Revista de Estudos em Organizações e Controladoria - REOC, ISSN 2763-9673, UNICENTRO, Irati-PR, v. 2, Dossiê APP, p. 119-134, dez., 2022. 
Dossiê Análise de Políticas Públicas 
Editores Convidados: Prof. Dr. Bruno Martins Augusto Gomes e Prof. Dr. Roberto Eduardo Bueno 
POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL: DESAFIOS DO ENSINO SUPERIOR 
BRASILEIRO
1
EDUCATIONAL PUBLIC POLICY: CHALLENGES FOR BRAZILIAN HIGHER 
EDUCATION 
WALTER DOMINGOS BORGES GONÇALVES 
Universidade Federal do Paraná (UFPR) 
E-mail: waltertchu@gmail.com 
RESUMO 
As Instituições de Ensino Superior vêm enfrentando diversas dificuldades de implementação do ensino remoto, 
não somente pela pandemia, mas também pelos cortes de recursos nos últimos anos, que limita o funcionamento 
na sua íntegra. O presente trabalho busca refletir acerca das políticas públicas educacionais, a sua relação com os 
cortes de verbas e o sucateamento do ensino superior agravado com a pandemia. Atribui-se a esta pesquisa uma 
natureza  qualitativa,  cujas  técnicas  de  obtenção  de  dados  foram  por  meio  de  pesquisas  bibliográficas  e 
documentais, e para interpretação de dados utilizou-se a análise de conteúdo temático. Conclui-se que, as verbas 
cortadas durante a pandemia da Covid-19 afetaram diretamente a permanência dos estudantes nas universidades, 
tendo em vista que inúmeros estudantes dependem dos subsídios amparados pelo Plano Nacional de Assistência 
Estudantil (PNAES) para sua permanência nas universidades. 
Palavras-chave: Ensino Superior; Políticas Públicas; Pandemia da Covid-19. 
ABSTRACT 
Higher Education Institutions have been facing several difficulties in implementing remote education, not only 
due to the pandemic, but also due to the cuts in funding in recent years, which limited their full functioning. The 
present work seeks to reflect on educational public policies, their relationship with the cuts in funding and the 
scrapping of higher education in times of pandemic, this research is attributed a qualitative nature, whose data 
collection techniques were through bibliographic and documentary research, and for data interpretation, thematic 
content analysis was used. It is concluded that the funds cut during the Covid-19 pandemic directly affected the 
permanence of students in universities, considering that numerous students depend on the subsidies supported by 
the National Student Assistance Plan (PNAES) for their permanence in universities. 
Keywords: Higher Education; Public Policy; Covid-19 Pandemic. 
1
 DOI: https://doi.org/10.5935/2763-9673.20220018 
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Walter Domingos Borges Gonçalves 
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1 INTRODUÇÃO 
Nas  últimas  décadas  as  discussões  acerca de  política  pública  vêm  ganhando  novos 
horizontes, tanto pela proliferação dos ideários da democracia como inovações dos modelos 
institucionais que facilitaram o surgimento das novas instâncias de governanças públicas que 
pautam  pela  participação  coletiva  no  processo  de  tomada  de  decisão,  elaboração, 
implementação e avaliação da efetividade dessas ações. No Brasil a ascensão de interesses 
pelas temáticas de políticas públicas  está associada  ao período de redemocratização e dos 
processos  inovativos  governamentais,  fundamentada  nas  propostas  competitivas  eleitorais, 
descentralização  política,  reformas  estatais,  bem  como  a  oportunizar  a  participação  de 
diversos atores nas esferas políticas (ARRETCHE, 2007).  
No âmbito educacional, as políticas públicas podem ser entendidas como um conjunto 
de  ações  desenvolvidas  pelos  governos,  mercados  e  sociedade  civil  organizada,  cuja 
finalidade é melhorar a qualidade educacional ao nível nacional, regional e territorial. Assim 
sendo,  as  políticas  educacionais  têm  utilizado  alguns  marcos  normativos  histórico  na 
educação brasileira, tais como: o Pano Nacional de Educação e a Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação  Nacional,  para  construção  dos  seus  planos  de  ação  (MOTA  JÚNIOR,  2016). 
Conquanto, desde o início da década de 2000 as políticas públicas educacionais no ensino 
superior  brasileiro  têm  sido  fundamentadas  na  ideia  de  democratização,  interiorização  e 
internacionalização desse processo, bem como, aproximá-las dos grupos de minorias. Nesse 
contexto, o presente trabalho busca refletir acerca da política pública educacional, com ênfase 
na compreensão de como os cortes das verbas afetam o funcionamento do ensino superior 
público.  
De forma complementar, objetiva-se analisar como os cortes de verbas estimulam a 
diminuição da qualidade do ensino superior público e compreender os desdobramentos desse 
processo de sucateamento do ensino superior no Brasil em tempos de pandemia. Parte-se do 
pressuposto, que os cortes de verbas que vêm acontecendo nos últimos anos têm sido um dos 
grandes desafios para os gestores universitários, principalmente em tempos de pandemia, que 
exige  um  (re)planejamento,  de  modo  a  não  afetar  drasticamente  a  qualidade  do  ensino  e, 
também, combater à exclusão social.  
Quanto a temática de políticas públicas no ensino superior e sua relação com os cortes 
de verbas e sucateamento da educação, o Brasil torna-se um interessante objeto de estudo, 
tendo em vista que de acordo com as plataformas digitais nos últimos anos, várias instituições 
de ensino superior vêm anunciado a falta de recursos para se manter de forma ativa. Nesse 
quadro, acredita-se que essa pesquisa é uma relevante contribuição, por fornecer insumos que 
permitem uma maior compreensão quanto aos riscos e a vulnerabilidade do ensino superior 
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público  em  tempos  pandêmicos.  No  geral,  os  cortes  das  verbas  feitas  pelos  governos  na 
educação superior têm afetado de forma mais abrangente nos seguintes setores: projetos de 
pesquisas de iniciação científica e docência, extensão universitária e projetos de incentivo a 
inovações tecnológicas, mediante a corte de bolsas e financiamento de pesquisas, diminuição 
de bolsas na pós-graduação, entre outros serviços acadêmicos envolvidos. 
O  presente  estudo  desenvolve  uma  abordagem  qualitativa  de  cunho  descritiva  e 
analítica, cuja obtenção de dados foi por meio de pesquisa bibliográfica (dados foram obtidos 
em diversas plataformas digitais inclusive jornais on-line) e a interpretação das informações 
se deu por meio da análise de conteúdo temático. O trabalho está dividido em três seções, 
além desta introdução. Na segunda seção contextualiza-se acerca da política pública no Brasil, 
revisando os  conceitos,  modelos e fases  de  elaboração, implantação  e avaliação, enquanto 
área  de  conhecimento  que  surgiu  nos  Estados  Unidos,  contrariando  a  visão  europeia.  Em 
seguida debatem-se  algumas  políticas educacionais  implementadas recentemente no  ensino 
superior  brasileiro.  Por  último,  aborda-se  os  cortes  das  verbas  efetivadas  pelos  últimos 
governos desde 2014 com enfoque nas suas relações com o período de pandemia da Covid-19. 
2 POLÍTICA PÚBLICA NO BRASIL: UMA BREVE APRECIAÇÃO  
O  campo  da  política  pública  surgiu  nos  Estados  Unidos  enquanto  área  de 
conhecimento e  como uma  disciplina  acadêmica, contrariando  a  área de  políticas  públicas 
europeia. A tradição europeia tinha como ênfase a explicação sobre as instituições estatais, 
tendo  o  governo  como  ator  principal  na  formação  e  produção  de  políticas  públicas.  Em 
contrapartida, a corrente norte-americana defende que a área surge na academia deixando de 
lado as relações das teorias explicativas sobre o papel do Estado, focando-se nas ações dos 
governos (SOUZA, 2006, p. 22). 
O  pensamento  norte-americano  enquanto  matriz  estruturante  das  ideias  de  políticas 
públicas  na  academia,  pode  ser  notado  nos  estudos  de:  Harold  Lasswell,  Herbert  Simon, 
Charles  Lindblom  e  David  Easton.  Segundo  Araújo  et  al.  (2017)  as  premissas  iniciais  de 
políticas  públicas  estão  presentes  no  trabalho  de  Lasswell,  através  da  expressão  policy 
analysis (análise de políticas públicas) asseverando o processo político como objeto de estudo 
secundário da ciência política, mormente aos estudos de constituições, legislaturas, grupos de 
interesses, elites e as problemáticas clássicas do poder.  
 No  caso  brasileiro  os  estudos  sobre  as  políticas  públicas  foram  marcados  por  um 
processo duplo de análise, assemelhando-se ao pensamento europeu que originou das teorias 
de análises das ações do Estado, bem como das abordagens dos EUA. Outrossim, as políticas 
públicas enquanto área de conhecimento no cenário brasileiro, tem como matriz estruturante 
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os  estudos de Viana (1996), Arretche (2003),  Souza (2007) entre outros pesquisadores  da 
área, que discutem de forma detalhada os aportes teóricos e metodológicos desse campo de 
estudo.  Os ideários das políticas públicas no Brasil estão enraizados nas ações do Estado, em 
especial na formação de administradores públicos. 
  Segundo  Marta  Farah  (2018),  as  produções  acadêmicas  acerca  de  políticas,  foram 
vitais para a institucionalização do campo das políticas públicas no Brasil durante a década de 
1960, porém tais condições de institucionalização afetaram o seu desenvolvimento, tendo em 
vista que durante os regimes autoritários não receberam apoio. No entanto, a sua produção 
ganharia  novos  contornos  a  partir  dos  anos  de  1980  com  início  do  processo  da 
redemocratização  do  país,  que  se  manifestaram  na  (re)institucionalização  dos  estudos  das 
políticas públicas. Ainda a autora, argumenta que a materialização desse campo de estudo foi 
durante o período de 1980 e 1990, enquanto a sua expansão se deu de forma tardia a partir da 
década de 2000, com  foco na expansão  das universidades e  a formação  e capacitação dos 
profissionais das áreas públicas por meio da criação de cursos de graduação e pós-graduação, 
bem  como,  pela  ampliação  dos  mercados  de  trabalhos  para  os  profissionais  da  política 
pública, administração pública entre outras áreas correlatas. 
Entende-se como política pública a soma das atividades do Estado que age diretamente 
ou  indiretamente,  com  intuito  de  estimular  transformações  sociais.  Ainda,  as  políticas 
públicas podem ser consideradas “[...] a totalidade de ações, metas e planos que os governos 
(nacionais,  estaduais  ou  municipais)  traçam  para  alcançar  o  bem-estar  da  sociedade  e  do 
interesse público” (LOPES et al., 2008).  Essas atividades envolvem os projetos, capitais e as 
suas prioridades em  uma  determinada área  ou  instituição.    Sendo assim,  “essas  ações  não 
nascem de necessidade do próprio Estado, mas são decorrentes de demandas da sociedade” 
(STUCKY, 1997). Ademais, Secchi et al. (2019) argumenta que:  
Uma política pública possui dois elementos fundamentais: intencionalidade pública 
e  resposta  a  um  problema  público;  em  outras  palavras,  a  razão  para  o 
estabelecimento  de  uma  política  pública  é  o  tratamento  ou  a  resolução  de  um 
problema entendido como coletivamente relevante (SECCHI et al., 2019, p. 2).  
Essas  demandas  serão  apresentadas  pelas  organizações  ou  instituições  que 
representam a sociedade civil, de modo a dar respostas a quaisquer demandas que não podem 
ser resolvidas de  forma individual. Desta forma, as  políticas  públicas  surgem  como  ações 
coletivas que visam melhorar um determinado setor. Nos termos de Rodrigues (2010), as: 
Políticas públicas resultam, portanto, da atividade política, envolvem mais de uma 
decisão política e requerem várias ações  estratégicas destinadas a implementar os 
objetivos  desejados.  Constituem  um  conjunto  articulado  de  ações,  decisões  e 
incentivos que buscam alterar uma realidade em resposta a demandas e interesses 
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envolvidos.  Políticas  públicas  são  ações  de  Governo,  portanto,  são  revestidas  da 
autoridade soberana do poder público. Dispõe sobre “o que fazer” (ações), “aonde 
chegar” (metas ou objetivos relacionados ao estado de coisas que se pretende alterar) 
e “como fazer” (estratégias de ação) (RODRIGUES, 2010, p. 52-53). 
Para que tais ações sejam efetivadas e materializadas em política pública necessita da 
colaboração de diferentes atores políticos, a saber: os atores estatais (Governo ou Estado) e os 
atores  privados  (proveniente  da  sociedade  civil).  Os  atores  estatais  seriam  todos  aqueles 
envolvidos nas funções públicas no Estado e foram eleitas pela própria sociedade para um 
determinado cargo e por um tempo limitado. Por fim, os atores privados são aqueles que não 
têm nenhum vínculo diretamente com o Estado ou Governo. 
Ademais, no campo da política pública existem alguns modelos que contribuem para 
compreensão dos problemas e processo da sua efetivação. Nesse quadro, Araújo et al. (2017) 
afirmam que as políticas públicas são analisadas como resultado de um ciclo político que se 
desenvolve  por  etapas,  procurando  desta  forma  “abrir  a  caixa  preta”  do  sistema  político. 
Sendo  assim,  para  elas  serem  efetivas  e  eficientes  é  preciso  seguir  as  seguintes  etapas
2
: 
identificação do problema, formação da agenda, formulação de políticas, processo de tomada 
de decisão, implementação e avaliação.  
Segundo Secchi et al. (2019) o ciclo de política pública mesmo sendo útil é bastante 
difícil refletir na dinâmica ou na vida de uma política pública, devido à complexidade dos 
fenômenos  sociais.  Conquanto,  alguns  pesquisadores  no  qual  afirmam  que  não  existe  um 
início e um fim de uma política pública, destacam que o ciclo de política pública ajuda a 
organizar as ideias e simplificar o processo de estabelecimento de política pública quando há 
dificuldades  dos  políticos,  administradores  e  pesquisadores  na  criação  dos  elementos 
paralelamente aos casos diversificados. Desta forma, afirma-se que as Políticas Públicas são 
ações positivas desenvolvidas pelo poder público ou privado que contribuem para a melhoria 
de uma sociedade mais justa e igualitária (MACEDO, 2019). 
No início  da  década de 2000  ocorreu uma  intensificação das políticas públicas nas 
agendas  governamentais  em  todos  os  setores  e  a  educação  não  ficou  à  margem  dessas 
dinâmicas governamentais. Desde então houve um crescente interesse e iniciativas acerca de 
implementação de políticas públicas no ensino superior têm ganhado atenção significativa dos 
educadores,  pesquisadores  e  até  parlamentares,  com  ênfase  no  combate  às  desigualdades 
sociais e étnico-raciais e a democratização do ensino superior. 
2
  Essas fases  não  são  o  foco  do  artigo, para  ter  mais  informações  acessar  em: SECCHI;  COELHO;  PIRES. 
Políticas Públicas - conceitos, casos práticos, questões de concursos. São Paulo: Cengage, 2019. 
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3 POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO ENSINO SUPERIOR 
As  políticas  educacionais  são  conhecidas  como  políticas  públicas  sociais, 
desenvolvidas  pelas  entidades  políticas  e  econômicas  “composta  por  planos,  diretrizes  e 
estratégias promovidas em um cenário de conflito e correlação de força entre grupos sociais” 
(MOTA JÚNIOR, 2016, p. 7), com intuito de implementar ou desenvolver ações do Estado 
voltadas para diversas áreas, como saúde, segurança, previdência e educação.  Efetivamente, 
foi a Constituição de 1988 que abriu as fronteiras para ascensão das políticas sociais no país, e 
a  educação  foi  contemplada  com  tais  políticas.  Nesse  contexto,  Duarte  e  Oliveira  (2005) 
argumentam que: 
O final dos anos de 1970 e o início dos de 1980 foram marcados pela luta em favor 
da  democratização  da  educação,  de  ampla  defesa  do  direito  à  escolarização  para 
todos,  de  universalização  do  ensino  e  de  defesa  de  maior  participação  da 
comunidade na gestão da escola. 
Percebe-se que as políticas educacionais são ações desenvolvidas pelo governo para 
garantir uma educação de qualidade para todos os cidadãos, independentemente da raça, cor, 
sexualidade,  condições  sociais,  localização  entre  outras  categorias  de  análises  julgadas 
pertinentes. Além das mudanças na Constituição de 1988  e as alterações feitas nas legislações 
do período militar e a nova república, o país passou por várias reformas na década de 1990, 
em especial a materialização de um dos instrumentos mais importantes no setor educacional, 
denominado  de  Lei  de  Diretrizes  de  Bases  da  Educação  de  1996  (LDB,  9493/1996) 
caracterizado  como  marco  normativo  da  política  pública  educacional  utilizando  o  Plano 
Nacional de Educação (PNE) que visa às melhorias sociais no campo educacional. 
Duarte  e  Oliveira  (2005)  afirmam  que  as  desigualdades  sociais  se  manifestam  de 
forma perversa no sistema educacional, apresentando baixos índices educacionais, com 16% 
de analfabetismo e 40% de evasão escolar dos estudantes brasileiros que não atingem o nível 
obrigatório de escolaridade. 
Nesse  quadro,  as  políticas  públicas  surgem  como  mecanismos  para  amenizar  essas 
assimetrias e a democratização desse processo. Não obstante, com o aumento do desemprego 
e o processo da globalização de economia, política e cultural, a política educacional sofreu 
mudanças tentando  responder estes  fenômenos  e alterar  o quadro negativo das populações 
mais vulneráveis tanto em termos de participação na vida econômica como transformar os 
diferentes segmentos sociais. 
Os dados da Figura 1 mostram que no ensino superior no ano de 2021 as universidades 
públicas do país registraram no total de 492.141 dos estudantes ingressantes na rede pública, 
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sendo: 320.759 no âmbito Federal, 151.226 no Estadual e 20.156 no Municipal. E os dados 
referentes  aos  concluintes  indicaram  que  do  total  de  1.327.188,  nas  instituições  públicas 
219.342 estudantes terminaram o ensino superior. De acordo com as Estatísticas Gerais do 
Censo da Educação Superior de 2021, o  ensino superior brasileiro possui um total de 313 
universidades públicas. Para análise dessa tabela levou-se em consideração apenas os dados 
referentes à graduação no ensino superior público, de acordo com quantitativos de matrículas, 
ingressantes e concluintes. 
FIGURA 1 – Estatística do ensino superior brasileiro - 2021  
Fonte: Mec/Inep - MEC/Capes (2021).  
  Todavia,  no  início  dos  anos  1980,  em  alguns  países  da  América  Latina  foram 
adotadas algumas políticas de proteção social com ênfase nos programas sociais e reformas 
políticas e a educação não ficou à margem dessas iniciativas (DUARTE; OLIVEIRA, 2005). 
De acordo com esses autores, no âmbito educacional, as políticas e reformas estabelecidas 
tinham um caráter dualista e contraditório. Por um lado, assumia como uma política social de 
cunho  universal  (a  ampliação  da  escolaridade  e  o  crescimento  do  contingente  de  alunos 
atendidos nos sistemas e redes públicas, na maior parte dos países latino-americanos, é um 
indicador desta tendência). Por outro lado, tinha uma lógica de focalização em grupos mais 
vulneráveis  e  o  acesso  e  permanência  das  minorias  no  acesso  à  educação,  mediante  o 
estabelecimento  de  políticas  sociais  como  as  cotas  raciais  para  negros  nas  universidades 
públicas e os programas de renda mínima – a Bolsa-Escola (DUARTE; OLIVEIRA, 2005). 
  Destarte, no Brasil essas políticas vêm sendo revisadas e incorporando novas políticas 
educacionais,  através  das  reformas  no  aparelho  do  Estado  promovido  pelo  governo  de 
Fernando Henrique Cardoso ou  FHC como  é denominado. Com  a chegada de Luís Inácio 
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Lula da Silva, ou simplesmente Lula, intensificou-se as reformas impulsionado a criação do 
Fundo  de  Manutenção  e  Desenvolvimento  da  Educação  Básica  e  Valorização  dos 
Profissionais  da  Educação  (FUNDEB).  Porém,  antes  disso  no  governo  de  FHC  já  havia 
políticas de priorização do ensino fundamental na política de financiamento através do Fundo 
de  Financiamento  e  Manutenção  do  Ensino  Fundamental  e  de  Valorização  do  Magistério 
(FUNDEF). Sendo assim, no governo Lula o FUNDEF e FUNDEB foram integrados como 
“[...] principal mecanismo de financiamento da educação básica, compreendendo agora suas 
três etapas: Ensino Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio com duração prevista por 14 
anos” (OLIVEIRA, 2009).  
No  que  tange  à  implementação  das  políticas  sociais,  a  educação  tem  sido  alvo 
importante na  distribuição destas políticas direcionadas à juventude. Como exemplo  disso, 
podem ser identificados os programas como Projovem
3
 e o Primeiro Emprego
4
. Os programas 
resultam  de  acordo  entre  governo  federal  com  os  estados  e  municípios,  os  quais  foram 
estratégias das entidades públicas para efetivação do projeto de descentralização educacional 
e a autonomia regional no processo de gestão de políticas públicas. 
  Diante disso, fica perceptível que o Estado tem como função social a garantia para os 
cidadãos de um conjunto de direitos fundamentais e um deles é o direito à educação. Para 
assegurar  esse  direito  a  toda  população  é  preciso  implementar  políticas  educacionais  de 
acesso ao ensino superior, mormente garantir que os grupos de minorias possam se inserir e 
permanecer nas  universidades.  Em  2004  foi  criado o Programa Universidades  para  Todos 
(PROUNI) pelo governo federal da época e foi institucionalizado em janeiro de 2005 pela Lei 
Federal n.º 11.096, de 13 de janeiro de 2005. O programa tem como finalidade a concessão de 
bolsa de estudos integral e parcial aos estudantes do curso de graduação (MOTA JÚNIOR, 
2016).  O  ProUni  concede  uma  reserva  percentual  das  bolsas  ofertadas  para  os 
afrodescendentes, os indígenas e portadores de necessidades especiais.  
  Com base em Macedo (2019) pode-se afirmar que:  
[...] entre 1995 e 2012, a matrícula no ensino superior cresceu 360%, passando de 
1,7 milhões de estudantes em 1995, para 7 milhões em 2012, incluindo matrículas 
em cursos presenciais e à distância. Em 2018, já eram 8,4 milhões de matrículas, 
sendo  que  apenas  25%  no  setor público (INEP,  2019).  Especialmente a partir de 
2004,  novas  políticas educacionais  com  foco  em marcadores sociais da  diferença 
como classe e raça ganharam força, tanto para expandir o setor público como para 
subsidiar o ingresso de estudantes no setor privado (MACEDO, 2019). 
3
 É um programa educacional destinado a jovens com 18 a 29 anos residentes em áreas urbanas que, por diversos 
motivos, foram excluídos da escolarização, com o objetivo de reintegrá-los ao processo educacional, elevar sua 
escolaridade e promover sua formação cidadã e qualificação profissional, por meio de curso com duração de 
dezoito meses. 
4
 É uma ação social de combate ao desemprego dos jovens, promovido pelo Governo do Estado para inserir 
egressos e estudantes da Educação Profissional no mundo do trabalho, além de estimular uma maior dedicação 
na sala de aula, justamente por contemplar aqueles com melhores resultados. 
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  Assim, fica evidente que as políticas públicas desempenham um papel importante na 
educação. Ademais, a concessão dessas bolsas parciais de 50% é oferecida aos estudantes que 
tenham renda familiar de até três salários-mínimos e quando se trata de bolsas integrais são 
oferecidas para os estudantes que tenham renda familiar de até 1,5 salário-mínimo. 
  Segundo Moura (2014), as instituições de ensino que fazem partes do programa estão 
livres de impostos e com incentivos fiscais, no qual podem ser citados: o Imposto de Renda 
da  Pessoa  Jurídica,  Contribuição  Social  sobre  o  Lucro  Líquido,  Contribuição  Social  para 
Financiamento da Seguridade Social e Contribuição para o Programa de Integração Social. 
Quando  se  refere  às  candidaturas  às  bolsas  do  ProUni  só  serão  aceites  os  estudantes  que 
realizaram as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e tiverem a nota mínima 
de 400 pontos na média (MOURA, 2014). 
Assim sendo, percebe-se que as  políticas de  ações afirmativas
5
 têm sido  de grande 
importância para inserção das classes minoritárias nas universidades do país. Portanto, dentro 
das Políticas Afirmativas, o Programa Nacional de Assistência Estudantil, criado a partir do 
Decreto  Federal  nº  7.234,  de  19  de  julho  de  2010,  em  conjunto  com  o  Ministério  da 
Educação, tem o objetivo de ampliar os mecanismos e instrumentos para permanência dos 
estudantes no ensino superior, democratizando  o ensino, reduzindo  as taxas de retenção e 
evasão,  e  ampliar  o  acesso  da  sociedade,  diminuindo  as  desigualdades  sociais  através  da 
educação de qualidade, pelo tripé ensino, pesquisa e extensão.   
Além do Programa Nacional de Assistência Estudantil e do ProUni, também existem 
uma série de programas voltados para a educação superior no Brasil que facilitam a inserção 
dos  estudantes  brasileiros  e  estrangeiros  nas  universidades  públicas  federais,  tais  como: 
Programa Educação Tutorial (PET), Programa Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), 
Programa  de  Bolsa  Permanência  (PBP)  e  Fundo  de  Financiamento  Estudantil  (Fies),  etc. 
Diante disso, ocorreu  ainda  a criação do Programa de Apoio  a  Plano  de Reestruturação  e 
Expansão  das  Universidades  Federais  (REUNI)  que  ampliou  o  acesso  à  rede  pública  das 
instituições federais de educação superior. Então pode-se afirmar que: 
Esse programa, instituído pelo Decreto Federal nº 6.096/2007, teve como principais 
objetivos: garantir condições suficientes para a ampliação do acesso e permanência 
de estudantes nas universidades; assegurar a qualidade nas instituições, por meio de 
inovações  acadêmicas;  promover  a  articulação  entre  os  diversos  níveis  de ensino 
(graduação,  pós-graduação  e  educação  básica,  profissional  e  tecnológica);  como 
também  qualificar  a  gestão  de  pessoas  e  os  recursos  da  infraestrutura  das  IES 
(MOTA JÚNIOR, 2016, p. 12). 
5
 São ações positivas desenvolvidas pelo poder público que permitem o tratamento diferenciado de grupos de 
pessoas  que  sofreram  ou  sofrem  de  algum  tipo  de  exclusão,  racismo,  marginalização  ou  outros  tipos  de 
discriminações na sociedade. 
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Em  forma  de  síntese,  afirma-se  que  as  políticas  educacionais  no  ensino  superior 
brasileiro tiveram um período virtuoso que pode ser notado nos diversos programas de apoios 
às universidades e aos estudantes, porém nos últimos anos a educação brasileira vem sofrendo 
cortes  de  verbas  significativas,  principalmente  no  ensino  superior,  que  será  abordado  no 
próximo tópico. 
4  CORTES  DE  VERBAS  NAS  UNIVERSIDADES  FEDERAIS:  o  sucateamento  do 
ensino em tempos de pandemia 
O surgimento do vírus denominado de novo Coronavírus, na China no final do ano de 
2019, trouxe novos desafios para o campo da educação. A pandemia da Covid-19 declarada, 
em 11 de março de 2020, pela Organização Mundial da Saúde e a declaração de quarentena 
em vários países, levou a educação brasileira a ser realizada num modelo pedagógico calcado 
no  ensino  remoto  em  diferentes  modalidades  de  forma  imediata.  Muito  antes  do  cenário 
pandêmico,  a  educação  brasileira  já  vinha  sofrendo  diversos cortes  orçamentários  desde  a 
educação infantil até a educação superior, atingindo a graduação, pós-graduação, projetos de 
extensão, pesquisa e assistência estudantil.  
Nas  palavras  de  Paulo  Afonso  Burmann,  reitor  da  Universidade  Federal  de  Santa 
Maria, estes cortes impossibilitam o funcionamento e manutenção dos projetos de ensino e 
extensão. O reitor argumenta que: 
As universidades já vêm sofrendo  com  os  cortes  ao  longo  dos  últimos  anos. Em 
2020,  a  crise do Coronavírus exigiu novas práticas e investimentos diversos  para 
ações  de  enfrentamento  à  pandemia.  Agora  somos  surpreendidos  com  mais  este 
anúncio.  Em  2021,  provavelmente,  teremos  o  retorno  presencial,  que  exigirá  a 
manutenção e fortalecimento de contratos de profissionais de vigilância, de limpeza 
e  de  equipes  de  saúde.  As  exigências  de  biossegurança  são  muito  maiores  e  as 
atividades  da  Universidade  não  param,  ao  contrário,  a  Universidade  vem  sendo 
muito mais demandada. Não é possível e imaginável abrir mão de um orçamento 
justo.  Precisamos  de  investimento  e  recursos  para  manter  as  atividades  na 
Universidade (BURMANN, 2020). 
A preocupação dos gestores das universidades públicas tem sido crescente, em relação 
aos sucessivos cortes nos orçamentos universitários. Isso porque os cortes influenciam direta 
e  indiretamente  na  qualidade  educacional,  de  um  projeto  que  mesmo  em  tempos  não 
pandêmicos já vinha sendo ameaçado. De acordo com a reitora da Universidade Federal do 
Rio  de  Janeiro  (UFRJ),  Denise  Carvalho  e  do  vice-reitor  Carlos  Rocha  (2021),  o  corte 
orçamentário naquela universidade não é novidade, tendo em vista que desde 2012 (Gráfico 
1)  o  governo  federal  tem  investido  cada  vez  menos,  na  reconhecida  como  a  maior 
universidade  federal do país e a segundo no  ranking  de  produção  e inovações.  Ainda, no 
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mesmo artigo publicado no jornal O Globo, afirmam que o atual orçamento de 2021 é igual ao 
que receberam em 2008. 
Gráfico 1 - Discriminação Orçamentária da UFRJ 2012-2021, em milhões de reais 
Fonte: Assessoria de Imprensa UFRJ (2021). 
O  Gráfico  1  ilustra  que  desde  2012  a  UFRJ  sofreu  corte  de  474  milhões  de  reais. 
Outrossim, cabe destacar que em agosto de 2020 o Ministério da Educação encaminhou para 
o Congresso Nacional as propostas dos orçamentos universitários referentes ao ano de 2021. 
O reitor da UFSM sugere a necessidade de conversar com os parlamentares, na tentativa de 
reverter a decisão no Congresso Nacional, caso contrário, se o orçamento for aprovado com 
este corte de 18,2%, algumas universidades podem fechar as portas antes de agosto de 2021 
(UFSM, 2020). 
O pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças da UFRJ, Eduardo Raupp, 
na sua comunicação ao portal on-line Diário da Manhã afirma que: 
É  uma  situação  muito  temerária  para  o  nosso  funcionamento.  Nós  temos  poucos 
meses de fôlego, cerca de dois ou três, com base no orçamento livre. E mesmo com 
o orçamento condicionado vindo a ser aprovado, diante desse bloqueio a gente tem 
orçamento, no  máximo,  até  o  mês de agosto ou setembro. É uma situação muito 
crítica (RAUPP, 2021).  
Desta forma, fica perceptível que os projetos das universidades públicas federais e o 
ensino público de qualidade estão em ameaça e com a pandemia esta tendência se agravou – o 
que  pode  ser  denominado  de  sucateamento  do  ensino  superior  público.  Nessa  linha  de 
pensamento o professor Flávio da Silva (2021) advoga que:  
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O  atual  governo  tem  aproveitado  a  pandemia  do  coronavírus  (Covid-19)  para 
castigar ainda mais o ensino público. Cortes de verbas atingem todos os níveis da 
educação – desde o básico ao superior. A redução de orçamento também atinge a 
pesquisa,  tão  necessária,  principalmente,  neste  momento  de  pandemia.  Não  há 
histórico de uma gestão que tenha sido tão cruel para a educação (SILVA, 2021, p. 
3). 
Pode-se notar que se durante as décadas de 2000 as políticas educacionais contavam 
com  uma  forte  intervenção  do  Estado  ou  governo,  atualmente  há  um  distanciamento  e  o 
governo além de se afastar tem diminuído os orçamentos para a educação. A educação pública 
brasileira vive uma fase de retrocesso em todos os sentidos. Nos termos de Carvalho (2021): 
[...]  é  uma  escolha  que  o  país  está  fazendo,  que  é  abandonar  suas  instituições 
públicas  de  ensino,  pesquisa  e  extensão,  a  casa  do  saber,  o  local  de  geração  do 
conhecimento, que pode trazer uma perspectiva de um futuro melhor para o nosso 
país com o almejado desenvolvimento socioeconômico. 
Carvalho (2021) resgata os ideários da educação como mecanismo de transformação 
social e evidencia como o corte orçamentário é um perigo para aumentar as desigualdades 
sociais no país e agravar a regressão econômica à população.  
O caso da UFRJ ou da UFSM são apenas exemplos do que a maioria ou senão todas as 
universidades federais vêm sofrendo nos últimos anos com a regressão orçamentária. 
A  Lei  Orçamentária  Anual  (LOA)  de  2021  –  votada  com  atraso  pelo  Congresso 
Nacional,  em  razão  da  pandemia,  das  eleições  municipais,  mas,  principalmente, 
devido a disputas políticas, o que atrasa o repasse das verbas públicas – apresentou 
um corte de R$ 1.000.943.150 (Um bilhão, novecentos e quarenta e três mil, cento e 
cinquenta  reais),  -18,16%  em  relação  a  2020,  no  orçamento  discricionário  das 
Universidades  Federais.  A  sanção  presidencial  manteve  os  cortes  e  o  Governo 
Federal editou o decreto 10.686 de 2021 que determina um bloqueio de dotações 
com  corte  total  de  R$9,3  bilhões.  ‘O  maior  bloqueio  de  dotações  ocorreu  no 
Ministério  da  Educação,  com  R$  2,7  bilhões  (19,7%  das  despesas  aprovadas).’ 
(Fonte:  Agência  Senado).  As  universidades  foram  afetadas  em  mais  13,89% 
(SINTET-UFU, 2021). 
Com estes bloqueios acredita-se que os orçamentos não conseguem cobrir os gastos 
nem  em  tempos  normais  e  muito  menos  no  período  de  restrições  sanitárias  que  requerem 
replanejamento e medidas de ensino remoto até que se consiga vacinar toda a população para 
o retorno às atividades presenciais. Face a isso, Carvalho (2021) argumenta que: 
Neste ano de pandemia, esperávamos um aumento, um orçamento suplementar de, 
pelo  menos,  20%.  Jamais  esperaríamos  esse  corte.  Se  pensarmos  que  o  dólar 
aumentou muito nos últimos anos, temos um orçamento em dólar assustadoramente 
menor, o que inviabiliza o funcionamento dessas importantes instituições de estado 
no Brasil. 
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Os cortes não  só  limitam  o  funcionamento técnico  das  universidades,  mas  também 
afetam de forma direta e indireta o programa de assistência estudantil, tendo em vista que, 
“além  da  pandemia  da  covid-19,  o  ano  de  2020  trouxe  ainda  uma  nova  barreira  para  as 
instituições federais de ensino superior (Ifes): o corte de 40% das verbas do Plano Nacional de 
Assistência  Estudantil  (Pnaes),  se  comparado  a  2019”  (PORTO,  2021,  p.  6).  Apesar  dos 
cortes, as universidades têm tentado assegurar as bolsas e auxílios de assistências sociais para 
evitar um caos maior no ensino superior.  
Nessa  perspectiva,  o  pró-reitor  de  assuntos  estudantis  da  Universidade  Federal  do 
Catalão – UFCAT, Emerson Gervásio (2021), argumenta que a instituição tem priorizado as 
assistências aos alunos  bolsistas ou cotistas com subsídios de alimentação e saúde. Ainda, 
salienta  que  por  conta  da  pandemia  e  das  aulas  remotas,  os  serviços  de  restaurante 
universitário  foram  suspensos,  o  que  estimulou  a  universidade  a  estabelecer  bolsas 
alimentação  para  os  discentes  em  situação  de  vulnerabilidade  social.  A  UFCAT,  ainda 
disponibilizou  assistência  de  saúde  para  todas  as  categorias  por  causa  da  pandemia  e  aos 
estudantes este projeto (saúde física e mental) tem como propósito garantir a sua permanência 
na universidade (GERVÁSIO, 2021, p. 6).  
Não obstante, na pandemia diversos países direcionaram maior capital financeiro nos 
projetos educacionais, de modo a incentivar a criação de vacinas e outros insumos sanitários 
de combate a covid-19, porém o governo brasileiro em vez disso, adotou os cortes de verbas, 
prejudicando o papel da ciência em busca de soluções (vacina) para combater a proliferação 
da Covid-19 no país. 
O  governo  Bolsonaro  cortou  68,9%  da  cota  de  importação  de  equipamentos  e 
insumos  destinados  à  pesquisa  científica,  o  que  afetará  ações  desenvolvidas  pelo 
Instituto Butantan e pela Fiocruz no combate à pandemia da Covid-19. O valor foi 
reduzido  de  US$  300  milhões  (R$  1,6  bilhão)  no  ano  passado  para  US$  93,29 
milhões  (R$  499,6  milhões).  Um  levantamento  feito  pelo  CNPq  mostra  que  a 
redução  feita pelo governo Bolsonaro, em plena  pandemia, é  sem precedentes na 
última década (DEUS, 2021, p. 5). 
De forma complementar, Silva (2021, p. 3) argumenta  que  “[...] tivemos cortes nas 
universidades federais, cortes de bolsas, perdas salariais e outras ações que têm impactado de 
forma negativa todo o legado construído pela educação nas últimas décadas”.  
Em forma de síntese, pode-se afirmar que mesmo com o projeto de sucateamento das 
instituições públicas federais, principalmente no governo Bolsonaro, mediante as regressões 
orçamentárias, as universidades vêm resistindo e desempenhando um papel fundamental no 
combate a cCvid-19. Nesse contexto, João de Deus (2021) que é professor da Universidade 
Federal de Goiás (UFG), afirma que: 
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Enquanto os cortes e ataques continuam, a universidade pública faz o seu trabalho. 
O  novo  Hospital  das  Clínicas  foi  um  dos  hospitais  que  auxiliou  a  desafogar  o 
colapso da saúde em Manaus. Foram recebidos 18 pacientes manauaras, 10 deles na 
UTI.  Enquanto  o  Governo  Federal  oferece  indiferença,  cabe  aos  tão  combalidos 
servidores  públicos  da  saúde  e  da  educação  assumir  esse  ônus  com  qualidade  e 
dedicação (DEUS, 2021, p. 5).  
Assim,  fica  evidente  que  mesmo  com  o  caos  do  governo  federal  em  relação  às 
políticas educacionais e o combate a pandemia, as universidades resistiram e desafiaram o 
governo, criando mecanismos de autossobrevivência, contudo comprometendo a qualidade de 
ensino, pesquisa e extensão. 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Para  analisar  as  políticas  educacionais  do  ensino  superior  no  contexto  brasileiro,  é 
necessário recorrer aos conceitos teóricos para reforçar o debate sobre as suas comparações e 
efetividades. Portanto, nessa pesquisa não foi possível revisar todas as literaturas relacionadas 
a temática, mas procurou suprir as limitações e indagações de conceitos que permitiram uma 
análise simples e detalhada acerca da política educacional no ensino superior brasileiro e os 
seus  desafios,  principalmente  durante  a  pandemia  de  Covid-19.  Conquanto,  é  possível 
perceber  que  as  universidades  públicas  federias  enfrentaram  dificuldades  causados  pelos 
cortes da verbais orçamentárias, antes e durante a pandemia.  
Dessa  forma,  o  presente  trabalho  buscou  discutir  e  refletir  acerca  das  políticas 
educacionais, em especial analisar os cortes de verbas e sua relação com o sucateamento das 
universidades públicas federais. A pesquisa evidenciou que a política pública educacional no 
ensino superior brasileira obteve grandes avanços a partir dos anos 2000 com a chegada do 
Governo Luís Inácio Lula da Silva e seus projetos de internacionalização e interiorização da 
educação  brasileira.  Porém,  após  2012  os  orçamentos  universitários  vêm  diminuindo 
significativamente, comprometendo assim a qualidade de ensino, pesquisa e extensão no país. 
Nos governos seguintes, evidenciou-se que as políticas educacionais não tiveram em 
pauta,  principalmente  em  termos  de  reformas  e  estímulos  à  formação  baseado  no  tripé  – 
ensino, pesquisa e extensão universitária. Os sucessivos cortes têm impactado diretamente na 
qualidade  da  educação,  o  que  possibilita  concluir  que  o  próprio  governo  federal  vem 
sucateando a educação e diminuindo a sua capacidade de atuação.  
Constatou-se que as verbas cortadas em tempos de pandemia da Covid-19 afetaram 
diretamente a permanência dos  estudantes nas universidades, tendo em  vista que inúmeros 
estudantes  dependem  dos  subsídios  amparados  pela  PNAES  para  sua  permanência  nas 
universidades. Sendo assim, gerou-se um risco de a educação brasileira no ensino superior 
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entrar em decadência, devido a estes cortes feitos pelos governos. Entretanto, é necessário que 
iniciativas  interrompam  esse  ciclo  prejudicial  de  tais  cortes  para  que  várias  universidades 
públicas federais não comprometam a qualidade do ensino, pesquisa e extensão, por falta de 
recursos financeiros, e consequentemente promovam a evasão escolar. 
No que tange as limitações da pesquisa, acredita-se que as dificuldades com os estudos 
longitudinais que abordam a temática da educação e sua relação com as cortes orçamentarias 
já que não é um fenômeno recente, embora acredite-se que na pandemia teve efeitos mais 
diretos. Além disso, não foi possível ter acesso a todos os dados sobre os valores das cortes e 
fazer uma análise comparativa sobre as instituições e as diversas formas de prejuízos gerados 
por elas, já que as universidades públicas têm peculiaridades entre si. 
No entanto,  o presente trabalho  contribui para as  discussões científicas por  colocar 
uma  temática  que  tem  ganhado  espaço  nos  debates  acadêmicos  e  científicos,  assim  como 
serve de alicerce para as universidades e pesquisadores que buscam desenvolver uma agenda 
de pesquisa em torno da redução orçamentária e sua relação com a qualidade educacional. Em 
forma de síntese, por se tratar de uma primeira abordagem sobre a temática, recomenda-se um 
estudo  mais  detalhado  sobre  os  efeitos  das  cortes  orçamentárias  sobre  a  qualidade 
educacional, assim como suas consequências no processo de desenvolvimento brasileiro.  
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