Fatos de preconceito racial no futebol em perspectiva discursiva: da historicidade do dizer

Gesualda dos Santos Rasia

Resumo


Este estudo ocupa-se com a discursivização acerca de práticas consideradas racistas em estádios de futebol, as quais não são novidade e têm se tornado recorrentes nos últimos tempos, em que pesem as campanhas anti-racismo, dentro e fora dos campos. Na tomada que ora fazemos, objetivamos a análise dos processos de apropriação da palavra, essencialmente, nela simbolizada a teia de relações que enlaça, agencia, agrega e desagrega sujeitos e posições as mais diversas. Para tanto, tomamos como acontecimento de referência um fato emblemático do acirramento das práticas racistas no Brasil, o acontecido na torcida do Grêmio em jogo contra o Santos, em 2014, mais especificamente, em enunciado proferido a respeito do goleiro Aranha, do Santos. A partir desses episódios, compomos uma teia de outras enunciações de mesmo teor, buscando nelas regularidades e colocando-as em relação a suas condições de produção. Interessa-nos compreender como os sentidos de cunho racista se produzem na história e como jogam com as tentativas de controle do dizer. Trata-se, em suma, da constituição de um modo de olhar o funcionamento dos discursos em uma tessitura móvel que faz convergir a memória, os confrontos raciais, os limites do politicamente correto, os lugares históricos representados por sujeitos e, sobretudo, o dissenso. Essa pauta, plena de atravessamentos para poder ser abordada, mostra-se rica para se pensar teórica e metodologicamente a relação enunciação-discursividades, haja vista que reclama que se pense o espaço intervalar entre essas duas categorias e, paradoxalmente, sua contiguidade.


Palavras-chave


tessitura discursiva – memória – historicidade

Texto completo:

PDF