Revista Interfaces


 A Revista Interfaces é um periódico da Universidade Estadual doCentro-Oeste – UNICENTRO, de Guarapuava-PR e objetiva produzir conhecimento na área de Letras, na interface entre Língua e Literatura e áreas afins. Publica artigos, resenhas e entrevistas de mestrandos, doutorandos (com artigos que tenham doutores como autores ou co-autores) e demais pesquisadores doutores. 

Qualis 2020 - B2

Professora Dra. Maria Cleci Venturini / Editor-Gerente

A Revista Eletrônica Interfaces recebe artigos em fluxo continuo e publica três edições anuais. Eventualmente publica um dossiê. A avaliação é às cegas e se recomenda fortemente que as diretrizes sejam seguidas.

PROPOSTA DE DOSSIÊ TEMÁTICO: TEORIAS E MODOS DE LER NO PÓS-DITADURAS

Em 2025, completou-se 40 anos do que oficialmente se considera o fim da ditadura militar brasileira. Aliás, os países do Cone Sul oficializam marcas de fim de suas ditaduras por estes anos: Paraguai em 1989, Argentina em 1983, Chile em 1990 e Uruguai também em 1985. No entanto, a teórica argentina Analia Gerbaudo (2016, p.104-105) comenta: “[…] uso el término «posdictadura» para dar cuenta del espesor de un tiempo transido por huellas de otros (la última dictadura pero también el onganiato), que, en Argentina, llega hasta los primeros años del siglo XXI”. Para a pesquisadora, trata-se de um termo que chama atenção para as microfísicas do poder que não são desarticuladas com a simples troca de regime governamental. Ou seja, assim como para o pós-colonialismo, a pós-ditadura, aqui, estaria indicando, de acordo com Gerbaudo, continuidades e não posteridade ou superação. Também Antonio Candido (1989, p.146), na década de 1980, revê sua hipótese de leitura do processo de formação da literatura brasileira como “consciência amena do atraso”, ao constatar que a aliança entre elites e progresso não resultou em outra situação que não fosse a da continuidade do processo autoritário e segregador da modernização com bases na inserção do país na lógica das metrópoles, não mais coloniais, porém, todavia, financeiras. Assim, a integração da literatura brasileira ao Ocidente moderno passa a ser vista pelo teórico como resultado de uma ambivalência: é ao mesmo tempo instrumento de inserção e de dominação, o que o faz concluir: “somos um continente sob intervenção” (Candido, 1989, p.146). Em torno dos nós teóricos resultantes desta condição, surgem algumas ponderações e perguntas, que mantêm vivas essas inquietações: De que forma a teoria e a crítica literária têm acompanhado as mudanças neste contexto, em busca de uma redemocratização, um retorno do livre pensamento, apontando metas futuras de reparações e inclusões? Qual o papel da teoria e como esta disciplina se encontra configurada e institucionalizada na América Latina, e quais seriam as retomadas e reformulações em relação aos modos de ler?

No campo cultural, retomam-se categorias como “crítica democrática” (Said, 2007, Antelo, 2015), “ativismo cultural” (Ludmer, 2020), “intervenção” (Gerbaudo, 2016), “pedagogias da leitura” (Ximenes, 2024), “estar entre” e “reparação” (Vidal, 2019; 2015), ou ainda ganha destaque a noção de “pós-memória” (Figueiredo, 2022; Heineberg, 2020), a partir de um olhar “de fora”, distanciado espacial e temporalmente, sobre o contexto latino-americano, no pós-ditadura, levando em conta, especialmente, uma crítica da “sobrevivência” (Vecchi, 2021). Simultaneamente, se observa o vínculo cada vez maior e indissociável da epistemologia crítica com as instituições de ensino superior e de suas práticas/atividades, o que também leva a indagações como: De que modo a prática crítica é compreendida no interior dos estudos literários? Quais categorias teórico-críticas têm interferido e direcionado os modos de ler neste período, que têm recebido a denominação de pós-ditadura? De que modos, por fim, neste contexto, o Brasil tem lido a América Latina, e vice-versa? Considerando tais pressupostos, sobretudo as questões levantadas acima, este dossiê intitulado “Teorias e modos de ler no pós-ditadura” acolhe textos que devem estar inseridos em discussões que partam da análise de arquivos e textos isolados referentes à institucionalização da disciplina de Teoria Literária/Literatura Comparada; dos modos de ler a literatura latino-americana em contexto pós-ditatorial, ou seja, da década de 1980 do século XX até seus efeitos, que perduram na cena contemporânea; da possibilidade da crítica literária tocar em pontos que outras disciplinas não conseguem, para dar conta de um passado e um presente em torno dos efeitos da ditadura, no âmbito crítico e cultural; do acompanhamento histórico-crítico dos trânsitos, revisões e retornos epistemológicos; da literatura como leitura crítica ou dos modos e abordagens da ficção-crítico-teórica; do ensino universitário como crítica ou das relações entre a crítica e o ensino universitário, ou “pedagogias de leitura”, elaborados em resposta, atendendo as possibilidades atuais de retomada dos regimes democráticos; da crítica em periódicos e em textualidades alternativas (revistas, blogs, clubes de leitura, espetáculos performáticos, etc.) como legitimação e difusão das teorias e seus modos de ler no espaço transmidiático e em outros espaços culturais, para além das instituições acadêmicas e de ensino.

Organizadoras: Nilcéia Valdati (UNICENTRO), Débora Cota (UNILA) e Rita Lenira Bittencourt (UFRGS)

Período de submissão: 15 de dezembro de 2025 a 15 de maio de 2026

 

 

 


v. 16, n. 2 (2025)

Edição completa

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Sumário

Conselho editorial

Maria Cleci Venturini
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1-2

Apresentação

Maria Cleci Venturini
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3-8

Artigos

Anna Carolina Pasquali, Sabrina Bonqueves Fadanelli
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9-18
Neide Garcia Pinheiro
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19-35
Amanda Patriota Costa
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36-45
Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro, Milena Barros Tavares
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46-56
Adilson Carlos Batista, Leandro Tafuri
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57-66
Beatriz Rodrigues Ribeiro
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67-81
Amanda Kélvia dos Santos Almeida, Felipe dos Santos Matias
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82-93
Bibiana Souza Reis, Ysadora Pereira Rangel, Neosane Schlemmer
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94-104
PRISCILA ANDRESSA CREPALDI VENTURIM, NEILDE SILVA DE FRANÇA BOIS
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105-118
Ana Paula Pereira Ferreira
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119-131
Mônica Ferreira Cassana, Luísa Oliveira da Fonseca
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132-143
ISMAEL RIBEIRO DA SILVA, Jaqueline Adriana Príncipe Pedro, Maria Heloiza Alves Pereira Santana
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144-154
Luciane Trennephol da Costa, Gilmara do Carmo Freitas
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155-163
Enzo Ferreira Agnolet, Lidiele Batista Nogueira, Roberto Ferreira Junior
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164-174
SAULO SEMANN, ANDREY ADÃO KAMINSKI AMAZONAS, CAMILE FEDARACZ
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175-183