Discursividades Artísticas na Luta de Classes: Processos Discursivos

Nádia Régia Neckel

Resumo


Este texto parte das formulações dos capítulos finais de “Semântica e Discurso”, cuja propostas deste dossiê é prestar homenagem aos 50 anos desta obra. Busco, na esteira das formulações de Michel Pêcheux, compreender os gestos artísticos como operadores de fissuras no social e modos de resistência. A partir da teoria materialista dos processos discursivos discuto a constituição dos sujeitos e dos sentidos na luta ideológica, tomando as discursividades artísticas como um espaço privilegiado de leitura. A luta de classes, sempre assimétrica, se manifesta na estrutura desigual das formações ideológicas, marcadas pela contradição entre reprodução e transformação. Nesse contexto, a experiência artística opera como um campo de resistência, desestabilizando o “Efeito-Sujeito (centração-origem-sentido)” (Pêcheux, 1997, p.193) e criando deslocamentos que fissuram as formações discursivas dominantes. A relação entre arte e ideologia se insere no debate sobre a produção do conhecimento, e, como diz Pêcheux (1997, p.198), todo discurso científico mantém uma relação inescapável com ideologias teóricas, afastando a possibilidade de uma verdade pura e autônoma. O discurso artístico (Neckel, 2004), por sua vez, nunca reivindicou para si essa pretensão de verdade, o que lhe confere um papel singular na produção de conhecimento. Em sua dimensão metafórica e metonímica, a arte torna visíveis as fraturas do social, operando deslocamentos que tensionam os modos de constituição dos sujeitos e dos sentidos. A experiência estética, inscritas nas condições ideológicas de seu tempo, constituem-se em um espaço de leitura e reelaboração do político. Se, como ensina Pêcheux, a prática teórica é também uma prática política e a interpelação ideológica se dá na imbricação entre aparelhos ideológicos e repressivos do Estado, acentua-se que a censura às artes e ao corpo é um sintoma recorrente em contextos de ascensão de posições ditatoriais e um movimento estratégico de dominação. No Brasil, a análise do discurso tem ampliado a compreensão das materialidades discursivas, reconhecendo no discurso artístico um lugar de problematização das relações ideológicas e para a construção de outras formas de resistência.
Este texto parte das formulações dos capítulos finais de “Semântica e Discurso”, cuja propostas deste dossiê é prestar homenagem aos 50 anos desta obra. Busco, na esteira das formulações de Michel Pêcheux, compreender os gestos artísticos como operadores de fissuras no social e modos de resistência. A partir da teoria materialista dos processos discursivos discuto a constituição dos sujeitos e dos sentidos na luta ideológica, tomando as discursividades artísticas como um espaço privilegiado de leitura. A luta de classes, sempre assimétrica, se manifesta na estrutura desigual das formações ideológicas, marcadas pela contradição entre reprodução e transformação. Nesse contexto, a experiência artística opera como um campo de resistência, desestabilizando o “Efeito-Sujeito (centração-origem-sentido)” (Pêcheux, 1997, p.193) e criando deslocamentos que fissuram as formações discursivas dominantes. A relação entre arte e ideologia se insere no debate sobre a produção do conhecimento, e, como diz Pêcheux (1997, p.198), todo discurso científico mantém uma relação inescapável com ideologias teóricas, afastando a possibilidade de uma verdade pura e autônoma. O discurso artístico (Neckel, 2004), por sua vez, nunca reivindicou para si essa pretensão de verdade, o que lhe confere um papel singular na produção de conhecimento. Em sua dimensão metafórica e metonímica, a arte torna visíveis as fraturas do social, operando deslocamentos que tensionam os modos de constituição dos sujeitos e dos sentidos. A experiência estética, inscritas nas condições ideológicas de seu tempo, constituem-se em um espaço de leitura e reelaboração do político. Se, como ensina Pêcheux, a prática teórica é também uma prática política e a interpelação ideológica se dá na imbricação entre aparelhos ideológicos e repressivos do Estado, acentua-se que a censura às artes e ao corpo é um sintoma recorrente em contextos de ascensão de posições ditatoriais e um movimento estratégico de dominação. No Brasil, a análise do discurso tem ampliado a compreensão das materialidades discursivas, reconhecendo no discurso artístico um lugar de problematização das relações ideológicas e para a construção de outras formas de resistência.

Palavras-chave


Discurso Artístico; Prática Política; Processos discursivos; Resistência

Texto completo:

PDF

Referências


GALLO, Solange Leda — “Autoria: questão enunciativa ou discursiva?”, publicado na Revista Linguagem em (Dis)curso, vol. 1, n. 2, jan./jun. de 2001.

GALLO, Solange Leda Da escrita à escritoralidade: um percurso em direção ao autor ONLINE. In: RODRIGUES E.A.; SANTOS, G. L. dos; CASTELO BRANCO, L. K. A. Análise de discurso no Brasil: Pensando o imprensado sempre. Uma homenagem a Eni Orlandi. Campinas, Editora RG, 2011.

LAGAZZI, Suzy. O recorte significante na memória. O Discurso na Contemporaneidade: materialidades e fronteiras. In: INDURSKY, Freda; FERREIRA, Maria Cristina L.; MITTMANN, Solange (org.). São Carlos: Claraluz, 2009. p. 67-78.

LAGAZZI, Suzy. Paráfrases da imagem e cenas prototípicas: em torno da memória e do equívoco. In: FLORES, Giovana; GALLO, Solange; LAGAZZI, Suzy; NECKEL, Nádia; PFEIFFER, Cláudia.; ZOPPI-FONTANA, Mónica (org.). Análise de Discurso em Rede: Cultura e Mídia. Campinas: Pontes, 2015. v. 1. p. 177-189.

KRENAK, Ailton; CAMPOS, Yussef. Lugares de origem. São Paulo: Jandaíra, 2021.

MALDIDIER, Denise A inquietação do discurso – (Re)Ler Michel Pêcheux Hoje. Trad. Eni Orlandi. Campinas. Ed. Pontes, 2003.

NECKEL, Nádia R. M. Tessitura e Tecedura: movimentos de compreensão do discurso artístico no audiovisual. Tese (Doutorado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010. 239 p.

NÚÑEZ, Geni. Descolonizando os afetos: experimentações sobre outras formas de amar. São Paulo: Planeta do Brasil, 2023.

ORLANDI Eni Pulccinelli. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. São Paulo: Brasiliense, 1983.

Orlandi, Eni P. [2004] Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. 5ª ed. Campinas, SP: Pontes, 2020.

PÊCHEUX, Michel ([1969] Análise Automática do Discurso (AAD-69). In: GADET, Françoise; HAK, Tony. (orgs.) Por uma análise automática do discurso. Campinas, Editora da Unicamp, 1997 a.

PÊCHEUX, Michel. [1975]. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. (Trad. Eni Orlandi [et.al] 3ª Edição Campinas, SP. Editora da Unicamp, 1997b.

PÊCHEUX, Michel. Leitura e Memória: Projeto de Pesquisa. In: PÊCHEUX, Michel. Análise de Discurso: Michel Pêcheux – textos escolhidos por Eni Puccinelli Orlandi. 4 ed. Campinas: Pontes, 2015 [1980].

PÊCHEUX, Michel. Papel da Memória. In: ARCHARD [ET AL] Papel da Memória. Trad. José Horta Nunes. Campinas. Ed. Pontes, 1999.

PÊCHEUX, Michel. O discurso: Estrutura ou acontecimento. Trad. Eni Orlandi. 4ª Ed. Campinas. Ed. Pontes, [1988] 2006.

SETTIMELLI, Luigi Futurismo: manifiestos y textos. 1ª ed. Buenos Aires Quadrata, 2007.

Uyra, Emernon “O homem primitivo e o homem moderno “ Disponível em : https://www.youtube.com/watch?v=GxHTnxu4Oi0&t=234s acesso em 10 de abril 2025.

SOUZA, Tânia Conceição Clemente de. Discurso e oralidade: um estudo em língua indígena. 1994. Tese (Doutorado em Linguística) — Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1994.398p.

Werá Jecupé, Kaká. A Terra dos Mil Povos: História Indígena do Brasil contada por um índio. 2. ed. São Paulo: Peirópolis, 2015.