SOB O “AVELUDADO DA CASCA”: DRUMMOND E A TRÁGICÔMICA “TARDE DE MAIO”

Cleber Ranieri Ribas de Almeida

Resumo


O artigo propõe-se desvelar as origens genéticas e publicísticas do emprego do pronome “nós” na terceira e na quarta estrofe do poema “Tarde de Maio”, Carlos Drummond de Andrade. O caráter dêitico do pronome se deve ao fato de que é evocado apenas em suas formas oblíqua (“nos ungiram”) e oculta (“morremos”, “espectrais”, “desaparecemos”). Algumas perguntas deverão ser respondidas ao longo do artigo: por que, nessas estâncias, Drummond muda o registro de voz do “eu” para o “nós”? Seria o “nós” uma designação dos familiares do poeta ou dos companheiros de militância partidária? Quem seriam, nominalmente, os sujeitos desse “nós”? Quem unge o “nós” e por quê? A conclusão a que chegamos é de que o sujeito implícito sob o “nós” designa os poetas e prosadores das gerações de 1922 e 1930, “já então espectrais”, fantasmagóricos, porque recobertos pelo “aveludado da casca” mortuária que nada mais seria senão o fardão da Academia Brasileira de Letras. Assim, Drummond, nessas duas estrofes finais do poema, fala como porta-voz de sua geração e descreve o ritual de mumificação dos “velhos” que foram “ungidos” pelos “novíssimos”.


Palavras-chave


Drummond; Claro Enigma; Tarde de Maio; ABL.

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