Maternidade Silenciada

Mariana Sbaraini Cordeiro

Resumo


Com objetivo de golpear as estruturas androcêntricas, muitos textos de autoria feminina se propõem a negar qualquer forma de laço com tais estruturas. Uma forma de marcar esse rompimento é negar, ou até mesmo excluir a maternidade dessas narrativas, especialmente aquelas publicadas pós-1960. Nas narrativas desse período há um grande número de personagens que opta por não ter filhos, nas quais o silêncio das relações maternais caracterizou esse momento. Por outro lado, a mulher economicamente independente, separada ou não, completará as narrativas como modelo de uma tipificação feminina que sobreviveu ao domínio masculino e que, a partir de então, a presença do homem não lhe serviria para nada, a não ser como objeto de seus desejos. Quanto às personagens, elas buscam compreender-se e saber a sua função no mundo, que em muitas ocasiões são descentralizadas e colocadas em um turbilhão de papéis, não conseguindo efetivamente atuar em nenhum deles. Isto é particularmente intenso com relação à personagem da mãe, que não consegue um equilíbrio entre os papéis de mulher, esposa, mãe e profissional. Amalgamar essas múltiplas funções é um processo que revela grande complexidade, uma vez que o papel exclusivo de mãe vai aos poucos perdendo a razão de ser. Duas obras de Sonia Coutinho, O último verão de Copacabana e Uma certa felicidade, enfatizam personagens femininas que negam a maternidade ou depreciam as ocasiões quando ela acontece. No entanto, as mulheres que habitam essas narrativas são de meia idade, frustradas, vivendo um sentimento de incompletude. Mesmo não tendo conseguido o ideal de felicidade feminina, os contos retratam que recuar não seria a melhor solução.


Palavras-chave


Sonia Coutinho; Literatura de autoria feminina; Maternidade

Texto completo:

PDF