O TRABALHO REMOTO DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19: VANTAGENS
E DESVANTAGENS1
REMOTE WORKING DURING THE COVID-19 PANDEMIC: ADVANTAGES AND
DISADVANTAGES
EDUARDO MATHEUS CISZ
Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP)
E-mail: eduardocisz@hotmail.com
MARCIA DE SOUZA BRONZERI
Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP)
E-mail: mbronzeri@uenp.edu.br
RESUMO
Durante a pandemia de COVID-19 diversas empresas precisaram adotar o trabalho remoto, para
continuar suas atividades em um período de isolamento social. Além do problema da pandemia,
em si, surgiu, então, o desafio para gestores e trabalhadores, de adotar uma forma diferente de
executar as tarefas. Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo identificar as vantagens
e desvantagens do trabalho remoto, na perspectiva de teletrabalhadores, estudantes do curso de
administração de uma Universidade Estadual. Foi conduzida uma pesquisa descritiva, com
abordagem quantitativa, utilizando o procedimento técnico de levantamento de dados (survey). Os
dados foram coletados por meio de questionário on-line, auto administrados, com convites
enviados por meio de aplicativo de troca de mensagens instantâneas para representantes de
turmas, resultando na adesão voluntária de 30 acadêmicos. A análise dos dados foi realizada
utilizando estatísticas descritivas e análise de diferenças entre os grupos, com o auxílio do
software estatístico SPSS. Os resultados destacaram a flexibilidade de horários e a oportunidade
de passar mais tempo com a família como as principais vantagens do trabalho remoto. Em
contrapartida, as principais desvantagens identificadas incluíram a falta de equipamentos
adequados ou modernos e a recepção de demandas de trabalho em qualquer horário e dia da
semana por parte dos supervisores.
Palavras-chave: Trabalho remoto, Vantagens, Desvantagens, Pandemia, COVID-19.
ABSTRACT
During the COVID-19 pandemic, numerous companies were compelled to embrace remote work to
sustain their operations during a period of social isolation. Beyond the pandemic challenge itself,
managers and employees encountered the task of adopting a different approach to task execution.
This study aimed to identify the advantages and disadvantages of remote work from the
perspective of teleworkers, specifically students enrolled in the administration course at a State
University. A descriptive research methodology with a quantitative approach was employed,
utilizing a survey-based data collection method through an online self-administered questionnaire.
Invitations were sent via instant messaging applications to class representatives, resulting in the
voluntary participation of 30 students. Data analysis involved descriptive statistics and group
difference analysis using the SPSS statistical software. The findings highlighted schedule flexibility
and increased family time as the primary advantages of remote work. Conversely, identified
disadvantages included inadequate or outdated equipment and supervisors' demands for work at
any time and day of the week.
Keywords: Telecommuting, Advantages, Disadvantages, Pandemic, COVID-19.
1 DOI: https://doi.org/10.5935/2763-9673.20230009
Revista de Estudos em Organizações e Controladoria-REOC, ISSN 2763-9673, UNICENTRO, Irati-PR, v. 3, n. 2, p. 67-95,
jul./dez., 2023.
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Eduardo Matheus Cisz e Marcia de Souza Bronzeri
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1. INTRODUÇÃO
O ano de 2020 caracterizou-se pela crise histórica provocada pela pandemia
da COVID-19. Isso gerou isolamento social, como importante medida de prevenção
do contágio, e impactou a vida das pessoas em diversos aspectos, dentre eles a
forma de trabalho, com a intensificação do trabalho remoto. Perante essa mudança,
os trabalhadores e gestores viram-se desafiados a encontrar formas adequadas de
execução de suas tarefas, que rivalizam com o tempo para convivência familiar,
afazeres domésticos, atividades acadêmicas, entre outras.
Felizmente, a evolução tecnológica possibilitou a adoção do trabalho remoto,
sendo as tarefas executadas de qualquer outro lugar, que não seja o ambiente
corporativo. Porém, o trabalho remoto não era usual em diversas organizações e
levou estas a descobrirem formas de adaptação para continuidade das suas
operações.
Diante desse cenário, analisando a possibilidade de continuidade do
trabalho remoto, ainda que parcialmente, para algumas empresas, após o término
do isolamento social, questiona-se quais são as vantagens e quais são as
desvantagens associadas a essa modalidade de trabalho. Dessa forma, esta
pesquisa teve como objetivo principal identificar as vantagens e desvantagens
percebidas pelos trabalhadores, acadêmicos do curso de administração de uma
Universidade Estadual, em relação ao trabalho remoto durante a pandemia de
COVID-19.
Do ponto de vista teórico, a questão do trabalho remoto entre jovens
trabalhadores durante a pandemia de COVID-19 contribui para o conhecimento de
elementos, tais como gestão de pessoas e sociologia, possibilitando identificar o
impacto desse modo de trabalho no desempenho profissional e no necessário
equilíbrio deste com a vida pessoal. A justificativa prática reside no fato de que os
resultados podem fornecer orientações para a formulação de políticas
organizacionais voltadas ao trabalho remoto, adotando medidas para construção de
ambientes de trabalho mais flexíveis e adaptáveis, capazes de atrair e reter uma
força de trabalho jovem qualificada em um cenário pós-pandemia.
A pesquisa está estruturada de forma a apresentar, além desta introdução, a
revisão de literatura, com conceitos e dados sobre o trabalho remoto, as vantagens
e desvantagens dessa modalidade. Após, é descrita a metodologia usada no
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desenvolvimento da pesquisa. A apresentação e análise dos resultados é
desenvolvida na sequência, culminando com as considerações finais.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Aqui são apresentados aspectos relevantes sobre o trabalho remoto.
Também são apresentadas vantagens, desvantagens e impactos da pandemia de
COVID-19 no trabalho presencial.
2.1. O Trabalho Remoto
Nilles (1988) apresenta o trabalho remoto relacionado às palavras
teleworking e telecommuting, como substituição total ou parcial do trabalho
presencial pela telecomunicação. Como não há um consenso sobre a abrangência
da definição, ambos os termos são utilizados para descrever diferentes modalidades
de teletrabalho.
Segundo Tremblay (2004), apesar da palavra home office referir-se ao
trabalho em casa, outros estudos referem-se a ela como sendo todas as outras
formas de trabalho externo feitas por meio de tecnologias da informação (TI), assim
como trabalhos móveis, que são realizados em variados locais fora do escritório
central da empresa (por vendedores, representantes técnicos, etc.), trabalhos
desempenhados pelos funcionários através de telecentros ou telecabinas e
trabalhos de funcionários da mesma empresa, mas em escritórios satélites. Diante
da diversidade de termos, no presente trabalho foi definida a utilização do termo
trabalho remoto.
O trabalho remoto é uma forma alternativa para transformar e estimular o
mercado de trabalho. Porém, tal prática não é de cunho amador, pois faz-se
necessário que o teletrabalhador tenha disciplina, metas claras e realizáveis,
ambiente adequado para realização das metas e controle sobre o tempo para
conciliar as atividades laborais com as domésticas. O autor afirma que o início do
século XXI foi o momento propício para a legitimação do trabalho remoto, pois foi
naquele período que a maioria das tecnologias de comunicações existentes
permitiam quase todos os tipos de execuções de atividades a partir de casa, o que
causou transformações nas empresas e trouxe novas formas para realização de
trabalhos e negócios (MELLO, 1999).
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As novas formas para realização de trabalhos e negócios foram
incorporadas à legislação trabalhista. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT,
2017), no Art. 75-B, estabelece que:
Art. 75-B Considera-se teletrabalho a prestação de serviços
preponderantemente fora das dependências do empregador, com a
utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua
natureza, não se constituam como trabalho externo.
Parágrafo único. O comparecimento às dependências do empregador para
a realização de atividades específicas que exijam a presença do empregado
no estabelecimento não descaracteriza o regime de teletrabalho (Incluído
pela Lei Federal nº 13.467/2017).
Morgan (2004) frisa que o trabalho não é apenas o local para onde as
pessoas vão, mas sim algo que elas fazem. Dessa forma, o autor conceitua o
trabalho remoto como do tipo flexível, que pode assumir três conotações: locais
flexíveis, horários flexíveis e contratos flexíveis. Complementa que, com esse
formato de trabalho sendo cada dia mais adotado, pode se esperar uma grande
migração de trabalhadores do ambiente físico da empresa, para o trabalho em suas
próprias residências. Há que se observar que, quanto maior a abrangência de o que
seja o trabalho remoto, maior será a estimativa do número de teletrabalhadores em
determinado país ou região (TREMBLAY, 2004).
2.2. Características do Trabalho Remoto
Segundo o US Office of Personnel Management (2003), um bom
planejamento de trabalho remoto começa com uma boa autoavaliação. Os
funcionários devem considerar os seguintes fatores, ao fazer uma determinação
honesta sobre suas capacidades de trabalho remoto:
a) Portabilidade de trabalho suficiente para a quantidade de trabalho remoto
proposta;
b) Conhecimento das tecnologias, pois serão necessárias para o trabalho
remoto;
c) Boa comunicação com seu gerente, colegas de trabalho e clientes, o que
permitirá uma transição relativamente perfeita do local para o externo;
d) Escritório de trabalho remoto que conduza à realização do trabalho;
e) Acordos de cuidados com os dependentes (sejam creches, idosos ou
quaisquer outros dependentes) durante o período de trabalho remoto;
f) Capacidade de ser flexível sobre o acordo de trabalho remoto para
responder às necessidades do gerente, do grupo de trabalho e do trabalho.
(US OFFICE OF PERSONNEL MANAGEMENT, 2003, p. 62).
Além de tudo isso, para ser um teletrabalhador de sucesso é necessário ter
hábitos de trabalho que apoiem o desempenho de tarefas independentes (US
OFFICE OF PERSONNEL MANAGEMENT, 2003). Esses hábitos incluem:
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a) Capacidade de trabalhar com mínima supervisão direta;
b) boas habilidades de planejamento;
c) Capacidade de cumprir cronogramas e prazos;
d) Habilidades eficazes de gerenciamento de tempo;
e) Habilidades comunicativas (US OFFICE OF PERSONNEL
MANAGEMENT, 2003, p. 51).
Tanto Mello (1999) quanto Nilles (1997) concordam sobre diversos requisitos
fundamentais para a implementação bem-sucedida do trabalho remoto que incluem:
a) tarefas de planejamento; b) a disponibilidade dos equipamentos necessários; c) o
estabelecimento de hábitos de trabalho em casa; e d) a manutenção de uma
comunicação eficiente. Esses elementos são cruciais para garantir o sucesso do
trabalho remoto tanto para os colaboradores quanto para as empresas.
Para Nilles (1997) as tarefas de planejamento são constituídas em identificar
as tarefas, a agenda de trabalho, a flexibilidade e a programação. Com relação aos
equipamentos, tanto o telefone quanto o computador, conectados à Internet, são
imprescindíveis. Sobre os hábitos de trabalho em casa, o teletrabalhador deve se
planejar tanto em termos de segurança como de conforto, sendo que o ideal é ter
uma sala separada, cadeiras e mesas confortáveis e ajustáveis, iluminação
adequada e um ambiente com o mínimo de ruído possível, a fim de evitar distrações.
2.3. Vantagens e Desvantagens do Trabalho Remoto
Entre as vantagens do trabalho remoto há a possibilidade de recrutamento
de funcionários a partir de uma área geográfica maior e uma menor ocorrência de
absenteísmo devido a não ser necessário o deslocamento para o ambiente físico da
empresa, que fica mais difícil em função do trânsito e do clima. O trabalho remoto
possibilita ao teletrabalhador passar mais tempo com a família e dedicar-se ao lazer
e seus hobbies (MELLO, 1999).
Uma desvantagem do trabalho remoto é a falta de suporte para os
teletrabalhadores, pois, como não estão no ambiente físico da empresa, acabam
tendo mais dificuldades em solucionar problemas profissionais, mais
especificamente, os relacionados com recursos tecnológicos, prejudicando a
performance e ocasionando insatisfação com relação à essa modalidade de trabalho
(TREMBLAY, 2004). O autor também cita a questão do sentimento de isolamento e
uma maior jornada de trabalho, que fazem com que o teletrabalhador deixe de
compartilhar os mesmos valores da empresa, apresentando uma possível perda de
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