ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO, VALOR DE MERCADO E
IMPACTOS AMBIENTAIS DA EMPRESA VALE S/A
ANALYSIS OF FINANCIAL PERFORMANCE, MARKET VALUE AND
ENVIRONMENTAL IMPACTS OF THE COMPANY VALE S/A
MILENA PEREIRA
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO)
E-mail: miih-pereira@hotmail.com
MARINÊS TAFFAREL
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO)
E-mail: mtaffarel@unicentro.br
GELSON MENON
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO)
E-mail: gmenon@unicentro.br
RESUMO
O presente estudo analisou de forma longitudinal o desempenho financeiro, o valor de mercado e os impactos
ambientais da empresa Vale S/A. A pesquisa apresenta abordagem descritiva, bibliográfica e documental, visto
que foram utilizados os demonstrativos e os preços das ações da empresa, para extrair os dados relativos ao
desempenho financeiro e os investimentos socioambientais. Na análise foram aplicados indicadores contábeis e
de mercado, assim como a descrição das ações relacionadas às práticas de responsabilidade ambiental da
empresa, que foram retiradas dos relatórios de sustentabilidade da Vale S/A. O período de análise compreendeu
os anos de 2011 a 2019. Os resultados da pesquisa mostraram crescimento de dívidas relacionadas aos acidentes
ambientais da empresa, notadamente o de Mariana em 2015, aliados a margem líquida negativa e desempenho
financeiro decrescente no período. Conclui-se que o acidente ambiental impactou negativamente as finanças da
empresa, assim como o seu valor de mercado.
Palavras-chave: Evidenciação contábil; Desempenho econômico-financeiro; Sustentabilidade; Vale S/A.
ABSTRACT
This study aims to longitudinally analyze the financial performance, market value and environmental impacts of
the company Vale S/A. The research presents a descriptive, bibliographic and documentary approach, since the
company´s statements and stock prices were used to extract the relative data financial performance and socio-
environmental investments. Accounting and market indicators were applied for the analysis, as well as the
description of the actions related to the company's environmental responsibility practices, which were taken from
the sustainability reports from Vale S/A. The analysis period included the years 2011 to 2019. The survey results
showed an increase in debts related to the company's environmental accidents, notably Mariana's in 2015,
combined with negative net margin and decreasing financial performance in the period. It is concluded that the
environmental accident negatively impacted the company's finances, as well as its market value.
Keywords: Accounting disclosure; Economic-financial performance; Sustainability; Vale S/A.
Revista de Estudos em Organizações e Controladoria-REOC, ISSN 2763-9673, UNICENTRO, Irati-PR, v. 2, n. 1, p. 88-106, jan./jun., 2022.
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1 INTRODUÇÃO
A Companhia Vale do Rio Doce foi fundada em primeiro de junho de 1942, pelo
Presidente do Brasil, Getúlio Vargas. Sua criação ocorreu por meio do Decreto-Lei
4352/42, o qual a estabeleceu como uma empresa estatal brasileira. Em maio de 1997, a Vale
do Rio Doce foi privatizada por R$ 3 bilhões, com financiamento subsidiado disponibilizado
aos compradores pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Após a desestatização a empresa passou a ser denominada Vale S/A, uma organização privada
e de capital aberto, constituindo suas ações no mercado brasileiro, cujas negociações ocorrem
na Brasil, Bolsa, Balcão (B3).
Na atualidade a Vale S/A é uma mineradora multinacional brasileira, considerada uma
das maiores operadoras de logística do país, inclusive das empresas da indústria de mineração
e metais do Brasil e do mundo. A companhia é líder mundial na produção e comercialização
de minério de ferro e pelotas, além de possuir as maiores reservas de níquel do planeta
(VALE, 2019).
Em março de 2019 o valor estimado de mercado da Vale S/A somava
aproximadamente de R$ 101,1 bilhões. No ano de 2018 a empresa obteve receita bruta de R$
134 bilhões e lucro líquido de R$ 25 bilhões (B3, 2019). Apesar de sua expressividade
econômica e financeira, nos últimos anos a empresa teve sua imagem abalada, mediante
desastres ambientais nas cidades de Mariana e Brumadinho, situadas no estado de Minas
Gerais. Os referidos casos geraram grande repercussão mundial, pois ocasionaram centenas de
mortes e desaparecimentos em meio aos rejeitos de mineração (SOUSA NETO, 2019).
Os fatores das tragédias ambientais colocam em evidência a Responsabilidade Social
Corporativa (RSC) e ambiental das grandes corporações, especialmente de empresas que
apresentam elevada potencialidade de impactos ambientais, como é o caso da Vale S/A.
Degenhart, Vogt e Hein (2018) afirmam que em relação à RSC, as empresas devem
se atentar não apenas ao lucro, mas também, para o desenvolvimento social, visando uma vida
saudável e tomando medidas voluntárias para beneficiar o meio ambiente. Devido a isto, as
empresas começaram a dar maior atenção às necessidades da sociedade, tendo em vista os
interesses, em relação aos problemas com o meio ambiente.
Diante do exposto, a presente pesquisa se propõem a analisar o desempenho
financeiro, o valor de mercado e os impactos dos acidentes ambientais da empresa Vale S/A
ao longo dos anos. Para tal, foram aplicados indicadores contábeis e de mercado, assim como
a descrição das ações relacionadas às práticas de responsabilidade ambiental da companhia,
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que foram extraídos dos relatórios de sustentabilidade da Vale S/A.
Assim, torna-se relevante a adequação da inclusão das informações ambientais nos
relatórios contábeis. Bem como, sua divulgação, para que os vários grupos de usuários
avaliem a preocupação da empresa com seu papel social, posicionamento em relação ao
ambiente, formulando e executando ideias, atitudes e condutas que promovam melhorias no
curto e longo prazo, as quais se refletirão na imagem da empresa e em sua situação
patrimonial (BERTOLI; RIBEIRO, 2006).
A relevância teórica e prática do estudo se assenta na construção e revisão de
pesquisas relacionadas ao tema, especialmente no que se refere ao desempenho financeiro, e
responsabilidade social corporativa das empresas. Como contribuição social, a pesquisa pode
clarificar os possíveis impactos de acidentes ambientais no desempenho econômico-financeiro
e nas práticas contábeis da empresa Vale S/A, além da evolução de seus passivos ambientais e
divulgação de relatórios de sustentabilidade.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Nesta seção é apresenta-se contextualização quanto a Responsabilidade Social
Corporativa (RSC), especialmente no que se refere a evolução história e importância no
contexto atual das organizações. Também, aborda-se procedimentos de análise de
desempenho financeiro e quanto ao valor de mercado das empresas.
2.1 Responsabilidade social corporativa
Os estudos seminais relacionados a Responsabilidade Social Corporativa (RSC) foram
desenvolvidos a partir da década de 1930. No entanto, a temática foi consolidada no meio
acadêmico após 1950, especialmente com a pesquisa Bowen (1953) que ficou conhecido
como o pai da RSC, impulsionando a temática na área empresarial (CARROLL, 1979). Nas
últimas décadas a RSC apresentou popularidade e vêm sendo alvo de crescente atenção dos
reguladores, empresários, investidores e várias outras partes interessadas (GAO; LISIC;
ZHANG, 2014).
Todo o alicerce da RSC é construído a partir da visão de que a empresa, por ser um
agente econômico se torna também um agente social e, sua atividade deve proporcionar bem-
estar para a sociedade (PINTO; RIBEIRO, 2004). Assim, as ações da RSC podem estar
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relacionadas a diversos aspectos, como aqueles voltados ao meio ambiente, projetos
filantrópicos ou educacionais, planejamentos comunitários, serviços sociais, oportunidades de
emprego de forma igualitárias, além de apresentarem conformidade aos interesses públicos.
Portanto, a RSC representa o compromisso com a ideia de organização como conjunto de
pessoas que interagem com a sociedade. Assume o princípio de que as organizações têm sua
origem e seus fins essenciais nas pessoas, as quais se organizam e se dispõem em diversos
grupos de interesses, com peculiaridades e distintos tipos de relação.
Segundo Degenhart, Vogt e Hein (2018), a Responsabilidade Social Corporativa tem
sido objeto de discussão no meio empresarial. É retratada como uma estratégia que pode
contribuir para o desempenho econômico-financeiro das organizações, como respostas das
pressões institucionais, um discurso de marketing, ou como uma atividade após os lucros. Os
autores destacam que tais pressões sobre as empresas cresceram nas últimas três décadas,
aumentando a atenção para a responsabilidade social corporativa e o desempenho das
empresas.
A relação entre RSC e o desempenho das empresas inclui três mediadores em suas
relações: a vantagem competitiva sustentável, a reputação e a satisfação do cliente. O efeito
positivo da RSC no desempenho das organizações deve-se ao efeito favorável que a mesma
obteve com seus mediadores, pois o objetivo das empresas é alcançar um nível mais elevado
de benefícios financeiros, então a obtenção de uma vantagem competitiva sustentável
desempenha um papel fundamental na realização desse objetivo. Á vista disto, o propósito de
muitos métodos de negócios é alcançar uma vantagem competitiva sustentável (SAEIDI et al.,
2015).
Para Saeidi et al. (2015) a RSC tenta construir uma boa posição para as empresas em
um mercado competitivo, pois o maior nível de vantagem competitiva permite que a
organização crie valor superior para seus clientes. Por sua vez, a criação de valor superior
para os clientes e a obtenção de um nível mais elevado de satisfação, potencializam a
lucratividade das empresas, por meio da obtenção de um maior nível de vantagem
competitiva.
A importância da RSC decorre do interesse da empresa em integrar as questões sociais
para garantir o desenvolvimento sustentável. Esse processo é fundamentado na crença de que
realizar ações de RSC proporciona uma melhor avaliação da atividade e, portanto, uma
melhoria do desempenho corporativo no longo prazo. As organizações que tratam questões
ambientais podem afetar a comercialização de seus produtos e sua posição competitiva, bem
como seu desempenho financeiro (SAEIDI et al., 2015). Pelo fato, de suas atividades
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empresariais interagirem diretamente com a natureza, alterando sua forma original e suas
condições.
Neste aspecto, Degenhart, Vogt e Hein (2018) destacam que uma abordagem
estratégica quanto a RSC é cada vez mais importante, devido ao cenário de competitividade
das organizações. Além deste fato, a RSC nas últimas décadas vem sendo cobrada pela
sociedade por ações que promovam o bem-estar social, exigindo respostas aos problemas
socioeconômicos e ambientais do país.
Os impactos ambientais desempenham papéis cruciais no contexto das organizações.
Esses problemas são reflexos diretos das explorações dos meios naturais pela busca cada vez
maior de crescimento e desenvolvimento econômico. Porém, a preocupação com o meio
ambiente tem uma relevância cada vez maior para as empresas. Para Kronbauer e Silva
(2012), empresas com interesse em evidenciar questões ambientais em seus demonstrativos
financeiros representam seu grau de responsabilidade perante a preservação do meio
ambiente, assim como, o seu comprometimento junto a sociedade ao revelar os impactos
ambientais decorrentes de sua atividade.
As organizações que tratam questões ambientais podem afetar a comercialização de
seus produtos e sua posição competitiva, bem como, seu desempenho financeiro (SAEIDI et
al., 2015). Pelo fato, de as atividades empresariais interagirem diretamente com a natureza,
alterando sua forma original e suas condições. Como é o caso dos impactos ambientais da
empresa Petróleo Brasileiro (PETROBRAS), o qual surgiu devido a inúmeros incidentes
ocorridos, que ocasionaram danos com consequências graves e, muitas vezes, irreversíveis ao
meio ambiente, à população e a própria empresa (BERTOLI; RIBEIRO, 2006).
Para a empresa Vale S/A, a RSC proporcionou notoriedade de mercado. De 2011 a
2015, a mesma constou na composição do Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI), que
aponta as empresas consideradas líderes mundiais em sustentabilidade empresarial, baseando-
se em critérios econômicos, ambientais e analisando o desempenho financeiro da empresa.
Porém, em 2016, por causa da tragédia acontecida na cidade de Mariana, Estado de Minas
Gerais, a empresa Vale S/A permaneceu afastada do Índice de Sustentabilidade Empresarial
(IES) e, até o presente momento, não foi mais listada (GONZALES, 2019).
2.2 Análise de desempenho financeiro e valor de mercado das empresas
As demonstrações contábeis são uma representação estruturada da posição patrimonial
e financeira e do desempenho da empresa (SILVA, 2017). Assaf Neto (2015) considera que a
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análise das demonstrações financeiras visa basicamente o estudo de desempenho econômico-
financeiro das empresas em determinado período do passado, para determinar, sua posição
atual e produzir resultados que sirvam de base para ocasiões futuras.
De acordo com Silva (2017), um investidor que pretende adquirir ações de
determinada empresa, necessita da análise para lhe fornecer uma expectativa de retorno sobre
seu investimento, assim como, internamente a empresa necessita conhecer os resultados
alcançados e avaliar seu desempenho. Desta maneira, ao publicarem suas demonstrações
financeiras, as empresas evidenciam seus desempenhos, visando atrair o interesse dos
investidores por suas ações, bem como informar aos credores a respeito de suas performances
e suas estruturas.
A partir das informações retiradas das demonstrações financeiras, os interessados em
algum aspecto particular da empresa, podem analisar diretamente as demandas informacionais
sobre as quais têm interesse. Por meio de uma seleção de índices é que ocorre a análise das
demonstrações financeiras, que conduzirá ao processo de tomada de decisões e avaliará o
desempenho das empresas (MORANTE, 2009; ZANATTA; CARLI; SCHONS, 2017). Os
índices financeiros permitem construir um quadro de avaliação das organizações, para se
adquirir mais conhecimento da mesma, sendo de suma importância interpretá-los
corretamente (MATARAZZO, 2010).
A análise das demonstrações financeiras mediante indicadores pode-se subdividir em
análise da situação financeira e análise da situação econômica. A financeira, envolve as
relações indicativas da capacidade de pagamento que as empresas apresentam em relação aos
seus credores, posicionando-os pela segurança ou não em receber seus créditos (indicadores
de estrutura de capital e liquidez); e a econômica, espelha os reflexos patrimoniais do
resultado obtido durante o tempo, indica se a empresa obterá recursos próprios pela sua
atividade empresarial (indicadores de rentabilidade) (MORANTE, 2009).
Os indicadores de estrutura de capital ou endividamento possuem o objetivo de avaliar
como a empresa está em relação à distribuição entre os capitais próprios e os capitais de
terceiro, se esta distribuição é adequada ou não financeiramente, e se possui capacidade de
cumprir com as despesas financeiras assumidas em longo prazo (MORANTE, 2009). Os
indicadores classificados neste conjunto são denominados de: Composição do Endividamento,
Imobilização do Patrimônio Líquido, Imobilização dos Recursos não Correntes e Participação
de Capitais de Terceiros (MATARAZZO, 2010).
Os índices de liquidez procuram evidenciar a capacidade de pagamento da empresa
em relação as suas dívidas. Em outras palavras, evidencia se empresa possui aptidão para
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cumprir com seus compromissos em curto e longo prazo, utilizando ou não de recursos
próprios (ZANATTA; CARLI; SCHONS, 2017). Os indicadores classificados neste grupo são
denominados de: Liquidez Geral, Liquidez Corrente, Liquidez Seca e Liquidez Imediata
(MORANTE, 2009).
Os índices de rentabilidade procuram identificar a remuneração do capital empregado
na entidade, ou seja, mostram qual a rentabilidade dos capitais investidos nas organizações
(MATARAZZO, 2010). Os indicadores deste grupo são classificados em: Giro do Ativo,
Margem Líquida, Rentabilidade do Ativo e Rentabilidade do Patrimônio Líquido
(MORANTE, 2009).
Como índice para a avaliação do Valor de Mercado das empresas, na presente
pesquisa foi utilizado o Market To Book. A relação (ratio) entre o valor de mercado de uma
empresa e seu valor patrimonial (valor de livro) é demonstrada na literatura como Price/Book
(quando se estuda os valores unitários das ações das empresas) ou como Market to Book
(MTB ou ME/BE) (SANT’ANNA et al., 2015).
O indicador de Market to Book é obtido por meio da divisão entre o Valor de Mercado
das Ações e do Valor Contábil das Ações, o resultado dessa relação representa o quanto uma
empresa é valorizada ou desvalorizada pelo mercado em relação ao seu valor contábil. Assim,
reconhece-se que o valor contábil pode não ser o mesmo que o considerado pelos seus
investidores. Quando for maior que 1, o mercado valoriza atributos que não estão registrados
na contabilidade; menor que 1 quando a contabilidade sobrevalorize o valor empresarial em
relação ao mercado; e igual a 1, quando o mercado enxerga o valor da mesma forma que o
registro contábil (CARVALHO et al., 2017).
3 METODOLOGIA
A pesquisa é classifica quanto aos objetivos como descritiva, ao relatar a situação
econômico-financeira da empresa Vale S/A, antes e depois dos desastres ambientais ocorridos
nas cidades do estado de Minas Gerais. Segundo Gil (2010), as pesquisas descritivas têm o
intuito de descrever as características de uma determinada população ou um fenômeno a qual
estabelece variáveis. Possui como objetivo, identificar, relatar e comparar os dados coletados.
Os procedimentos foram pesquisa bibliográfica e documental, visto que são utilizadas
as produções científicas relacionadas ao tema, bem como, os demonstrativos financeiros,
preço das ações da empresa Vale S/A como objeto da análise, no período de 2011 a 2019. Os
dados necessários para a análise foram coletados no site da Brasil, Bolsa e Balcão (B3).
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A abordagem das informações se configura como quantitativa, pois a realidade
temporal é observada em números. Para análise dos dados foram aplicados indicadores
financeiros de análise de desempenho, rentabilidade de ações e Market to Book, objetivando
verificar as relações entre crescimento, resultados financeiros e valor de mercado da empresa
Vale S.A. Os dados necessários foram coletados a partir das demonstrações contábeis.
Na presente pesquisa foram utilizados os indicadores que se dividem em análise da
situação financeira e análise da situação econômica. O Quadro 1 apresenta os indicadores
aplicados na pesquisa.
Quadro 1 - Indicadores econômico-financeiros e de mercado aplicados no estudo
Indicadores Fórmula Descrição
Liquidez Imediata (LI)
Disponível
PC
Indica a capacidade de pagamento de todo o passivo
circulante com os recursos disponíveis no momento da
análise.
Liquidez Seca (LS)
AC Estoques
PC
Indica o poder de pagamento de dívidas de curto prazo
da empresa.
Liquidez Geral (LG)
AC+RLP
PC +PNC
Indica a capacidade de a empresa pagar todos os seus
compromissos, frente à totalidade de suas dívidas.
Liquidez Corrente (LC)
AC
PC
Indica a capacidade de pagamento da empresa em
curto prazo, onde serão comparados os dados do ativo
circulante com as dívidas existentes no curto prazo.
Participação de Capital
de Terceiros (PCT)
PC+PNC
PL
Faz a relação das duas principais fontes de recurso da
entidade, o capital próprio e o capital de terceiros. Do
ponto de vista financeiro, quanto menor o resultado do
índice, menos a empresa depende de recursos de
terceiros.
Imobilização do Capital
Próprio (ICP)
Inv+Imob+Intag
PL
Indica que parcela do patrimônio líquido a empresa
aplicou em ativos de natureza permanente.
Composição do
Endividamento (CP)
PC
Exigível Total
Indica em percentual quanto à empresa está
comprometida com dívidas de curto prazo em relação
às obrigações totais.
Imobilização dos
Recursos não Correntes
(IRNC)
Inv+Imob+Intag
PNC+PL
Indica a relação entre os recursos próprios e os de
longo prazo, com as destinações a investimentos
permanentes no ativo.
Indica quanto à empresa recorreu em capitais de
terceiros, para cada unidade de capital próprio.
Rentabilidade do Ativo
(RA)
Indica a eficiência com que a empresa usa seus ativos
para gerar vendas. Indica o percentual de lucratividade
final, em relação às vendas totais. Indica a
lucratividade em relação às aplicações que destinou ao
ativo total.
Rentabilidade do
Patrimônio Líquido
(RPL)
Lucro Líquido
PL
Indica a lucratividade em relação aos capitais próprios,
posicionando os diante de investimentos alternativos.
Market to book
Valor de Mercado
Valor Contábil
Representa o quanto uma empresa é valorizada ou
desvalorizada pelo mercado em relação ao seu valor
contábil
Fonte: Adaptado de Morante (2009) e Matarazzo (2010).
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Adicionalmente foram analisadas as práticas de sustentabilidade extraídas dos
relatórios de sustentabilidade da empresa Vale S/A, no período de 2012 a 2019. Para esta
etapa da pesquisa, os relatórios foram analisados de forma qualitativa e assinalado
positivamente, quando a característica se mostrava presente nos referidos relatórios da
empresa.
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
A análise da evolução financeira da Vale S/A foi construída a partir dos
demonstrativos contábeis da empresa. No Gráfico 01 são destacados a evolução do
Investimento Total e do Capital Próprio da companhia, no período de 2011 a 2019.
Gráfico 1 – Evolução do investimento total e do capital próprio da Vale S/A – 2011 a 2019
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
0
100.000.000
200.000.000
300.000.000
400.000.000
500.000.000
600.000.000
143475406,592
152388195,584
148345805,824
146414675,968
131160209,408
127240522,752
143757534,208
170402628,096
161480311,296
241783111,68
266921639,936
291880304,64
309415510,016
345549438,976
322696151,04
328096710,656
341714862,08
369670324,224
Ativo Total Patrimônio Líquido
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
Ao analisar a evolução dos Investimentos Totais da empresa Vale S/A é possível
perceber crescimento financeiro de forma longitudinal. Porém, essa evolução não é
acompanhada ou financiada por meio do Capital Próprio da empresa. Isto indica aumento de
capital de terceiros nos ativos da empresa, ou seja, crescimento de dívidas, a partir de 2015.
O Gráfico 2 apresenta a evolução da Receita Líquida de Vendas e do Lucro/ Prejuízo
ano a ano da Vale S/A, em valores nominais. Ao analisar a evolução da Receitas/Despesas da
empresa Vale S/A é possível perceber que em relação ao ano de 2015, o resultado do período
apresenta prejuízo significativo, em mais de R$ 33 bilhões de reais quando verificado os
demonstrativos individuais da empresa e, mais de R$ 44 bilhões de prejuízo no resultado
consolidado, em decorrência à paralisação das operações, devido ao acidente com as
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barragens em Mariana (MG). No ano de 2016 o acidente ambiental causou aumento na conta
de Outras Despesas Operacionais que representam o reconhecimento dos gastos relacionados
às provisões sociais e ambientais para reparar os danos sociais e ambientais no montante de
R$ 572 milhões.
Gráfico 2 – Evolução da Receita e do Lucro da Vale S/A – 2011 a 2019
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
-20.000.000
-10.000.000
0
10.000.000
20.000.000
30.000.000
40.000.000
50.000.000
60.000.000
27137679,36
28755755,008
28626231,296
23151808,512
22681354,24
25591005,184
29827137,536
37455151,104
41018720,256
8354443,264
-5628452,864
-14867109,888
-4760434,176
-33154258,944
1573275,6482532775,936
14485278,72
-6406967,808
Lucro/Prejuízo do Período Receita Líquida de Vendas
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
Nota-se que no ano de 2015, como reflexo do acidente ambiental, o valor da receita
líquida se retraiu consideravelmente, mostrando-se o mais baixo valor em todos os períodos
analisados, o que acabou ocasionando também o maior prejuízo da empresa. Após o ano de
2015, a empresa passa a ter lucratividade, com aumento de suas receitas, porém com dívidas
elevadas relacionadas ao acidente ambiental.
Os índices de liquidez, Gráfico 3, procuram evidenciar a capacidade de pagamento da
empresa em relação as suas dívidas. Os indicadores mostram que a capacidade financeira da
Vale S/A em liquidar suas dívidas, no período analisado, entrou em declínio de forma
considerável, em todos os lapsos temporais de curto prazo, como pode ser observado na
evolução dos indicadores de liquidez seca e liquidez corrente da empresa, após o acidente
ambiental em Mariana (MG).
A liquidez corrente relaciona ativos circulantes e passivos circulantes, indicando a
capacidade da empresa saldar suas dívidas de curto prazo com recursos de curto prazo. Este
indicador apresentou até 2017 valores superiores a 1, ou seja, indica uma situação positiva.
A liquidez seca evidencia a capacidade de pagamento de curto prazo sem a
necessidade de a empresa se desfazer dos estoques a preço de liquidação. Este indicador
apresentou na maioria da série valores superiores a 1, ou seja, indica uma situação positiva,
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somente a partir de 2018 que a empresa apresentou um declínio de 41%, podendo ser o
reflexo de estoques excessivos.
Gráfico 3 – Evolução dos indicadores de liquidez da Vale S/A – 2011 a 2019
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
0,0000
0,5000
1,0000
1,5000
2,0000
2,5000
3,0000
Liquidez Geral Liquidez Corrente Liquidez Seca Liquidez Imediata
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
O indicador de liquidez geral confronta o total de recursos em relação ao total de
dívidas. Assim, este indicador mostra a capacidade de pagamento de longo prazo, seguindo o
mesmo padrão dos outros índices, o de liquidez geral se mantém estável na maior parte da
série, somente com um declínio no ano de 2014 e 2015.
Os indicadores de Estrutura de Capital constam do Gráfico 4. No ano de 2014, antes
do acidente ambiental, a empresa apresentava nível de Endividamento Geral de 0,51 e, um
coeficiente de participação de Capital de Terceiros (1,09). Esses indicadores apontam que a
empresa possuía uma política de Estrutura de Capital significativamente apoiada na utilização
de recursos de terceiros, principalmente por meio de empréstimos e financiamentos.
Gráfico 4 – Indicadores de estrutura da capital da Vale S/A – 2011 a 2019
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
0,0000
0,1000
0,2000
0,3000
0,4000
0,5000
0,6000
0,7000
Composição do Endivadamento Endividamento Geral
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
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Tamm um dos principais motivos para utilização de recursos de terceiros para
financiar as operações é percebido no índice de Imobilização de Capital Próprio (Gráfico 5),
que chegou a 1,61 em 2014 e 1,85 em 2015, característica de empresas que atuam em
segmentos que demandam elevados investimentos estruturais, como é o caso da empresa em
tela com atividades de mineração que exigem edifícios, instalações, maquinários,
equipamentos fabris e veículos de elevado porte e valor.
Gráfico 5 – Indicadores de imobilização da Vale S/A – 2011 a 2019
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
0,0000
0,2000
0,4000
0,6000
0,8000
1,0000
1,2000
1,4000
1,6000
1,8000
2,0000
Imobilização do Capital Próprio Imobilização de Recursos Não Correntes
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
Em relação ao indicador de Composição do Endividamento, pode-se perceber que as
dívidas da empresa se encontram majoritariamente no longo prazo, com o reconhecimento das
obrigações provenientes das provisões sociais e ambientais. A imobilização de recursos não
correntes mostra a porcentagem do ativo imobilizado em relação ao patrimônio líquido e
passivo não circulante da empresa. A evolução histórica deste indicador mostra diminuição ao
longo dos anos, explicada essencialmente pela redução do imobilizado da empresa depois de
2015.
Os Gráficos 6 e 7 evidenciam, respectivamente, a rentabilidade e a margem líquida da
Vales S/A entre 2011 e 2019. Os indicadores de Rentabilidade indicam que a Companhia
apresentou redução significativa na margem de lucratividade e de retorno sobre o capital
investido.
A Margem Líquida mostra o percentual do resultado líquido sobre as receitas de
vendas, ou seja, quantos das receitas foram efetivamente convertidos em lucro. Pode-se
observar que, embora com oscilações até o ano de 2014 a empresa apresentou lucro, ou seja,
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margem de lucratividade positiva. No ano de 2015, a empresa apresentou cerca de R$ 36
bilhões de reais de perdas por recuperabilidade de ativos, isto explica a Margem Líquida
negativa de -146% naquele ano.
Gráfico 6 – Rentabilidade do ativo e do patrimônio líquido da Vale S/A – 2011 a 2019
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
-0,3000
-0,2500
-0,2000
-0,1500
-0,1000
-0,0500
0,0000
0,0500
0,1000
0,1500
Rentabilidade do Ativo Rentabilidade do PL
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
Gráfico 7 – Margem líquida da Vale S/A – 2011 a 2019
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
-2,0000
-1,5000
-1,0000
-0,5000
0,0000
0,5000
1,0000
Giro do Ativo Margem Líquida
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
O Gráfico 8 evidencia a evolução das provisões Socioambientais da companhia Vale
S/A, em relação ao Volume do Ativo Total e Passivos Exigíveis da empresa. Conforme se
observa no Gráfico 8, as provisões com passivos ambientais da empresa crescem
consideravelmente no período analisado. O volume de reconhecimento de passivos ambientais
passa a representar praticamente 50% das dívidas totais da empresa em 2015. Em relação ao
ativo total da empresa, esse reconhecimento chega a comprometer aproximadamente 30% de
todo o investimento que a empresa possuía naquele mesmo ano.
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Gráfico 8 – Evolução das provisões socioambientais da Empresa Vale S/A – 2011 a 2019
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
0,0000
0,1000
0,2000
0,3000
0,4000
0,5000
0,6000
Provisões Ativo Provisões Passivo
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
Para observar a evolução do comportamento do mercado brasileiro em relação ao
valor de mercado e contábil da empresa, foi estimado o índice Market to Book, razão entre,
valor percebido no mercado e valor estimando contabilmente para capital próprio da empresa.
Gráfico 9 – Evolução do Market to Book da Vale S/A – 2011 a 2019
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
Na evolução do Market to Book, Gráfico 9, é possível perceber um coeficiente inferior
a 1 entre os anos de 2013 e 2016. Estes resultados, de acordo com a literatura, evidenciam que
os investidores estão dispostos a pagar pela empresa um valor menor do que registrado na
contabilidade. Godoy (2006) ressalta que este cenário é comum em empresas públicas ou de
economia mista que demandam de muita infraestrutura. No caso da Vale S/A, pode ser
explicada pelo acidente ambiental ocorrido no final de 2015, cujos prejuízos e danos
ambientais, humanos e econômicos abalaram a imagem da empresa, proporcionando sensível
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redução do valor percebido pelo mercado, especialmente pelas incertezas em decorrência ao
desastre. O Market to Book da Vale S/A somente apresenta crescimento superior a 1, a partir
do ano de 2017 até 2019, ou seja, quando o mercado percebe recuperação financeira da
empresa.
O Quadro 2 apresenta a análise da coleta dos dados em relação aos relatórios de
sustentabilidade da empresa Vale S/A. As práticas de sustentabilidade extraídas dos relatórios
específicos da empresa foram assinaladas quando a característica se mostra presente no
período analisado.
Quadro 2 - Análise dos Relatórios de Sustentabilidade da Vale S/A – 2012 a 2019
Descrição 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
1
Políticas
Ambientais
Declaração das políticas/práticas/ações atuais e futuras X X X X X X X X
Estabelecimento de metas e objetivos ambientais X X X X X X X X
Prêmios e participações em índices ambientais X X X X - - - -
Parcerias ambientais X X X X X X X X
2
Sistemas
de
Gerenciamento
ISO 14000 - - - - - - - X
Auditoria Ambiental X - - X X X X X
Gestão Ambiental X X X X X X X X
3
Impactos dos Produtos e
Processos no Meio Ambiente
Desperdícios/resíduos X X X X X X X X
Processo de acondicionamento (embalagem) - - X X - - X X
Reciclagem X X X X X - X X
Desenvolvimento de produtos ecológicos - X - X - - X X
Impacto na área de terra utilizada X X X X X X X X
Uso eficiente/reutilização da água X X X X X X X X
Vazamentos e derramamentos X X X X X X X X
Reparos aos danos ambientais X X X X X X X X
4
Energia
Conservação e/ou utilização mais eficiente nas operações X X X X X X X X
Utilização de materiais desperdiçados na produção de energia - - - - - - - -
Desenvolvimento/exploração de novas fontes de energia X X X X X X X X
5
Informações
financeiras
Investimentos ambientais X X X X X X X X
Custos/despesas ambientais X X X X X X X X
Passivos ambientais X - X X X X X X
Seguro ambiental X X X X X X X
Ativos ambientais tangíveis e intangíveis - - - - - - - X
Fonte: Dados da pesquisa (2020).
Pode-se destacar que empresa publicava suas informações financeiras ambientais aos
seus stakeholders. No ano de 2015, o qual marcou a empresa com o ocorrido em Mariana
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(MG), a Vale chegou a ter dispêndios ambientais no valor de R$ 572 milhões, sendo eles
distribuídos entre, recursos híbridos, emissões atmosféricas, recuperação de áreas degradadas
e áreas contaminadas, resíduos, conservação ambiental, gestão ambiental e risco e emergência
ambiental.
A Vale, a Samarco e a BHP Billiton assinaram, no dia 2 de março de 2016, um amplo
acordo com a advocacia geral da união (AGU), representando o governo federal, os governos
dos estados de minas gerais e do espírito santo, além de outras entidades, como o ibama, o
instituto estadual do meio ambiente e recursos hídricos do espírito santo (IEMA) e a fundação
estadual do meio ambiente de minas gerais (FEAM), para a recuperação social, ambiental e
econômica das regiões impactadas pelo rompimento da barragem de fundão, conforme
indicado no Relatório de Sustentabilidade Vale S/A, de 2015.
Assim, pode-se constatar, que a empresa atende as normatizações de evidenciação
contábil, divulgou os impactos do acidente na situação econômico-financeira do negócio, no
intuito que os usuários das informações contábeis possam compreender, ao menos no que se
refere as regras de divulgação, a realidade organizacional.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Vale S/A é uma organização privada e de capital aberto, é uma mineradora
multinacional brasileira, considerada uma das maiores operadoras de logística do país,
inclusive das empresas da indústria de mineração e metais do Brasil e do mundo. Dada à
importância da empresa a presente pesquisa objetivou analisar de forma longitudinal o
crescimento, o desempenho financeiro e o valor de mercado da companhia, bem como, a
evidenciação das informações ambientais, nos relatórios de sustentabilidade.
Os resultados da pesquisa mostraram que a empresa passou a priorizar o
financiamento de suas atividades por meio de capital de terceiros, principalmente a partir de
2015. Neste mesmo ano, a empresa apresenta prejuízo de mais de R$ 33 bilhões devido às
paralisações das operações, por causa do acidente ambiental, em Mariana (MG). O que
também gerou uma queda da receita da empresa, e um dos maiores prejuízos entre os anos
analisados.
Foi constatado que a capacidade financeira da Vale S/A, em relação a quitar suas
dívidas, entrou em declínio de 41% por consequência do aumento do endividamento, após o
acidente. Em relação à lucratividade, pode-se observar que, embora com oscilações até o ano
de 2014 a empresa apresentou lucro, ou seja, positividade. No ano de 2015, a empresa
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registrou cerca de R$ 36 bilhões de reais de perdas por recuperabilidade de ativos, isto explica
a Margem Líquida negativa de -146% naquele ano.
O Market to Book da Vale S/A apresentou uma alteração relevante na série histórica,
queda acentuada em 2015. A queda de valor de mercado em 2015 está relacionada ao acidente
ambiental naquele ano, na cidade de Mariana, em Minas Gerais, que culminou em prejuízos
tanto para empresa, como para sociedade. Somente nos anos seguintes que o valor de mercado
se recuperou, mostrando-se superior a unidade, ou seja, apresenta valor de mercado superior
ao valor contábil da empresa.
Diante dos resultados, conclui-se que o acidente ambiental proporcionou impactos
negativos para as finanças da empresa, bem como, para a imagem perante a sociedade. A
paralisação das atividades operacionais afetou diretamente as finanças da organização, uma
vez que foram reconhecidas provisões sociais e ambientais. Por ter uma atividade de
exploração de recursos naturais, a empresa promovia uma imagem sustentável para garantir
legitimidade na sociedade, porém após o acidente, a imagem de empresa sustentável foi
abalada.
No entanto, no que se refere à evidenciação contábil, a empresa divulgou em
conformidade com a legislação, os impactos do acidente na situação econômico-financeira do
negócio, no intuito que os usuários das informações contábeis possam compreender, ao menos
no que se refere as regras de divulgação, a realidade organizacional.
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