde modo, 
a redução dos custos com as ações e serviços de saúde é um importante motivador para a 
implantação  de  políticas  públicas  e  arranjos  institucionais  que  regulem  o  acesso  a 
medicamentos  e  insumos  dispensados  para  os  usuários.  Isto  não  significa  prejudicar  o 
atendimento  ao  usuário,  pelo  contrário,  garante  que  aqueles  que  necessitam  não  fiquem 
desamparados,  evitando  que  os  recursos  sejam  dispendidos  para  aqueles  que  não  têm  a 
necessidade. No contexto da NED, podemos entender esta problemática quando municípios 
21 
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adotam a prescrição de formulações enterais elaboradas com alimentos para os usuários em 
NED que não apresentam contraindicações para seu uso,  garantindo assim recursos para a 
compra  de  fórmulas  enterais  comerciais  para  aqueles  que  precisam  deste  insumo  (como 
usuários com condições de saúde que exigem fórmulas especializadas, como doenças renal, 
hepática ou disabsortiva, ou aqueles que não têm condições socioeconômicas para elaborar as 
formulações caseiras). 
“A  ideia  principalmente  de  utilizar  as  dietas  moduladas  para  pacientes  que  usam 
alimentação via sonda era por conta do custo elevado que estava representando para 
o município, o recurso que estava sendo investido no fornecimento de dieta 100% 
industrializada.  Então  como  o  fornecimento  ele  é  financiamento  só  com  verba 
municipal, eles determinaram um teto, um limite de gastos na época, e ia ter que se 
virar  com  aquilo.  Então  como  não  era  um  valor  suficiente,  aí  foi  se  estudar  essa 
possibilidade de usar dieta modulada [...]. E aí acabou culminando neste protocolo 
com as dietas enterais por conta do recurso.” P12 
Após construção dos protocolos municipais, seis municípios perceberam redução dos 
custos  a  partir  da  inclusão  de  formulações  enterais  elaboradas  com  alimentos  na  atenção 
nutricional  dos  usuários  em  NED,  dois  municípios  relataram  melhoria  no  controle  de 
dispensação dos insumos e fórmulas enterais e um município observou redução no custo com 
as fórmulas enterais comerciais após a padronização dos produtos. Nos municípios que não 
dispõem de um protocolo para organização da RAS aos usuários em NED, é comum adquirir 
os  insumos  prescritos  por  meio  de  compra  direta,  uma  vez  que  não  há  padronização  dos 
produtos e previsão anual de compra para subsidiar a realização de uma licitação. A compra 
direta pode culminar em preço mais alto do produto, haja vista que é realizada em situações 
emergenciais, onde a necessidade do produto permite a dispensa da licitação, desde que o gasto 
seja inferior a R$ 50.000,00 (BRASIL, 2021). Deste modo, a implantação de protocolos pode 
auxiliar na redução do custo com insumos e materiais por meio da padronização dos produtos 
e compra  por  licitação.  Todos  estes  resultados atendem  ao objetivo  da  política  pública  de 
garantir o uso racional dos recursos públicos citado por três municípios. 
“Não  tinha  lista  nenhuma  padronizada,  mas  a  gente  comprava.  E  assim,  nos  anos 
anteriores a gente tinha valores de licitação que eram exorbitantes assim. E aí quando 
a  gente  criou  o  programa, padronizou  as  fórmulas  que  seriam  fornecidas,  a  gente 
esperava que este valor de licitação seria alto também, só que para nossa surpresa 
quando a gente elaborou o edital e fez a pesquisa de preços e a gente usou banco de 
preços, usou os preços das distribuidoras, fez a média, na disputa da licitação este 
valor caiu... E aí quando a gente padronizou ficou mais fácil e o custo caiu também. 
Antes  do  protocolo  eram  feitas  compras  diretas,  por  exemplo  o  paciente  tinha 
prescrição do Trophic®, aí a gente ia lá e fazia a compra direta daquele Trophic® para 
atender aquele paciente [...]. A gente não tinha esse controle, toda vez a gente tinha 
que  fazer uma compra direta, então  quando  a gente padronizou facilitou porque a 
gente conseguia um volume maior de compra e o valor também caiu.” P11 
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Luna Rezende Machado de Sousa, Maria Eliana Madalozzo Schieferdecker e Rafael Gomes Ditterich 
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O princípio de equidade, que significa atender de forma desigual aos desiguais para 
promover  igualdade  de  acesso  e  oportunidades  (MINISTÉRIO  DA  SAÚDE,  2018),  foi 
identificado no relato de dois municípios. Esta noção vai de encontro à motivação anteriormente 
citada, do uso racional do dinheiro público, haja vista que ele deve ser orientado pelo princípio 
da equidade. Quando se implanta um protocolo que prevê critérios para o fornecimento de 
determinado insumo (como as fórmulas enterais comerciais) de acordo com a real necessidade 
do usuário, evita-se que o fornecimento seja orientado por motivações como influência política 
e até mesmo os casos de judicialização. Isto é importante, uma vez que a judicialização por 
muitas vezes pauta sua decisão no princípio da universalidade e integralidade em detrimento da 
equidade, ou seja, exigindo o fornecimento do insumo para todos que o demandam, sem analisar 
se  atendem  aos  critérios  de  distribuição  pautados  na  equidade.  Não  obstante,  evitar  a 
judicialização em  saúde  foi  citado  por  um  município  como  motivação  para  construção  do 
protocolo. 
“Também  a  gente  viu  a  questão  de  adequar  critérios  para  que  todo  mundo  possa 
receber de forma a cumprir as adequações do SUS de equidade, de todo esse âmbito 
da legislação [...]. A necessidade desse protocolo também é para que o nosso serviço 
corresponda de forma que evite ministério público de forma excessiva, que a gente 
tenha  embasamento  científico  tudo,  então  muitos  poucos  casos  a  gente  recebe  de 
ministério público devido a base do protocolo estar bem estabelecido.” P22 
Positivamente, oito municípios citaram que os protocolos garantiram maior equidade e 
justiça distributiva dos insumos e dietas enterais. Diferente do conceito de justiça absoluta, que 
considera  a  igualdade  absoluta  na  distribuição  de  bens  (pode-se  aqui  fazer  alusão  à 
universalidade), a justiça distributiva prevê a igualdade proporcional baseando-se no mérito ou 
necessidade do indivíduo (assemelhando-se ao conceito de equidade) (SAMPAIO; CAMINO; 
ROAZZI, 2009). 
“No tocante à organização desta RAS, com a padronização do fluxo de atendimento, 
garantia de maior equidade e justiça distributiva. Porque sem protocolo você fica sem 
parâmetro  pra  (sic)  distribuição,  então  acaba  dando  suplemento  que  às  vezes  não 
precisa ou não fazendo avaliação necessária, então com certeza o protocolo ajudou 
muito nessa manutenção de gastos, nesta estimativa que a gente consegue ter.” P21 
Garantir a equidade e justiça distributiva dos insumos também demanda a compreensão 
por parte dos usuários de que os recursos são finitos e, por isto, é preciso estabelecer critérios 
que  priorizem  aqueles  que  mais  necessitam.  O  estabelecimento  de  protocolos  parece  ter 
auxiliado esta compreensão dos usuários, como citado abaixo: 
“[...]  mudou  também  em  relação  ao  paciente  ele  saber  que  ele  tem  uma 
obrigatoriedade também para ele solicitar algo né, que o SUS sim ele é universal, mas 
ele também tem que saber que tem limitações, que tem que ter regras, que tem que ter 
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Luna Rezende Machado de Sousa, Maria Eliana Madalozzo Schieferdecker e Rafael Gomes Ditterich 
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compreensão também em relação a que a gente não pode estar fornecendo tudo porque 
nem tudo é possível.” P03. 
Para além dos usuários, é preciso que o Poder Judiciário também compreenda que o 
fornecimento de insumos para os usuários em NED deve ser orientado por parâmetros clínicos 
e critérios socioeconômicos. O estabelecimento destas condições para fornecimento de insumos 
por meio de protocolos parece contribuir para o entendimento de Juízes e Promotores, como 
relatado pelo município: 
“A  organização  e  a  formulação  do  protocolo,  do  fluxo,  reduziram  as  demandas 
judiciais, hoje até vem alguns questionamentos, mas não a imposição de que tem que 
ser  dieta  comercial,  mas  questionando  por  que  que  não  é  fornecido  a  quantidade 
prescrita. Então vem mais como uma pergunta e a gente responde como que funciona 
o  fluxo,  que  existe  uma  normativa,  uma  organização,  então  a  gente  consegue 
responder.  Se  a  gente  não  tivesse  essa  organização  a  gente  teria  que  fornecer,  só 
fornecer.” P21 
Curiosamente, um município disse que a motivação para a elaboração do protocolo foi 
uma  solicitação  realizada  pelo  Ministério  Público.  Verifica-se,  assim,  o  entendimento  dos 
Promotores  quanto  a  necessidade  do  estabelecimento  de  políticas  públicas  e  arranjos 
institucionais para o fortalecimento da atenção à saúde. 
Quando se inicia um novo serviço de saúde, é comum que a grande procura por parte 
dos usuários surpreenda os trabalhadores e gestores, porque a falta de um serviço não significa 
a inexistência da necessidade para tal, podendo haver uma demanda reprimida desconhecida 
pelos  gestores  e  profissionais  do  SUS.  Então,  apesar  de  a  implantação  de  um  protocolo 
contribuir  para  o  uso  racional  do  dinheiro  público  e  possível  redução  dos  custos  com 
determinado serviço de saúde, pode, também, levar a um aumento da demanda, contribuindo 
para com o aumento do gasto com o serviço de saúde em questão. Neste sentido, quando o 
município não possui uma política municipal que preveja os critérios para fornecimento de 
fórmulas enterais comerciais e o acompanhamento nutricional dos usuários em NED, não é de 
conhecimento dos usuários que exista este serviço, pois não há um fluxo instituído. Uma vez 
que  o  município  decide  por  implantar  um  protocolo  para  ordenar  esta  RAS,  a  demanda 
reprimida pode ocasionar em uma grande procura pelo serviço e, com isto, um aumento do 
gasto com estes atendimentos. Esta situação foi observada por um dos municípios: 
“[...] às vezes quando você não fornece algo, você não sabe qual é a sua real demanda, 
e  aí  quando  você  começa  fornecer  ou  a  instituir  um  programa,  aí  que  você  vai 
realmente ver qual que é a sua demanda. Aí neste "saber o real" é que vai ter esse 
aumento né, que às vezes o que o gestor não espera, mas é o aumento da demanda, né, 
então  a  demanda  aumentou  bastante  assim. Até  porque  talvez  a  gente  não  estava 
fornecendo  da  maneira  correta,  então  uma  parcela  da  população  não  estava  sendo 
assistida e passou a ser assistida e aí teve esse aumento meio repentino da demanda, 
que a gente achava que não existia né, quando a gente instituiu a gente pensou 'vamos 
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Luna Rezende Machado de Sousa, Maria Eliana Madalozzo Schieferdecker e Rafael Gomes Ditterich 
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instituir para que as pessoas que já estão recebendo sejam assistidas da maneira correta 
né' só que a gente não imaginava que tinha uma demanda represada lá pra trás que a 
gente não tinha noção, então foi meio que pego de surpresa assim.” P11 
A análise das motivações e impactos da construção das políticas e arranjos institucionais 
voltados à garantia do DHAA aos usuários em NED nos municípios apresentou indícios de sua 
eficácia, ou seja, que produziu o efeito esperado. A falta de indicadores mensuráveis dificulta a 
avaliação aprofundada dos protocolos municipais analisados, mas as a análise das entrevistas 
permitiu  a  identificação  de  muitos  aspectos  positivos  observados  pelos  gestores  após  sua 
implantação. 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O modelo do ciclo de políticas públicas, apresentado por Lasswell e posteriormente 
adaptado por vários pesquisadores, como Howlett e Ramesh, possibilita a compreensão das 
fases que compõem o processo de implantação das políticas públicas. A despeito das críticas a 
este modelo, que apontam para um excesso de racionalidade, ele tem sido amplamente aplicado 
no  campo  das  ciências  políticas  como  ferramenta  para  a  compreensão  das  características 
distintas de cada estágio do processo de construção das políticas públicas. 
Para analisar as políticas e arranjos institucionais voltados à garantia do Direito Humano 
à Alimentação Adequada (DHAA) aos usuários em Nutrição Enteral em Domicílio (NED) nos 
municípios da 2ª RS do Paraná à luz do ciclo de políticas públicas, os gestores de saúde dos 
municípios foram questionados sobre a identificação do problema público e a existência de um 
programa ou protocolo municipal para o seu enfrentamento. Por meio do método qualitativo da 
análise de conteúdo proposto por Bardin (2016), as respostas dos entrevistados foram usadas 
como proxies para identificar em qual etapa do ciclo de políticas cada município se encontrava. 
Esta análise destacou a heterogeneidade da região, apesar de localizados em uma mesma 
regional de saúde, que compartilha características sociodemográficas e indicadores de saúde, 
os 29 municípios apresentaram grandes discrepâncias no tocante à sua posição dentro deste 
ciclo. Enquanto sete municípios ainda não tinham passado pelo processo de identificação do 
problema público, e por isto ainda não estavam inseridos no ciclo da política, cinco municípios 
apresentavam maior maturidade neste campo e se encontravam na fase de avaliação da política 
implantada.  
Apesar de 17 municípios demonstrarem ter um protocolo voltado à organização da RAS 
para  a  garantia  do  DHAA  aos  usuários  em  NED,  somente  dez  deles  tinham  legitimado  a 
implantação desta política por meio da aprovação do Conselho de Saúde e apenas cinco haviam 
realizado uma avaliação dos resultados da sua implantação. O fato de elaborar um protocolo 
municipal e utilizá-lo para reorientar o funcionamento da RAS não garante a implantação de 
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uma política  pública,  é  preciso  que  ele  seja  avaliado  e  aprovado  pelo  Conselho  de  Saúde 
(representando o controle social), condição essencial para a implantação das políticas públicas 
na área de saúde. 
A avaliação das políticas públicas depende da clareza de seus objetivos e se beneficia 
com a definição de indicadores mensuráveis coletados sistematicamente. Nesta pesquisa, não 
foi possível realizar uma avaliação quantitativa do impacto das políticas construídas nos 17 dos 
29  municípios  entrevistados,  devido  à  carência  de  objetivos  concretos  e  indicadores  de 
monitoramento. Nestes casos, a avaliação da política pode ser realizada de forma subjetiva, com 
vistas a compreender se seus resultados vão ao encontro de seus objetivos. Comparando as 
motivações  para  a  construção  das  políticas  municipais  voltadas  à  garantia  do  DHAA  aos 
usuários em NED, com as mudanças observadas após sua elaboração, concluiu-se que estas 
políticas produziram o efeito esperado. Em suma, foram observados pelos gestores municipais 
os seguintes resultados: fortalecimento da RAS aos usuários em NED, com garantia de maior 
equidade e justiça distributiva dos insumos e fórmulas enterais, redução de custos com os 
atendimentos, diminuição da judicialização em saúde e maior satisfação do usuário. 
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