ANÁLISE DO PROCESSO DE RESILIÊNCIA DAS PEQUENAS EMPRESAS
DURANTE O COVID-191
ANALYSIS OF THE RESILIENCE PROCESS OF SMALL BUSINESSES
DURING COVID-19
ELY ANDREWS COSTA DE OLIVEIRA
Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
E-mail: elyandrews@gmail.com
JONAS FERNANDO PETRY
Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
E-mail: jonasfernandopetry@gmail.com
CRISTIANE DO NASCIMENTO BRANDÃO
Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
E-mail: cristianebrandao@ufam.edu.br
HILMAR TADEU CHAVES
Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
E-mail: hilmar.chaves@ufam.edu.br
Resumo
O estudo tem como objetivo compreender a resiliência de pequenas empresas no segmento de
venda de smartphones durante a pandemia da COVID-19. Esta crise global causou desequilíbrios
econômicos, impactando significativamente na vida das pequenas empresas. Enquanto a
pandemia exaltava disparidades, especialmente em nações em desenvolvimento, a resiliência e a
adaptabilidade emergiram como fatores essenciais para a sobrevivência empresarial. Ao analisar
entrevistas com proprietários de pequenas empresas do segmento de smartphones na cidade de
Manaus, observamos que a resiliência psicológica desempenhou um papel importante na
superação de adversidades. Empreendedorismo e resiliência revelaram-se profundamente
conectados, com empreendedores demonstrando uma capacidade notável de enfrentar desafios e
se adaptar a um mercado em constante mudança. Características resilientes, como aprendizagem
e capacidade de adaptação, provaram ser essenciais para a sobrevivência e crescimento dos
negócios.
Palavras-Chave: Resiliência psicológica, Resiliência de pequenas empresas, Resiliência
empreendedora, Impacto percebido, Efeitos da COVID-19 nas empresas.
ABSTRACT
The study aims to understand the resilience of small businesses in the smartphone sales segment
during the COVID-19 pandemic. This global crisis has caused economic imbalances, significantly
impacting the lives of small businesses. While the pandemic highlighted disparities, especially in
developing nations, resilience and adaptability have emerged as essential factors for business
survival. Analyzing interviews with small business owners in the smartphone segment in the city of
Manaus, we observed that psychological resilience played a crucial role in overcoming adversities.
Entrepreneurship and resilience have proven to be deeply interconnected, with entrepreneurs
demonstrating a remarkable ability to face challenges and adapt to a constantly changing market.
Resilient characteristics, such as learning and adaptability, have proven to be essential for the
survival and growth of businesses.
Key-words: Psychological resilience, Small business resilience, Entrepreneurial resilience,
Perceived impact, Effects of COVID-19 on business.
1 DOI: https://doi.org/10.5935/2763-9673.20230013
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1. INTRODUÇÃO
Ao longo da história, diversas catástrofes e pandemias têm influenciado
diretamente a dinâmica socioeconômica global. Dentre elas, a pandemia da
COVID-19 se manifestou como um desafio sem precedentes. O vírus foi
responsável pela morte de milhões de indivíduos globalmente, alterando de
maneira drástica e abrupta a rotina da população mundial. Até o final de 2021, o
número de mortes atribuídas à doença superou os quatro milhões (BELITSKI et
al., 2022).
Na tentativa de conter a propagação do vírus, medidas restritivas foram
implementadas, conduzindo a cenários de confinamento massivo, com impactos
especialmente severos no setor de serviços, onde a interação física é essencial à
operação. Notoriamente, pequenas e médias empresas, em comparação com
grandes corporações industriais, enfrentam maiores desafios neste contexto.
Em termos econômicos, estima-se que houve uma retração de 2,1% no
PIB global. Nos países desenvolvidos, essa retração foi de 2,5%, enquanto nas
nações de alta renda, a queda foi de 1,9%. De forma mais acentuada, em países
em desenvolvimento, o PIB experimentou declínios que, em determinados casos,
superaram a marca de 6,5%. Além disso, o comércio internacional sofreu com
uma redução de 2,5% em suas exportações (MALISZEWSKA et al., 2020).
No tocante às pequenas empresas, os efeitos da pandemia se mostraram
particularmente devastadores. Tais entidades, dadas a sua natureza e escala,
revelaram-se mais suscetíveis aos desafios econômicos, operacionais e
financeiros do período.
Nos Estados Unidos, estimativas indicam que aproximadamente 54% das
pequenas empresas estavam sob risco imediato ou de longo prazo durante a
pandemia da COVID-19. Esta situação colocou cerca de 48 milhões de empregos
em risco, sendo que 70% dessas empresas eram microempresas com menos de
dez funcionários (MOSSBERGER et al., 2023). Em relação ao encerramento de
empresas, estudos recentes revelaram um aumento significativo nas taxas de
fechamento (AMANKWAH-AMOAH; KHAN; WOOD, 2021; DÖRR; LICHT;
MURMANN, 2022). Para ilustrar, no segundo trimestre de 2019, 4,6% das
pequenas empresas encerraram suas atividades, número que saltou para 8,5%
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no segundo trimestre de 2020. Em contraste, para as grandes corporações, as
taxas de encerramento de 1, 3% no segundo semestre de 2019 para 2,7% no
mesmo período em 2020.
A pandemia intensificou as desigualdades globalmente, com países em
desenvolvimento sendo desproporcionalmente afetados (MALISZEWSKA et al.,
2020). No contexto brasileiro, houve uma retração de 9,7% no PIB no segundo
trimestre de 2020. Além disso, no início de 2020 registrou uma taxa de
desemprego de aproximadamente 13%. Segundo o Ministério da Economia,
houve um aumento de 4,9 milhões de desempregados até maio daquele ano
(Prates e Barbosa, 2020; Richter e Patel, 2022). Adicionalmente, de acordo com o
relatório da OCDE de 2020, as pequenas e médias empresas no Brasil
representavam 62% do emprego (RICHTER; PATEL, 2022)
Entretanto, mesmo com vários de desafios, alguns empreendedores se
destacam. O sucesso neste período adverso esteve muitas vezes atrelado à
habilidade dos empreendedores de identificar oportunidades, assumir riscos e
buscar soluções sustentáveis (WAN, 2023). A resiliência psicológica e a
capacidade de adaptação face às incertezas foram determinantes para a
continuidade dos negócios. Empresas que inovaram e se adaptaram durante a
pandemia não só superaram desafios, mas também estabeleceram novos
padrões de serviços, inaugurando um “novo normal”. Esta agilidade em adaptar-
se ao ambiente em constante mudança é crucial para superar crises, reforçando a
essência da resiliência na sustentação dos negócios (RATTEN, 2020;
SEETHARAMAN, 2020). Durante períodos de crise, algumas empresas obtiveram
sucesso, e essa frequência está relacionada ao estudo da resiliência
organizacional (IBORRA; SAFÓN; DOLZ, 2020). No contexto da COVID-19, a
resiliência das pequenas empresas tornou-se um foco de investigação,
considerando que os gestores dessas entidades desempenharam um papel
crucial na manutenção e sobrevivência dos seus respectivos modelos de
negócios. Dada essa proximidade entre a estrutura da pequena empresa e as
decisões individuais do gestor, é pertinente analisar a resiliência sob uma ótica
psicológica. O indivíduo, nesse cenário, emerge como o principal objeto de
estudo, pois é intenso e diversificado, exigindo respostas otimizadas tanto físicas
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quanto mentais. Tal demanda foi ampliada pelo ambiente de instabilidade
predominante durante uma pandemia.
O impacto da pandemia na sobrevivência das empresas ressaltou a
importância da busca por informações relacionadas à resiliência, particularmente
à resiliência organizacional em empresas que enfrentam cenários de crise
(IBORRA; SAFÓN; DOLZ, 2020). O foco da presente pesquisa é a resiliência
psicológica, direcionando a análise para os proprietários de pequenas empresas e
explorando o processo de resiliência nessas entidades. Busca-se compreender
em que medida o processo de resiliência que influenciou as pequenas empresas
durante a pandemia. Adotamos uma abordagem qualitativa, investigando clientes
que atuaram em momentos anteriores, durante e após a pandemia. O esforço se
concentrou em discernir o papel dos proprietários nas pequenas empresas e
como sua capacidade de resiliência pode influenciar diretamente a saúde do
negócio (HADJIELIAS; CHRISTOFI; TARBA, 2022). Para tal, monitoramos
proprietários de pequenas empresas varejistas nos segmentos de eletrônicos e
smartphones em Manaus durante os meses de agosto e setembro de 2023.
No encaminhamento deste artigo, será conduzida uma revisão literária,
abordando diversas teorias sobre a resiliência psicológica. Esta revisão será
pautada em uma comparação entre diversos conceitos e estudos sobre a
resiliência aplicada ao contexto da pandemia. Além disso, as análises propostas
serão discutidas e as considerações finais sobre o tema abordado serão
apresentadas.
2. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO
O estudo apresentado por Hadjielias et al. (2022) e outras pesquisas
correlatas (como por exemplo Shafi et al. (2020) e Lu et al. (2020)) objetivaram
compreender os impactos da COVID-19 nas empresas. Essas análises visaram
identificar estratégias bem-sucedidas para a sobrevivência dos negócios em face
da significativa desestabilização econômica global gerada pela pandemia. A
repercussão da COVID-19 na economia mundial foi arrasadora. Conforme o vírus
se espalhava, as autoridades implementaram medidas para conter sua
propagação, políticas de isolamento social, encerramento de instituições
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educacionais, limitações laborais e restrições à mobilidade. Essas ações geraram
impactos econômicos diretos e significativos.
Segundo dados apresentados por Maliszewska et al. (2020), o Produto
Interno Bruto (PIB) global declinou vantajoso, com uma queda de 2% em relação
à linha de base, 2, 5% nos países em desenvolvimento e 1,8% nos países
industrializados. Tais dados econômicos, todavia, não abarcam a dimensão
humana da crise: até o final de junho de 2021, a pandemia já havia ceifado a vida
de quatro milhões de indivíduos globalmente (BELITSKI et al., 2022). Os efeitos
adversos na economia, decorrentes da pandemia da COVID-19, estão
diretamente relacionados a choques econômicos. Compreender os canais mais
afetados torna-se essencial na busca por soluções (BRODEUR et al., 2021) à
medida que os mercados caem a riqueza das famílias se contrai, impacto direto
na confiança do consumidor. Este cenário mantém os consumidores reclusos e
cautelosos quanto ao mercado a longo prazo.
Além disso, geraram um impacto significativo na oferta. O avanço do vírus
perturbou a produção e, consequentemente, toda a cadeia de suprimentos. Essa
interrupção levou à paralisação de atividades produtivas e ao resultado em
demissões em grande escala (CARLSSON-SZLEZAK; REEVES; SWARTZ,
2020). A economia contemporânea experimentou repercussões sérias devido à
pandemia, desencadeando efeitos em cascata em um sistema econômico
profundamente interconectado (BRODEUR et al., 2021). Tais desdobramentos
abrangem empresas de diversos setores; o surto levou à insolvência de diversas
entidades, e marcas renomadas enfrentaram desafios consideráveis em meio à
crise instaurada (DONTHU; GUSTAFSSON, 2020). Estima-se que
aproximadamente 195 milhões de posições de trabalho foram eliminadas
(GARCÍA-SÁNCHEZ; GARCÍA-SÁNCHEZ, 2020), acarretando graves
consequências sociais.
Em particular, pequenas empresas em segmentos como hotelaria, varejo,
serviços pessoais, entretenimento e artes foram as mais prejudicadas (BELITSKI
et al., 2022), em contrapartida as empresas utilizaram as tecnologias e
responderam rapidamente ao mercado com inovação nos processos e nos
produtos. O setor de mídia e entretenimento promoveu um destaque notável na
audiência, particularmente no streaming de vídeo e na prática de jogos online,
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catalisando, consequentemente, o consumo e a comercialização de dispositivos
eletrônicos e smartphones. Paralelamente, o domínio educacional possivelmente
inovou nas metodologias de ensino e desenvolvimento de novos produtos
pedagógicos (SEETHARAMAN, 2020).
Diante de um contexto tão desafiador, torna-se imperativo entender os
matizes da resiliência, visto que as empresas que superaram maior resiliência se
mostram mais aptas a enfrentar o período subsequente à pandemia (BRYCE et
al., 2020). A resiliência é caracterizada pela habilidade de manter a
operacionalidade. Ao longo de períodos de crise, relatou-se um aumento na
investigação sobre resiliência, identificando diversos conceitos associados, tais
como resiliência empresarial, organizacional e empreendedora (CHHATWANI et
al., 2022; GIANIODIS et al., 2022; HADJIELIAS; CHRISTOFI; TARBA, 2022). No
entanto, ao direcionar a análise para as pequenas empresas, onde proprietário-
gestor, percebe-se o impacto direto que este teve. Em muitos cenários, o
proprietário-gestor foi o agente central que implementou estratégias e se adaptou
rapidamente diante dos desafios apresentados pela pandemia (CHHATWANI et
al., 2022). Esse papel foi importante para a sobrevivência e inovação das
empresas, especialmente considerando a relevância das pequenas empresas na
economia global, e mais notavelmente nas nações em desenvolvimento. Esse
contexto nos convida a revisitar o conceito de resiliência do indivíduo, com o
intuito de explorar, junto aos proprietários-gestores.
As organizações podem ser compreendidas como sistemas complexos,
compostos por diversos componentes que interagem em um ambiente dinâmico.
Este ambiente, sujeito a alterações frequentes, coloca em xeque a sobrevivência
empresarial de forma contínua (CHHATWANI et al., 2022). Muitas empresas, por
sua vez, apresentam uma capacidade notável de adaptação, reconfigurando-se
em resposta às variações ambientais que enfrentam. Adaptar-se e, mais
importante, superar as adversidades emergentes é essencial para o sucesso,
crescimento e inovação (HADJIELIAS; CHRISTOFI; TARBA, 2022). Esta
adaptabilidade promove o desenvolvimento de soluções inovadoras e uma busca
incessante por competitividade, especialmente em ambientes que são
simultaneamente desafiadores e mutáveis. É interessante observar que, em
momentos de crise, em contextos adversos, evidencia-se a importância da
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capacidade de adaptação, sustentação e resistência das organizações diante de
crises e ambientes contraditórios. Essa habilidade de se manter eficaz frente a
situações mutáveis e adversárias é conceituada como resiliência, sendo
entendida como a capacidade de um sistema ou organização de perseverar
diante de contradições e desafios (CUMMING et al., 2005).
A resiliência se manifesta de maneira mais saliente em contextos de crise.
Sem esta capacidade adaptativa, as manifestações de superação permaneceram
submersas. A estabilidade do sistema está comprometida quando há uma
transição para um novo paradigma (CUMMING et al., 2005). Predominantemente,
a literatura científica aborda a resiliência no âmbito organizacional, com um
enfoque específico na resiliência empreendedora (SANTORO et al., 2021;
SHEPHERD; SAADE; WINCENT, 2020). Contudo, diante da crise desencadeada
pela COVID-19 e da crucialidade das pequenas empresas no tecido econômico, a
figura do proprietário-gestor emerge como objeto central de investigação. Esse
agente, imerso em uma série de dilemas decorrentes da pandemia, não teve
apenas sua resiliência pessoal testada, mas também teve que tomar decisões de
grande impacto para sua equipe. Uma conjuntura adversária, marcada por
pressões tanto físicas quanto psicológicas, serve como um terreno propício para
aprofundar o entendimento da resiliência individual. Além disso, este estudo visa
elucidar como as estratégias de inovação e sobrevivência obrigatórias pelo
fundador de pequenas empresas influenciam sua equipe, família e comunidade.
O conceito de resiliência tem sido extensivamente debatido na literatura,
com estudos que remontam desde o século XIX até os dias atuais (JACKSON;
FIRTKO; EDENBOROUGH, 2007). Esse conceito abrange características e
origens de áreas tão diversas quanto à física e à psicologia comportamental.
Fundamentalmente, a resiliência refere-se à capacidade de um indivíduo ou
entidade adaptar-se a situações extremas, demonstrando resistência a influências
externas adversárias. Ao longo da vida, os indivíduos frequentemente enfrentam
desafios e adversidades. Pesquisas indicam que, pelo menos uma vez na vida,
uma pessoa estará exposta a um evento potencialmente traumático (BONANNO;
MANCINI, 2008). As respostas a tais eventos variam significativamente entre os
indivíduos: enquanto algumas respostas de maneira adversa, outros apresentam
respostas positivas. Essa divergência nas respostas, particularmente a
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capacidade de manter uma postura positiva diante de traumas, direcionando a
atenção para o estudo da resiliência psicológica. Esse campo busca compreender
os motivos pelos quais certos indivíduos prosperaram apesar das adversidades
que enfrentaram (FLETCHER; SARKAR, 2013).
A investigação sobre a resiliência individual tem atraído cada vez mais
pesquisadores (CHHATWANI et al., 2022; HADJIELIAS; CHRISTOFI; TARBA,
2022). Embora sejam confrontados com adversidades, características específicas
têm sido identificadas nos indivíduos, incluindo temperamento, autoestima,
capacidade de planejamento e um ambiente de apoio intra e extrafamiliar. O
estudo da resiliência tem experimentado uma evolução em sua perspectiva. No
início dos anos 1990, a ênfase residia em identificar os fatores protetores que
caracterizavam um indivíduo resiliente. Com o avanço do tempo, expandiu-se o
escopo de análise, abrangendo a resiliência empresarial, educacional, militar, no
desempenho esportivo e nas comunidades. Estes variados domínios de estudo
ressaltam o desafio inerente à conceituação da resiliência. Diversos estudos têm
buscado sintetizar e unificar, mesmo que de forma abrangente (CHAUDHARY et
al., 2024; SU; JUNGE, 2023; TAGLIAZUCCHI et al., 2023).
A etimologia da palavra “resiliência” remonta ao termo latino resilire, que
significa “saltar para trás” (FLETCHER; SARKAR, 2013). Originalmente associado
aos domínios da ciência e da matemática, o conceito foi posteriormente aplicado
ao estudo dos seres humanos, principalmente no campo da psicologia. Nesse
contexto, diversas definições foram propostas, uma das quais se refere à
resiliência como os fatores que modificam, intensificam ou alteram a resposta de
um indivíduo às ameaças ambientais que poderiam levar a desenvolvimentos
desadaptativo (RUTTER, 1987).
Embora existam inúmeras definições para a palavra “resiliência”, há um
consenso entre os estudos de que, para caracterizar resiliência, tanto a
adaptação quanto a adaptação positiva devem estar presentes. Frequentemente,
a resiliência está associada à ideia de adversidade, que é, em grande parte,
interpretada em um contexto negativo. No entanto, algumas pesquisas sugerem
que a resiliência pode estar relacionada a eventos positivos. Por exemplo, uma
promoção no trabalho, que não é tradicionalmente vista como uma adversidade,
pode refletir a habilidade de um empresário em se adaptar e superar desafios
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para alcançar tal reconhecimento. Para uma compreensão mais precisa desse
conceito, é imperativo considerar fatores socioculturais ao analisar a adaptação
do indivíduo diante de eventos traumáticos (SU; JUNGE, 2023).
Dentro da perspectiva da resiliência psicológica, isso é entendido como
um traço de personalidade que abriga características adaptativas face às
situações com as quais o indivíduo se confronta (CHHATWANI et al., 2022). No
entanto, tal resiliência não é estática, sendo mais especificamente conceituada
como um processo em constante evolução. A interação com o ambiente é crucial
para a compreensão da resiliência, considerando que o indivíduo está inserido
nesse contexto. Considerando os diversos conceitos associados à resiliência,
percebemos que estes, por vezes, não são conclusivos. É o contexto e os fatores
ambientais que determinarão a aplicação mais detalhada do conceito. A
resiliência pode ser segmentada em dois domínios principais: psicológico e
fisiológico. A resiliência fisiológica refere-se à maneira como nosso corpo se
adapta a diferentes ambientes, especialmente em situações de estresse. Por
outro lado, a resiliência psicológica está vinculada à habilidade do indivíduo de
superar adversidades de maneira positiva (CHHATWANI et al., 2022).
A adversidade é descrita como um estado de dificuldade e sofrimento,
frequentemente associado a um evento trágico (JACKSON; FIRTKO;
EDENBOROUGH, 2007). O conceito de resiliência psicológica refere-se ao
estudo da capacidade dos indivíduos de suportar ou prosperar diante das
pressões que enfrentam ao longo da vida (FLETCHER; SARKAR, 2013). Mais
especificamente, destaca a habilidade de uma pessoa de prosperar em meio ao
risco e adversidade (KONG et al., 2015).
O foco dos estudos sobre resiliência psicológica se volta para o
desempenho de pequenas empresas diante de cenários adversos, como crises
econômicas, desastres naturais e pandemias, tal como causados pelo COVID-19.
Tais contextos têm evidenciado a habilidade dessas empresas em adaptar-se e
aprender, demonstrando sua resiliência (BATTISTI et al., 2019), a capacidade do
indivíduo, especialmente do proprietário-gestor, de aprender e tomar decisões em
cenários adversos evidencia a resiliência das pequenas empresas. Essas
organizações se destacam pela aprendizagem ágil em situações desafiadoras,
especialmente quando comparadas às grandes empresas (BATTISTI et al., 2019).
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A aplicação do conceito de resiliência psicológica em pequenas empresas
ganha destaque, especialmente em cenários adversos como o provocado pela
COVID-19. Estas organizações promoveram uma capacidade notável de
adaptação, evidenciando-se como surpreendentemente resilientes. Um fator
crucial para que essa resiliência tenha sido a capacidade de aprendizagem.
Comparativamente, as pequenas empresas possuem uma vantagem de
adaptação rápida em relação às grandes corporações, o que tem contribuído para
o aprimoramento de seu desempenho ao longo dos anos (VOSSEN, 1998).
A aprendizagem, em sua origem, inicia sempre do nível individual. Neste
contexto, o gestor de pequenas empresas desempenha um papel crucial, visto
que as estratégias e ações de aprendizagem emanaram primordialmente dele
(DEAKINS et al., 2012). A postura e orientação das obrigações pelo proprietário-
gestor são determinantes para a habilidade da empresa em enfrentar cenários
variados, ressaltando a importância da busca constante por informações e do
aprimoramento contínuo. Quando os gestores se envolvem ativamente em
atividades de aprendizagem, eles assimilam recursos baseados em conhecimento
que são essenciais para elaborar novas soluções de negócios, métodos de
produção e abordagens para resolver problemas (BATTISTI et al., 2019). Neste
artigo, enfatizaremos a relevância da resiliência individual, apresentando
evidências tanto positivas quanto negativas sobre a resiliência de pequenas
empresas em situações adversas. Será examinado como as decisões tomadas
pelos gestores influenciando essas empresas e os consequentes impactos, com
especial atenção ao contexto da pandemia da COVID-19.
3 MÉTODOS DA PESQUISA
A pesquisa está estruturada em uma pesquisa qualitativa que é mais
adequado para o estudo comportamental das pequenas empresas, além disso o
estudo qualitativo transversal é importante para estudo frequentemente utilizado
para identificar mudanças em um único ponto para realizar a análise de diferentes
variáveis como o estudo da resiliência psicológica ao estudar os proprietários das
pequenas empresas.
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A pesquisa qualitativa foi aplicada pois um objetivo comum dessa forma
de pesquisa busca a compreensão, particularmente em área como poucas
pesquisas aplicadas para o tema, a busca de coleta com uma abordagem
construcionista, onde os relatos individuais de significados e experiências como
socialmente construídos e não apenas como um simples relato (KERR; NIXON;
WILD, 2010).
A pesquisa qualitativa é a mais adequada para responder questões do
tipo “Como” ao invés de “Quantos” (PRATT, 2009), buscando entender a visão da
perspectiva dos informantes. Além disso estudos transversais foram aplicados
onde, com as entrevistas pudéssemos melhor captar informações sobre como a
atitude do proprietário promoveu a resiliência das pequenas empresas durante a
pandemia do COVID-19.
Foi realizado pesquisa com objetivo de levantar informações relevantes
como indivíduos, como modelo de negócios que foram criados antes e
permaneceram em funcionamento, sobre a saturação das teóricas, entendemos
que ocorre quando nenhuma informação nova é obtida a partir de dados
qualitativos adicionais (KERR; NIXON; WILD, 2010), alcançamos assim a
saturação teórica.
O estudo desenvolveu pesquisa com proprietário de pequenas empresas
varejistas nos segmentos de eletrônicos e smartphones na cidade de Manaus/AM
durante o período de agosto a setembro de 2023. Realizamos entrevista com 5
gestores de pequenas empresas, foram entrevistas semiestruturadas, em
profundidade e presencial com os gestores.
Todos os envolvidos foram previamente informados sobre o objetivo da
entrevista, que foram gravadas e transcritas. Foi utilizado um questionário
semiestruturado como base com o objetivo de guiar as entrevistas em prol ao
objetivo da pesquisa permeando nos seguintes itens, (1) informações gerais sobre
os proprietários-gestores individuais e breve descrição dos seus modelos de
negócio. (2) dados sobre a empresa. (3) Dados de como estava a empresa antes
da pandemia. (4) Situação da empresa imediata durante a pandemia. (5) Quais
foram os impactos da pandemia na empresa. (6) Quais impactos da pandemia
nas vendas da empresa. (7) Estratégias utilizadas para enfrentar a pandemia. (8)
Fluxo de caixa