Semântica e Discurso de Michel Pêcheux meio século depois: o legado teórico político do materialismo histórico em tempos de emergência socioambiental

Maurício Beck

Resumo


Este artigo revisita as três modalidades discursivas de funcionamento subjetivo de Pêcheux — identificação, contraidentificação e desidentificação — articulando-as às crises do marxismo-leninismo e às autocríticas posteriores do próprio autor. Argumenta-se como a aposta na pedagogia revolucionária da vanguarda pode levar a impasses teórico-políticos que obscurecem/iluminam o funcionamento contraditório e material do assujeitamento. A partir de Althusser, Lacan, Žižek, Sloterdijk e críticas recentes ao “formalismo significante”, o texto propõe repensar a desidentificação não como posição estabilizada e individualizada, mas como relativo à agência das massas e passível de equívocos. Argumenta-se ainda que a resistência não é apenas discursiva, mas abrange ao materialidade corpórea, “a vida resiste”, abrindo caminho para integrar materialidades vivas, entropia diante da emergência socioambiental.


Palavras-chave


Modalidades Discursivas de Funcionamento Subjetivo; Materialismo Espinozista, Formalismo do Significante; Emergência Climática.

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