ESPIRITUALIDADE NAS ORGANIZAÇÕES: CARACTERÍSTICAS DAS ESCALAS
ATUAIS
SPIRITUALITY IN ORGANIZATIONS: CHARACTERISTICS OF CURRENT
SCALES
MARCO ANTONIO FIGUEIREDO MILANI FILHO
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
E-mail: mmilani@unicamp.br
DERSON DA SILVA LOPES JUNIOR
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
E-mail: dersonlopes@me.com
RESUMO
A dimensão espiritual do indivíduo é largamente aceita por profissionais da área de Saúde ao vincularem-na ao
bem-estar humano. Na área de Ciências Sociais Aplicadas, entretanto, ainda um significativo hiato entre os
estudos sobre espiritualidade e sua aplicação por profissionais nas organizações. É forçosa a adoção de escalas
validadas capazes de apontar o nível ou as características de espiritualidade dos indivíduos para posteriores
análises no ambiente organizacional. O objetivo deste trabalho centra-se na apresentação crítica das escalas sobre
espiritualidade validadas no contexto brasileiro e a potencial aplicabilidade em pesquisas organizacionais. Após
revisão bibliográfica, foram identificadas 12 escalas na literatura científica devidamente validadas para o
contexto brasileiro. As escalas foram analisadas sob a perspectiva da espiritualidade em seu conceito amplo, que
independe de vínculo religioso e cuja aplicação pode ser realizada em ambientes multiculturais. Foram apontadas
somente duas escalas que atenderam a esses critérios e apenas uma com maior capacidade de detalhamento dos
aspectos humanísticos considerados, sendo essa a recomendada para pesquisas organizacionais dentre as escalas
atualmente validadas.
Palavras-chave: Espiritualidade nas organizações; Espiritualidade no ambiente do trabalho; Escalas de
espiritualidade.
ABSTRACT
The individual’s spiritual dimension is widely accepted by health professional’s as they link it to human well-
being. In the area Applied Social Sciences, however, there is still a significant gap between studies on spirituality
and its application by professionals in organizations. It is imperative to adopt validated scales capable of pointing
out the level or characteristics of individuals' spirituality for further analysis in the organizational environment.
The objective of this work focuses on the critical presentation of validated spirituality scales in the Brazilian
context and their potential applicability in organizational research. After a bibliographic review, 12 scales were
identified in the scientific literature duly validated for the Brazilian context. The scales were analyzed from the
perspective of spirituality in its broad concept, which is independent of religious ties and whose application can
be carried out in multicultural environments. Only two scales that met these criteria were identified and only one
with greater detailing capacity of the humanistic aspects considered, which is recommended for organizational
research among the currently validated scales.
Keywords: Spirituality in organizations; Spirituality in the work environment; Spirituality scales.
Revista de Estudos em Organizações e Controladoria-REOC, ISSN 2763-9673, UNICENTRO, Irati-PR, v. 2, n. 2, p. 04-22, jul./dez., 2022.
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Marco Antonio Figueiredo Milani Filho e Derson da Silva Lopes Junior
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1 INTRODUÇÃO
Pesquisas envolvendo a espiritualidade nas organizações ganharam maior ênfase na
literatura científica a partir do final dos anos 1990. Estudos como os de Mitroff e Denton
(1999), Ashmos e Duchon (2000), Koenig et al. (2001), Krishnakumar e Neck (2002),
Milliman, Czaplewski e Ferguson (2003), Fry (2003), Giacalone e Jurkiewicz (2003),
Tischler et al. (2007) e Geh (2014), dentre outros, contribuíram para impulsionar a discussão
do tema e para o estabelecimento de relações entre espiritualidade e elementos típicos do
ambiente profissional, como por exemplo, clima organizacional, motivação pessoal e de
grupos, estilos de liderança, produtividade etc.
O assunto fomenta relevantes discussões, a começar pela própria conceituação de
espiritualidade, como observam Rocha e Pinheiro (2021). Para Koenig (2006), de forma geral,
ela está conectada à busca pessoal de sentido para a vida e outras questões existenciais, além
das relações transcendentais. Tais características, obviamente, refletirão no comportamento
dos indivíduos nos mais diferentes ambientes sociais, inclusive no ambiente de trabalho.
Nesse sentido, Rego e Cunha (2008) apontam que a espiritualidade está positivamente
relacionada com a motivação dos funcionários, assim como no engajamento nas tarefas e
desempenho organizacional.
Enquanto a dimensão espiritual é largamente aceita por profissionais da área de Saúde
ao vincularem-na ao bem-estar do indivíduo e da população, como explicitado pela
Organização Mundial de Saúde (1998), na área de Ciências Sociais Aplicadas ainda há,
proporcionalmente, um significativo hiato entre os estudos sobre espiritualidade e sua
aplicação por profissionais nas organizações. Lips-Wiersma e Morris (2009) e Liu e
Robertson (2011), argumentam que parte da literatura existente é predominantemente
descritiva, com certa superficialidade teórica, uso de definições ambíguas e limitado poder
explicativo.
Um desafio enfrentado por autores sobre a temática é a diferenciação conceitual de
espiritualidade e religiosidade, uma vez que os termos possuem abrangências distintas, sendo
o primeiro mais amplo a ponto de permitir a afirmação que nem todo espiritualista é religioso,
mas todo religioso é espiritualista. Makkar e Singh (2021), por exemplo, criticam a forte
influência de práticas religiosas nas escalas atuais para se medir o nível de espiritualidade e tal
sobreposição enviesa as discussões realizadas em culturas organizacionais do ocidente e do
oriente.
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Em qualquer cenário, entretanto, é forçosa a adoção de escalas capazes de apontar os
níveis ou as características de espiritualidade dos indivíduos para posteriores análises no
ambiente organizacional. Assim, considerando os atuais instrumentos analíticos utilizados nos
estudos sobre espiritualidade nas organizações e a necessidade de validação desses
instrumentos sob a perspectiva multicultural, a questão de pesquisa que orienta este trabalho
é: as principais escalas de espiritualidade validadas no contexto brasileiro favorecem a
respectiva aplicação no ambiente organizacional não-religioso?
O objetivo geral centra-se, dessa maneira, na apresentação crítica das escalas de
espiritualidade validadas no contexto brasileiro e a potencial aplicabilidade em pesquisas
organizacionais sem viés religioso.
Justifica-se essa abordagem perante a carência de estudos comparativos que objetivem
oferecer elementos sobre a evolução das características das escalas validadas em uso pelos
pesquisadores sobre a temática da espiritualidade nas organizações, destacando, inclusive, a
análise de eventuais vieses conceituais.
A contribuição esperada deste trabalho, assim sendo, volta-se para a indicação de
escalas já validadas no Brasil para sustentar investigações científicas que envolvam o nível de
espiritualidade do indivíduo ou de um grupo no ambiente de trabalho e na organização de
forma geral.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico do presente estudo aborda os conceitos relacionados a
espiritualidade e a espiritualidade nas organizações.
2.1 Espiritualidade
Definir espiritualidade não é tarefa simples, pois, além do aspecto polissêmico do
termo, fatores como cultura, época, contexto e arcabouço conceitual que variam conforme
o autor. Para De Fiores e Goffi (2006), a espiritualidade assume uma significação genérica ou
imprecisa, cobrindo um amplo conjunto de crenças e valores, mas em essência, envolve
questões ontológicas e refere-se à dimensão mais profunda do ser, oferecendo sentido à
própria existência.
A Organização Mundial da Saúde (WHO, 1998) aponta a espiritualidade como um dos
aspectos humanos relacionados diretamente à qualidade de vida e bem-estar e, sob essa
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perspectiva, Moreira-Almeida et al. (2016) afirmam que ela associa-se, significativamente, à
prevalência, diagnóstico, tratamento, desfechos clínicos e prevenção de doenças.
Um dos desafios enfrentados por todos aqueles que se debruçam no estudo do tema é a
demarcação de limites que fazem com que a espiritualidade diferencie-se da religiosidade,
essa última entendida como as características comportamentais e vínculos de alguém a
crenças e valores religiosos. Como observa Garzia-Zamor (2003), espiritualidade e
religiosidade são temas próximos, mas indicam fenômenos diferentes.
Para Lotufo Neto (1997), trata-se da busca humana por uma vida satisfatória e com
sentido, descobrindo a natureza essencial de si mesma e seu relacionamento com o universo.
Seria, assim, um processo pelo qual os indivíduos reconheceriam a importância de orientar
suas vidas a algo não material que está além e é maior do que eles próprios.
Koenig et al. (2001) sinalizam que a espiritualidade denota uma busca pessoal para
respostas compreensíveis às perguntas finais sobre a vida, sobre seu significado e sobre o
relacionamento com o sagrado ou transcendental.
Como em sentido amplo a espiritualidade pode ou não estar vinculada à experiência
religiosa, autores como Comte-Sponville (2016) propõem a possibilidade da espiritualidade
centrada no humanismo e que aceitaria a sua expressão até no ateísmo.
A concepção contemporânea de espiritualidade admite, portanto, uma autonomia
conceitual em detrimento das crenças formalizadas, das instituições religiosas e das tradições
sagradas presentes em todos os povos (HERVIEU-LÉGER, 2008). Essa autonomia,
entretanto, não implica antagonismo com a religiosidade.
Hufford (2003) afirma que a espiritualidade refere-se ao domínio do espírito, algo
extrafísico, e que se trata de uma relação pessoal com o transcendente e inclui em seu bojo a
religião. Por isso existem pessoas espiritualizadas, mas não religiosas. Assim, todo indivíduo
religioso é espiritualista, mas nem todo espiritualista é religioso.
Para a operacionalização do conceito de espiritualidade, diferentes autores nas últimas
décadas procuraram segmentar suas dimensões de maneira a favorecer uma abordagem
analítica e comparativa. No Quadro 1, elencam-se as propostas representativas de
segmentação dessas dimensões, identificadas na literatura científica.
As propostas operacionais buscam aglutinar percepções representativas humanistas e,
para alguns autores, com a especificação de aspectos típicos da vivência religiosa. As
dimensões indicadas por Fischer (2010), Howden (1992) e Elkins (2005) alinham-se com o
conceito amplo de espiritualidade, que independe do vínculo religioso do sujeito, mas o
reflete se estiver presente. Essa abordagem mais abrangente também é condizente com os
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valores humanistas encontrados nos trabalhos de Frankl (1997), em que busca-se
compreender a existência por meio dos fenômenos especificamente humanos, considerando-
se a dimensão espiritual com um dinamismo particular que admite e acomoda a experiência
religiosa, mas sem depender dela.
Quadro 1 – Dimensões espirituais
Autor(es) Dimensões
Fisher (2010) 1) Pessoal; 2) Ambiental; 3) Comunidade; 4) Transcendental.
Fenwick e Lange (1998) 1) Vida e morte; 2) Alma e ego; 3) Cosmologia; 4) Conhecimento; 5)
Caminho pessoal; 6) Foco; 7) Práticas espirituais; 8) Respostas existenciais.
Underwood et al. (2002) 1) Força e conforto interior; 2) Percepção do amor divino; 3) Inspiração e
discernimento.
Parsian e Dunning (2009) 1) Relevância das crenças espirituais; 2) Autoconhecimento; 3) Consciência
ambiental; 4) Relacionamentos; 5) Necessidades espirituais; 6) Experiências
espirituais.
Beazley (1998) 1) Vivência da fé; 2) Prece e meditação; 3) Honestidade; 4) Humildade; 5)
Serviços ao próximo.
Howden (1992) 1) Propósito e significado da vida; 2) Transcendência.
Elkins (2005) 1) Dimensão transcendente, 2) Significado e propósito da vida, 3)
Sacralidade da vida, 4) Valores espirituais versus materiais, 5) Altruísmo, 6)
Idealismo, 7) Consciência trágica e, 8) Frutos da espiritualidade.
Fonte: Adaptado de Makkar e Singh (2021).
Elkins (2005), ao indicar a “consciência trágica” entre as dimensões, procura capturar
uma posição filosófica complexa, referindo-se à:
[...] consciência profunda da dor, do sofrimento humano e da morte que confere
profundidade à pessoa espiritualizada, [...] mas que realça a alegria da pessoa
espiritualizada, assim como seu modo de apreciar e valorizar a vida (ELKINS, 2005,
p. 43).
Por outro lado, Beazley (1998) e Underwood et al. (2002) relacionam elementos
característicos do adepto de alguma religião institucionalizada ou formal, gerando dúvidas
sobre a validade da aplicação dessas dimensões em culturas diversificadas quanto às crenças
religiosas.
Fenwick e Lange (1998) e Parsian e Dunning (2009) reconhecem a expressão de
práticas espirituais que podem ou não ser religiosas na classificação dimensional,
demonstrando certa flexibilidade nesse aspecto, porém sem isolar os fatores exclusivamente
comuns da espiritualidade que não estariam presentes em sujeitos agnósticos ou ateus. As
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pesquisas sobre o tema, portanto, assumem características particulares conforme as dimensões
selecionadas.
Segundo Curcio et al. (2015), existem mais de 3 mil estudos que relacionam
espiritualidade e saúde, abordando questões que abrangem desde a atribuição de um sentido à
vida e consequente aumento da motivação para o enfrentamento e superação de crises até a
ocorrência de menores índices de depressão e ansiedade, redução do abuso de substâncias
psicoativas e do comportamento suicida.
Conforme observam Forti et al. (2020), o tema provoca o relevante desafio de se obter
a correta aferição do nível de espiritualidade dos indivíduos por meio de instrumentos
confiáveis e válidos. Os problemas decorrentes de instrumentos enviesados ou falhos recaem
sob a medição incompleta ou segmentada do objeto em análise.
As escalas devem, naturalmente, capturar as dimensões espirituais envolvidas, as quais
também variam de acordo com os seus respectivos autores. Uma vez que a espiritualidade
influencia a condição geral do indivíduo, naturalmente espera-se que ela reflita no
comportamento do ser nos diferentes ambientes em que participe, como familiar, social e
profissional.
2.2 Espiritualidade nas organizações
Desde a Escola das Relações Humanas, na década de 1930, os aspectos pessoais e
sociais do trabalhador passaram a ocupar papel de destaque no processo produtivo, em que o
indivíduo não mais foi considerado como um típico recurso, como antes concebido na visão
da Administração Científica com Frederick Taylor e na Escola Clássica com Jules Henri
Fayol. Uma vez que o trabalhador tem suas próprias motivações e responde de forma
diferente aos estímulos ambientais que recebe, torna-se importante conhecer, acompanhar e
proporcionar condições adequadas no ambiente de trabalho para que os objetivos
organizacionais sejam alcançados e satisfaçam-se às expectativas dos funcionários.
Maslow (1943), Herzberg (1966) e McGregor (1992), dentre outros autores que
contribuíram para a Teoria Comportamental da Organização, abordaram os aspectos
individuais relacionados à motivação, as necessidades e as reações frente às circunstâncias.
Segundo Goodwin (2005), a abordagem comportamental refutou o reducionismo e o
mecanicismo, os quais concebiam o comportamento humano como algo redutível a instintos
biológicos recalcados ou como simples condicionamentos. Igualmente, contrapôs-se à visão
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determinista de que o histórico do sujeito definia e limitava seu próprio futuro. O enfoque
humanista valoriza o desenvolvimento pessoal para a autorrealização.
Em sua clássica proposta sobre a hierarquia das necessidades, Maslow (1943) situou a
religião como uma necessidade básica, relacionada à busca de segurança e, em trabalhos
posteriores, a relacionou da seguinte maneira:
The human being needs a framework of values, a philosophy of life, a religion or
religion surrogate to live by and understand by, in about the same sense that he
needs sunlight, calcium or love. This I have called the "cognitive need to
understand" (MASLOW, 1968. p. 242).
Benefiel et al. (2014) e Karakas (2010) destacaram que os estudos da espiritualidade
nas organizações desenvolveram-se nos esforços um tanto dispersos dentro da ética
empresarial, gestão e comportamento organizacional, voltados para a eficácia da organização,
mas que possibilitaram o delineamento de um conjunto comum de características passíveis de
serem percebidas no ambiente de trabalho.
De forma geral e alinhando-se com sua definição mais ampla de espiritualidade,
pesquisas nessa temática fornecem um arcabouço de valores evidenciados na cultura
organizacional que promove a vivência da transcendência dos funcionários por meio do
processo de trabalho, facilitando a sensação de estarem conectados com os outros de forma a
proporcionar sentimentos de completude e alegria (GIACALONE; JURKIEWICZ, 2003).
Para Rocha e Pinheiro (2021), o conceito proposto para espiritualidade organizacional
é uma identidade resultante dos valores, práticas e discursos, compostos de local de trabalho e
espiritualidade individual, incluindo a do líder e outros membros. A espiritualidade
organizacional deveria ser visível na imagem, missão e visão declaradas.
Pandey et al. (2009) justificaram a necessidade de uma noção mais forte de
comunidade no trabalho, afirmando que as pessoas são mais indulgentes e engajadas em suas
profissões e pressionadas para elevar sua carreira, o que as deixam com muito menos tempo
para passar com suas famílias, amigos e vizinhos. Isso as instigam a buscar laços sociais
dentro das organizações em que passam a maior parte do tempo.
Bulent e Adnan (2009) deram grande importância à espiritualidade da liderança e
consideraram-na como uma essência para que sejam aprimoradas as competências e
habilidades dos trabalhadores para um melhor desempenho e consequente produtividade. Os
líderes espiritualizados seriam aqueles que aliam a busca de sentido para a vida dos
funcionários com a possibilidade de autorrealização no ambiente organizacional. Assim, o
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senso de espiritualidade seria bastante útil para os trabalhadores na execução de suas tarefas, o
que poderia resultar no aumento da lucratividade das organizações.
Os fenômenos organizacionais são, dessa maneira, afetados pela espiritualidade dos
indivíduos, essa entendida como uma variável significativa na dinâmica causal dos processos
da organização. Para autores como Mitroff e Denton (1999), Ashmos e Duchon (2000),
Koenig et al. (2001), Krishnakumar e Neck (2002), Milliman, Czaplewski e Ferguson (2003),
Fry (2003), Giacalone e Jurkiewicz (2003), Tischler et al. (2007), Geh (2014), Zhang (2020) e
Anderson e Burchell (2021), sob a perspectiva empirista, a espiritualidade pode ser estimada
por instrumentos adequados, mas as características desses instrumentos podem divergir entre
si, como criticaram Makkar e Singh (2021), pois os autores ocidentais tendem a inserir
componentes religiosos típicos de culturas influenciadas pelo cristianismo que dificultam a
respectiva aplicação em culturas orientais não-cristãs.
Em síntese, Makkar e Singh (2021) apontaram para o problema de se usar a prática
religiosa como uma proxy de espiritualidade, não apenas limitando a sua validade, mas
impedindo a real captura dos elementos que independem da religiosidade vinculada às crenças
tradicionais e que possam ser utilizados universalmente.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste trabalho descritivo, foram empregadas técnicas qualitativas para a coleta e
análise de dados, com o objetivo de descrever as características das escalas de espiritualidade
validadas no contexto brasileiro, conforme revisão bibliográfica realizada por Forti et al.
(2018).
Foram identificados 12 instrumentos validados para a estimativa do grau de
espiritualidade que contaram com mais de uma citação em 134 artigos selecionados pelas
chaves de busca “espiritualidade”, “escala de espiritualidade” “religiosidade”, “escala de
religiosidade”, nos idiomas inglês e português, constantes nas seguintes bases de dados:
Capes, Doaj, Liliacs, Proquest, Pubmed, Scielo e Web of Science. Registra-se que foram
encontrados 256 artigos que, apesar de apresentarem alguma menção aos termos de busca
utilizados e de terem sido inicialmente identificados, foram descartados por não apresentarem
nenhum instrumento para se avaliar o grau de espiritualidade ou religiosidade.
Por escala validada, entende-se aquela cujo teste estatístico estima a confiabilidade de
um questionário aplicado em uma pesquisa e que obteve o coeficiente Alfa de Cronbach com
valor mínimo igual a 0,70.
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A seguir, no Quadro 2, são apresentadas as escalas validadas no contexto brasileiro,
com o respectivo coeficiente alfa, desenvolvido a partir do trabalho de Forti et al. (2015) e
atualizado com o presente levantamento.
Quadro 2 – Escalas de espiritualidades validadas no contexto brasileiro
Escalas Autores do teste de validação/Ano Alfa de
Cronbach
Brief Multidemensional Measure of Religiousness and
Spirituality (BMMRS)
Curcio et al., 2015 > 0,70
Daily Spiritual Expirience Scale (DSES) Sanchez et al., 2014 0,91
Escala de Atitude Religiosa Aquino et al., 2009 0,91
Escala de Bem-Estar Espiritual (SWBS) Miranda et al., 2015 0,92
Escala de Coping Religioso-Espiritual (CRE) Silva, 2016 0,97
Escala de Orientações Religiosas Rogrigues-Rad e Ramos-Hidalgo, 2017 0,81
Functional Assessment of Chronic Illness Therapy-
Spiritual Well-Being (FACIT-SP)
Lucchetti et al., 2015 0,89
Índice de Religiosidade de Duke (DUREL) Taunay et al., 2012 0,80
Inventário de Religiosidade Intrínsica Taunay et al., 2012 0,96
Self-Rating Scale for Spirituality (SSRS) Moreira et al., 2016 0,83
Treatment Spirituality/Religiosity Scale (TSRS-Br) Gonçalves et al., 2016 0,85
WHOQOL-SRPB Magalhães et al., 2015 0,96
Fonte: Elaborado pelos autores (2022).
Posteriormente à identificação das escalas validadas, cada um dos 12 instrumentos foi
analisado de maneira a se conhecer as dimensões da espiritualidade presentes. Paralelamente,
foi verificada a eventual presença de componentes específicos de religiosidade que poderiam
limitar a aplicação do questionário sob a perspectiva multicultural e, assim, enviesar as
pesquisas que se servissem desse instrumento.
Os resultados foram discutidos de maneira a proporcionar elementos mais objetivos
sobre os aspectos positivos e negativos das escalas, destacando-se aquelas mais indicadas a
serem aplicadas no contexto organizacional.
4 ANÁLISE DOS DADOS
A seguir, relacionam-se as escalas sob análise, detalhadas com as dimensões de
espiritualidade e/ou religiosidade explicitadas nos respectivos questionários.
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4.1 Medida Multidimensional Breve de Religiosidade/Espiritualidade (BMMRS)
O BMMRS (Brief Multidimensional Measure of Religiousness/Spirituality) é uma
proposta desenvolvida em 1995 por pesquisadores do Instituto Fetzer com o Instituto
Nacional do Envelhecimento (FI/NIA), ambos dos Estados Unidos da América (EUA), com o
objetivo de criar uma ferramenta multidimensional sobre espiritualidade e religiosidade.
Apesar de sua aplicação ter ocorrido inicialmente na área da Saúde, também foi aplicado na
área da Administração, como verificado nos trabalhos de Juhaizi e Mahadzirah (2014),
Rodríguez-Rad e Ramos-Hidalgo (2017) e Hodges (2019).
Suas 38 questões estão distribuídas em 10 dimensões sobre espiritualidade/ou
religiosidade, a saber: 1) Experiências espirituais diárias; 2) Valores/crenças; 3) Perdão; 4)
Práticas religiosas particulares; 5) Superação religiosa e espiritual; 6) Suporte religioso; 7)
História religiosa/espiritual; 8) Religiosidade organizacional; 9) Preferência religiosa; 10)
Autoavaliação global de religiosidade e espiritualidade.
Neste instrumento, 100% das dimensões citadas possuem uma ou mais referências
explícitas a Deus, fé, prática religiosa e/ou crenças religiosas.
Trata-se, portanto, de uma escala fortemente direcionada à religiosidade, como ênfase
cristã, especificamente. Estima-se que respondentes islâmicos, hinduístas, ateus ou
agnósticos, por exemplo, encontrariam algumas barreiras culturais para a plena interpretação
das questões, as quais apresentam vocabulário típico das igrejas institucionalizadas cristãs.
4.2 The Daily Spiritual Experience Scale (DSES)
A Escala de Experiência Espiritual Diária (DSES) refere-se a um questionário
proposto por Underwood e Teresi (2002), com destaque para o autorrelato de 16 itens
projetados para avaliar experiências comuns de conexão com o transcendente na vida diária.
Segundo Underwood (2011), o questionário foi originalmente desenvolvido para uso em
estudos de saúde, mas tem sido cada vez mais usado nas Ciências Sociais para avaliação de
programas e para examinar mudanças nas experiências espirituais ao longo do tempo.
Também foi empregado em ambientes de aconselhamento, tratamento de dependência e
organizações religiosas.
Das 16 questões propostas, 8 delas referem-se explicitamente à percepção de Deus na
vida do respondente, 2 questões abordam a sensação de conforto, 1 a beleza da Criação e 1 a
gratidão sobre as bençãos recebidas. As demais questões abordam à sensação de harmonia,
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paz interior, felicidade e compaixão. Esse direcionamento classifica o instrumento como de
forte viés religioso, portanto sua denominação vincula experiência espiritual à vivência
mística e religiosa. Caracteriza-se, assim, como uma escala limitada à religiosidade.
4.3 Escala de Atitude Religiosa
Proposto por Aquino (2005), o instrumento é composto por quinze itens e, como a
denominação claramente evidencia, refere-se exclusivamente à religiosidade. Considerando-
se que a escala foi desenvolvida no contexto religioso brasileiro, enfatiza aspectos específicos
das chamadas religiões cristãs mais tradicionais, restringindo sua aplicação sobre a
mensuração ampla do grau de espiritualidade.
4.4 Escala de Bem-Estar Espiritual (SWBS)
A SWBS (Spiritual Well-Being Scale), de Paloutzian e Ellison (1982), foi elaborada
com o objetivo de fornecer indicadores complementares para a avaliação da qualidade de vida
dos habitantes dos Estados Unidos. Segundo Bufford, Paloutzian e Ellison (1991), as 20
questões do instrumento voltam-se para a expressão de sentimentos e percepções dos
respondentes e estruturam-se em duas dimensões, com 10 questões cada uma: o bem-estar
religioso, indicando a satisfação na conexão pessoal com Deus; e o bem-estar existencial,
ligada à percepção em relação ao propósito da vida independente de uma referência religiosa.
A SWBS direciona a necessidade de vínculo religioso para se ter a plenitude espiritual,
uma vez que quem não compartilhe a mesma concepção divina, independentemente das
questões humanistas, será considerado menos espiritualizado que alguém que abrace uma
crença religiosa. Assim, ao afastar-se parcialmente do conceito amplo de espiritualidade,
limita-se a aplicação do instrumento.
4.5 Escala de Coping Religioso-Espiritual (CRE)
Proposta de Panzini e Bandeira (2005), essa escala procura relacionar a fé pessoal para
lidar com o estresse e suas consequências nos índices de qualidade de vida e saúde física e
mental. Composta por 87 itens, agrupados em 12 fatores.
De todos os fatores, apenas 1 não explora questões típicas de adeptos de religiões
tradicionais que predominam na cultura brasileira. Assim, o instrumento não atende a
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abordagem conceitual ampla e limita-se às crenças e práticas explicitamente vinculadas à
religiosidade.
4.6 Escala de Orientações Religiosas
Proposta por Ferreira (2005), essa escala procura avaliar o tipo de orientação religiosa
do indivíduo, sob as perspectivas intrínsecas e extrínsecas. Dos 16 itens avaliados, 10
referem-se à orientação intrínseca e 6 à orientação extrínseca. Como a denominação
evidencia, restringe-se ao comportamento e crença religiosa do respondente, não sendo
aplicável para o conceito amplo de espiritualidade.
4.7 Functional Assessment of Chronic Illness Therapy-Spiritual Well-Being (FACIT-SP)
Proposto por Cella et al. (1993), trata-se de um questionário com 27 itens voltados,
essencialmente à avaliação do bem-estar físico e emocional de pacientes com câncer,
envolvendo expectativas e aspectos humanistas. Sua aplicação, portanto, limita-se à área da
Saúde, sem registro de uso em Ciências Sociais Aplicadas.
4.8 Índice de Religiosidade de Duke (DUREL)
O DUREL (Duke Religious Index) foi desenvolvido por Koenig e Büssing (2010),
representando uma escala com cinco itens que medem três dimensões da religiosidade, a
saber: Religiosidade Organizacional, Não-Organizacional e Intrínseca. Restringe-se aos
aspectos da experiência religiosa do indivíduo e não contempla questões mais amplas de
espiritualidade.
4.9 Inventário de Religiosidade Intrínseca (IRI)
Proposto por Taunay et al. (2012), o IRI objetiva medir a religiosidade intrínseca do
respondente, busca contribuir para o estabelecimento de relações entre crença religiosa e
saúde física e mental. Não registro de aplicação dessa escala na área de Ciências Sociais
Aplicadas e seus resultados restringem-se, como a denominação evidencia, aos aspectos da
religiosidade.
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4.10 Escala de Autoavaliação de Espiritualidade (SRSS)
A SRSS (Self-rating Scale for Spirituality) é um instrumento de autorrelato composto
por seis itens que avaliam aspectos da espiritualidade do indivíduo. Em síntese, as questões
abordam a importância da meditação e a frequência de pensamentos espiritualizados,
coerência entre ações cotidianas e crenças religiosas, interesse na literatura de cunho religioso
e, ainda, a percepção sobre a relevância da espiritualidade na vida do respondente.
Esse instrumento foi proposto por Galanter et al. (2007) e sua facilidade de aplicação e
sua base conceitual de acordo com a concepção ampla de espiritualidade permite que ele seja
utilizado em todas as áreas do conhecimento e em diferentes culturas. A única limitação dessa
escala é a reduzida quantidade de perguntas e a ausência de detalhamento nas questões
humanistas.
Apesar de sua aplicabilidade, ainda não há registro de pesquisas que tenham se servido
dessa escala em Ciências Sociais Aplicadas.
4.11 Treatment Spirituality/Religiosity Scale (TSRS-Br)
Proposta por Lillis et al. (2008), essa escala considera 10 itens envolvendo aspectos
predominantemente religiosos. As questões perquirem a relação entre o respondente e suas
práticas devocionais como prece e leitura da Bíblia. Foi elaborada para aplicação na área de
Saúde. Por não conter aspectos conceituais amplos de espiritualidade, o instrumento é
limitado à religiosidade e com a característica de crenças cristãs tradicionais.
4.12 WHOQOL-SRPB
A Organização Mundial de Saúde (1998) incluiu um módulo específico quanto a
espiritualidade e a religiosidade em seu questionário formal para a mensuração do nível da
qualidade de vida das pessoas, denominado WHOQOL-SRPB (World Health Organization
Quality of Life - Spirituality, Religion and Personal Beliefs). Neste módulo, as 32 questões
referem-se a oito facetas da espiritualidade: a) conexão com um ser ou com uma força
espiritual, b) sentido na vida, c) admiração, d) totalidade e integração, e) força espiritual, f)
esperança e otimismo, g) paz interior e, h) fé.
Essa escala assume um caráter transcultural ao ser elaborada contando com a revisão
de grupos focais situados em 15 países com diferentes tradições religiosas (Egito, Brasil,
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Uruguai, Argentina, Espanha, Itália, Reino Unido, Lituânia, Turquia, Israel, Índia, Malásia,
Tailândia, China e Japão).
Esse instrumento aborda a espiritualidade em seu sentido amplo e sem viés religioso,
caracterizando-se como adequado para aplicação em diferentes culturas e áreas do
conhecimento.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As pesquisas que abordam a temática da espiritualidade vem aumentando
significativamente nas últimas décadas e se relacionam diretamente à qualidade de vida,
motivação, aspectos de liderança e interação com outras pessoas, além de outros aspectos
essenciais que se refletem no comportamento do indivíduo nos diferentes ambientes em que
participa, como o familiar, o social e o profissional.
A necessidade de instrumentos que permitam uma análise mais objetiva dessa temática
em pesquisas exploratórias, descritivas e causais, faz com que as diferentes escalas
propostas para se mensurar o nível de espiritualidade em um indivíduo ou em grupos
específicos sejam objeto de discussão, considerando a diversidade religiosa e cultural
existente no mundo.
As escalas pioneiras para a identificação do nível de espiritualidade calcavam-se em
variáveis atreladas à religiosidade do indivíduo, porém, as críticas justificadas sobre o
enviesamento desse tipo de avaliação evidenciaram as suas respectivas limitações e
fragilidades ao não se pautarem pelo conceito amplo de espiritualidade.
Este estudo analisou as escalas anteriormente validadas no contexto brasileiro e a
potencial aplicabilidade das mesmas em pesquisas sem viés religioso. Após a seleção de 12
escalas validadas, conforme pesquisa de Forti et al. (2015), procedeu-se a análise de
eventual viés religioso que restringisse a aplicação desses instrumentos em ambientes com
diversidade cultural e ausência de práticas religiosas.
Dentre as escalas analisadas, apenas duas apresentaram características adequadas à
aplicação no contexto multicultural e não necessariamente religioso, a saber: SRSS (Self-
rating Scale for Spirituality) e WHOQOL-SRPB (World Health Organization Quality of Life
- Spirituality, Religion and Personal Beliefs).
A SRSS, apesar de se adequar ao conceito amplo de espiritualidade, valorizando a
abordagem humanista e transcendental sem restringir-se aos aspectos religiosos, é um
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instrumento centrado em apenas 6 questões que não permitem um detalhamento mais
desejado para análises mais aprofundadas.
A WHOQOL-SRPB mostrou-se adequada em todos os sentidos para atender à
expectativa de aplicação em contextos multiculturais e sem viés religioso, o que faz dessa
escala a mais indicada, dentre os instrumentos validados no Brasil, para a aplicação em
pesquisas de diferentes áreas do conhecimento, como as Ciências Sociais Aplicadas.
Recomenda-se, portanto, que estudos organizacionais considerem a possibilidade de aplicação
dessa escala quando voltados ao conceito amplo de espiritualidade na análise relacional com
outras variáveis.
Para a produção científica que tem como temática a espiritualidade na área de Ciências
Sociais Aplicadas, faz-se necessária a intensificação do diálogo entre pesquisadores de
diversos segmentos, especialmente aqueles relacionados aos estudos organizacionais. A
formação de redes investigativas capazes de oferecerem uma agenda de pesquisa mais ampla
sobre a espiritualidade nas organizações se torna uma condição prioritária numa perspectiva
multirreferencial em resposta à constatação da complexidade das práticas e relações sociais.
Para estudos futuros, sugere-se, além da validação no contexto brasileiro de outras
escalas sobre espiritualidade presentes na literatura científica internacional com características
de aplicação em culturas diversificadas, também a aplicação de instrumentos dessa natureza
em organizações com e sem fins lucrativos, de diferentes portes e características estruturais,
oferecendo dados objetivos para análises comparativas, tanto sob aspectos qualitativos quanto
quantitativos. Reflexos no avanço desses estudos poderão ocorrer nos cursos de
Administração, por exemplo, destacando-se a relevância da espiritualidade nas organizações,
contribuindo para que os graduados estejam mais bem preparados para gerenciar a
diversidade espiritual e apreciar a importância de manter um equilíbrio na atenção dada aos
resultados tangíveis, por um lado, e aos valores e preocupações humanas, por outro.
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